Conflitos e confrontos
Os confrontos vindouros voltar-se-ão contra o governo, não porque os capitalistas temam prejuízos, nem porque tenham algo diferente a propor para o país, mas pela intolerância de terem que aceitar por mais um período, o prevalecimento da vontade dos derrotados do passado
28/10/2014
Por Ademar Bogo
A eleição para presidente da República de 2014, no Brasil, por ter reabilitado setores vingativos e atrasados da direita, emitiu sinais que anunciam a passagem do cenário dos conflitos, em que as forças políticas polemizavam em busca de um melhor lugar, para o campo dos confrontos no velho estilo destrutivo instigando o divisionismo da nação.
Os confrontos vindouros voltar-se-ão contra o governo, não porque os capitalistas temam prejuízos, nem porque tenham algo diferente a propor para o país, mas pela intolerância de terem que aceitar por mais um período, o prevalecimento da vontade dos derrotados do passado, dos nordestinos que jamais foram vistos como sujeitos políticos, mas que sustentaram com o voto a continuidade do desenvolvimentismo proletário.
Tal reação se dá em meio à combinação de vergonha, preconceito e inveja. Vergonha, porque as forças retrogradas descobriram que aquilo que o Partido dos Trabalhadores fez até aqui nada tem de ameaçador, e que elas, pelas reformas burguesas, poderiam ter feito; no entanto, jamais perceberam a fórmula simples de fazer a economia crescer, combinando produção, serviços e ampliação da infraestrutura. Para tanto, bastava associar os investimentos públicos com os recursos privados e fazer os próprios capitalistas gerarem empregos, distribuir renda e assegurar políticas assistenciais lucrativas para o comércio. Preconceito e inveja, porque, ao perceber que o modelo desenvolvimentista é de natureza capitalista e não se propõe a ir além disso, os setores da classe trabalhadora subordinada no passado passaram a dar ordens e a controlar o poder de nomear funcionários e administrar os negócios lucrativos com as riquezas naturais.
Canalizada a reação pela moralidade burguesa, tendo à frente uma liderança inescrupulosa, as forças atrasadas ganharam a simpatia da classe média despolitizada. Esta deverá ser alimentada com denúncias e acusações para que incentive a população a ir às ruas e protestar contra o governo. Ou seja, os sinais apontam que o objetivo agora é desgastar e enfraquecer as forças governistas para interromper-lhe o mandato ou subtrair-lhe a simpatia, facilitando a vitória nas eleições de 2018.
Sinais interpretados, resta saber qual será o comportamento das forças de esquerda e dos movimentos populares. Na medida em que a direita, embora derrotada, sai fortalecida das eleições, e as forças de esquerda, juntamente com os movimentos populares organizados, subsumidos atrás da vitória do governo, diante dos confrontos racistas e sionistas vindouros, se optarem por defendê-lo, presos a uma proposta reduzida de “reforma política”, estarão enfraquecendo ainda mais a capacidade de luta. Ao alimentar esta tática, para saber como será o futuro, basta responder a indagação do presente: qual seria a capacidade de reação das esquerdas e dos movimentos populares se os tucanos tivessem ganhado esta última eleição?
É importante compreender que o reacenso das forças de direita tornou-se possível porque elas não foram enfrentadas com veemência pelos trabalhadores neste século. Embora tenhamos visto avanços no campo eleitoral e social, não vimos o mesmo nos campos político, organizativo e intelectual. Se a direita não foi derrotada quando estava retraída, era lógico que voltaria e não veio só. Ela voltou e busca proteger-se entre as forças sociais que deveriam ter sido ganhadas para o projeto popular, o verdadeiro sucessor do governo petista.
Ademar Bogo é filósofo, escritor.
Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/30325
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