jueves, 30 de octubre de 2014

Ademar Bogo fala por mim: Conflitos e confrontos.

Conflitos e confrontos

Os confrontos vindouros voltar­-se-ão contra o governo, não por­que os capitalistas temam prejuí­zos, nem porque tenham algo dife­rente a propor para o país, mas pe­la intolerância de terem que acei­tar por mais um período, o prevale­cimento da vontade dos derrotados do passado
28/10/2014
Por Ademar Bogo
A eleição para presidente da República de 2014, no Brasil, por ter reabilitado setores vingativos e atrasados da direita, emitiu sinais que anunciam a passagem do cená­rio dos conflitos, em que as forças políticas polemizavam em busca de um melhor lugar, para o campo dos confrontos no velho estilo destruti­vo instigando o divisionismo da na­ção.
Os confrontos vindouros voltar­-se-ão contra o governo, não por­que os capitalistas temam prejuí­zos, nem porque tenham algo dife­rente a propor para o país, mas pe­la intolerância de terem que acei­tar por mais um período, o prevale­cimento da vontade dos derrotados do passado, dos nordestinos que ja­mais foram vistos como sujeitos po­líticos, mas que sustentaram com o voto a continuidade do desenvolvi­mentismo proletário.
Tal reação se dá em meio à com­binação de vergonha, preconceito e inveja. Vergonha, porque as for­ças retrogradas descobriram que aquilo que o Partido dos Traba­lhadores fez até aqui nada tem de ameaçador, e que elas, pelas refor­mas burguesas, poderiam ter fei­to; no entanto, jamais perceberam a fórmula simples de fazer a eco­nomia crescer, combinando produ­ção, serviços e ampliação da infra­estrutura. Para tanto, bastava asso­ciar os investimentos públicos com os recursos privados e fazer os pró­prios capitalistas gerarem empre­gos, distribuir renda e assegurar políticas assistenciais lucrativas pa­ra o comércio. Preconceito e inve­ja, porque, ao perceber que o mo­delo desenvolvimentista é de natu­reza capitalista e não se propõe a ir além disso, os setores da classe tra­balhadora subordinada no passado passaram a dar ordens e a contro­lar o poder de nomear funcionários e administrar os negócios lucrati­vos com as riquezas naturais.
Canalizada a reação pela morali­dade burguesa, tendo à frente uma liderança inescrupulosa, as forças atrasadas ganharam a simpatia da classe média despolitizada. Esta de­verá ser alimentada com denún­cias e acusações para que incenti­ve a população a ir às ruas e protes­tar contra o governo. Ou seja, os si­nais apontam que o objetivo agora é desgastar e enfraquecer as forças governistas para interromper-lhe o mandato ou subtrair-lhe a simpa­tia, facilitando a vitória nas eleições de 2018.
Sinais interpretados, resta sa­ber qual será o comportamento das forças de esquerda e dos movimen­tos populares. Na medida em que a direita, embora derrotada, sai for­talecida das eleições, e as forças de esquerda, juntamente com os mo­vimentos populares organizados, subsumidos atrás da vitória do go­verno, diante dos confrontos racis­tas e sionistas vindouros, se opta­rem por defendê-lo, presos a uma proposta reduzida de “reforma po­lítica”, estarão enfraquecendo ain­da mais a capacidade de luta. Ao alimentar esta tática, para saber como será o futuro, basta respon­der a indagação do presente: qual seria a capacidade de reação das esquerdas e dos movimentos popu­lares se os tucanos tivessem ganha­do esta última eleição?
É importante compreender que o reacenso das forças de direita tor­nou-se possível porque elas não fo­ram enfrentadas com veemência pelos trabalhadores neste século. Embora tenhamos visto avanços no campo eleitoral e social, não vimos o mesmo nos campos político, or­ganizativo e intelectual. Se a direita não foi derrotada quando estava re­traída, era lógico que voltaria e não veio só. Ela voltou e busca proteger­-se entre as forças sociais que deve­riam ter sido ganhadas para o pro­jeto popular, o verdadeiro sucessor do governo petista.
Ademar Bogo é filósofo, escritor.

Fonte:http://www.brasildefato.com.br/node/30325

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