viernes, 21 de diciembre de 2012

Uma Poesia para Saturno

Idade Madura 

As lições da infância
desaprendidas na idade madura.
Já não quero palavras, nem delas careço.
Tenho todos os elementos
Ao alcance do braço.
Todas as frutas
e consentimentos.
Nenhum desejo débil.
Nem mesmo sinto falta
do que me completa e é quase sempre melancólico.
Estou solto no mundo largo.
Lúcido cavalo
com substância de anjo
circula através de mim.
Sou varado pela noite, atravesso os lagos frios,
Absorvo epopéia e carne,
bebo tudo,
desfaço tudo,
torno a criar, a esquecer-me:
Durmo agora, recomeço ontem.

De longe, vieram chamar-me.
Havia fogo na mata.
Nada pude fazer,
nem tinha vontade.
Toda a água que possuía
irrigava jardins particulares
De atletas retirados, freiras surdas, funcionários demitidos.

Nisso, vieram os pássaros,
rubros sufocados, sem canto,
e pousaram a esmo.
Todos se transformaram em pedra.
Já não sinto piedade.

Antes de mim outros poetas,
depois de mim outros e outros
estão cantando a morte e a prisão.
Moças fatigadas se entregam, soldados se matam
No centro da cidade vencida.
Resisto e penso
numa terra enfim despojada de plantas inúteis,
num país extraordinariamente, nu e terno,
qualquer coisa de melodioso,
não obstante mudo,
além dos desertos onde passam tropas, dos morros
onde alguém colocou bandeiras com enigmas,
e resolvo embriagar-me.

Já não dirão que estou resignado
e perdi os melhores dias.
Dentro de mim, bem no fundo,
Há reservas colossais de tempo,
Futuro, pós-futuro, pretérito,
Há domingos, regatas, procissões,
Há mitos proletários, condutos subterrâneos,
Janelas em febre, massas da água salgada, meditação e sarcasmo.

Ninguém me fará calar, gritarei sempre
que se abafe um prazer, apontarei os desanimados,
negociarei em voz baixa com os conspiradores,
transmitirei recados que não se ousa dar nem receber,
serei, no circo, o palhaço,
serei, médico, faca de pão, remédio, toalha,
serei bonde, barco, loja de calçados, igreja, enxovia,
serei as coisas mais ordinárias e humanas, e também as excepcionais:
tudo depende da hora
e de certa inclinação feérica,
viva em mim qual um inseto.

Idade madura em olhos, receitas e pés, ela me invade
com sua maré de ciências afinal superadas.
Posso desprezar ou querer os institutos, as lendas,
descobri na pele certos sinais que aos vinte anos não via.

Eles dizem o caminho,
embora também se acovardem
em face a tanta claridade roubada ao tempo.
Mas eu sigo, cada vez menos solitário,
em ruas extremamente dispersas,
transito no canto homem ou da máquina que roda,
aborreço-me de tanta riqueza, jogo-a toda por um número de casa,
e ganho.


Carlos Drumond de Andrade

ESTAÇÃO SATURNO


Guardei, dentro de mim, profundos sentimentos, macerando-os.
É como se quisesse quebrar cada pedaço em pedaços menores, miudinhos...
E quem sabe misturar...
É como se quisesse prender, provisoriamente, dentro de mim os incômodos, as angústias, as palavras que não foram jogadas na cara, não rasgaram os ouvidos alheios, nem entraram boca a dentro.
Em nome do respeito e desrespeito aos espaços quadrados com cantos escusos.
Guardei e agora, depois de remoer tudo, jogo fora.
Maturidade? Imaturidade?
Idade?
Ida de um caminho sem volta.
Caminho sem volta e sem ida?
Caminho de ida com passos firmes. Caminho de volta apenas no plano da autoconsciência.

Estação Saturno.

miércoles, 28 de noviembre de 2012

"Quem não se comunica se trumbica."


Dizer com clareza o que se pensa e o que se sente é a chave para se relacionar melhor no mundo

por Eugênio Mussak | foto André Spinola e Castro

Perus são inimigos dos gambás porque estes matam seus filhotes para comer. Uma perua ataca um gambá sem piedade para defender sua prole e, em geral, consegue colocar o malcheiroso para correr. Se colocarmos um gambá de brinquedo, feito de pano, perto de uma perua, ela o destruirá em minutos.
Uma das experiências mais curiosas sobre o comportamento dos animais foi feita com um gambá e com uma perua e seus filhotes. Um biólogo amarrou um pequeno gravador no peito de um gambá, emitindo os piados de um filhote de peru, e o deixou perto de uma família dessas aves, cuja mãe, como sempre, estava zelosa e atenta a qualquer perigo. Entretanto ela não atacou o gambá, que continuava parecendo um gambá, caminhando como um gambá e, principalmente, cheirando como um gambá. Só que piava como um peruzinho. Foi o suficiente para ser aceito como tal.
Esse é apenas um dos muitos exemplos da força da comunicação. Na outra mão, provavelmente um peru que imitasse o ruído de um gambá seria imediatamente repelido pelo grupo. Em resumo, você quer se dar bem com um peru? Pie como ele. Deseja se relacionar bem com um humano? Faça com que ele o entenda. Comunique-se. Quem se comunica costuma obter o que deseja. E quem não se comunica se trumbica.
Comunicação e evolução
Poderíamos dizer que, com a evolução, o ser humano aumentou sua capacidade de se comunicar. Que evoluiu da comunicação oral para a comunicação escrita, desenvolveu tecnologias, inventou o correio, o telégrafo, o telefone e hoje não sabe mais viver sem o e-mail e o celular. Só que o que ocorreu não foi isso. Evoluímos porque melhoramos nossa capacidade de comunicação e não o contrário. A comunicação foi o atributo que permitiu a evolução de nossa espécie, com o surgimento da sociedade humana.
Pensamento e comunicação estão ligados desde sempre. Precisamos pensar para falar e, ao falarmos, melhoramos nossa capacidade de pensar, porque o esforço pedagógico para que nosso interlocutor nos entenda melhora nosso próprio entendimento. Aliás, esse é o princípio da terapia. O psicólogo estimula o paciente a falar, organizando pensamentos e sentimentos. Na aparência, o paciente fala com seu terapeuta; na prática, fala com ele mesmo. E é dessa autocomunicação, estimulada e mediada por um estranho, que a pessoa retira seu autoconhecimento. E, deste, vem o desenvolvimento pessoal.
O erro mais comum que se comete é imaginar que podemos comunicar uma idéia com perfeição apenas usando as palavras adequadas. É claro que as palavras certas são imprescindíveis, mas não podemos esquecer que palavras não têm vida própria ¿ precisam, para viver, da qualidade da voz que as pronuncia.
Comunicação e emoção
A palavra representa uma idéia e constrói uma mensagem, mas quem transporta essa idéia e essa mensagem é a modulação da voz. Palavras são a representação do intelecto, a modulação da voz é o manifesto da emoção. E a comunicação será tão mais eficiente quanto melhor for a interação entre a razão e a emoção.
Acontece com freqüência de uma pessoa dizer algo que lhe parece totalmente lógico e ser entendido de maneira ilógica por seu interlocutor. Às vezes, uma tentativa de elogiar transforma-se em uma pesada ofensa. Por outro lado, uma crítica severa pode ser aceita como uma manifestação de amizade e carinho. Por que acontece isso? No primeiro caso porque a emoção da voz não foi compatível com a qualidade da mensagem. No segundo porque a aspereza do comunicado foi amenizada por uma entonação correta, que deixou claro que aquela crítica era um desejo de construção e uma manifestação de amizade.
Pode parecer estranho,mas em um ato de comunicação a forma é tão ou mais significativa do que o conteúdo. Tanto na aprendizagem quanto na comunicação, a emoção é mais determinante do que a razão ¿ e, repetindo, a emoção não está na palavra, e sim na maneira como ela é pronunciada. E não faltam exemplos na política, no direito, na religião e até no futebol de pessoas que não falam nada com nada, mas convencem quase todo mundo. Imagine, então, se você associar um bom conteúdo com uma boa qualidade na comunicação.
Aliás, se você deseja convencer alguém com seus argumentos, a primeira providência é estar, você mesmo, convencido. Senão sua comunicação será falha. A comunicação sem consistência não se sustenta por muito tempo. No filme Kate e Leopold, um lorde inglês do século 19 viaja no tempo e acaba na Nova York contemporânea. Envolve-se com uma publicitária que tem a idéia de aproveitar o galante personagem em uma propaganda de margarina.
O rapaz fala o texto de maneira convincente, enaltecendo o sabor, mas, na hora de comer o pão com a dita margarina, faz uma cara feia e se recusa a comer o que ele dizia ter ¿gosto de sebo¿, e a continuar o trabalho. A publicitária então lhe diz: ¿Mas isto é apenas propaganda¿. Ao que o nobre retruca: ¿Como você pode fazer propaganda de uma mentira? Isso não é ético¿.
Sim, quem não se comunica se trumbica, mas às vezes quem se trumbica é quem comunica inverdades, como temos visto nas patéticas cenas protagonizadas por publicitários da política ¿ comunicadores profissionais que capricham na forma, sem se preocuparem com a verdade do conteúdo.
Comunicação e lógica
Clareza de idéias é uma qualidade dos bons comunicadores. Tornam claros os pensamentos, para que os outros possam ¿vê-los¿. Organizam as idéias antes de organizar as frases. Comece a observar se você pensa antes de falar, assim como pensa antes de escrever, e se organiza as frases com a melhor lógica possível. Depois treine a melhoria da organização de suas frases. Ter clareza pode ser uma questão de treino.
Não tenha medo de ser considerado pedante por conjugar os verbos corretamente, fazer concordância entre os pronomes e pronunciar as palavras por inteiro, sem comer finais e sem deixar partes entregues ao ¿subentendido¿. Prefira ser elogiado pela clareza. Quando alguém não entendeu sua mensagem, pergunte a si mesmo ¿por que será que eu não me fiz entender?¿, em vez de transferir a responsabilidade ao outro perguntando ¿por que será que ele não me entendeu?¿.
Preste atenção na organização de suas falas. O ritmo adequado da fala facilita o entendimento da mensagem. Observe a velocidade, pois há quem fale depressa demais, assim como há quem fale muito devagar. O primeiro tipo angustia o interlocutor, pois não cria o tempo necessário à interpretação, e o segundo irrita com a monotonia, pois o entendimento aconteceu antes da conclusão da frase, e isso pode gerar dispersão. O timing verbal também é demonstrado através de coisas como o comprimento das frases, a obediência à pontuação, a tonificação das sílabas mais significativas.
Clareza de expressão é a manifestação externa da lucidez do pensamento. Pessoas lúcidas são as que luzem, ou seja, emitem ¿luz¿, e seu traço principal é a coerência de idéias. Lúcida é o nome que se dá à estrela mais brilhante de uma constelação, também chamada estrela alfa. Lúcida também é a designação de uma técnica de lapidação de diamantes que confere à pedra um brilho maior, que se traduz em imensa beleza. Pessoas lúcidas também são assim, brilham mais através da maneira como se comunicam.
Comunicação e relações
Vivemos em um mundo em que os povos não se entendem, provocando grandes conflitos, e costumamos ouvir que o que está faltando é diálogo. Se olharmos para o mundo comum ao nosso redor, também encontraremos uma série de pequenos conflitos, pessoais e profissionais, sobre os quais podemos fazer o mesmo comentário: está faltando diálogo. Parece que tudo ocorre a partir do diálogo.
A biologia nos dá lições sobre esse tema. No livro A Segunda Criação, de Ian Wilmut (Objetiva),há uma reflexão perturbadora. Esse geneticista britânico, ¿pai¿ da Dolly, a ovelha-clone, afirma que os genes não operam isoladamente: ¿Eles estão em diálogo constante com o resto da célula, que por sua vez responde a sinais de outras células do corpo, que por sua vez estão em contato com o ambiente externo. Esse diálogo controla o desenvolvimento do organismo (...). O diálogo entre os genes e o ambiente que os circunda continua depois que o animal nasce e durante toda sua vida, e, se ele não se processa corretamente, os genes saem fora de controle, as células crescem desordenadamente e o resultado é o câncer¿.
Trata-se de uma reflexão a respeito de um fenômeno biológico, sobre o comportamento das células, mas nos remete a uma segunda reflexão, esta sobre o comportamento das pessoas. Seríamos nós produtos de um permanente diálogo entre nosso interior e o mundo em que vivemos? Seria o ser humano um animal parcial, considerando que só controla parte de seu comportamento, estando a outra parte entregue à variação de um mundo em permanente transformação?
Ao que tudo indica, sim. Nosso bem-estar e nossa felicidade dependem de nós ¿ mas também do mundo e, como conseqüência, da qualidade do diálogo que estabelecemos com esse mundo.Nesse sentido, sou eu e o mundo, em permanente troca de informações e buscando o consenso ¿ que, em última análise, é condição para a felicidade. Entender o mundo e me fazer entender por ele é o grande desafio. Ninguém deve ganhar esse diálogo, pois ele não é um embate, é um apelo de paz. O diálogo existe para que não haja imposição, e sim entendimento, compreensão e, ao final, o consenso.
Você viverá melhor quanto melhor dialogar com a pluralidade do mundo. Por outro lado, como diria Chacrinha, comunicador da televisão brasileira que criou a expressão que logo caiu no gosto do povo: ¿Quem não se comunica... se trumbica¿. Da qualidade do diálogo vem a qualidade da vida. Os diálogos bem-sucedidos, internos e externos, acalmam, amansam, aveludam, alegram.


Eugênio Mussak é professor e consultor na área de desenvolvimento humano. Costuma reunir-se com sua equipe para ter boas idéias. Confira no site: www.eugeniomussak.com.br.

lunes, 26 de noviembre de 2012

Até quando?**




**Em tempos de guerra sangrenta, socializo um texto escrito janeiro de 2009. Apesar de desatualizado traz alguns elementos sobre o conflito histórico entre Israel e Palestina.



 Ângela Pereira*

“Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.”
Ernesto Che Guevara

Milhões de pessoas pelo mundo fazem essa pergunta... Até quando?
Até quando, a humanidade insistirá em se destruir pela ganância, pela manutenção de sistemas político-econômicos desumanos, pelo imperialismo e desrespeito à soberania dos povos, pela intolerância com as diferenças religiosas e étnicas?
Iniciado no dia 27 de dezembro de 2008, o ataque de Israel a Palestina resultou em mais de mil e trezentos palestinos mortos, sendo 410 crianças e 108 mulheres, e mais de 5.300 feridos, segundo serviços de urgência de Gaza, a maioria deles não têm relação com grupos militares palestinos, ou seja, são civis. Do outro lado 20 mortos.[1]As péssimas condições de existência cada dia ficaram mais graves: falta eletricidade e gás para aquecer e iluminar a faixa de Gaza em pleno inverno e baixas temperaturas; falta comida, remédios, água potável e os hospitais estão lotados.
A desproporção dos ataques foi absurda e a mídia mentirosa bombardeia a casa dos brasileiros com falsas verdades. Não se tratou de uma guerra. Foi um massacre!!! Um verdadeiro genocídio! Numa guerra, exércitos disputam entre si! Esse não é o caso. Nesse episódio, foram tanques de guerra, bombardeios por ar, terra e mar por parte de Israel contra foguetes do Movimento de Resistência Islâmico, o Hamas, em defesa do povo palestino e do direito ao território e à vida. A capacidade de guerra de Israel é semelhante à usada pelos Estados Unidos das Américas (EUA) quando este atacou o Iraque.
Embora ambos os lados tenham decretado o cessar fogo, o crime de tensão e insegurança ainda permanece e permanecerá entre o povo palestino.
A mídia hegemônica também não apresenta ao povo brasileiro quais os reais motivos do conflito histórico, quem está por trás dele e quais os principais interesses envolvidos. Retomando um pouco na história poderemos compreender a atual situação na faixa de Gaza.
A Palestina foi habitada desde os tempos pré-históricos mais remotos. Talvez por causa da sua situação geográfica – faz parte do corredor entre a África e a Ásia e ao mesmo tempo fica às portas da Europa – a Palestina nunca foi sede de um poder que se estendesse para além das suas fronteiras. Pelo contrário, esteve quase sempre submetida a poderes estrangeiros, sediados na África, na Ásia ou na Europa. [2]
No final do II milênio A.C., a Palestina começou a receber imigrantes de várias regiões dentre eles judeus.  Após muitos conflitos, então, passou a ser território do Império Romano, sendo os judeus foram resistentes a essa dominação. No entanto, após essa dominação, os judeus perderem força e foram fragmentados em vários grupos.  Mas prevaleceu neles a vontade de que todo o seu povo construísse um Estado Judaico.
 No século XIX, com o triunfo de ideologias nacionalistas surgiu entre os judeus laicos da Europa central e oriental um movimento nacionalista secular cujo objetivo era a criação de um estado dos judeus, sendo este considerado como o único meio de assegurar a identidade e a sobrevivência da nação judaica, assim como de lhe garantir um lugar ao sol entre as demais nações. Os nacionalistas judaicos não tardaram a optar pela Palestina. Essa escolha, embora não fosse necessária, era natural e particularmente mobilizadora, por causa da ligação do judaísmo à Palestina e da atração que ela exerce mesmo sobre muitos judeus que não são religiosos ou originários desse país.  Esse movimento tomou o nome de sionismo, palavra que deriva de Sião, um dos nomes de Jerusalém na Bíblia. A opção pela Palestina se enquadrava nos projetos coloniais das potências européias, sobretudo da Grã-Bretanha e da França, que preparavam a partilha dos despojos do império otomano decadente. Foi sem dúvida por isso que o projeto sionista vingou.
Na I Guerra Mundial, a Grã-Bretanha, atual Inglaterra, tinha interesses pelas terras Palestinas e prometeu aos sionistas que obteria uma terra para formação do Estado Nacional Judaico.  Através da Declaração Balfoura Grã-Bretanha prometeu à Federação Sionista que faria todo o possível para o estabelecimento de "um lar nacional para o povo judaico". De fato isso aconteceu, quando as forças britânicas ocuparam as terras da Palestina e ficaram com a sua administração. As potências aliadas através do Pacto da Liga das Nações estabeleceram o sistema de mandatos para posteriormente distribuir as colônias para a formação de estados nacionais sobre a tutela das potencias mandatárias.
 Na conferência de San Remo a 25 de Abril de 1920, o Conselho Supremo Aliado repartiu os Mandatos para essas nações entre a França (Líbano e Síria) e a Grã-Bretanha (Mesopotâmia, Palestina/Transjordânia). O Mandato para a Palestina, que incorpora a Declaração Balfour sobre o estabelecimento do "lar nacional para o povo judaico", foi aprovado pelo Conselho da Liga das Nações a 24 de Julho de 1922, tornando-se efetivo a 29 de Setembro do mesmo ano.  Com o tempo todas as nações, exceto a Palestina, tornaram-se independentes.
Graças ao Mandato para a Palestina, o patrocínio do projeto sionista, que era um elemento da política britânica, tornou-se política oficial da Liga das Nações. Esta não só deu ao projeto sionista a caução internacional, mas forneceu-lhe também os meios para a sua realização. A Grã-Bretanha, a quem o Conselho Supremo Aliado (isto é, os vencedores da guerra) confiara o Mandato da Palestina, era sem dúvida alguma a potência mais indicada para implantar a política da Liga das Nações em relação a esse país. De fato, a administração britânica procurou cumprir fielmente enquanto pôde a missão que lhe fora confiada.
Rapidamente os sionistas aproveitaram a estrutura instalada naquele momento e o apoio britânico para trazer de volta os judeus. Os palestinos não se agradaram da idéia e inicialmente resistiam pacificamente, posteriormente começaram a surgir conflitos sangrentos não dirigidos apenas aos sionistas, mas também aos britânicos a quem exigiam um estado palestino. Realizando uma grande greve geral em 8 de maio de 1936.
 Reconhecendo a dificuldade de os Palestinos desistirem da independência, os britânicos começaram a pensar na divisão do território, proposta que não agradou a nenhuma das partes. Percebendo a inviabilidade da sua proposta, a Grã-Bretanha propôs a formação de um único estado sionista e palestino, abandonando o suporte dado aos sionistas. Os Judeus trataram de reforçar a imigração do seu grupo para a Palestina e recorreram ao EUA para pedir ajuda. Vários ataques a tropas britânicas começaram a ser efetuados por grupos de guerrilhas e a Grã-Bretanha desistiu do mandato, repassando–o para a Organização das Nações Unidas (ONU).
A ONU retomou a proposta de divisão do território sendo que Jerusalém ficaria sob domínio da ONU. Os judeus ocuparam as aéreas destinadas a eles pela divisão e aos poucos foram avançando sobre outras áreas. Com a saída das últimas tropas britânicas, Israel proclamou a criação do Estado Judeu, eclodindo conflitos no território em disputa. Em 15 de maio de 1948, um dia após a saída das tropas britânicas a guerra se espalhou.  Os palestinos juntamente com transjordanianas, egípcias e sírias, ajudadas por contingentes libaneses e iraquianos formaram a coligação árabe, no entanto as forças judaicas eram mais fortes e possuíam maior exército. Ao final da guerra Israel já ocupava 78 % da Palestina, ficando fora do estado judeu a cadeia de baixas montanhas do centro e do sul da Palestina, a chamada Cisjordânia, assim como a Faixa de Gaza. Jerusalém ficou dividida: a parte oeste da cidade extramuros ficou do lado de Israel; a cidade antiga e o bairro extramuros a norte ficaram do lado árabe. Israel declarou Jerusalém sua capital, contrariando a decisão da Assembléia Geral da ONU de 1947, que recomendava a internacionalização da cidade.
A maior parte da população palestina virou autóctone, refugiados e amedrontados com a violência de Israel. A ONU em dezembro de 1948 aprovou a resolução 194 que reconhece aos refugiados palestinos o direito de regressarem aos seus lares ou de serem indenizados, se assim o preferirem. Todavia Israel não aceitou, recusou-se e continua a recusar-se a aplicá-la. Acelerou o processo de extermínio e de destruição das terras dos refugiados palestinos, distribuindo as suas terras aos imigrantes judeus, Israel tornou impossível o regresso de uma boa parte dos refugiados aos seus lares. A esmagadora maioria dos refugiados amontoou-se em acampamentos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia, na Jordânia, na Síria e no Líbano.
Em 5 de junho de 1967, Israel realizou uma guerra-relâmpago, “a guerra de seis dias”, durante a qual ocupou toda a Península do Sinai (egípcia) a Faixa de Gaza (sob administração militar egípcia) a Cisjordânia juntamente com Jerusalém Oriental (anexadas pela Jordânia em 1950) e o Planalto do Golã (sírio). Israel anexou a parte de Jerusalém recém-ocupada.
A chamada "Guerra dos Seis Dias" fez mais refugiados palestinos, da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, alguns dos quais o eram pela segunda vez. A maioria foi para a Jordânia. Os restantes foram para o Egito, a Síria e outros países.
Em 1967, o Conselho de segurança da ONU aprovou a resolução 242 que se propunha formular os termos para uma paz justa e duradoura no Próximo Oriente baseada no respeito pelos princípios da Carta da ONU e na inadmissibilidade da aquisição de territórios pela guerra. A resolução ordena a retirada das forças armadas israelitas dos territórios ocupados no recente conflito em troca do reconhecimento pelos estados árabes do Estado de Israel dentro das linhas do armistício de 1949.
A situação mudou a partir de 1967. O povo palestino voltou a tomar em mãos o seu destino. Por mais que se tenha esforçado por negar a sua existência, Israel teve finalmente que reconhecer o povo palestino não só como povo, mas também como "interlocutor/inimigo" inevitável. Encarnaram as aspirações nacionais palestinas a Organização de Libertação da Palestina (OLP) uma coligação de partidos ou grupos que havia sido criada em Jerusalém, em 1964. Tal como foi formulada em 1968, a Carta da OLP, na linha do que sempre fora a política palestina, propunha-se como objetivo a criação do Estado da Palestina em todo o território nacional. Isso implicava o desaparecimento do Estado de Israel. A carta da OLP considerava os judeus que viviam na Palestina antes da "invasão sionista" como palestinos com pleno direito à cidadania, como os demais habitantes: muçulmanos, cristãos e de outras religiões ou etnias.
 Desde então, várias foram as tentativas de se gerar acordos de paz, no entanto, ambas das partes não aceitam acordos sendo cada vez mais sangrentos os conflitos.
Nos últimos anos, os EUA, sob argumento de que Israel precisa se defender do Hamas, ofereceu armas e anualmente a assistência de US$ 3 bilhões (três bilhões de dólares) para financiar a investida imperialista do Israel sobre países vizinhos, no controle de territórios, rotas de comércio de produtos em geral e do petróleo; como para distribuir os armamentos que aquele país produz e semelhantemente distribui para outros grupos e governos como, por exemplo, para o governo fascista da Colômbia, através do Plano Colômbia. Os EUA foi responsável pelo financiamento e apoio à sucessão de golpes militares na América Latina, iniciada em 1954 na Guatemala, a invasão da Baia dos Porcos em Cuba (1961), a Guerra no Vietnã (1964-1973), o golpe militar na Indonésia (1965), a invasão de Granada (1983), o bombardeio da Síria (1986), a invasão no Panamá (1989), a ocupação do Haiti (1994), a guerra da Somália (1994), a Guerra do Golfo (1991), até as invasões mais recentes do Afeganistão (2001) e Iraque (2003) [3] sendo esses alguns exemplos da intervenção bélica ianque pelo mundo.  Sustentar esse conflito no oriente médio fez parte da política imperialista do governo Bush. Como se viu, os ataques foram retomados de forma brutal justamente no término do mandato do Governo. Ainda permanece a incógnita se o próximo Presidente dos EUA, Barack Obama, manterá a política militarista de Bush filho.
Para entender mais a relação dos EUA com Israel é preciso saber que nesse país existe uma forte influência de judeus sionistas que de lá estabelecem relações como governo de Israel, o trecho seguinte do Rabino Elmer Berger (Presidente do Conselho Mundial para o Judaísmo) expressa bem essa afirmação.
 “A opinião pro - sionistas nos Estados Unidos e nos outros países é orientada e dirigida do exterior. As investigações sobre a estrutura sionista dos Estados Unidos, levadas a efeito pelo Comitê de Relações Exteriores do Senado americano, em 1963, deixou este fato estabelecido. A Agencia Judaica pro Israel, a Organização Sionista Mundial e os grupos sionistas locais, inclusive os da Inglaterra e da América, são todos, na realidade, de fato e de direito, uma e a mesma coisa; e todos eles são, juridicamente parte do próprio governo israelense. Os grandes Estados democráticos do Ocidente nada trarão de construtivo para a solução do problema da Palestina e falharão, portanto, na proteção do que lhes restar dos seus interesses no Oriente Médio e, muito menos, seguirão restaurar seu prestigio, até que seja posto fim a esta exploração da tolerância democrática pela propaganda sionista/israelense e com imparcial aplicação da lei. Naturalmente, para tomar as providencias necessárias à regularização das relações entre o Estado de Israel e os cidadão de origem judaica de quaisquer desses Estado democráticos, os governos e o povo terão de compreender e fazer uma distinção fundamental entre a legítima tradição espiritual do judaísmo e substancia exclusivista, discriminatória e antidemocrática do nacionalismo contemporâneo do Israel sionista". Rabino Elmer Berger (Presidente do Conselho Mundial para o Judaísmo).[4]
No mundo todo, as pessoas têm ficado mais resistentes a atos como esse e realizado uma série de mobilizações em solidariedade ao povo Palestino. Esse e outros motivos foram os responsáveis pelo cessar fogo iniciado no último domingo (18 de janeiro de 2009).
Laerte Braga, na sua análise “A “trégua” em Gaza – são os “negócios”, apresenta bem quais os motivos que estão nas entrelinhas do cessar fogo. Para ele três foram os fatores que influenciaram a trégua. O primeiro deles foi a forte reação da opinião pública dentro do próprio país, e a recusa de jovens sionistas que em entrarem no exercito como repudio às ações nazi/sionistas. O outro fator foi a preocupação com a imagem do país em todo o restante do mundo, em que ficou evidente que o interesse dos Israelenses é meramente econômica, enquanto o povo palestino tem o sonho de construir uma nação. O último é que o contribuinte ianque percebeu que é o financiador da barbárie na Palestina bem como da construção de todo Estado sionista. E em meio a crise econômica está perdendo as casas que são financiadas por bancos nazi/sionistas. Além disso, o vice presidente Dick Chaney padrinho do nazi/sionismo deixará de “controla as cordinhas que movimentam Bush” . Com a posse de Obama, tido como bom moço pela origem, a necessidade de tirar o país da crise , vai ficar também mais difícil continuar com o ataque.

Mesmo com o cessar fogo é preciso que continuemos expressando o nosso apoio ao povo palestino que ainda sofrerá por muito tempo com os impactos dessa ação terrorista. Assim estimulemos o boicote aos produtos israelenses. Exijamos dos governos sanções econômicas. Estimulemos atos em solidariedade ao povo palestino. Furemos o bloqueio da grande mídia, divulgando em listas de discussão e e-mails, rádios comunitários e jornais dos instrumentos políticos o histórico do conflito, as causas e interesses externos, as informações deformadas da grande mídia, a real situação de calamidade da região da Faixa de Gaza e as imagens estarrecedoras.  E Exijamos do governo brasileiro medidas fortes de posicionamento contra Israel, como o corte de relações diplomáticas assim como fez a Venezuela e a Bolívia.

            E tão importante quanto essas ações, olhemos com outros olhos para o Brasil para as crianças e adolescentes desrespeitados, para mulheres oprimidas e exploradas, para os que morrem de fome e de doenças, para os que morrem pela criminalização dos movimentos sociais quando exercem a legítima defesa de se expressar.
            Continuemos nos perguntando: até quando?! Mas não nos calemos diante das injustiças! E muito menos continuemos parados!

Ângela Pereira* é integrante da Consulta Popular e Assembléia Popular na Paraíba.


[1] Dados extraídos de matérias do Jornal Brasil de Fato (WWW.brasildefato.com.br).
[2] Informações obtidas no site: http://www.alfredo-braga.pro.br/discussoes/palestina.html.
[3] Informação obtida no texto “O último ano da ‘Era Bush’”, escrito Por Maria Luisa Mendonça, jornalista e coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. 
[4] Trecho extraído da matéria “A trégua em Gaza- são os negócios”, disponível emhttp://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/a-201ctregua201d-em-gaza-2013-sao-os-201cnegocios201d.

sábado, 24 de noviembre de 2012

Meu amor.


Ela chegou sem avisar. Eu me esquivei, com certo medo. Antes o medo que a dor? Fui, me deixei ser acolhido. Aconchego inicial. Conforto momentâneo. Da receptividade encantadora à dureza da realidade. O desafio da convivência, dificuldades, impaciência, desencanto. Disse não, mas já não é mais possível. Me embriaga, me leva, me atormenta e não me deixa fugir. Quando eu titubear me amarra
r e me amarga, tira o doce da minha boca e me faz enojar com a necessidade dada, na cara. Não diz meias palavras. Me dá um tapa e diz: não vem?

Eu, quando firme, direi que te amo. Que a paixão não cessa, fraqueja na insegurança. Direi também que me move e que sem ti não sou e tu não és. O que somos?

Na convicção não serei derrubado, porque em ti, sou fortalecido. Mais que em um Deus que me fortalece! Mais que um Deus caso eu fosse. Tu, minha amada, sejas meu fôlego, meu sopro de vida e minha razão. Serei por ti o que fores para mim até o fim. No fim não há céu. Só há aqui. Aqui não se paga o que se faz. Mas é aqui que se faz. Faz-se e se acaba aqui. Minha linda, minha força. Minha luta, minha doce, às vezes, tão amarga. Amada, morrerei por ti se preciso for. Tão bela.

Por tantos cobiçada, querida, tentada, tocada e vivida. Minha irresistível e insustentavelmente necessária: revolução.



Claúdio Silva Filho.* 





* Militante da Consulta Popular.

jueves, 15 de noviembre de 2012

Lado a lado

"Caminha, mulher e entrelaça os teus dedos com outros dedos femininos.
Assim poderás lado a lado de mãos dadas, com vozes firmes, compartilhar histórias, teorias e experiências concretas. 
É assim que, lado a lado, nos olhamos, nos afirmamos e cobriremos o sangue vermelho das mulheres oprimidas, exploradas, estupradas, assassinadas com o forte lilás misturado ao nosso colorido."

Ângela. 14 de novembro de 2012.

domingo, 28 de octubre de 2012

Um/a revolucionário/a se reconhece pelas práticas nas minúcias da vida cotidiana.



NÃO pelas quantidades de reuniões de que participa, NÃO pela capacidade de articulação, 
de argumentação e pela retórica; NÃO pela agitação e propaganda de ideais que se não 
ganham materialidade nas relações interpessoais são só palavras. 


Palavras sem exemplo pedagógico, são só palavras...



Desconfie das pessoas que se vestem com camisa de Che Guevara ...


RESSALVA 1: Isso não é desacreditar na revolução , isso é saber que as contradições dos sistema capitalista- patriarcal são reproduções das bases materiais desse sistema, ideologia e valores que impregnam em homens e mulheres;


RESSALVA 2: Isso não significa escamotear as contradições. É preciso evidenciá-las e acirrar os conflitos, pois há situações em que somente as rupturas são pedagógicas.


RESSALVA 3: Não me excluo dessa reflexão.


RESSALVA 4: Há revolucionárias/os de verdade que usam camisa de Che Guevara ou de Alexandra Kollontai.


RESSALVA 5: Não se faz revolução, apenas por desejos e idéias. É preciso ação. Mas se a ação/ a prática é incoerente com o discurso se perde credibilidade. 

Por isso REAFIRMO: Um/a revolucionário/a se reconhece pelas práticas nas minúcias da vida cotidiana!


Boa semana de luta para aqueles/as que convencem pelo exemplo!

martes, 23 de octubre de 2012

Sensibilidade

Mundo entrando pelos olhos, poros abertos...

Silêncio ouvido, cheiro do vento e toque suave...




sábado, 20 de octubre de 2012

Poeta todo dia no dia todo.


Olho vê.
Ouvido escuta.
Tato toca.
Boca gosta.
Dedos recolhem dos sentidos a palavra escrita.
Verso livre...
Sem métrica, sem rima, sem firma.

Poeta é quem mistura o sentido.
Sente em demasia
Ressoa rebeldia
Abraça desmedido
Proseia em poesia
Pra encurtar distâncias
Dia todo.
Todo dia.




Ângela Pereira.
20 de outubro- “dia do poeta”





miércoles, 17 de octubre de 2012

Sobre os valores capitalistas, as relações interpessoais e a resposta à barbárie.

 “São tempos difíceis para os sonhadores.”
Amelie Pollain

 A barbárie instalada na sociedade capitalista comprime sonhos, exalta os valores capitalistas e pode distanciar as pessoas do desejo de uma sociabilidade livre de opressões e de exploração.
Excetuando os apaixonados pelo capitalismo e os que não mais acreditam num mundo livre de relações sociais e econômicas expropriadoras da vida, quantos de nós conseguirão viver mais alguns anos acreditando na possibilidade de uma sociedade em que as relações interpessoais sejam de fato livres da exploração, da opressão, de egoísmo, do individualismo, da falsidade e da competitividade voraz que esse sistema impõe por meio das relações de produção e de reprodução da sociedade burguesa?
Há momentos em que os dias parecem inviáveis não fossem a ação involuntária de entrada do ar novo (mesmo que poluído) nos pulmões e a permissão a minutos de loucura roubados do tempo que já nos roubam.
Analisar a aparência das relações interpessoais nos dias de hoje pode retirar de qualquer humanista um pouco desanimado a motivação de lutar por mudanças, restando a flutuação da consciência sobre o que a realidade lhe coloca de condições objetivas e a expectativa do que é possível se fazer com essa realidade objetiva.
São os corpos estendidos no colchão sob a chuva e enquanto do outro lado da rua circulam freneticamente zumbis atraídos pelo fetiche do capital, do consumo do consumo pelo simples fato de consumir no shopping mais famoso da cidade.
É a mãe que grita com o filho mais velho em casa após um dia de sobrecarga de trabalho enquanto o filho mais novo chora em alto tom a coisificação da mãe.
É a inveja e a falsidade de pretensos revolucionários no cotidiano das relações humanas. O desiquilíbrio entre o ego e o superego em disputas que bem poderiam ser espelhadas nas disputas fraticidas em experiências “semi-revolucionárias” ou “ revolucionárias” que serviram para nos mostrar como não ser.
É a incapacidade de diálogo das forças de esquerda, os vícios e os fisiologismos dentro dos partidos e organizações da esquerda e a dificuldade de construir unidade em ações pontuais, imagina em processos revolucionários mais acelerados.
É o amor mercantil, o domínio sobre o corpo das mulheres, as manipulações em troca de afeto acentuadas pela falta de amor-próprio; a dependência emocional e o medo do amor livre de posse; a incapacidade de enfrentar os medos, riscar novas marcas em cima das que essas relações tão mercantis, superficiais, cheias de violência, insossas deixam na gente.
São infinidades de experiências a que intuitivamente reagimos, mas que, todavia, nosso tempo roubado não nos permite analisar mais profundamente.
Um texto com elementos tão pessimistas, escrito em minutos insones, não poderia apontar outra saída senão a de que a história realmente acabou, de que faltamente seremos conduzidos a um mundo sem alternativas a ordem capitalista vigente. Certo?  Errado.
Os passos que já foram dados em meio a toda contradição cotidiana que é imposta pelas bases materiais desse sistema, resistindo às decepções cotidianas com discursos cheios de retórica e vazios de prática coerente, e a busca da aproximação ainda incipiente da essência das relações sociais desse sistema não permitem desfazer a maldição da coerência.  Não há outra saída senão a destruição desse sistema que tem se mostrado inviável para a humanidade e a construção de uma sociabilidade socialista (transição ao comunismo) sobre os destroços do capital. Enquanto as matas não são totalmente devastadas, enquanto os rios não perdem sua vida, enquanto o nosso sangue não é totalmente sugado por parasitas capitalistas, enquanto os sabiás ainda podem cantar nas matas cerradas por arames farpados, acordemos forcemos relações sociais novas na contra-maré das determinações desse sistema que cada vez mais nos desumaniza, sabendo que “ a nova mulher e novo homem” só serão possíveis na sociedade de homens e mulheres livres!

Ângela Pereira.






Eu me amo!



" A Solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós."


José Saramago

Por isso melhor me ter que ter  (in)determinadas companhias...

domingo, 30 de septiembre de 2012

Outubro

Trago a nova: eu mudo

lento, e é tudo


Sinto ser assim


por estações: aos turnos


Posso voltar


ao ponto de partida


mas luto





Sei que vem outubro


Flores, fruto de seiva


romperão no mundo


(Trabalho duro:


sugar de pedras


rasgar os caules


colher ar puro)

Lento e bruto


eu mudo


Sei que vem


outubro


Nei  Duclós



lunes, 24 de septiembre de 2012

Tem que ter reflexo...





"Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.
Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
-tem que ter reflexo."

Pablo Neruda

lunes, 17 de septiembre de 2012

Melhor morrer de pé.


Estão infiltrados...
Nos becos mais escuros
Ou nos cantos ensolarados

Listras na TV colorida.
Sussuram à voz do Walkman
Ou em carros de sons
Gritam ao seu lado

Estão ali bem à vista
E tu?
Não fazes nada e vês...

Estão ali bem à vista
E tu?
Pedes esmola pelo outro.
Aceita a hipocrisia do imposto
Canta a pseudoliberdade.

Eu prefiro:
Melhor morrer de pé
A meus joelhos machucar.








viernes, 24 de agosto de 2012

Pedalar é preciso!


Pedalar é uma das atividades mais completas, pois movimenta todo o corpo. Conheça 10 principais vantagens em andar de bicicleta:



Combate estresse e depressão: As contrações cardíacas tornam-se mais eficazes e, com isso, o sangue chega mais
 rapidamente ao cérebro, diminuindo, assim, a incidência de ansiedade, angústia e depressão.

Melhora relações sexuais: Como ocorre uma tonificação dos vasos das coxas e das pernas, a irrigação sanguínea nos órgãos genitais e vasos pélvicos é intensificada, o que colabora com uma melhor ereção peniana e aumenta a lubrificação vaginal, levando a uma relação sexual prazerosa.

Emagrece: Combinadas a uma dieta saudável e com baixas calorias, as pedaladas auxiliam na perda de peso, no controle de peso, além de favorecer o emagrecimento, reduzindo a gordura corporal.
Faz ser mais feliz e ter bom sono: O ato de pedalar estimula a liberação das endorfinas (morfinas endógenas – que fazem com que o indivíduo seja mais feliz), aumenta também os níveis de serotonina (o chamado hormônio da felicidade), gerando o relaxamento, fatores essenciais para um sono saudável.
Reduz colesterol e triglicérides: Com a prática constante do ciclismo, ocorre consumo das gorduras e diminuição do colesterol total e LDL (colesterol ruim), além dos triglicerídeos.
Evita o infarto: Ocorre também diminuição da glicemia, controlando a diabetes, que é fator de risco para a formação da placa aterosclerótica, que leva a angina e ao infarto agudo do miocárdio.
Diminui a pressão arterial: Pedalar com frequência tonifica os vasos sanguíneos (artérias e veias) e faz com que eles relaxem mais facilmente, contribuindo com a diminuição da pressão arterial, que é um importante fator de risco para doenças coronarianas.
Aumenta a imunidade: com a melhora na contração cardíaca, o sistema imune fica estimulado e eleva a produção de glóbulos brancos, ajudando o organismo a defender-se de vírus e bactérias.
Melhora a Respiração: O esforço das pedaladas aumenta a freqüência cardíaca, melhorando oxigenação dos pulmões e dos tecidos.
Garante boa forma e fôlego de atleta: A prática recorrente do ciclismo tonifica os músculos das pernas, além de aumentar o desempenho aeróbico e cardiovascular.


lunes, 20 de agosto de 2012

Mulherfagia

 " Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é."
 Caetano  Veloso.

Ando com uma fome insaciável. Quanto mais passam por meus dentes verdades ditas lá fora sobre como devo ser, mas me acomete uma vontade de comer-me. Devorar-me. Porque sou construção de um mundo de verdades que a mim não pertencem, eu-mulher.
A cada mordida. A cada saliva que molha minha carne e as idéias que a ela dão vida, mais tenho fome.
Entre uma mordida e outra, dou-me conta: " Não és, meu bem, a mesma mulher".
Respiro histórias como a minha. Ganho fôlego pra seguir dilacerando verdades, que não são minhas.

Ângela Pereira.


lunes, 13 de agosto de 2012

Eu-Mulher


Uma gota de leite

me escorre entre os seios.
Uma mancha de sangue
me enfeita entre as pernas.
Meia palavra mordida
me foge da boca.
Vagos desejos insinuam esperanças.
Eu-mulher em rios vermelhos
inaugura a vida.
Em baixa voz
violento os tímpanos do mundo.
Antevejo
Antecipo
Antes-vivo
Antes-agora-o que há de vir.
Eu fêmea matriz
Eu força motriz
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-continuo
do mundo.

Conceição Evaristo

Fêmea-Fénix

Navego-me eu–mulher e não temo,
sei da falsa maciez das águas

e quando o receio
me busca, não temo o medo,
sei que posso me deslizar
nas pedras e me sair ilesa,
com o corpo marcado pelo olor
da lama.

Abraso-me eu-mulher e não temo,
sei do inebriante calor da chama
e quando o temor
me visita, não temo o receio,
sei que posso me lançar ao fogo
e da fogueira me sair inunda,
com o corpo ameigado pelo odor
da queima.

Deserto-me eu-mulher e não temo,
sei do cativante vazio da miragem,
e quando o pavor
em mim aloja, não temo o medo,
sei que posso me fundir ao só,
e em solo ressurgir inteira
com o corpo banhado pelo suor
da faina.

Vivifico-me eu-mulher e teimo,
na vital carícia de meu cio,
na cálida coragem de meu corpo,
no infindo laço da vida,
que jaz em mim
e renasce flor fecunda.
Vivifico-me eu-mulher.
Fêmea. Fênix. Eu fecundo.


Conceição Evaristo.

domingo, 12 de agosto de 2012

Domingo,


É início, reinício, meio, e até fim.
Tem algo de quieto, 
às vezes tédio.
às vezes preguiça

Tem algo de perto
às vezes mar
às vezes mato
às vezes casa


Tem algo de afeto
às vezes desejo
às vezes abraço
às vezes beijo

Tem algo de incerto.
Só se sabe que no dia seguinte,
É preciso  se ter mais coragem.

Ângela Pereira.