miércoles, 17 de octubre de 2012

Sobre os valores capitalistas, as relações interpessoais e a resposta à barbárie.

 “São tempos difíceis para os sonhadores.”
Amelie Pollain

 A barbárie instalada na sociedade capitalista comprime sonhos, exalta os valores capitalistas e pode distanciar as pessoas do desejo de uma sociabilidade livre de opressões e de exploração.
Excetuando os apaixonados pelo capitalismo e os que não mais acreditam num mundo livre de relações sociais e econômicas expropriadoras da vida, quantos de nós conseguirão viver mais alguns anos acreditando na possibilidade de uma sociedade em que as relações interpessoais sejam de fato livres da exploração, da opressão, de egoísmo, do individualismo, da falsidade e da competitividade voraz que esse sistema impõe por meio das relações de produção e de reprodução da sociedade burguesa?
Há momentos em que os dias parecem inviáveis não fossem a ação involuntária de entrada do ar novo (mesmo que poluído) nos pulmões e a permissão a minutos de loucura roubados do tempo que já nos roubam.
Analisar a aparência das relações interpessoais nos dias de hoje pode retirar de qualquer humanista um pouco desanimado a motivação de lutar por mudanças, restando a flutuação da consciência sobre o que a realidade lhe coloca de condições objetivas e a expectativa do que é possível se fazer com essa realidade objetiva.
São os corpos estendidos no colchão sob a chuva e enquanto do outro lado da rua circulam freneticamente zumbis atraídos pelo fetiche do capital, do consumo do consumo pelo simples fato de consumir no shopping mais famoso da cidade.
É a mãe que grita com o filho mais velho em casa após um dia de sobrecarga de trabalho enquanto o filho mais novo chora em alto tom a coisificação da mãe.
É a inveja e a falsidade de pretensos revolucionários no cotidiano das relações humanas. O desiquilíbrio entre o ego e o superego em disputas que bem poderiam ser espelhadas nas disputas fraticidas em experiências “semi-revolucionárias” ou “ revolucionárias” que serviram para nos mostrar como não ser.
É a incapacidade de diálogo das forças de esquerda, os vícios e os fisiologismos dentro dos partidos e organizações da esquerda e a dificuldade de construir unidade em ações pontuais, imagina em processos revolucionários mais acelerados.
É o amor mercantil, o domínio sobre o corpo das mulheres, as manipulações em troca de afeto acentuadas pela falta de amor-próprio; a dependência emocional e o medo do amor livre de posse; a incapacidade de enfrentar os medos, riscar novas marcas em cima das que essas relações tão mercantis, superficiais, cheias de violência, insossas deixam na gente.
São infinidades de experiências a que intuitivamente reagimos, mas que, todavia, nosso tempo roubado não nos permite analisar mais profundamente.
Um texto com elementos tão pessimistas, escrito em minutos insones, não poderia apontar outra saída senão a de que a história realmente acabou, de que faltamente seremos conduzidos a um mundo sem alternativas a ordem capitalista vigente. Certo?  Errado.
Os passos que já foram dados em meio a toda contradição cotidiana que é imposta pelas bases materiais desse sistema, resistindo às decepções cotidianas com discursos cheios de retórica e vazios de prática coerente, e a busca da aproximação ainda incipiente da essência das relações sociais desse sistema não permitem desfazer a maldição da coerência.  Não há outra saída senão a destruição desse sistema que tem se mostrado inviável para a humanidade e a construção de uma sociabilidade socialista (transição ao comunismo) sobre os destroços do capital. Enquanto as matas não são totalmente devastadas, enquanto os rios não perdem sua vida, enquanto o nosso sangue não é totalmente sugado por parasitas capitalistas, enquanto os sabiás ainda podem cantar nas matas cerradas por arames farpados, acordemos forcemos relações sociais novas na contra-maré das determinações desse sistema que cada vez mais nos desumaniza, sabendo que “ a nova mulher e novo homem” só serão possíveis na sociedade de homens e mulheres livres!

Ângela Pereira.






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