sábado, 21 de diciembre de 2013

Quando a poesia não sai, o corpo fala...


Aproveitei  para dar uma passada e lembrar de um das coisas que me movem, postando  uma poesia de Viviane Mosé.

Essa é para quem anda retendo poesia, inclusive eu.

Doenças


Muitas doenças que as pessoas têm são poemas presos
abscessos tumores nódulos pedras são palavras
calcificadas
poemas sem vazão
mesmo cravos pretos espinhas cabelo encravado
prisão de ventre poderia um dia ter sido poema
pessoas às vezes adoecem de gostar de palavra presa
palavra boa é palavra líquida
escorrendo em estado de lágrima
lágrima é dor derretida
dor endurecida é tumor
lágrima é alegria derretida
alegria endurecida é tumor
lágrima é raiva derretida
raiva endurecida é tumor
lágrima é pessoa derretida
pessoa endurecida é tumor
tempo endurecido é tumor
tempo derretido é poema
palavra suor é melhor do que palavra cravo
que é melhor do que palavra catarro
que é melhor do que palavra bílis
que é melhor do que palavra ferida
que é melhor do que palavra nódulo
que nem chega perto da palavra tumores internos
palavra lágrima é melhor
palavra é melhor
é melhor poema

Viviane Mosé

Viviane Mosé (Espírito Santo16 de janeiro de 1964) é poetisafilósofapsicóloga psicanalista e especialista em elaboração e implementação de políticas públicas. Mestre e doutora em filosofia pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Publicou sua tese de doutorado Nietzsche e a grande política da linguagem em 2005 pela editora Civilização Brasileira. ( Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Viviane_Mos%C3%A9)

miércoles, 11 de diciembre de 2013

Ricardo Brindeiro segue presente entre nós!


Passados 7 dias da despedida da presença física do querido Companheiro Ricardo Brindeiro, seguem as muitas homenagens de um homem extremamente querido pela solidariedade, alegria, simplicidade e opção de classe que fez. 

Ricardo Brindeiro segue presente entre nós!






Abaixo, socializo texto escrito pelo camarada Alder Júlio em homenagem ao lutador do povo: Brindeiro.












RICARDO BRINDEIRO, UM MILITANTE AMOROSO

Alder Júlio Ferreira Calado


Ricardo Brindeiro segue vivo entre nós, após sua grande viagem à Casa do Pai/Mãe, em cujos braços é acolhido, e com a festiva recepção de tanta gente querida que nos precedeu: Dom Oscar Romero, Dom Helder (que lhe ministrou as primeiras ordens menores), Margarida Maria Alves, Pe. José Comblin, Éliton Santana e tantas outras figuras venerandas.
Partiu, em sua grande viagem, aos seus densamente bem vividos 61 anos, ele que nasceu, em Recife, no dia 15 de agosto de 1952, numa família católica de classe média. Desde cedo, já revelava sinais de seu apreço à liberdade e de seu amor às pessoas, em especial aos pobres.
Em tenra juventude, experimentou um duplo apelo: à militância e à mística. Uma militância multiforme: nas pastorais sociais, no movimento estudantil, na política partidária, nos movimentos populares, nas organizações de base de nossa sociedade. De início, engajou-se em grupos de jovens da Igreja Católica. Depois, na militância estudantil universitária, em seu curso de Arquitetura, na UFPE, apoiando ou participando de campanhas de chapas do DCE.
Quanto ao apelo à mística, antes mesmo de sua tocante experiência de estudos no ITER (Instituto de Teologia do Recife), passa por uma repentina aventura: sem nada dizer em casa, põe-se a viajar mundo afora, indo parar em Óbidos – PA, em busca de uma experiência num Seminário franciscano. Durou pouco tempo. Mais tarde, quis vivenciar uma experiência ecumênica, tendo sido acolhido pelo conhecido monge Michel Bergman e demais irmãos na Comunidade de Taizé, em Alagoinhas, na Bahia. Tempo de fecundo encontro com Deus, nos irmãos. Aí também chegou a contribuir como arquiteto, projetando a capela desta Comunidade.
Foi, porém, no Instituto de Teologia do Recife (ITER), onde vem a ter o auge de sua experiência de formação teológica, tendo sido inspirado por figuras docentes como Humberto Plummen, René Guerre, Ivone Gebara, Sebastião Armando, Eduardo Hoornaert, Marcelo Augusto, além de tantos colegas de ITER espalhados por esse Nordeste, inclusive aqui em João Pessoa, a exemplo do Pe. Antônio Paulo Cabral de Melo.
Estudando no ITER, não abriu mão de morar e trabalhar intensamente com a Comunidade da Favela Brasília Teimosa, onde, pela imposição das mãos de Dom Helder, chegou a receber as Ordens Menores, tendo depois decidido seguir outras trilhas de militância junto ao povo dos pobres.
Vivia-se, no Brasil, um período de intensa efervescência dos movimentos populares, na qual a chamada “Igreja na Base” tinha um lugar de destaque, seja pela densa atuação das CEBs, das pastorais sociais (CIMI, Pastoral da Terra, Pastoral Operária, Pastoral da Juventude do Meio Popular e outras), do CEBI. Duas participações de Ricardo aí merecem destaque: sua contribuição, na área musical, no processo de elaboração do Ofício das Comunidades e de outros cantos litúrgicos, com Pe. Reginaldo Veloso e o o pessoal do Morro da Conceição. Também, ele conta com entusiasmo sua participação ao lado de várias figuras que atuaram na famosa Missa dos Quilombos, em começos dos anos 80.
Nessa época, também, juntamente com todo o povo dos pobres da Arquidiocese de Olinda e Recife, viveu tempos sombrios, logo após a resignação (aposentadoria) de Dom Helder, no augre da perseguição à “Igreja dos Pobres”, comandada pelo Vaticano. Para suceder a Dom Helder, o Vaticano nomeia Dom José Cardoso. Este arcebispo não tardou em comandar a vasta operação de desmonte, punindo, expulsando e substituindo os agentes de pastoral que animavam, à luz da Teologia da Libertação, a caminhada do Povo de Deus, naquela arquidiocese.
Uma dessas medidas punitivas voltou-se contra a Comunidade do Morro da Conceição, animada pelo Pe Reginaldo Veloso. Este também foi substituído. A comunidade reage à destituição de Pe. Reginaldo e à sua substituição pelo Pe. Constante. Com o propósito de “tomar posse”, o novo vigário pede a chave da Matriz, guardada pelo povo. O povo se reúne, faz uma manifestação, na qual também Ricardo estava presente, e até compôs uma música de resistência, tematizando o sentido de chave. O estribilho da música dizia:: “A chave, a chave / A chave eu não dou / A chave é de Pedro / Que é pescador.” A propósito,  lembra o Pe. Paulo Cabral que “No processo de reintegração de posse, movido pela arquidiocese, o oficial de justiça, com todo o respaldo policial, quebra os cadeados e abre a Igreja.”
Recém-casado com Ana Gusmão, após um período de trabalho de Ricardo junto à FASE, decide o jovem casal vir fazer uma experiência missionária em João Pessoa, a convite dos Missionários Mazzianos, no Alto do Mateus, no final dos anos 80, com a mediação de Pe. Robson, e com a entusiástica acolhida da Comunidade Mazziana, animada por figuras muito queridas, entre as quais o Pe. Carlos Avanzi, o Pe. Dario Vaona, o Pe. Lorenzo e as Religiosas da mesma Congregação.
Na companhia da comunidade mazziana, ele e Aninha passam a animar várias atividades educativas, em especial o Projeto de Educação Popular“Beira da Linha”, desenvolvendo uma série de atividades educativas com as crianças, adolescentes e jovens do bairro: desde teatro, música a outras atividades pedagógicas, sempre numa perspectiva de formação da consciência cidadã.
Graças a essas atividades com a moçada do bairro, inclusive por meio de distintas iniciativas lúdicas – quantos milagres fez Ricardo com seu violão e suas paródias! - vai brotando uma nova consciência na comunidade, de modo a despertar um fecundo sentimento de protagonismo, inclusive no plano político. Várias ações, vários atos públicos foram então realizados, por melhorias concretas das condições de vida daquela comunidade.
Por esse tempo, Ricardo contribuiu ativamente nos debates e iniciativas relativas ao Estatuto da Criança e do Adolescente, contribuiu com o Centro de Direitos Humanos Margarida Maria Alves, do qual foi presidente. Militante do PT, chegou a candidatar-se a Vereador. E, sobretudo, tornou-se o principal ícone em sucessivas manifestações e atos públicos realizados pelos movimentos sociais, pelas pastorais e pelas organizações de base de nossa sociedade, animando com suas canções, com seu violão, com suas palavras de orem...
Nos últimos anos, como membro da assessoria do Mandato do Dep. Luiz Couto, do PT, ocupou o melhor do seu tempo colaborando com qualidade com as reuniões e debates dos movimentos sociais, em especial a Consulta Popular, a Assembléia Popualr, de cujas reuniões e encontros era dos mais assíduos, ora ajudando a construir o Grito dos Excluídos e Excluídas, ora participando de comissões de organização, etc. Nesse sentido, entendo a ação de Ricardo Brindeiro como a de um intelectual orgânico a serviço dos “de baixo”, em especial em sua atuação na prática prática.
Homem de fé que, desde sua humilde e espontânea disposição em se nos apresentar, primeiro, como pecador,  não hesita em explicitar sua fé, ao seu modo (com fome diária de Eucaristia, assíduo exercício das leituras do dia, inclusive em seu período de grande provação), estava sempre disponível para participar dos encontros do Movimento Fé e Política e de tantas atividades das CEBs e da “Igreja na Base”. Fez também parte do Conselho de Justiça e Paz, criado por Dom Marcelo Carvalheira, na Arquidiocese da Paraíba.
Merece destaque sua participação no Grupo Kairós/Nós Também Somos Igreja, grupo iniciado por inspiração do Pe. José Comblin, desde 1998, e que já há vários anos, se reúne semanalmente na UFPB, do qual Ricardo foi um dos membros mais assíduos, a debater temas delicados de conjuntura eclesial, textos de teólogos e teólogas da Libertação, etc.
Para quem não o conhecia de perto, talvez tenha sido surpresa a densa festa de alegria e esperança em que se transformou seu velório, celebrado tanto em Recife (dia 3/12, dia de sua páscoa definitiva) quanto no Alto do Mateus (em João Pessoa, dia 4/12). Aqui, na Igreja de São Mateus, a comunidade do Alto se fazia presente com muita força. Também amigos e amigas tantas de outros bairros, de outros municípios, de outros Estados. Presentes sua esposa Ana, seus filhos Mateus e Francisco. Não bastassem os depoimentos e testemunhos de tanta gente, como esquecer o testemunho prestado pelo seu filho Mateus, de 25 anos, a expressar o rico legado do pai, fundado na pedagogia do exemplo e da amorosidade, manifesta inclusive nos momentos de dar bronca nos filhos. Antes de nos dizer qualquer coisa, tomava seu violão, tocava/cantava uma música, olhava para nós e nos falava o que tinha a nos dizer.
Também não me foi surpresa a mensagem recebida de Pe. Reginaldo Veloso, hoje, dia 6/12, dando conta de que “Ricardo Brindeiro e Madiga, Nelson Mandela são os grandes sinais de Natal deste ano de 2013.” Sentimento que fazemos nosso!
Com seu jeito amoroso de ser e de militar, Ricardo se torna figura emblemática de militante de um novo tipo. Distanciando-se daquele perfil sisudo e enrijecido, Ricardo testemunhava sinais de bondade, abertura, amorosidade a temperar sua vida de profundo compromisso com a causa libertadora do povo dos pobres, na pespectiva do Seguimento de Jesus.
Obrigado, Ricardo! Você segue vivo e presente a nos inspirar práticas de amorosidade com o Planeta, com os humanos e com toda a comunidade de viventes, pelas trilhas do Reinado de Deus!


João Pessoa, 6 dezembro de 2013.





martes, 3 de diciembre de 2013

Saudades de quem vai, iluminando quem fica: Ricardo Brindeiro presente! presente! presente!


Hoje, 03 de dezembro de 2013, o mundo perdeu um lutador do povo que durante muitos dias de sua vida trilhou seu caminho acreditando na possibilidade de que possamos, trabalhadoras/es unidos,  mudar o mundo, acabando com as opressões e injustiças que nos atingem: Ricardo Brindeiro.

Ao receber hoje pela manhã uma ligação telefônica de um companheiro para me informar da despedida de Ricardo Brindeiro, uma lágrima caiu dos olhos e a saudade apertou o peito. Ao longo do dia várias lembranças passaram por minha mente, sendo que todas foram de momentos extremamente alegres e de luta. Transformei minha tristeza em alegria. Não pela dor da perda de um camarada tão querido e generoso. Mas por gratidão de ter compartilhado com esse companheiro momentos extremamente significativos na minha vida. 
Com Brindeiro, iniciei a minha militância na Assembléia Popular, fazendo trabalho de base na comunidade do Alto do Mateus em João Pessoa. Entoando canções de luta e palavras de ordem contra os altos preços da energia. Também com Brindeiro estive em várias  reuniões e mobilizações de rua em que sua voz e seu fiel companheiro,o violão, fazia ressoar a mística para animar lutadoras e lutadores do povo na luta por uma sociedade justa. Esteve conosco no ato das Mulheres do Campo e da Cidade contra a violência e a impunidade, animando mais de 700 mulheres da Paraíba que reivindicaram o fim da violência contra as mulheres e a efetivação de políticas públicas dirigidas as mulheres vítimas de violência.
 Compartilhei com Brindeiro muitos momentos de risadas, brincadeiras e de generosidade. Uma carona em um momento difícil  da minha vida para rever minha família no Natal há cerca de um ano foi apenas mais uma expressão do tamanho da solidariedade que este homem era capaz de emanar em nome de uma sociedade de homens e mulheres livres.
Mesmo nos momentos mais difíceis do tratamento contra um câncer de pulmão , este homem manteve-se alegre, esperançoso e incentivando a união de lutadores e lutadoras para seguirem em frente.
Depois das várias lembranças, a tristeza foi. A saudade chegou, mas a luz  da alegria desse grande lutador ficará entre nós para nos lembrar que a luta se faz sorrindo e cantando.

"Viva a luta! Viva!
Nossa União! Quem são vocês? 
O povo unido outra vez.
Quem são vocês? O povo unido outra vez!"



domingo, 27 de octubre de 2013

Senhor Wang e o Deus da Fortuna- Teatro.

Escrevo para recomendar  aos/às amantes do teatro a participação no espetáculo   brechtiano " Deus da Fortuna"  do Coletivo Alfenin.  
( Fotografia de cena do espetáculo que mostra os colonos  em tempos da China Imperial se revoltando contra o patrão.)

Tive oportunidade de assistir e gostei bastante.  De forma lúdica a peça traz reflexões importantes sobre o capitalismo, abordando temas como o capital financeiro, o fetiche do capital,  mercantilização da vida, patriarcado,  consciência e luta de classes, revelando a complexidade da sociedade atual.

Segue abaixo uma sinopse  extraída do site do Coletivo Alfenin (http://teatroalfenim.blogspot.com.br/). 

Uma parábola sobre o capital em seu estágio global de volatilização. Narra a história de Wang, um proprietário de terras afundado em dívidas, na China Imperial. Zao Gong Ming, o Deus da Fortuna, surge à sua frente e lhe desvenda o futuro, com a condição de que seja erguido um Templo em sua honra. O proprietário deixará as formas primitivas de acumulação do capital para dedicar-se à especulação financeira.
 
O espetáculo, financiado pela Petrobrás, segue acontecendo até 16 de novembro, sempre nas sextas-feiras e sábados , às 20h, na Casa de Cultura  Cia da terra , na Praça Antenor Navarro (centro histórico) com entrada gratuita. 


lunes, 21 de octubre de 2013

Coisa de abestalhado: história para se contar na beira do Rio (de Janeiro).

Enquanto as esquinas  perigosas se misturam com as ruas penumbradas e solitárias, ouvimos zunidos.


De onde vem? Para onde vão? De quem são esses passos que caminham sem rumo, sem firmeza e sem esperança?



Pudera eu dizer que são pesadelos esses tempos de negrinhos com cabelos crespos arranhados no chão da cidade fria e perdida; de negrinhas cujos corpos tem marcas da violência de homens de todos os tipos, com ou sem penetração...

Pudera eu dizer que as falácias da ficção científica e cinematográfica hollywoodiana não ofuscam olhos tupiniquins com tanto glamour...

(Pintura: Na beira do rio de João Werner )


Pudera, ainda, eu dizer que as histórias do campo, onde há leite tirado na hora, flores orvalhadas, pitomba no pé, barro massapé para pisar e cana cortada na hora pra chupar interessa a gente de todo tipo na cidade...
Pudera, quem sabe, eu dizer que a palavra amor é falada com delicadeza não importa para quem se diga e que os olhos quando se abrem ao lado de uma amada o dia todo iluminam: filho, avó, tia avó, madrasta e cunhada e o vizinho que de lado espia a conversa da macharada...
E quando alguém resolve desmanchar a história contada na margem do rio, para mostrar que o ocorre de verdade no meio do Rio. 


Há sempre um espertinho, estraga prazer, a dizer: meu fio cuidado que falar mentira em cidade grande já virou mania, mas dá morte na certa, porque aqui quem sonha perde tempo, dinheiro e ainda recebe alcunha pra vida inteira de abestalhado.



Em dias em que os sonhos parecem ser coisas de abestalhados.



Ângela Pereira.















martes, 30 de julio de 2013

Alegria.

A alegria aparece quando no encontro com nós mesmos, encontramos os outros. A vida precisa de coragem, força e leveza. Quem nos ensina isso é a  própria natureza.




Allegría
Come un lampo di vita
Allegría
Come un pazzo gridar
Allegría
Del delittuoso grido
Bella ruggente pena, seren
Come la rabbia di amar
Allegría
Come un assalto di gioia
Allegría
I see a spark of life shining
Allegría
I hear a young minstrel sing
Allegría
Beautiful roaring scream
Of joy and sorrow, so extreme
There is a love in me raging
Allegría
A joyous, magical feeling
Allegría
Come un lampo di vita
Allegría
Come un pazzo gridar
Allegría
Del delittuoso grido
Bella ruggente pena, seren
Come la rabbia di amar
Allegría
Come un assalto di gioia
Del delittuoso grido
Bella ruggente pena, seren
Come la rabbia di amar
Allegria
Come un assalto di gioia
Alegría
Como la luz de la vida
Alegría
Como un payaso que grita
Alegría
Del estupendo grito
De la tristeza loca
Serena
Como la rabia de amar
Alegría
Como un asalto de felicidad
Del estupendo grito
De la tristeza loca
Serena
Como la rabia de amar
Alegría
Como un asalto de felicidad
There is a love in me raging
Alegría
A joyous, magical feeling

jueves, 25 de julio de 2013

Ser mulher negra... ( Andila Nahusi)


Mulheres negras


Enquanto o couro do chicote cortava a carne, 
A dor metabolizada fortificava o caráter; 
A colônia produziu muito mais que cativos, 
Fez heroínas que pra não gerar escravos matavam os filhos; 
Não fomos vencidas pela anulação social, 
Sobrevivemos à ausência na novela, no comercial; 
O sistema pode até me transformar em empregada, 
Mas não pode me fazer raciocinar como criada; 
Enquanto mulheres convencionais lutam contra o machismo, 
As negras duelam pra vencer o machismo, 
O preconceito, o racismo; 
Lutam pra reverter o processo de aniquilação 
Que encarcera afros descendentes em cubículos na prisão; 
Não existe lei maria da penha que nos proteja, 
Da violência de nos submeter aos cargos de limpeza; 
De ler nos banheiros das faculdades hitleristas, 
Fora macacos cotistas; 
Pelo processo branqueador não sou a beleza padrão, 
Mas na lei dos justos sou a personificação da determinação; 
Navios negreiros e apelidos dados pelo escravizador 
Falharam na missão de me dar complexo de inferior; 
Não sou a subalterna que o senhorio crê que construiu, 
Meu lugar não é nos calvários do brasil; 
Se um dia eu tiver que me alistar no tráfico do morro, 
É porque a lei áurea não passa de um texto morto;

Não precisa se esconder segurança, 
Sei que cê tá me seguindo, pela minha feição, minha trança; 
Sei que no seu curso de protetor de dono praia, 
Ensinaram que as negras saem do mercado 
Com produtos em baixo da saia; 
Não quero um pote de manteiga ou um xampu, 
Quero frear o maquinário que me dá rodo e uru; 
Fazer o meu povo entender que é inadmissível, 
Se contentar com as bolsas estudantis do péssimo ensino; 
Cansei de ver a minha gente nas estatísticas, 
Das mães solteiras, detentas, diaristas. 
O aço das novas correntes não aprisiona minha mente, 
Não me compra e não me faz mostrar os dentes; 
Mulher negra não se acostume com termo depreciativo, 
Não é melhor ter cabelo liso, nariz fino; 
Nossos traços faciais são como letras de um documento, 
Que mantém vivo o maior crime de todos os tempos; 
Fique de pé pelos que no mar foram jogados, 
Pelos corpos que nos pelourinhos foram descarnados. 
Não deixe que te façam pensar que o nosso papel na pátria 
É atrair gringo turista interpretando mulata; 
Podem pagar menos pelos os mesmos serviços, 
Atacar nossas religiões, acusar de feitiços; 
Menosprezar a nossa contribuição na cultura brasileira, 
Mas não podem arrancar o orgulho de nossa pele negra;

Refrão: 
Mulheres negras são como mantas kevlar, 
Preparadas pela vida para suportar; 
O racismo, os tiros, o eurocentrismo, 
Abalam mais não deixam nossos neurônios cativos.



Composição de Eduardo de Facção Central e Cantada por Yzalú .

25 de julho- Sou mulher de pele preta. Com muito orgulho, sou negra.



Sou mulher de pele preta. 
Com muito orgulho, sou negra.
Ao som do atabaque
Do berimbau, dagogô
E do pandeiro.

Por essa cor carrego 
Marcas do açoite que  ficaram
Dores que não são só minhas.
Do meu sangue pulsa alegria
E sonhos que não são só meus

Não, não me entrego 
Minhas ancestrais não deixam
Meu cabelo crespo
Eu não mais estico
Pro caminho o quero apontando livre

Não, não me entrego 
Minhas companheiras não deixam
O corpo é meu.
E eu decido,
Mas o meu corpo é coletivo e eu resisto.

Não, não me entrego
Minha gente não deixa
De mãos, trabalhadoras, dadas 
 O caminho vamos construindo...

25 de julho- Dia de luta latino Americano e Caribenho da Mulher negra.


miércoles, 3 de julio de 2013

O melhor lugar do mundo é aqui e agora!

Nos momentos de ansiedade, vale lembrar: 




O melhor lugar do mundo é aqui 
E agora 
O melhor lugar do mundo é aqui 
E agora 

Aqui, onde indefinido 
Agora, que é quase quando 
Quando ser leve ou pesado 
Deixa de fazer sentido 

Aqui, onde o olho mira 
Agora, que o ouvido escuta 
O tempo, que a voz não fala 
Mas que o coração tributa 

O melhor lugar do mundo é aqui 
E agora 
O melhor lugar do mundo é aqui 
E agora 

Aqui, onde a cor é clara 
Agora, que é tudo escuro 
Viver em Guadalajara 
Dentro de um figo maduro 

Aqui, longe, em Nova Deli 
Agora, sete, oito ou nove 
Sentir é questão de pele 
Amor é tudo que move 

O melhor lugar do mundo é aqui 
E agora 
O melhor lugar do mundo é aqui 
E agora 

Aqui perto passa um rio 
Agora eu vi um lagarto 
Morrer deve ser tão frio 
Quanto na hora do parto 

Aqui, fora de perigo 
Agora, dentro de instantes 
Depois de tudo que eu digo 
Muito embora muito antes 

O melhor lugar do mundo é aqui 
E agora 
O melhor lugar do mundo é aqui 
E agora 


(Gilberto Gil )

lunes, 24 de junio de 2013

Deixe entrar o sol.








Ande sempre para o sol
Olhe sempre para o sol
E tudo que você quiser
E tudo que você pensar será
Iluminado como o sol
Brilhante como o sol
Tudo o que você encontrar
E tudo que você amar
Será iluminado como o sol
Tudo foi feito pelo sol
Viva sempre em sua luz (do sol)
Tudo foi feito pelo sol


(Os mutantes)

Invento.





Vento

Quem vem das esquinas
E ruas vazias
De um céu interior
Alma
De flores quebradas
Cortinas rasgadas
Papéis sem valor
                                                                     Vento
Que varre os segundos
Prum canto do mundo
Que fundo nao tem
Leva
Um beijo perdido
Um verso bandido
Um sonho refém
Que eu não possa ler, nem desejar
Que eu não possa imaginar
Oh, vento que vem
Pode passar
Inventa fora de mim
Outro lugar
                                                                                        Vento
Que dança nas praças
Que quebra as vidraças
Do interior
Alma
Que arrasta correntes
Que força as batentes
Que zomba da dor
                                                                                                                   Vento
Que joga na mala
Os móveis da sala
E a sala também
Leva
Um beijo bandido
Um verso perdido


Um sonho refém
Que eu não possa ler, nem desejar
Que eu não possa imaginar
Oh, vento que vem
Pode passar
Inventa fora de mim
Outro lugar

( Ney Matogrosso)

Sem Feminismo, NÃO HÁ Socialismo!


"Não é a consciência do homem que lhe determina o ser,
 mas ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência."
Karl Marx


Quando os movimentos feministas anticapitalistas/socialistas afirmam que a combinação Patriarcado e Capitalismo resulta em profundos problemas que atingem principalmente as mulheres às vezes somos acusadas de estarmos sendo especificistas ou querendo hipervalorizar " a pauta das mulheres". 

Definitivamente a luta contra o patriarcado não é uma pauta apenas das mulheres! 
Precisamos avançar no processo auto-organizativo de mulheres, na formação de homens e mulheres para elevação do nível de consciência pela práxis revolucionária socialista e feminista.


A barbárie que se instala no mundo, produto do sistema capitalista  tem entre as suas maiores expressões à violência contra as mulheres em seus diversos sentidos. A violência sexual é a expressão mais aviltante e animalesca contra as mulheres. 

A crise estrutural que atinge o mundo, inerente ao modo de produção capitalista, intensifica as expressões da questão social e somos sim, as mulheres, as mais atingidas. 

A crise aparece na consciência e usa-se da ideologia patriarcal e capitalista para tentar recolocar à mulher no " lugar que lhe cabe: de propriedade do homem e do sistema."  Nesse sentido, tenta a todo custo acorrentar nossos corpos e nossa sexualidade/ reprodução. 


É preciso mais atenção!
  • Escutem e analisem as músicas que a massa ( muitos de nós inclusive) tem escutado.
  • Vejam as peças publicitárias em que somos comparadas com  cerveja e outros itens de consumo. Não significam nada?
  • Analisem as piadas machistas e homofóbicas. Elas são apenas brincadeiras?
  • Pesquisem sobre o assédio sexual/moral nos diversos ambientes. A quem principalmente atingem?
  •  Observem os discursos das forças religiosas (que também carregam a defesa do sistema capitalista). A quem está servindo?
  • Observem as relações hierárquicas e a divisão sexual do trabalho dentro e fora das organizações políticas. De que nos servem na construção daquilo de que precisamos e defendemos?

Há um cenário de muitas contradições, acirradas pela barbárie do sistema capitalista que atinge muito o próprio movimento feminista, deixando aparecer pseudo discursos e práticas feministas. 

As mídias burguesas tem mostrado atos com mulheres nuas nas ruas, ao estilo "marcha das vadias" como o supra-sumo do feminismo do século XXI.

É preciso analisar a conjuntura em sua totalidade. 

Estou convencida de que esse tipo de atividade, contribui mais e mais com  a tentativa de controle dos nossos corpos e da nossa sexualidade.  Ela juntamente com a ideologia machista/ capitalista que é impregnada nas nossas consciências por todo conjunto de cultura de massa ao qual me referi intensifica a desorientação dos movimentos feministas e mistos para a superação dessa condição que nos foi imposta. Além disso, a afirmação de que as mulheres já conquistaram muita coisa, repetida como um mantra por aqueles que enxergam apenas a aparência dos fenômenos, tem por objetivo negar a necessidade de auto-organização das mulheres. 

Essa é, portanto, também  uma estratégia burguesa para desmobilizar a classe trabalhadora. 

Não bastam leis (embora elas sejam importantes para tentar frear à violência), é preciso muito mais que as políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres. O que não anula a necessidade de lutar por elas. 

Mas sobretudo, é preciso destruir o capitalismo, para construir outras bases sociais e econômicas que determinem uma consciência coletiva e solidária não opressora entre homens e mulheres.

Pois sem Feminismo não há socialismo!


Ângela Pereira.


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Abaixo segue matéria sobre a pesquisa da OMS em relação à violência contra as mulheres.




Mais de 1/3 das mulheres do mundo é vítima de violência física ou sexual.
Dados foram divulgados pela Organização Mundial da Saúde.

Da Reuters
Foto de arquivo mostra protesto realizado em Santiago, no Chile, contra violência sexual e doméstica com mulheres (Foto: Arquivo/Santiago Llanquin/AP)Foto de arquivo mostra protesto realizado em Santiago, no Chile, contra violência sexual e doméstica com mulheres (Foto: Arquivo/Santiago Llanquin/AP)
Mais de um terço de todas as mulheres do mundo é vítima de violência física ou sexual, o que representa um problema de saúde global com proporções epidêmicas, aponta um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado nesta quinta-feira (20).
A grande maioria das mulheres sofre agressões e abusos de seus maridos ou namorados, além de ter problemas de saúde comuns que incluem ossos quebrados, contusões, complicações na gravidez, depressão e outras doenças mentais, diz o relatório.
"Esta é uma realidade cotidiana para muitas, muitas mulheres", disse Charlotte Watts, especialista em política de saúde na Escola de Higiene & Medicina Tropical de Londres e uma dos autores do relatório.
O relatório, uma coautoria de Watts e Claudia Garcia-Moreno, da OMS, concluiu que quase dois quintos (38%) de todas as mulheres vítimas de homicídio foram assassinadas por seus parceiros, e 42% das mulheres que foram vítimas de violência física ou sexual por parte de um parceiro sofreram lesões como consequência.
O relatório constatou que a violência contra as mulheres é uma das causas para uma variedade de problemas de saúde agudos e crônicos, que vão desde lesões imediatas, infecções sexualmente transmissíveis, como HIV, à depressão e transtornos de saúde mental.
As mulheres que sofrem violência de seus parceiros são mais propensas a ter sífilis, clamídia ou gonorréia. E mulheres de algumas regiões, incluindo a África sub-saariana, têm quase duas vezes mais probabilidade de serem infectadas com o vírus da Aids, diz o relatório.

Orientação e ajuda às vítimas


A OMS está emitindo orientações para os profissionais de saúde sobre como ajudar as mulheres que sofrem violência doméstica ou sexual. Eles salientam a importância em treinar os profissionais de saúde para reconhecer quando as mulheres podem estar em risco de ser agredida pelo parceiro e saber como agir.
Em um comunicado que acompanha o relatório, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, disse que a violência causa problemas de saúde com "proporções epidêmicas", acrescentando: "os sistemas de saúde do mundo podem e devem fazer mais pelas mulheres que sofrem violência."