Enquanto as esquinas perigosas se misturam com as ruas penumbradas e solitárias, ouvimos zunidos.
De onde vem? Para onde vão? De quem são esses passos que caminham sem rumo, sem firmeza e sem esperança?
Pudera eu dizer que são pesadelos esses tempos de negrinhos com cabelos crespos arranhados no chão da cidade fria e perdida; de negrinhas cujos corpos tem marcas da violência de homens de todos os tipos, com ou sem penetração...
Pudera eu dizer que as falácias da ficção científica e cinematográfica hollywoodiana não ofuscam olhos tupiniquins com tanto glamour...
(Pintura: Na beira do rio de João Werner )
Pudera, ainda, eu dizer que as histórias do campo, onde há leite tirado na hora, flores orvalhadas, pitomba no pé, barro massapé para pisar e cana cortada na hora pra chupar interessa a gente de todo tipo na cidade...
Pudera, quem sabe, eu dizer que a palavra amor é falada com delicadeza não importa para quem se diga e que os olhos quando se abrem ao lado de uma amada o dia todo iluminam: filho, avó, tia avó, madrasta e cunhada e o vizinho que de lado espia a conversa da macharada...
E quando alguém resolve desmanchar a história contada na margem do rio, para mostrar que o ocorre de verdade no meio do Rio.
Há sempre um espertinho, estraga prazer, a dizer: meu fio cuidado que falar mentira em cidade grande já virou mania, mas dá morte na certa, porque aqui quem sonha perde tempo, dinheiro e ainda recebe alcunha pra vida inteira de abestalhado.
Em dias em que os sonhos parecem ser coisas de abestalhados.
Ângela Pereira.
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