sábado, 27 de febrero de 2010

Os pensamentos econômicos clássico, neoclássico e reformista: contribuições teóricas para a sustentação do capital.

Ângela Pereira*


O “Sistema Capitalista desenvolveu” ao longo dos anos a capacidade de resistir a crises, isso, todavia, não se deu de forma natural como alguns dos seus defensores reproduziram fervorosamente. Vários economistas se debruçaram para entender o funcionamento do sistema nos seus aspectos principais e acessórios e orientar politicamente as ações dos capitalistas e dos governos. Alguns pensadores centrais que elaboraram teorias que subsidiaram a sustentação desse sistema foram os da economia clássica (Adam Smith e David Ricardo), os pensadores neoclássicos, também chamados de utilitaristas (Wiliam Stanley Jevons, Carl Menger, Léon Walras) e o pensador reformista (John Maynard Keynes).

Nesse texto, cabe-nos elencar algumas das contribuições teóricas que esses economistas trouxeram para formar os pensamentos liberais e reformistas e fortalecer a ideologia capitalista.

Adam Smith foi o primeiro a elaborar um modelo abstrato coerente da estrutura e funcionamento do sistema capitalista. Em seu livro “A Riqueza das Nações” expôs o fundamento histórico e sociológico da organização econômica capitalista em uma teoria. Para ele as formas de produção e de distribuição das necessidades materiais da vida eram determinantes das relações sociais entre classes e membros delas e das instituições que formavam a sociedade. E a forma natural de organização era a capitalista, uma vez que os seres humanos tinham a propensão natural à troca, isto é, a realizar compra e venda. Dessa forma o mercado era tido como algo natural ao ser humano. A lógica de funcionamento do mercado contida no pensamento de Smith é que quanto mais mercadorias o ser humano consegue na troca, mais ele produz. Tanto mais ele irá produzir, quanto mais especializado ele estiver. Nesse sentido, o homem vai garantido a acumulação de riqueza.

A idéia que prevalecia na obra de Smith é que existia uma “mão invisível” que conduzia as pessoas a promoverem o bem - estar social, sem que essa ação fosse intencional. Essa “mão invisível” ou “sabedoria divina” é que conduzia os homens ao progresso, com o aumento da liberdade e da segurança da maioria dos produtores. Para Adam Smith quando toda a sociedade, enquanto indivíduos, age pensando em satisfazer suas necessidades, aquela tende a evoluir. É isso que move a mão invisível do mercado.

Smith mencionava a existência de três classes sociais (proprietários de terra, os capitalistas e os trabalhadores) cuja renda era oriunda da divisão da produção anual de todo o país (aluguéis, lucro e salário) e reconhecia a existência do conflito de classes entre os proprietários de terra e os capitalistas em torno dos frutos da propriedade da terra e do capital.

Admitia ainda que o trabalho era o único criador verdadeiro de riqueza. Tanto mais rico será o indivíduo quanto mais trabalho de outro ele consegue se apropriar na troca. A isso ele chama de trabalho comandado. Trabalho é igual a valor, mas o valor que tem no trabalho a base é o trabalho apropriado por outro Para ele valor é preço. O que importa não é quanto custa determinada mercadoria depois de ser produzida, mas sim, quanto ela valerá depois de ser trocada. Ou seja, uma pessoa é tão rica quanto for sua capacidade de se apropriar do trabalho de outro. A isso chamamos de trabalho comandado.

Em sua teoria do valor- trabalho dizia que o valor de troca de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho contido nessa mercadoria, isso nas economias pré-capitalistas, depois em estágio mais avançado Smith afirmou que o valor de troca ou o preço é representado pela soma dos salários, dos lucros e dos aluguéis.

David Ricardo, também é defensor do liberalismo e é tido por excelência um pensador da burguesia industrial do início desse século XIX. Para Ricardo não existem relações sociais. O capitalismo para ele é algo hipotético, isolado. É dessa forma isolada que ele analisa a sociedade, e não de forma global.

Afirma que era necessária a prevalência do Capital sobre a propriedade da terra. E se preocupa com as questões referentes à agricultura e a renda da terra. Neste momento (século XIX), um dos grandes problemas da sociedade era o aumento incontrolável dos preços dos produtos básicos. Isso aumentava o preço dos salários, ou seja, da remuneração da força de trabalho, significando um aumento do preço da renda da terra. Para Ricardo, isso era um grande problema, visto que a pobreza no meio dos trabalhadores começa a crescer não porque estivesse preocupado com os pobres, mas pela alta dos salários. Opondo-se a Smith, defendia que o valor das mercadorias é determinado também pela composição da estrutura produtiva, e não só o trabalho incorporado. O que ele quer é encontrar é uma medida invariável do valor.

Em síntese, os mentores da Economia Clássica acreditavam que o capitalismo era a forma de organização social e econômica natural para a sociedade, tomando por base a tendência natural à troca. Para evoluir esse sistema precisava acumular riqueza através do aumento da produtividade que somente se dava com a especialização e divisão das tarefas. Além disso, defendiam a existência de uma força divina ou de uma mão invisível do mercado que conduzia o progresso humano, sem influência direta de qualquer interesse. O mercado deveria se autoregular e o estado adotar a política do laissez-faire, permitindo que as forças de concorrência e livre jogo de oferta e procura regulassem a economia, não deveria este Estado, portanto, interferir cabendo a ele somente a função de proteção da sociedade da violência e invasão de outras sociedades independentes, administrar a justiça ; fazer e manter obras públicas cuja concessão não interessa aos capitalistas.

Os pensadores neoclássicos, também chamados de utilitaristas (Wiliam Stanley Jevons, Carl Menger, Léon Walras) têm em comum a defesa de uma perspectiva da teoria do valor. Essa perspectiva não entende o trabalho como substância do valor. A teoria do valor calcada no trabalho centra-se na explicação dos preços por fórmulas matemáticas e para eles o fundamento do valor está na utilidade. A utilidade é assim a capacidade de determinada mercadoria satisfazer necessidades, subjetivas e não materiais.

Defendem como principio a idéia de que os seres humanos por si só são egoístas. Os indivíduos são racionais e maximizadores. A emoção deve ser deixada de lado e o que interessa é aumentar os lucros agindo de forma racional. A economia explica o funcionamento da sociedade e o pensamento egoísta permite a maximização da utilidade. Também vêem o capitalismo de forma a-histórica, não considerando a existência de classes sociais e nem conflitos entre classes sociais e se busca harmonia social para o progresso. Da mesma forma que o pensamento clássico, os neoclássicos defendem a não intervenção do estado, a auto-regulação do mercado e o capitalismo lasseiz-faire como melhor expressão do sistema.

Diante de uma conjuntura de crises subseqüentes e de forte impacto sobre a continuidade do sistema, surge o teórico John Maynard Keynes, favorável a manutenção do sistema capitalista, mas que admite a necessidade de intervenção do estado para superar as crises do capital e retomada do progresso social. Keynes queria contribuir com os governos capitalistas com orientações teóricas que ajudassem a salvar o capitalismo. Fez isso abandonando a premissa da automoticidade do mercado, mas defendeu que o governo interviesse o mínimo possível na busca de lucros dos capitalistas, por isso era vista como reformista, propunha a realização de pequenas mudanças, mas para salvar o sistema capitalista de sua autodestruição.

Várias foram as contribuições que esses pensadores deram para o fortalecimento do sistema capitalista, contribuições estas que ainda são alvo de muitos estudos e críticas por economistas de diversas orientações políticas. O embate contra esse sistema capitalista requer a compreensão dele e de suas leis perpassa pela compreensão e pelo estudo mais sistemático desses pensadores.


Referência


HUNT, E.K. História do Pensamento Econômico: uma perspectiva crítica. Ed Campus, Rio de Janeiro. (1987)


* Texto escrito para a Disciplina Pensamento Econômico do Curso de Especialização em Economia e Desenvolvimento Agrário ( UFES/ENFF) ministrada pelo professor Marcelo Carcanholo- Professor de Economia da UFF.

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