Senti-me
compelida a escrever a respeito desse tema após uma série de conflitos por mim
vivenciados que na conjuntura atual são reincidentes como expressão da
miserabilidade ideo-política que atinge as/os sujeitas/os políticas/os do nosso
tempo. Interessa-me falar aqui das práticas das/os militantes da esquerda.
Ressalto antes
que não se trata de uma análise ideal, ou seja, que parte de algo em que não se
implica nela e que é tirada, metaforicamente, de uma estante de idéias.
Trata-se, todavia, de uma análise em que enquanto sujeita política,
incorporo-me em processo constante de auto-crítica na práxis militante.
Quando falo de
miserabilidade ideo-política não me restrinjo à concepção de ideologia enquanto
projeção de futuro. Refiro-me a ideologia como aparato de ideias, produto das
condições materiais, que forjam a consciência social de uma determinada época.
Falo da ideologia da classe dominante, que se impregna “nas mentes e corações”
de todas/os aqueles que vivem sobre a égide desse sistema capitalista-patriarcal.
A meu ver, esta
condição é sintetizada muito bem pela frase “A cabeça pensa onde os pés pisam”.
Como o “solo” da sociabilidade capitalista-patriarcal acolhe diversos relevos,
caminhos tortuosos, em outras palavras, é cheio de contradições, estamos
suscetíveis em maior ou menor proporção a se impregnar dos piores valores
éticos da ordem vigente, ou seja, os valores burgueses.
Viver sob a
ideologia do sistema capitalista-patriarcal significa sofrer constante
influência de valores que são inerentes a ele como, por exemplo, o
individualismo, o egoísmo, a vaidade e a opressão entre e intergêneros.
Hoje,
pergunto-me em que medida somos/seremos capazes de subtrair de nossa prática
militante as expressões dos valores burgueses que caracterizam a mediocridade
ideo-política na nossa época?
Estamos de fato
nos permitindo ao exercício de auto-crítica e crítica franca e fraterna com
objetivo de somarmos forças na contra-maré
que a superação dos valores burgueses exige de nós?
Temos de fato
interesse em superar os equívocos da esquerda fraticida que parece não enxergar
a perda de força da classe trabalhadora para, em contra-mão, recolher a
arrogância, o orgulho, a vaidade e os disputismos ignóbeis no mais fundo dos buracos do solo capitalista
de modo a inutilizá-los?
Até quando
continuaremos somando motivos para os sorrisos dos capitalistas que agem de
forma bem unitária quando o objetivo é fragmentar os opositores à ordem
socioeconômica burguesa?
A partir de
várias reflexões sobre essas questões avanço para a compreensão-práxis de que A
MILITÂNCIA REVOLUCIONÁRIA SOCIALISTA É UMA QUESTÃO DE AMOR.
Esse amor passa muito longe
do amor romântico gestado na sociedade burguesa industrial. Há pessoas que fingem ter amor, às vezes para
se projetar e ganhar visibilidade, mas há pessoas (muito poucas) que realmente
tem amor e se doam pela luta revolucionária. E conseguem sentir a dor da/o
outra/o provocada pelas agruras da ordem capitalista patriarcal como se fosse a
própria dor. E assim agir sobre a realidade. Isso pra mim é amor.
Mais amor ainda o é, pelo
fato de apesar das contradições da esquerda seguir acreditando, defendendo e
materializando ações que visam a superação dos equívocos dos que também se
impregnaram dos valores capitalistas, machistas e racistas.
Dificuldade de ouvir: Ode à escutatória de Rubem Alves
(http://www.descasulando.blogspot.com.br/2014/08/rubem-alves-segue-vivo-escutatoria.html)
Às vezes a gente tem
dificuldade de ouvir e entender o que a/o outra/o coloca nas reuniões. As
respostas rápidas, recheadas de passionalidade e de certezas pré-estabelecidas,
não colaboram com o mundo novo que queremos construir. Essa prática não vem de
hoje, vem de longos tempos.
Pessoalmente, estou nesse
difícil exercício de a partir da escuta, analisar as diversas possibilidades e
enunciar reflexões.
Sobre os desvios dos
instrumentos da esquerda:
Nem sempre o que está no
plano da mente se materializa na prática e a resistência às reflexões sobre a
prática militante denunciam o nível da mediocridade ideo-política.
Tenho realmente preocupação
com os estragos que partidos de esquerda podem estar trazendo aos espaços de
organização política. Ressalvo que isso
não é uma declaração fascista de negação dos partidos. Pelo contrário, urge
fortalecermos instrumentos organizativos sejam eles partidos, movimentos
sociais, associações e outras possibilidades.
Após algumas reflexões, tenho
me permitido a olhar a realidade de outra localização do solo capitalista. Como
se trata, do solo capitalista, tenho, portanto, grandes possibilidades de
incorrer em equívocos os quais critico. Mas dou minha cara à tapa as possíveis divergências, sem prescindir da possibilidade de outras pessoas divergirem de
mim. Esse é o exercício do respeito à divergência sem opressão da outra/o.
Tenho contato com camaradas do
movimento estudantil que não estão organizados em partidos, mas que querem se
organizar e que expressam desapontamento com práticas partidárias que criticavam
desvios militantes, mas que seguem cometendo erros históricos da esquerda com
objetivo de se fortalecer enquanto partido, negando outras possibilidades e
experiências organizativas e a divergência, a exemplo de erros como o
vanguardismo, o sectarismo e tantos “ismos”. A preocupação se estende a
esquerda de forma geral.
As reflexões não surgem de
prateleiras de idéias. Precisei sentir na pele o controle da minha voz para
poder compreender os equívocos da esquerda. Que bom que senti as correntes que
me prendiam, movimentando-me. Lembrando da famosa frase de Rosa Luxemburgo “
Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”.
Nunca pensei que faria o uso
dessa reflexão de Rosa Luxemburgo, para avaliar as práticas militantes da
esquerda, mas a mesma é bem vinda.
Tenho refletido a importância de não se reproduzir
a sectarização de debates nas organizações. Estes precisam ser feitos de forma
democrática no todo da organização, considerando os níveis diversos de
consciência política e feminista e os acúmulos na experiência militante.
O papel das/os mais
experientes é estimular as/os menos experientes a serem militantes
revolucionárias/os socialistas e feministas (pró-feministas no caso dos homens),
a desenvolverem suas habilidades de agitação-propaganda, de escutatória e oratória,
escrita, análise e outras tantas habilidades que a militância revolucionária
por amor à classe trabalhadora exige de nós.
O amor é tamanho que a
necessidade de fazer diferente e fortalecer a luta da classe trabalhadora (que
tem dois sexos) segue em maratona, onde os bastões de revezamento passam de
mãos em mãos.
É tempo de pausa no ativismo, mas a luta não pára.
A minha vida é parte da luta.
É tempo de pausa no ativismo, mas a luta não pára.
A minha vida é parte da luta.
Ângela Pereira.
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