domingo, 5 de octubre de 2014

A militância revolucionária socialista é uma questão de amor.


Senti-me compelida a escrever a respeito desse tema após uma série de conflitos por mim vivenciados que na conjuntura atual são reincidentes como expressão da miserabilidade ideo-política que atinge as/os sujeitas/os políticas/os do nosso tempo. Interessa-me falar aqui das práticas das/os militantes da esquerda.

Ressalto antes que não se trata de uma análise ideal, ou seja, que parte de algo em que não se implica nela e que é tirada, metaforicamente, de uma estante de idéias. Trata-se, todavia, de uma análise em que enquanto sujeita política, incorporo-me em processo constante de auto-crítica na práxis militante.

Quando falo de miserabilidade ideo-política não me restrinjo à concepção de ideologia enquanto projeção de futuro. Refiro-me a ideologia como aparato de ideias, produto das condições materiais, que forjam a consciência social de uma determinada época. Falo da ideologia da classe dominante, que se impregna “nas mentes e corações” de todas/os aqueles que vivem sobre a égide desse sistema capitalista-patriarcal.

A meu ver, esta condição é sintetizada muito bem pela frase “A cabeça pensa onde os pés pisam”. Como o “solo” da sociabilidade capitalista-patriarcal acolhe diversos relevos, caminhos tortuosos, em outras palavras, é cheio de contradições, estamos suscetíveis em maior ou menor proporção a se impregnar dos piores valores éticos da ordem vigente, ou seja, os valores burgueses.

Viver sob a ideologia do sistema capitalista-patriarcal significa sofrer constante influência de valores que são inerentes a ele como, por exemplo, o individualismo, o egoísmo, a vaidade e a opressão entre e intergêneros.

Hoje, pergunto-me em que medida somos/seremos capazes de subtrair de nossa prática militante as expressões dos valores burgueses que caracterizam a mediocridade ideo-política na nossa época?

Estamos de fato nos permitindo ao exercício de auto-crítica e crítica franca e fraterna com objetivo de somarmos forças na contra-maré  que a superação dos valores burgueses exige de nós?

Temos de fato interesse em superar os equívocos da esquerda fraticida que parece não enxergar a perda de força da classe trabalhadora para, em contra-mão, recolher a arrogância, o orgulho, a vaidade e os disputismos ignóbeis  no mais fundo dos buracos do solo capitalista de modo a inutilizá-los?

Até quando continuaremos somando motivos para os sorrisos dos capitalistas que agem de forma bem unitária quando o objetivo é fragmentar os opositores à ordem socioeconômica burguesa?

A partir de várias reflexões sobre essas questões avanço para a compreensão-práxis de que A MILITÂNCIA REVOLUCIONÁRIA SOCIALISTA É UMA QUESTÃO DE AMOR.

Esse amor passa muito longe do amor romântico gestado na sociedade burguesa industrial.  Há pessoas que fingem ter amor, às vezes para se projetar e ganhar visibilidade, mas há pessoas (muito poucas) que realmente tem amor e se doam pela luta revolucionária. E conseguem sentir a dor da/o outra/o provocada pelas agruras da ordem capitalista patriarcal como se fosse a própria dor. E assim agir sobre a realidade. Isso pra mim é amor. 
Mais amor ainda o é, pelo fato de apesar das contradições da esquerda seguir acreditando, defendendo e materializando ações que visam a superação dos equívocos dos que também se impregnaram dos valores capitalistas, machistas e racistas.


Dificuldade de ouvir: Ode à escutatória de Rubem Alves 

(http://www.descasulando.blogspot.com.br/2014/08/rubem-alves-segue-vivo-escutatoria.html)

Às vezes a gente tem dificuldade de ouvir e entender o que a/o outra/o coloca nas reuniões. As respostas rápidas, recheadas de passionalidade e de certezas pré-estabelecidas, não colaboram com o mundo novo que queremos construir. Essa prática não vem de hoje, vem de longos tempos. 

Pessoalmente, estou nesse difícil exercício de a partir da escuta, analisar as diversas possibilidades e enunciar reflexões. 

Sobre os desvios dos instrumentos da esquerda:

Nem sempre o que está no plano da mente se materializa na prática e a resistência às reflexões sobre a prática militante denunciam o nível da mediocridade ideo-política.

Tenho realmente preocupação com os estragos que partidos de esquerda podem estar trazendo aos espaços de organização política.  Ressalvo que isso não é uma declaração fascista de negação dos partidos. Pelo contrário, urge fortalecermos instrumentos organizativos sejam eles partidos, movimentos sociais, associações e outras possibilidades.

Após algumas reflexões, tenho me permitido a olhar a realidade de outra localização do solo capitalista. Como se trata, do solo capitalista, tenho, portanto, grandes possibilidades de incorrer em equívocos os quais critico. Mas dou minha cara à tapa as  possíveis divergências, sem prescindir da possibilidade de outras pessoas divergirem de mim. Esse é o exercício do respeito à divergência sem opressão da outra/o.

Tenho contato com camaradas do movimento estudantil que não estão organizados em partidos, mas que querem se organizar e que expressam desapontamento com práticas partidárias que criticavam desvios militantes, mas que seguem cometendo erros históricos da esquerda com objetivo de se fortalecer enquanto partido, negando outras possibilidades e experiências organizativas e a divergência, a exemplo de erros como o vanguardismo, o sectarismo e tantos “ismos”. A preocupação se estende a esquerda de forma geral. 

As reflexões não surgem de prateleiras de idéias. Precisei sentir na pele o controle da minha voz para poder compreender os equívocos da esquerda. Que bom que senti as correntes que me prendiam, movimentando-me. Lembrando da famosa frase de Rosa Luxemburgo “ Quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”.
Nunca pensei que faria o uso dessa reflexão de Rosa Luxemburgo, para avaliar as práticas militantes da esquerda, mas a mesma é bem vinda.

Tenho refletido a importância de não se reproduzir a sectarização de debates nas organizações. Estes precisam ser feitos de forma democrática no todo da organização, considerando os níveis diversos de consciência política e feminista e os acúmulos na experiência militante.

O papel das/os mais experientes é estimular as/os menos experientes a serem militantes revolucionárias/os socialistas e feministas (pró-feministas no caso dos homens), a desenvolverem suas habilidades de agitação-propaganda, de escutatória e oratória, escrita, análise e outras tantas habilidades que a militância revolucionária por amor à classe trabalhadora exige de nós.

O amor é tamanho que a necessidade de fazer diferente e fortalecer a luta da classe trabalhadora (que tem dois sexos) segue em maratona, onde os bastões de revezamento passam de mãos em mãos.

É tempo de pausa no ativismo, mas a luta não pára.

 A minha vida é parte da luta. 



Ângela Pereira. 

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