Simone de Beauvoir
Não devo como mulher que venho me tornando
Permitir-me ao erro de me magoar por não me amar
E não amar a outras companheiras com quem tenho em comum
A opção pela classe trabalhadora.
Não devo como mulher que venho me tornando
Ceder aos impulsos da carência
Meramente para tentar supri-la.
Depois da sensação provisória de preenchimento,
o “vazio” volta porque o ponto não preenche o todo
E o todo é profundo e sensível!
Não devo como mulher que venho me tornando
Permitir que outra mulher seja machucada,
Torturada, explorada
Sem abrir a boca e soltar o grito.
Não devo como mulher que venho me tornando
Em desatino ser impaciente
Com os anos de luta que virão
Sob julgo dos valores patriarcais
Que vingaram.
Não devo como mulher que venho me tornando
Esconder de mim mesma
As marcas que riscaram na história:
O grito mais alto da voz grossa
A comida na mesa servida
A toalha na porta do banheiro
O dinheiro na mão retido
A pressão psicológica das filhas na saia
E a tristeza das traições...
Não devo como mulher que venho me tornando
Deixar de avançar com a dor coletiva
De milhares de mulheres mortas,
Violentadas pelo poder do homem
E do capital.
E devo, sobretudo, não deixar de sonhar alegremente
Com a emancipação feminina
Pois é em busca dela
Que venho me tornando mulher!
Ângela Pereira.
Praia do Cabo Branco. 18 de dezembro de 2009.
Companheira,
ResponderBorrarDe arrepiar...Estou muito emocionada ao sentir esta poesia...Tudo que ela simboliza bate todos os dias em meu corAção...
Cheiros de revolução Feminista e Popular!
Ivanessa Catingueira.
Obrigada,camarada!
BorrarQue venha... porque a luta é dura, mas é deliciosa!
Poesias , sensibilidade e força!
Xero grande!