viernes, 28 de enero de 2011

Propriedade e desapego.

Precisamos ser o que vivemos, não o que temos ou queremos ter. Pensar dessa forma faz uma grande diferença. É assim que se consolida ainda mais a visão de que a vida não merece outra coisa do que ser vivida intensamente: nas suas complexidades, nos seus desafios, na sua ininteligibilidade, nas suas experiências mais inovadoras...

Avanço ainda mais para a idéia e, na prática, na necessidade de construirmos relações pautadas pelo cuidado, pelo afeto sensível e intenso, sem querer ter as pessoas como posse. Não é tarefa fácil quando vivemos numa sociedade em que o seu cerne é a apropriação da força do trabalho dos despossuídos dos meios de produção, da forma mais grosteca que existe, uma vez que se tira muitas vezes o direito de vida de homens e de mulheres e que determina a reprodução da ideologia capitalista.
Naquilo que nos resta de tempo livre, aos que resta, porque aos trabalhadores informais cada vez mais lhes é tirado esse direito, cabe a nós procurarmos viver com toda a força e sensibilidade, com relações pautadas na simplicidade, no respeito, principalmente aos companheiros de classe, porque aos que já fizeram a sua opção do lado da trincheira que explora impiedosamente a vida, desejo os maiores dos sofrimentos.
Aos que acreditam e lutam por uma sociedade socialista, com relações pautadas em valores diferentes, em que se prevaleça a alegria, o cuidado, o afeto de sua forma mais profunda e intensa, trata-se de uma necessidade revolucionária afastar-se do apego.
Tentemos exercitar desde já o desapego e deixar que ao menos nas nossas relações, por enquanto, acabemos com a noção doentia de propriedade. Embora a estrutura e as condições materiais sejam outras, nossa tarefa é continuar seguindo na contra-hegemonia.

Ângela Pereira
28 de janeiro de 2010.

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