Estava eu, bem acompanhada na última sexta-feira (12/09), no Centro de Histórico de João Pessoa, buscando um pouco de cultura para sublimar as dores minhas e das/os outras/os.
No meio do caminho, dois meninos negros ( um de 12 anos e outro de 9 anos) recolhiam papelões próximo do Ponto de Cém Reis, empilhando-os em um carro improvisado de tamanho maior que os garotos.
Perguntando onde moravam, disseram que moravam no centro mesmo, apenas com a mãe (mais uma mulher dentre tantas que criam os filhos sozinhos após abandono do pai) . Segundo os meninos, ele estudavam e pareciam educados. Perguntamo-nos: Eles sobreviverão? Talvez sim, talvez não.
Em seguida...
Estranhei, verdadeiramente, em encontrar um centro histórico que antes era tão movimentado, com poucas pessoas transitando.
Algumas horas depois, vi que o Centro Histórico se enchia de pessoas. Havia, entretanto, diferenças em relação às pessoas que frequentam atualmente aquele espaço.
As tribos alternativas, ligadas à universidade, geralmente, parecem ter diminuído às idas a este espaço.
Fiquei inquieta me perguntando por quê, mais tarde, eu teria talvez sinais para minhas perguntas.
Após passar algumas horas por lá, saio de um dos bares horrorizada com uma verdadeira cena de cinema ou novela global, não estivesse eu vendo a pura realidade.
Cerca de 7 carros da Guarda Municipal de João Pessoa, iluminaram com raios de luz vermelhos e atordoaram as pessoas que ali estavam com berrantes sons de sirenes. O provável, objetivo seria reprimir a juventude pobre e que ali consume drogas de forma explícita.
Homens bem armados (não pelas armaduras de São Jorge), desfilavam seus super poderes sobre uma juventude, reprimindo e criminalizando a pobreza (a mando do governo petista) por essa ser a solução mais fácil: culpabilizar os indivíduos por usarem drogas, por serem "mal caráter"e, as suas prováveis explicações do senso comum e outras nem tanto do senso comum, assim.
( Polícia- Titãs)
A situação da juventude sem rumo, sublimando e, ao mesmo tempo, rebelando-se contra a ordem estabelecida é expressão dos conflitos entre o capital e o trabalho nos dias de hoje. A barbárie instalada que grita nas periferias nessa cidade, bonita e aparentemente pacata, tem saído dos limites a ele impostos e seguem avançando sobre a pintura bonita financiada pela empresa Coral Tintas que há alguns meses tentou deixar o centro histórico, parecido com o passado.
As pixações que aparecem no centro histórico estão lá, então, para alertar que o passado não volta, que o presente é preocupante e que este presente já nos mostra que o futuro, teoricamente, incerto, pode apontar um destino certo da incontrolabilidade do capital.
A barbárie quer triturar nossos sonhos, nós vamos deixar?
A solução para os nossos problemas, não são baculejos de homens fardados que se acham superpoderosos.
A juventude precisa de outro mundo que não é esse que aí está.
É preciso transformar a rebeldia em organização e luta, pois no limite, a rebeldia desorganizada das ruas fica nas paredes de prédios históricos descuidados, mas a rebeldia organizada move sonhos e pode virar esse mundo desumano de cabeça para baixo.
Para além dessa ordem, é preciso muito mais. Essa juventude da periferia já deve ter pistas, enquanto que os estudantes e militantes intelectuais de sala de aula e de facebook acham que é preciso sublimar os baculejos... Porque provavelmente nunca sentiram na pele os furos das balas que tem exterminado a juventude negra brasileira e a tortura que as Cláudias da vida têm sofrido por aí cotidianamente.
Ocupemos o centro histórico! Enquanto é tempo...
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