miércoles, 3 de agosto de 2011

A produção do conhecimento em Marx

Ângela Pereira*

A compreensão de Karl Marx sobre a categoria trabalho como produtor do mundo em que vivemos alterou significativamente a forma de se entender o conhecimento e de produzi-lo.

Ao contrário do que se postulavam alguns cientistas sobre a produção do conhecimento, antes de Marx, o conhecimento não é fruto apenas de idéias pré-formadas, mas é a sistematização teórico-prática da realidade produzida pelo trabalho, em movimento social e histórico. Essa concepção está intrisicamente ligada à compreensão de mundo definida pela categoria trabalho presente em Karl Marx como categoria fundante, uma vez que a partir do trabalho o ser humano adquiriu a capacidade de modificar a realidade e refletir sobre a mesma.

Segundo Lessa (2008), citando Marx, “ao construir o mundo objetivo, o indivíduo também se constrói. Ao transformar a natureza, os homens também se transformam, pois adquirem sempre novos conhecimentos e habilidades.” É, portanto, através do trabalho que o ser humano transforma a sociedade e a si mesmo.

Do ponto de vista ontológico, ao realizar trabalho, o sujeito cria uma prévia ideação do que deseja produzir e em seguida a põe em prática, ou seja, objetiva a idéia pensada anteriormente. Entre a prévia ideação e a objetivação do trabalho, o conhecimento é forjado.

É preciso conhecer, por exemplo, o material que se usa para a produção de uma cadeira e a quantidade necessária desse material para produzi-la, bem como uma técnica a ser empregada. Por outro lado, esses elementos necessários para o trabalho podem ser modificados por uma nova necessidade ou por uma avaliação de que os materiais propostos não servem para o objetivo almejado.

Através do processo de exteriorização, novos conhecimentos são apreendidos e a única forma de chegar a esse resultado é relacionando as necessidades e as possibilidades.

Diz-se ainda que conhecimento é historicamente determinado. Segundo Lessa, (2008) “o conhecimento é uma atividade da consciência que por meio da construção das idéias, reflete as qualidades do real. (...) Por outro lado, o real é um processo histórico”.

Essa categoria exerce uma função importante naquilo que vai ser feito pelos homens em cada momento histórico. O conhecimento necessário para resolver certa problemática em um determinado tempo pode não ser útil para outro momento histórico. Todavia isso não impede que o que foi acumulado historicamente e sistematizado, dentro do ciclo objetivação e exteriorização, seja utilizado como elemento para a produção de um conhecimento capaz de resolver a problemática de seu tempo.

O ser humano, ao longo dos anos, conseguiu desenvolver os conhecimentos a ponto de dar caráter diferente a ele. O que é feito é o que irá determinar o tipo de conhecimento que é produzido. Nota-se que o enfoque dado à categoria trabalho no processo de produção de conhecimento, sem dúvida, abre maiores possibilidades de interpretação do mundo, e materializa aquilo que fora antes limitado ao campo das idéias, sem muita aplicação prática.

Além disso, a compreensão dialética da realidade permite entender que é impossível de se ter o conhecimento absoluto da realidade. Mas possibilita, todavia, a continuidade da busca do conhecimento na perspectiva de se responder as necessidades do trabalho para a humanidade.

Referências

LESSA, Sérgio. Introdução à Filosofia de Marx/Sérgio Lessa, Ivo Tonet. 1ª Ed. São Paulo: Expressão Popular, 2008.128p.

* Pós-graduanda em Economia e Desenvolvimento Agrário pela Escola Nacional Florestan Fernandes e pela Universidade Federal do Espírito Santo -UFES. Texto escrito para disciplina Filosofia e Ciência ministrada por Sérgio Lessa.

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