sábado, 17 de abril de 2010

Sexta-feira.

Antes que eu me pusesse novamente a pensar em superstições, em histórias inventadas para as crianças, saltei da cama, lavei o rosto, derramei o perfume e sai à rua...
Pensei que sendo uma sexta-feira fosse encontrar o burburinho de uma cidade provinciana, em que os bichos e bichas estão soltos, gritando, despejando, vomitando o que incomoda a alma e o corpo, vindo do que a semana cheia de sobrecargas e do não-tempo livre resultou.
Abri os olhos, ainda fechados pelo cansaço da semana. Que susto! As pessoas sumiram...
Sai correndo pelas ruas... Batendo nas portas das casas vizinhas, entrando nos bares da esquina... Ninguém encontrei. Foram embora e me deixaram? Rapitados, convencidos ou com os próprios pés? E mãos?
Desolada diante da procura sem êxito, parei... ofegante. Comecei a ouvir uns sons que rompendo o silêncio, o meu próprio silêncio, me alegrava. Gargalhadas, músicas, aplausos. Pareciam felizes!

Tinha demorado a acordar e a desesperança do cotidiano sem invenções, por pouco, me fez perder o trem. Gritei: Pare!!! Também quero entrar!

Não era qualquer trem. As frases dos livros que li começaram a saltar à mente e a boca não as reteve.
Um camarada barbudo, com cabelos brancos e aparentemente cansado, era responsável pelo passeio. Mas tinham outras tantas figuras que pra mim eram apenas histórias de livros e de militantes “sonhadores”. Tinha um Lenin e uma Rosa. Uma kollontai, uma Clara. Um Carlos, uma Olga. Um Zumbi e uma Dandara. Uma Eleonora, uma Aurora. Um Zapata e um Che Guevara. Há...tinha outras e outros mais, mas nem mais dos nomes lembrara.

Como ainda estava em vida, resolvi saltar depois de mais algumas estações.
Percebi que o caminho é tão mais longo. Percebi que o silêncio da sexta-feira, nada mais era o silêncio feito pelas mordaças. Mas percebi também que não estava sozinha... Outras e outros camaradas desceram do trem.

Reconheci-os, entrelacei as mãos e seguimos em frente!

Ângela Pereira.
17 de abril de 2010.

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