Éramos os que o silêncio encapuzou de branco
E o riso esparadrapou as feridas
Os que nos sonhos perderam o sentido de ir
Em meio a poças de maio! Cheias de pinga
e desprezo
Abraços à miséria
Aqueles cujos desejos são diariamente estuprados
Pela oratória
Alucinada apologiando ‘delirium tremens’ à farta
Vendem-se orelhas em restaurantes políticos
Para banquetes de lobos
Que se lambuzam ao sofrimento alheio
Cercados de armadilhas
Formamos uma ilha minada por diamantes
Ante o incêndio
Quando perguntarem o que houve
Diga apenas que estamos vomitando o acumulo dos séculos
Sobre a mesa farta da indiferença e do escárnio
Diga também que não suporta mais
Esta anestesia de ser bom
Para cumprir a maldição de Can
No cerne do que fomos
O que seremos
Nesta erupção da vida que nos tornamos.
Curti
(Poeta afro-brasileiro)
A poetisa registrou nos seus rascunhos: Está liberado o carpe-diem! Enquanto a liberdade não chega. Por Ângela Pereira.
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