Éramos os que o silêncio encapuzou de branco E o riso esparadrapou as feridas Os que nos sonhos perderam o sentido de ir Em meio a poças de maio! Cheias de pinga e desprezo Abraços à miséria Aqueles cujos desejos são diariamente estuprados Pela oratória Alucinada apologiando ‘delirium tremens’ à farta Vendem-se orelhas em restaurantes políticos Para banquetes de lobos Que se lambuzam ao sofrimento alheio Cercados de armadilhas Formamos uma ilha minada por diamantes Ante o incêndio Quando perguntarem o que houve Diga apenas que estamos vomitando o acumulo dos séculos Sobre a mesa farta da indiferença e do escárnio Diga também que não suporta mais Esta anestesia de ser bom Para cumprir a maldição de Can No cerne do que fomos O que seremos Nesta erupção da vida que nos tornamos.
“Ninguém pára nossa luta, ninguém cala a nossa voz, mulheres feministas, socialistas somos nós. (in: Caderno de textos das mulheres da CP)”
Um dia quiseram me convencer de que à mulher cabia ser frágil, submissa e sempre dócil. Nesse dia percebi que muitas vezes me fizeram frágil pela superproteção, pelo zelo excessivo. Fizeram-me submissa quando me ensinaram ou me conduziram a aceitar a voz grossa, forte e às vezes arrogante como a verdade a ser seguida, como a orientação da experiência e como se essa experiência não tivesse algo de opressão. Um dia, nesse mesmo dia, enalteceram minha docilidade, minha meiguice, meu comportamento calmo como algo inerente à natureza da mulher.
Depois desse dia percebi que não quero ser frágil, pois tenho força e arranco-a das minhas convicções e das dificuldades. Não quero ser submissa, pois isso significa perder minha autonomia, colocar venda, diminuir possibilidades, enterrar potencialidades e me entregar à opressão.
Não quero ser doce como algo da minha natureza. Sou sensível! Sou sensível aos sentimentos do mundo, à alegria da vida, à voz da natureza que pede socorro, à dor da mulher, da criança e do idoso, à indiferença humana em detrimento da solidariedade.
Hoje quero convencer outras mulheres: Somos fortes! Busquemos a liberdade, sem perder a sensibilidade.
Queimei feio minha língua! Bem que já tivera sido alertada antes... mas o espírito do “só acredito vendo” prevaleceu.
Em mais uma dessas viagens pelo Brasil a fora, conheci uma São Paulo que não conhecia... no meio de outra quenão possuía dúvidas de existir
Bem que me esforcei em encontrar beleza nas luzinhas da varanda do prédio do centro do Bexiga, mas só mirava a lua como a imagem realmente mais bela vista daquela janela. É. Continuo preferindo a natureza...
No caminho, embaixo de cada viaduto de cinco a mais pessoas... Pedintes... deitadas no chão ou em colchões cobertas pelo vento da noite escura...
O escuro da noite que para mim não significa perigo, depois do alerta do companheiro se transformou em receio.
Mas a despeito da falta de beleza da cidade, encontrei uma beleza clandestina... nem tão clandestina assim.. mas diante da periculosidade da cidade aquilo me pareceu escondido... um segredo que somente alguns tinham ( ou aparentavam ter) a oportunidade de vivenciar.
Entre sorrisos... ao som de uma música muito agradável...feita por várias pessoas e vários instrumentos e regado por textos..poesias, crônicas , cerveja e caldo de mandioca ( a macaxeira nordestina) encontrei uma São Paulo que não conhecia...
A lembrança de uma viagem anterior (metrô cheio, falta de ar, pessoas mal humoradas, chuva, um homem dormindo ao relento e sob a chuva, a correria infernal de uma vida que não quero ter...) foi sorrateiramente infiltrada pelos sorrisos das pessoas nos corredores, nas filas do banheiro, no palco, ao lado... não bastasse sentir o acolher das pessoas, a poesia e as crônicas ( algumas das coisas que mais tenho apreciado na vida) incensaram o espaço do teatro no centro da cidade.
Pela primeira vez em noites distantes da Paraíba desprendi algumas amarras e lancei minha poesia aos ouvidos das pessoas... É verdade que pela memória frágil esquecialguns versos... Mas valeu a disposição! (Poesia completa: http://descasulando.blogspot.com/2009/06/mulher-vida.html).
É... não dá pra duvidar da capacidade de as pessoas driblarem o concreto armado,a dureza da vida... com singelas coisas... Não dá também para construir conceitos pelo aparente... é preciso sempre buscar a essência e a leveza da vida.
O tal Sarau: http://www.otalsarau.com.br/index.htm
Ângela Pereira.
Em 03 de outubro de 2009, lembrando a noite do 26 de setembro.
Resgato a pergunta lembrada numa agradável conversa recente com algumas/ns companheiras/os...
A resposta não é simples. Queria acreditar, imbuída do sentimento de bondade, que o ser humano é naturalmente bom. Quero, todavia, não desconsiderar também que o ser humano tem algo de maléfico.
Não existe (para mim) uma resposta fechada. Ou pelo menos nesse momento prefiro não fazer a escolha entre o sim e o não. Não estou em cima do muro!
Acredito que temos um pouco de cada... somos aquilo que vivemos. E como a vida não é estática, algo dado, finalizado... somos então produto dialético do tempo vivido, do concreto vivido.
Pensando então no “meu”concreto vivido...
Cansa ver como as pessoas se degladiam em disputimos impregnados de valores capitalistas...pena mesmo que tenho que conviver com essas coisas.. pena que vivo um sistema capitalista em que as pessoas querem passar por cima dos outros sem dó nem piedade... querem aparecer mais que o outro.. querem sobretudo se dar bem “em cima da carne seca”.
Procuro um elemento que me ajude a entender e a lidar com essas estafantes situações. Mas sei que apenas um não é capaz de me dar essa tranqüilidade.
Então listo:
Paciência: Muita paciência histórica para aguardar um tempo em que esses valores não serão predominantes nas pessoas;
Resistência: Para em meio aos meus próprios valores (também com influência dos valores capitalistas), não me deixar levar por esses disputimos de incorporação ao capital. A disputa que quero travar é em patamar diferente. Quero disputar a subjetividade das pessoas... Mas prefiro a poesia operária como instrumento... prefiro a leveza da utopia.
Indiferença-consciente: àqueles que decididamente fizeram a sua escolha e já não mais são vacilantes. Não quero perder tempo com os que preferem DECIDIDAMENTE o capital. Preciso ganhar mentes e corações dos que tem dúvidas... porque os outros (são)serão meus inimigos.
Mística: nos altos e baixos da vida, preciso forjar diariamente condições para resistir. A mística é meu alimento.
Utopia: Essa caminha e eu a continuo seguindo. Não sem fundamento... Os passos são firmes!
A mesquinhez que vá pertubar outros! P.................