Ande sempre para o sol Olhe
sempre para o sol E tudo
que você quiser E tudo
que você pensar será Iluminado
como o sol Brilhante
como o sol Tudo o
que você encontrar E tudo
que você amar Será
iluminado como o sol Tudo
foi feito pelo sol Viva
sempre em sua luz (do sol) Tudo
foi feito pelo sol (Os mutantes)
Quem vem das
esquinas E ruas vazias De um céu interior Alma De flores
quebradas Cortinas rasgadas Papéis sem valor Vento Que varre os
segundos Prum canto do
mundo Que fundo nao tem Leva Um beijo perdido Um verso bandido Um sonho refém Que eu não possa
ler, nem desejar Que eu não possa
imaginar Oh, vento que vem Pode passar Inventa fora de
mim Outro lugar Vento Que dança nas
praças Que quebra as
vidraças Do interior Alma Que arrasta
correntes Que força as batentes Que zomba da dor Vento Que joga na mala Os móveis da sala E a sala também Leva Um beijo bandido Um verso perdido
Um sonho refém Que eu não possa
ler, nem desejar Que eu não possa
imaginar Oh, vento que vem Pode passar Inventa fora de
mim Outro lugar
"Não é a consciência do homem que lhe determina o ser,
mas ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência."
Karl Marx
Quando os movimentos feministas anticapitalistas/socialistas afirmam que a combinação Patriarcado e Capitalismo resulta em profundos problemas que atingem principalmente as mulheres às vezes somos acusadas de estarmos sendo especificistas ou querendo hipervalorizar " a pauta das mulheres".
Definitivamente a luta contra o patriarcado não é uma pauta apenas das mulheres!
Precisamos avançar no processo auto-organizativo de mulheres, na formação de homens e mulheres para elevação do nível de consciência pela práxis revolucionária socialista e feminista.
A barbárie que se instala no mundo, produto do sistema capitalista tem entre as suas maiores expressões à violência contra as mulheres em seus diversos sentidos. A violência sexual é a expressão mais aviltante e animalesca contra as mulheres.
A crise estrutural que atinge o mundo, inerente ao modo de produção capitalista, intensifica as expressões da questão social e somos sim, as mulheres, as mais atingidas.
A crise aparece na consciência e usa-se da ideologia patriarcal e capitalista para tentar recolocar à mulher no " lugar que lhe cabe: de propriedade do homem e do sistema." Nesse sentido, tenta a todo custo acorrentar nossos corpos e nossa sexualidade/ reprodução.
É preciso mais atenção!
Escutem e analisem as músicas que a massa ( muitos de nós inclusive) tem escutado.
Vejam as peças publicitárias em que somos comparadas com cerveja e outros itens de consumo. Não significam nada?
Analisem as piadas machistas e homofóbicas. Elas são apenas brincadeiras?
Pesquisem sobre o assédio sexual/moral nos diversos ambientes. A quem principalmente atingem?
Observem os discursos das forças religiosas (que também carregam a defesa do sistema capitalista). A quem está servindo?
Observem as relações hierárquicas e a divisão sexual do trabalho dentro e fora das organizações políticas. De que nos servem na construção daquilo de que precisamos e defendemos?
Há um cenário de muitas contradições, acirradas pela barbárie do sistema capitalista que atinge muito o próprio movimento feminista, deixando aparecer pseudo discursos e práticas feministas.
As mídias burguesas tem mostrado atos com mulheres nuas nas ruas, ao estilo "marcha das vadias" como o supra-sumo do feminismo do século XXI.
É preciso analisar a conjuntura em sua totalidade.
Estou convencida de que esse tipo de atividade, contribui mais e mais com a tentativa de controle dos nossos corpos e da nossa sexualidade. Ela juntamente com a ideologia machista/ capitalista que é impregnada nas nossas consciências por todo conjunto de cultura de massa ao qual me referi intensifica a desorientação dos movimentos feministas e mistos para a superação dessa condição que nos foi imposta. Além disso, a afirmação de que as mulheres já conquistaram muita coisa, repetida como um mantra por aqueles que enxergam apenas a aparência dos fenômenos, tem por objetivo negar a necessidade de auto-organização das mulheres.
Essa é, portanto, também uma estratégia burguesa para desmobilizar a classe trabalhadora.
Não bastam leis (embora elas sejam importantes para tentar frear à violência), é preciso muito mais que as políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres. O que não anula a necessidade de lutar por elas.
Mas sobretudo, é preciso destruir o capitalismo, para construir outras bases sociais e econômicas que determinem uma consciência coletiva e solidária não opressora entre homens e mulheres.
Abaixo segue matéria sobre a pesquisa da OMS em relação à violência contra as mulheres.
Mais de 1/3 das mulheres do mundo é vítima de violência física ou sexual.
Dados foram divulgados pela Organização Mundial da Saúde.
Da Reuters
Foto de arquivo mostra protesto realizado em Santiago, no Chile, contra violência sexual e doméstica com mulheres (Foto: Arquivo/Santiago Llanquin/AP)
Mais de um terço de todas as mulheres do mundo é vítima de violência física ou sexual, o que representa um problema de saúde global com proporções epidêmicas, aponta um relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado nesta quinta-feira (20).
A grande maioria das mulheres sofre agressões e abusos de seus maridos ou namorados, além de ter problemas de saúde comuns que incluem ossos quebrados, contusões, complicações na gravidez, depressão e outras doenças mentais, diz o relatório.
"Esta é uma realidade cotidiana para muitas, muitas mulheres", disse Charlotte Watts, especialista em política de saúde na Escola de Higiene & Medicina Tropical de Londres e uma dos autores do relatório.
O relatório, uma coautoria de Watts e Claudia Garcia-Moreno, da OMS, concluiu que quase dois quintos (38%) de todas as mulheres vítimas de homicídio foram assassinadas por seus parceiros, e 42% das mulheres que foram vítimas de violência física ou sexual por parte de um parceiro sofreram lesões como consequência.
O relatório constatou que a violência contra as mulheres é uma das causas para uma variedade de problemas de saúde agudos e crônicos, que vão desde lesões imediatas, infecções sexualmente transmissíveis, como HIV, à depressão e transtornos de saúde mental.
As mulheres que sofrem violência de seus parceiros são mais propensas a ter sífilis, clamídia ou gonorréia. E mulheres de algumas regiões, incluindo a África sub-saariana, têm quase duas vezes mais probabilidade de serem infectadas com o vírus da Aids, diz o relatório.
Orientação e ajuda às vítimas
A OMS está emitindo orientações para os profissionais de saúde sobre como ajudar as mulheres que sofrem violência doméstica ou sexual. Eles salientam a importância em treinar os profissionais de saúde para reconhecer quando as mulheres podem estar em risco de ser agredida pelo parceiro e saber como agir.
Em um comunicado que acompanha o relatório, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, disse que a violência causa problemas de saúde com "proporções epidêmicas", acrescentando: "os sistemas de saúde do mundo podem e devem fazer mais pelas mulheres que sofrem violência."
(Encontro dos Movimentos Sociais da Paraíba que teve como objetivo discutir a criação de um Projeto Popular para o Brasil e fortalecer a luta dos Movimentos Sociais na Paraíba - 24 e 25 e março/2012)
(Ato contra a Privatização da Saúde na 14ª Conferência Nacional de Saúde- Fala de uma das coordenadoras da FRENTE NACIONAL CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA SAÚDE, Professora Maria Inês Bravo (RJ)- 30/11/11 em frente ao Congresso Nacional/Senado, defendendo o SUS.)
(Sessão em que vereadores de João Pessoa aprovaram a portas fechadas a permissão em lei para criação das Organizações Sociais em João Pessoa- Fórum Paraibano em Defesa do SUS e contra as privatizações- Setembro/2011)
(Ato do dia do meio ambiente contra a implantação do Complexo Industrial da Cerâmica Elizabeth nas terras dos índios Tabajaras- Mucatu sitiado- Julho/2012- Assembléia Popular-PB)
Dentre algumas vantagens da internet tem-se a aproximação de pessoas com ideais semelhantes. Ela aproxima pela busca da liberdade, pelo gosto pela poesia, pelo regionalismo,pela simplicidade e pela luta feminista. E eis que com uma força, sensibilidade e criatividade inspiradora encontro uma poesia da Fulô Ivanessa Catingueira no blog da MMM. Meses antes essa luta fez nos encontrarmos na Cúpula dos Povos onde trocamos algumas palavras de incentivo pela construção do feminismo a partir da formação de um coletivo feminista a vir a se tornar um núcleo da Marcha Mundial das Mulheres no sertão de São Francisco/ BA.
Que sensação boa... O feminismo anti-capitalista está se espalhando pelo Brasil e pelo mundo.
Mulheres quando reunidas Se reconhecem na face da outra. Tantas histórias severinas marcadas Pela opressão patriarcal. Mãos calejadas Corpos ensanguentados Olhos marejados de dor.
Gemidos que tramam a resistência Olhares de búzios e malês Bocas que anunciam a REBELDIA. Explodem GRITO de revolta Virado em furação.
As Mulheres perderam a PACIÊNCIA.
Colocam blocos, corpos caras, cores e dores na rua. Empurram a opressão Pra praças, becos, campos e vielas O batuque do tambor denuncia Cada minuto de dor outrora calado, sufocado, privado.
Na roda nagô A sabedoria das mães de santo Reascende o caminho De luta, de comando Trilhado pelas matriarcas ancestrais.
Mulheres auto-organizadas (a auto-organização é nosso escudo) na mesma cadência compassada Despidas, de pés no chão. Suas vozes metralham balas de esperança na terra Tecem de fio lilás Com o pretume das veias afro indígenas latinas O novo mundo.
Cada vez mais sedentas por vida Famintas de LIBERDADE Continuaremos em marcha Pisando em praça de guerra Em trincheira de batalha Desmascarando o patriarcado Desmontando o capitalismo Até que se desfaçam em pó.
Um batalhão de outras Dandaras, Dinalvas, Felipas,Tuíras, Heleniras,Zeferinas, Zapatistas, Mahins… De candeeiro na mão Tocarão fogo no mundo Reascendendo a chama de força Pra forjar a Revolução!
Feminismo da luta de classes Feminismo por necessidade.
*Ivanessa Catingueira é militante da MMM no Sertão do São Francisco/BA
Cada dia mais eu me orgulho de ter nascido mulher. Entrar em contato com histórias de mulheres que não se permitem a condição de submissas, não sem dor, traz-me tanta força.
É desse jeito que me senti hoje ao assistir o filme da roteirista, ilustradora e autora de livros infantis iraniana Marjane Satrapi. Que história de vida!
"Marjane Satrapi, nome artístico de Marjane Ebihamis, nasceu em Rasht e cresceu em Teerã, vinda de uma família distinta de uma camada ocidentalizada da sociedade Iraniana. É filha de pais politicamente ativos, contrários a monarquia do Xá, pela crescente repressão das liberdades civis e as consequências da política iraniana na vida cotidiana. Entretanto, com a Revolução Iraniana, e o regime inicial do governo de Ruhollah Khomeini, os pais de Marjane se sentiram intimidados pelos fundamentalistas muçulmanos que estavam no poder.
Os pais de Marjane receavam que a jovem, uma adolescente de 14 anos com muita força de vontade e pouca disciplina, entrasse em conflito com as novas, e rigorosas, regras públicas para mulheres. Eles conseguiram que ela fosse estudar fora do país e em 1983 ela chegou em Viena, Áustria, para frequentar o Liceu Francês de Viena. De acordo com sua autobiografia em forma de novela gráfica, Persépolis, ela ficou em Viena ao longo do Ensino Médio, morando na casa de amigos, em pensionatos e repúblicas estudantis, apesar de ter ficado dois meses desabrigada. Depois de uma crise quase mortal de pneumonia, em decorrência das graves condições de vida, ela acabou retornando para o Irã.
A família Satrapi é de ascendência iraniana (ou azerbaijana) e são descendentes de Nasser al-Din Shah, Rei e Xá da Pérsia, de 1848 até 1896. Sobre isso Satrapi declarou:
"Mas você tem que saber que os reis da dinastia Qajar tiveram centenas de esposas. Fizeram milhares de crianças. Se você multiplicar essas crianças pelas gerações seguintes, pode-se dizer que existem de 10 a 15 000 príncipes [e princesas]. Não há nada de muito especial nisso."
— Marjane Satrapi
Em seguida, ela estudou Comunicação Visual, e posteriormente obteve o mestrado em Comunicação Visual pela Faculdade de Belas artes em Teerã, Universidade Islâmica Azad. Nesta época ela foi a diversas festas ilegais na casa de amigos, onde conheceu Reza, um veterano da guerra do Irã-Iraque. Ela casou com ele aos 21 anos, mas acabou se divorciando cerca de 3 anos depois.
Satrapi, em seguida, mudou-se para Estrasburgo, França. Atualmente ela é casada com Mattias Ripa, um sueco, e mora em Paris, onde trabalha como ilustradora e autora de livros infantis.
Seu trabalho mais recente, de 2010, é "Bordados". O livro fala sobre o ritual pós-almoço na casa da avó de Marjane: enquanto os homens iam fazer a sesta, as mulheres lavavam a louça. Logo depois começava uma sessão cujo acesso só era permitido a elas - o "bordado", que nos é narrado com o humor cortante característico da autora. As mulheres de Marjane buscam a emancipação sexual, mesmo que secretamente, revelando um feminismo mordaz.
Em 2011 dirigiu Frango com ameixas, em parceria com Vincent Paronnaud, também diretor de Persépolis. O filme fala sobre um violinista que perde a vontade de viver depois que seu violino preferido quebra, sem conseguir o repôr devidamente.
Satrapi também é responsável pela arte do álbum Préliminaires do roqueiro Iggy Pop."
Que muitas outras mulheres incríveis retirem suas burcas, seus véus, seus aventais e que quebrem as correntes que nos prendem, porque juntas somos mais fortes.
Ellen
Oléria, cantora, musicista e atriz braziliense, feminista, negra
de voz forte, alegria e talento circulando no sangue e saindo
pelos poros. Tive oportunidade de
assitir ao show
dessa mulher em ocasião da Ação 2010 da Marcha Mundial das Mulheres,
antes do aparecimento noThe Voice Brasil.
Hoje me bateu a vontade de ouvi-la e somar
mais forças. Segue abaixo uma letra e um vídeo de uma das músicas de que gosto bastante.
Medo da vida, desconhecido Nina Simone no meu ouvido Corro de atrevida, não esmorecida Eu sou como o rolamento mortal do crocodilo
Bravura pura em mais de 70kg Independente da cor do meu vestido Esconderijo, creia. eu improviso, veja Eu mesma faço a minha santa ceia. Corre sangue bom na minha veia
Pacificamente violenta Como aranha caranguejeira na teia Eu canto pra que eu nunca esqueça Pra que eu nunca esqueça Pra que eu nunca esqueça
Burca, Marjane enxerga além desse viés Lua, guarda o segredo das marés Nua da cabeça aos pés Luta, um desafio pra fieis
Patriotismo, civismo, nacionalismo Xenofobismo, machismo, racismo Um abismo chama outro abismo Chama outro abismo Chama outro abismo
E eu tô solta na vida Eu tô solta na vida Eu tô, eu tô, eu tô, eu tô
Felicidades, planos pra virada do ano Todo dia é novo e eu vi que a vida na terra tá se acabando Nunca fui disso, mas acradito De vez em quando eu medito
Se existe destino não sei, axé não negocio Nem sempre a morte chega com aviso E eu tô ligada já conheci palma e vaia E no cerrado asfalto é a minha praia
Saúdo a planta e os animais Sabedoria samurai E eu sei que gentileza nunca é demais
Há o que me deixa ainda emocionada O vento, a saia. O vento subindo a saia rodada A chuva que não para E a blusinha dela tomara que caia
As arvores que contavam história arrancadas A casa da gente invadida pela enxurrada Sim eu já vi, se liga aqui. Eu sobrevivi sem pena.
Só a caneta pra registrar O que eu não esqueci. E eu não esqueci que
E eu tô solta na vida Eu tô solta na vida Eu tô, eu tô, eu tô, eu tô
Tô solta na vida Solta na vida Tô solta na vida Solta na vida
Ainda seguindo a temática da postagem anterior, recomendo que assistam
aoFilme Cairo 678.
Um filme baseado na história real de três mulheres ( Fayza, Seba e Nelly) com modos de vidas diferentes no Egito, que
após sofrerem com assédios sexuais e estupros nas ruas de Cairo, no trabalho e dentro das próprias casas, ganham força e realizam ações de
denúncia e de respostas a essas violências, estimulando outras mulheres em situações semelhantes a se rebelarem.
Uma dessas mulheres é Seba, uma jovem moderna que, após ser violentada durante um jogo de futebol, se torna ativista dos direitos femininos e passa a ensinar autodefesa para mulheres.
Dona de casa obediente aos costumes, Fayza é outra vítima do abuso e do preconceito contra mulher. Ela sofre assédio no ônibus que pega diariamente. A terceira mulher é Nelly, uma aspirante a comediante. Ela faz história ao se tornar a primeira mulher no Egito a processar alguém por abuso sexual.
O filme é um drama dirigido por Mohamed Diab e estreiou no Brasil no ano passado.
Temos ouvido tantas histórias na mídia que mostram casos chocantes de mulheres que tem sido violentadas no mundo todo. Chocantes são as histórias dos países do oriente médio em que os casos de assédio e violência sexual, física, psicológica; a desvalorização pela condição de ser mulher, as condições de trabalho são extremamente adversas. Casos em que mesmo as mulheres sendo estupradas são obrigadas a casarem com os estupradores e a ter filhos contra própria vontade.
No Brasil, estamos prestes a ver avançar em forma de lei o conservadorismo ainda maior sobre a vida das mulheres. Aprovado na Comissão de Finanças e Tributação, no dia 05 o Projeto de lei PL (489/2007) conhecido como Estatuto do Nascituro, elaborado pelos Ex-deputados Luiz Bassuma (PV-BA) e Miguel Martini ( PHS-MG). Agora o mesmo será submetido a comissão de constituição e justiça.
O movimento feminista considera este projeto um retrocesso para a vida das mulheres brasileiras. É verdade que a nossa condição de vida melhorou em relação a de outros países como os que estão submetidos a religiões fundamentalistas, entretanto, são reais a violência contra as mulheres em formas variadas, o controle dos nossos corpos e de nossa sexualidade e o impedimento de uma vida livre de estereótipos, da heteronormatividade sexual, da imposição de padrões de beleza, dentre outras tantas agressões.
Como se vê, ser mulher num país em que as ideologias patriarcais, religiosas e capitalista se interconectam e empregnam a consciência das pessoas e nas estruturas de um Estado que não é laico significa ser objeto.
Como muitas de nós cada vez menos aceitamos a condição de objeto, não nos calamos/calaremos diante de todos os tipos de opressão a que estamos submetidas.
Aproveito para veicular Moção de Repúdio da Marcha Mundial das Mulheres ao Estatuto do Nascituro.
A Marcha Mundial das Mulheres repudia com indignação o Projeto de Lei (PL 489/2007) de autoria dos Ex Deputados Luiz Bassuma (PV-BA) e Miguel Martini (PHS-MG), que propõe instituir o Estatuto do Nascituro. Este projeto foi aprovado na comissão de finanças no dia 05/06 através do substitutivo da deputada Solange Almeida do PMDB do RJ.
O PL passa a considerar sujeito pleno de direito o óvulo fecundado, ou seja, o organismo concebido e não nascido passa a ter mais direitos do que a mulher.
Tal projeto pretende ainda legalizar a violência sexual que as mulheres sofrem, principalmente o estupro, tornando inadmissível o aborto consequente desta violação e instituindo o pagamento de auxílio para sustentação do nascido até os 18 anos. O projeto institui a chamada “Bolsa Estupro”, como é conhecida pelos movimentos de mulheres, reforçando que a punição recairá sobre a própria mulher violentada. A bolsa deverá ser paga pelo agressor e, caso não o faça, o ônus recairá sobre o Estado.
O estupro é um crime hediondo. Através deste projeto, o estuprador passa a ser chamado de genitor, e a vítima é obrigada a se relacionar com o criminoso, já que ele deverá assumir a paternidade. Também vão perder o direito ao aborto legal as mulheres com risco de vida e as grávidas de fetos anencéfalos, uma recente conquista do movimento de feminista através do Supremo Tribunal de Justiça.
Afora a hipocrisia, o abrandamento e a naturalização do crime do estupro, e a violação de vários direitos das mulheres, se destaca a pretensão do legislador em querer determinar quando começa a vida, questão que nem a ciência ousou fazer. Ao analisar os dispositivos desta proposta, cai por terra o discurso de “proteção da vida”, pois não se vê nada além do que já tratam as legislações vigentes sobre direitos de personalidade, direito de saúde e direitos patrimoniais dos recém nascidos.
Caso aprovado este projeto, fica proibida ainda qualquer manifestação que trate do assunto aborto, cerceando o direito do debate, quesito fundamental para a democracia.
Assim, entendemos que a proposta do “Estatuto do nascituro” deve ser rechaçada, pois ela significa mais um dos ataques dos conservadores, machistas e opressores que:
- Condena as mulheres à submissão, mantendo-as expostas à violência;
- Reflete a omissão do legislativo diante do aborto como elemento de preservação da vida das mulheres e de garantia da autonomia;
- Golpeia a democracia, a igualdade e a justiça, atingindo bens e valores construídos historicamente.
O avanço rumo à aprovação do chamado “Estatuto do Nascituro” deve ser visto como ameaça aos direitos das mulheres. Nele, estão reunidas as pautas mais retrogradas e de submissão, ostentadas pelo patriarcado e pelas instituições que o perpetuam ao longo dos séculos: o controle sobre o corpo das mulheres, a institucionalização da violência sexual e o domínio sobre o destino e a vida das mulheres.
Ação 2010 da Marcha. Foto: Marcela Mattos.
A próxima votação será da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.
Precisamos enviar e-mails para os deputados(as) membros desta comissão, pedindo que se posicionem contrários ao Estatuto do Nascituro e que impeçam sua aprovação nesta Comissão.
Enviamos abaixo nome e endereços eletrônicos dos deputados(as). É importante que cheguem mensagem de todos os estados para estes deputados, e é preciso também pressionar os deputados em cada estado.
Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania – CCJC