domingo, 3 de marzo de 2013

SOLIDARIEDADE REVOLUCIONÁRIA.Quanto vale a dignidade de um/a trabalhador/a?




POR NÃO SER RACIONAL RENUNCIAR A SER LIVRE.

Onde estão os grilhões invisíveis que te prendem ao solo?
Não vês, mas sentes o peso nas pernas.
E as mordaças transparentes que te impedem de gritar?
Não vês, mas te sufoca a voz.

E as vendas que te colocaram nos olhos?
Não vês, mas há alguma luz que atravessa o tecido.

Por não ser racional renunciar a ser livre.
E se te levantares?
Verás bem, mas te rasgarão a pele,
te pisarão e  te jogarão no  próximo carro de lixo.

Mas como não é racional renunciar a ser livre
 a verdade proletária hás de espalhar.

Ângela Pereira.

Companheiras e companheiros,

        Quanto vale a dignidade de um/a trabalhador/a? E a vida?  Há tempos ouso dizer que vale o quanto o capital consegue expropriar e oprimir, contrariando a idéia de que não “vale nada”.
O capital não é um corpo físico, não podemos pegá-lo, estrangulá-lo, queimá-lo como de verdade mereceria. Entretanto, ele (digo, a sua ideologia) penetra nos nossos poros, nossos olhos, nos nossos ouvidos, nos nossos ventres, nas nossas bocas e língua, impregna-se nas nossas mentes e suga impiedosamente a energia e a vida. É um parasita!
Coloca trabalhadores contra trabalhadores a serviço da desumanização progressiva.
Milhões de nós, enfeitiçados, circulam das suas casas, aos escritórios, às fábricas e aos shoppings como se nada estivesse errado. Outras/os, entretanto, apesar do sofrimento de uma vida marcada pela dor de ser trabalhador nesse sistema, não se ajoelham por não ser racional renunciar a ser livre:

Fim do mês no “país do carnaval” e na cidade do “pôr do sol mais oriental das Américas” vê-se mais uma cena dolorosa e indignante.
Marli, uma artesã sensível e com um bom nível de consciência crítica, que nos caminhos da vida foi empurrada pela necessidade de sobrevivência para o trabalho informal, resistindo a cooptação de um trabalho como prestadora de serviço, tentava vender mensageiros do vento, filtros dos sonhos, coqueirinhos de material reciclável e algumas garrafas e copos de água, próximo do Shopping Tambiá, no centro de João Pessoa. Foi abordada na manhã do dia 28 de fevereiro (quinta-feira) pelos “bombados” (nome usualmente dado pelos vendedores ambulantes aos fiscais), enquanto vendia suas mercadorias. Dois agentes solicitaram que a mesma “circulasse” na área, caso não o fizesse, seus materiais seriam apreendidos. Como não tinha condições de obedecer à ordem dos agentes, em razão da sua condição de saúde e dificuldade de transportar o seu carrinho pesado confeccionado com partes de geladeira, a caixa de isopor cheia de garrafinhas com água e seus artesanatos, a mesma falou que poderiam levar o material.
Pelo telefone a artesã tentou entrar em contato com um amigo para obter ajuda e entrar em contato com o Secretário de Desenvolvimento Urbano (SEDURB) Assis Freire, conhecido dela e conterrâneo da cidade de Belém, interior da Paraíba. Ao perceberem o telefonema, os agentes assumiram ainda mais a postura de autoridade, sendo grosseiros com a mesma.  Depois de algum tempo, repentinamente, a mesma é surpreendida pela abordagem truculenta, arrogante, machista e desumana de cerca de seis agentes de controle urbano que pegam os seus instrumentos de trabalho e colocam sobre uma caminhonete, deixando pelo caminho algumas mercadorias e danificando parte dos materiais entre eles, os óculos dela.
Mesmo emocionalmente abalada, Marli vai ao encontro do secretario Assis Freire para solicitar uma intervenção e o mesmo entrega-lhe o valor de 40 (quarenta) reais, apesar de não concordar com a situação, como estava com as contas de energia, água e aluguel atrasadas, ela se vê obrigada a aceitar, mas fala que necessita de emprego digno e não daquele tipo de “ajuda”. É orientada a ir buscar os materiais dela em setor da Guarda Municipal no dia seguinte (sexta-feira).
Procura ainda a Secretaria de Políticas para as mulheres e tenta falar com a Secretária Socorro Borges, mas não consegue. Sendo atendida por uma recepcionista que a orientou se cadastrar no empreender mulher. Foi orientada a tirar cópia de documentação, mas precisou dizer que não tinha dinheiro para poder sensibilizar a atendente a tirar a cópia da documentação dela e ser cadastrada. Marli diz ter se sentido invisível na secretaria.
No dia posterior, 1º de março (sexta-feira) estive com ela no setor da guarda municipal para reaver seus instrumentos de trabalho.  O ambiente parecia inadequado com pouca circulação de ar e com uma “energia pesada”. Tão brutalizante quanto à aparência dos trabalhadores ali presentes. O machismo paraiva no ar, saltava pelos olhos e saia com as palavras na saliva da boca dos homens e mulher ali presentes. Os primeiros atendimentos foram insensíveis, a sensação de impotência e irresolutividade eram veementes.  Até decidirmos entrar em contato com a secretaria da SEDURB e reivindicar a vinda do responsável pelo setor, Magalhães.
Somente com a chegada de Magalhães e com a escuta realizada por ele e pela psicóloga Jô nos sentimos escutadas e atendidas. Segundo os mesmos, ambos estão há apenas cerca de um mês no setor com a tarefa de tentar modificar  a forma de intervenção e a administração do setor. Magalhães e Jô assumiram o compromisso de encaminhar uma solução para o caso de Marli em conjunto com o Secretário Assis Freire.
Ficamos manhã e tarde lá entre escuta, averiguação de materiais e transporte dos mesmos para a oficina de Marli.  Com a impossibilidade de vender as mercadorias na rua, Marli retornou para casa sabendo que três dias sem a possibilidade de vender algo custará muito para a sua sobrevivência –“três leões não mortos por três dias”.
Quantas Marli’s, Maria’s, Joaõ’s e José’s estão em situação semelhante ou pior?
Marli recebe dinheiro do Bolsa Família, mas sabe que não é a solução para os seus problemas. Conhece na pele o papel coercitivo e consensuador do Estado.

Marli por saber que não é racional renunciar a ser livre não aceita ser explorada e escravizada por um trabalho como prestadora de serviço. Marli precisa de “emprego digno” e tempo para fazer seus mensageiros de ventos e filtros dos sonhos.

OBSERVAÇÃO: Enquanto Marli não consegue um “emprego digno” e recupera os rendimentos dos dias em que não pode estar na rua para vender seus artesanatos e algumas garrafas de água, precisa comer e pagar algumas contas.  Provisoriamente Marli precisa de ajuda financeira ou de doação de alimentos. Mas o que Marli e todas trabalhadoras e trabalhadores querem mesmo é “emprego digno”, condições para respirar sem sentir a dor da exploração e opressão.

Caso alguém possa contribuir com Marli, favor entrar em contato comigo pelo e-mail: anja.pereira@yahoo.com.br e telefones: (83) 98012570/87982170.

Ângela Pereira.
Trabalhadora.

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