sábado, 30 de marzo de 2013

"O TRABALHO PRECISA DO CAPITAL OU O CAPITAL PRECISA DO TRABALHO?"


Em tempos em que se nega a centralidade do trabalho e em que, cada vez mais, busca-se mistificar as relações de produção e de reprodução do capitalismo para ampliar a acumulação do capital e para destruir toda e qualquer resistência à exploração do proletariado pela burguesia, segue um texto didático escrito pela Professora da Graduação e da Pós-graduação de Serviço Social da UFPB, Maria Augusta Tavares (Guga), sobre a temática do trabalho que aborda elementos que contribuem para a desmistificação do capitalismo.

Boa leitura. 





 O TRABALHO PRECISA DO CAPITAL OU O CAPITAL PRECISA DO TRABALHO?



Maria Augusta Tavares[1]













(Fotografia: Sebastião Salgado da série Trabalhadores, 1993 *)



O modo como, historicamente, se organiza a produção traduz uma longa experiência de exploração do homem pelo homem. Para ser breve: a humanidade já conviveu com o escravismo, o feudalismo e, agora, com o capitalismo.
Todas essas formações sociais são compostas por classes antagônicas, isto é, por dominantes e dominados. Significa dizer que em todos esses momentos históricos houve ricos e pobres. No entanto, isso não é argumento suficiente para afirmar que a divisão da sociedade em classes seja algo natural. “A Natureza não produz de um lado possuidores de dinheiro e de mercadorias e, de outro, meros possuidores das próprias forças de trabalho”[2]
Na sociedade contemporânea, é comum explicar-se as diferenças sociais a partir da afirmação que o homem é naturalmente egoísta. Portanto, sendo essa a essência humana, torna-se impossível eliminar a desigualdade. Trata-se de uma tentativa de convencer a classe trabalhadora de que o capitalismo, por ser a forma mais desenvolvida das revoluções econômicas, constitui o fim da História. Assim, só restaria assumir uma atitude conformista de se adequar a essa condição irreversível, contra a qual seria estúpido lutar.
Este argumento deve ser aceito como verdade ou deve ser questionado? Não é o caso de se procurar saber quem são os advogados dessa idéia? Que interesses moveriam os defensores desta sociedade desigual?
Evidente que as respostas a tais questões só podem ser encontradas no interior do desenvolvimento das relações de produção. Contudo, se, de fato, importa questionar a desigualdade, deve-se começar a pensar, tendo como ponto de partida elementos que são fundantes dessa sociedade e que permeiam o cotidiano da relação capital-trabalho.
Falar do capitalismo implica falar de mercadoria e dinheiro, embora mercadoria e dinheiro já existissem muito antes da sociedade ser capitalista. Na verdade, o diferencial reside no fato de que apenas nesta sociedade esses dois elementos podem se tornar capital. A mercadoria, na sociedade capitalista, satisfaz a quase todas as necessidades, não importa “se elas se originam do estômago ou da fantasia”[3]. Alimento, educação, saúde, segurança, lazer, para ficar apenas nas necessidades mais gerais, tudo está no mercado para ser vendido. E, desde que o trabalhador foi separado dos meios de produção e transformado em assalariado, a sua sobrevivência está submetida à venda da única mercadoria da qual ele dispõe: a força de trabalho.
O capitalista, dono dos meios de produção, não por acaso, é também dono de todas as outras mercadorias. Assim, para que o trabalhador possa, no mercado, adquirir alimentação, roupas, moradia e outras mercadorias necessárias a si e à sua família, ele precisa trocar a sua força de trabalho por dinheiro. Com esse dinheiro, o trabalhador vai ao mercado e compra as mercadorias que o capitalista julga necessárias à sua manutenção, de modo que o seu dinheiro é imediatamente consumido. O dinheiro do capitalista, ao contrário, cada vez mais se multiplica. Como se explica que ambos ― trabalhador e capitalista ― sejam vendedores de mercadoria e somente um enriquece, enquanto o outro empobrece?
Segundo Marx, para transformar dinheiro em capital, o possuidor de dinheiro precisa encontrar, no mercado de mercadorias, trabalhadores que disponham livremente de sua força de trabalho e que não tenham nenhuma outra mercadoria para vender, além dessa. Como qualquer outra mercadoria, o valor da força de trabalho está determinado antes de entrar em circulação. Mas, enquanto as outras mercadorias ― propriedades do capitalista ― são vendidas/consumidas pelo seu valor real, a força de trabalho, pela peculiaridade de ser fonte de valor, é uma mercadoria, aliás a única, que ao ser consumida, valoriza e preserva o capital.
 Ora, por que isso ocorre?
 Diferentemente das outras mercadorias, o trabalhador deixa que a sua força de trabalho seja consumida pelo comprador antes de receber o pagamento do seu preço. Preço este que, ao invés de ser pago por quem vai usar a mercadoria, é o próprio vendedor (o trabalhador) que adianta ao comprador (o capitalista), através do que está produzindo. E, como se não bastasse o trabalhador adiantar ao capitalista o seu salário, o preço da força de trabalho, fixado contratualmente, não corresponde ao valor de uso que dela faz o seu comprador. Apenas parte do que o trabalhador produz é paga. Graças a essa armadilha, há em todas as mercadorias vendidas pelo capital um elemento pelo qual ele não pagou, o que lhe permite transformar o seu dinheiro em capital e, portanto, acumular.
Se o capitalista pagasse pela força de trabalho o equivalente ao que é produzido pelo trabalhador, seu dinheiro não se transformaria em capital, tornando-se evidente que a contradição capital-trabalho é resultante de uma determinada relação social. E, em sendo assim, o capitalismo não é natural nem eterno, donde se conclui que não é o trabalho que precisa do capital, mas o capital que precisa do trabalho. Portanto, a perenidade ou o fim do capitalismo passa pela classe trabalhadora. Já o trabalho, é eterna necessidade do homem.
Repetindo Marx e Engels, em Manifesto do Partido Comunista, diríamos: “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”






[1] Dra. em Serviço Social pela UFRJ, Pós-Doutora pelo ISMT, Coimbra - PT, pela FEUC/CES - Coimbra - PT e pelo IHC/UNL – Lisboa - PT. Professora da UFPB, Pesquisadora Bolsista de Produtividade do CNPq, Líder do Grupo de Pesquisas sobre o Trabalho – GPT e Investigadora Colaboradora do Grupo de Estudos do Trabalho e dos Conflitos Sociais do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa.
[2] Marx, K. O capital. São Paulo, Abril Cultural, 1983: 140, L. 1, vol. I.
[3] Idem, p. 45.UC





* Sobre a série de fotografias documentais de Sebastião Salgado: (Trabalhadores, 1993) un documental fotografiado en 26 países sobre el final de la mano de obra masiva. Como él mismo cuenta, ‘con el fin de la primera revolución industrial y la llegada de las nuevas tecnologías a la línea de producción, con la nueva organización de los factores de producción, los seres humanos y su forma de vida tradicional y sedentaria también empieza a transformarse. Millones de trabajadores pierden su trabajo debido a la producción masiva; los expulsan de las zonas agrícolas, de una región a otra. Y acuden a la ciudad en busca de trabajo. La mayoría de la población vivía en el campo, pero esto ha cambiado por completo: el mundo se ha vuelto urbano. Las ciudades como París, Nueva York y Londres son ciudades del pasado. Las ciudades del futuro son Bombay, México, Manila, Yakarta, São Paulo.’. Fonte: http://www.homines.com/arte_xx/sebastiao_salgado/
           

No hay comentarios.:

Publicar un comentario