domingo, 10 de marzo de 2013

O Manifesto Comunista. ( Resenha)


 Resenha Crítica    
          
MARX, Karl, 1818-1883. Manifesto Comunista/ Karl Marx e Friedrich Engels; organização de introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do Manifesto Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista- São Paulo: Boitempo, 2010.

Sobre os autores (pequena biografia).

Karl Marx (1818-1883) nasceu em Trier (capital da província alemã do Reno) no dia 5 de maio de 1818, sendo o segundo de oito filhos de Enriqueta Pressbrug e de Heinrich Marx (ambos judeus). O pai dele posteriormente foi obrigado a abandonar o judaísmo pela proibição de os mesmos ocuparem cargos públicos na Renana. Iniciou os estudos no Liceu em Trier.  Escreve seu primeiro livro Reflexões de um jovem perante a escolha de sua profissão aos 17 anos de idade. No ano seguinte, fica noivo, em segredo em razão da oposição das famílias, de Jenny Von Westphalen com a qual se casa apenas em 1843.
Inicia nesse mesmo ano os estudos de Direito na Universidade de Bonn, mas posteriormente inscreve-se na Universidade de Berlim, onde perde o interesse pelo direito e apaixona-se pela Filosofia. Doutora-se em Filosofia em 1841. No ano seguinte, começa a colaborar com o Jornal Gazeta Renana, onde conheceu seu companheiro Friedrich Engels. O jornal é fechado pela perseguição do regime prussiano. Apesar de estar desempregado, nega o convite para ser redator no diário oficial do governo prussiano.
Inicia os estudos das obras de vários autores, sendo o principal deles Hegel, quando escreve A crítica da filosofia do direito de Hegel e posteriormente conclui Sobre a Questão judaica. Em 1844, escreve os Manuscritos Econômicos e Filosóficos. Começa a colaborar com o órgão de imprensa dos operários Alemãs na emigração Avante! . Aproxima-se da Liga dos justos e em Paris estreita a amizade com Engels. Onde planejam juntos a escrita de A Sagrada Família, publicado posteriormente em Frankfurt. Expulso da França, Marx muda-se para Bruxelas. Junto com Engels escreve A ideologia Alemã e posteriormente redige As teses de Feuerbach.
Em 1846, Marx e Engels organizam o 1º Comitê de Correspondências da Liga dos Justos, à qual seria depois nomeada de Liga dos Comunistas. Filia-se a ela no ano seguinte e em Congresso desta recebe a encomenda de escrever um manifesto dos comunistas que sob o nome de Manifesto Comunista foi publicado em 1848 em Londres. Retornando a França após ser expulso de Bruxelas, funda com Engels o Jornal a Nova Gazeta Renana, que não se manteve financeiramente, perseguido na França e em condição financeira precária, após uma campanha em solidariedade ao mesmo, retorna a Londres. Na Inglaterra, com ajuda financeira de Engels, Marx se dedica intensamente ao estudo de economia e posteriormente inicia o trabalho no Jornal New York Daily Tribune e colabora com vários outros periódicos.
A conjuntura da Inglaterra motiva-o a estudar avidamente Economia Política a ponto de adoecer. Em 1857, começa a redigir os Grundisses (Esboços de uma crítica da Economia Política) que servirá de base para a obra Para a crítica da Economia Política.  Com a intensidade dos trabalhos adoece progressivamente e novamente passa por dificuldades financeiras. Em 1863, Marx dedica-se ao estudo de matemática e inicia a redação definitiva de O capital. No ano posterior, apresenta um projeto e uma proposta de estatuto para a primeira Associação Internacional dos Trabalhadores.
O primeiro volume de O capital será publicado em 1866 e Marx, segue, apesar das dificuldades de saúde e financeiras e das perseguições da Polícia da Europa Continental segue na elaboração do segundo livro de O Capital na França com identidade falsa. Estuda a história da Rússia e analisa a conjuntura desse país.  Nos últimos anos de sua vida, mesmo acometido por várias doenças Marx realiza várias  viagens e continua os estudos inclusive de física e matemática. Com a morte de sua esposa em 1881 e posteriormente com a morte da filha em 1883, Marx entra em depressão e, com estado de saúde piorado, morre no dia 14 de março. 

Friedrich Engels (1820- 1895), por sua vez, nasce em Barmen na Alemanha em 28 de novembro de 1820. Filho de Friedrich Engels e de Elizabeth Franzika Mauritia van Haar cresce numa família de industriais, religiosa e conservadora. Também inicia desde jovem a escrita de livros como Poema e História de um pirata. Inicia o estudo sobre comércio e começa a escrever ensaios, poemas e panfletos literários e sociopolíticos em periódicos. 
Em 1841, é obrigado pelo pai a deixar de estudar para assumir a administração dos negócios da família, mesmo assim ele continua estudando, sozinho, filosofia, religião, literatura e política. No mesmo ano, presta o serviço militar e começa a frequentar como ouvinte a Universidade de Berlim, onde conhece os jovens-hegelianos. No ano seguinte, ao conhecer uma jovem trabalhadora irlandesa, com a qual viveria até a morte e inicia os estudos sobre a condição da classe trabalhadora na Inglaterra. Em 1843, aproxima-se da Liga dos Justos e no ano seguinte influencia Marx com o seu escrito Esboço para uma crítica da Economia Política, tornando-se amigo de Marx nesse mesmo ano em Paris. Publica posteriormente uma das suas principais obras A situação da Classe trabalhadora na Inglaterra a partir das suas anotações anteriores.
Em 1846, com a tarefa de criar novos comitês de correspondência aproxima ainda mais de Marx e juntos após participarem de atividades da Liga dos justos e da Associação democrática escrevem o Manifesto Comunista. Escreve ainda outras obras como Revolução e contra revolução na Alemanha, A guerra dos camponeses na Alemanha enquanto esteve na Alemanha. Retorna à Inglaterra para, à frente dos negócios da família, contribuir financeiramente com Marx e os seus estudos. Segue estudando sobre diversos temas e publicando artigos no periódico New York Daily. Em 1864, participa da fundação da I Internacional e junto com Marx publica em periódico alemão as ideias da internacional. Divulga as ideias marxistas em vários períodos e segue apoiando as publicações. Assume a administração da empresa da família com a morte do pai e auxilia financeiramente Marx e a família dele. Em 1883, com a morte de Marx, publica uma edição inglesa para o Volume 1 de O capital. No ano seguinte, publica outra obra bastante conhecida A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Nos anos posteriores, segue editando o segundo e o terceiro volume de O capital. Em 1895, redigiu, já bastante doente, uma nova introdução para outra obra importante dele A luta de classes na França e morre em 5 de agosto do mesmo ano.

Sobre a obra Manifesto Comunista.

O Manifesto Comunista é considerado um dos documentos teóricos políticos mais importantes dos últimos séculos.  O escrito de Marx e de Engels mantem a atualidade das análises apesar de ter sido publicado pela primeira vez em 1848.
De acordo com Coggiola (2010), o Manifesto foi encomendado a Marx em novembro de 1847 por ocasião do Congresso da Liga dos Justos, posteriormente chamada de a Liga dos Comunistas, quando havia uma expectativa da eclosão de uma revolução na Europa. O manifesto seria então adotado como o programa da Liga dos Comunistas.
Nele os autores realizam um percurso interessante para apresentar as teses a respeito do antagonismo das classes na sociedade capitalista, valendo-se do método materialista histórico para demonstrar a formação das classes antagônicas burguesia e proletariado e o papel que as mesmas cumpriram ao longo do desenvolvimento do modo de produção capitalista. Destacam as análises dos Comunistas sobre aspectos da sociedade capitalista e as proposições destes para suprimir a sociedade de classes, dialogando com as críticas feitas pela burguesia aos comunistas e apresentando críticas a várias correntes de socialistas da época. O texto é provocante e sarcástico, na forma própria de os autores escreverem, e estimula a organização do proletariado para realizarem a revolução comunista em todo o mundo.
Iniciam o texto com a frase marcante “Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo”, apontando a conjuntura política complexa e agitada na qual os opositores ao modo de produção capitalista eram perseguidos e criticados de diversas formas e da “satanização” do termo “comunista” para aqueles que se opunham à ordem instaurada.
Dessa premissa, os autores concluem que: 1) o comunismo já fora reconhecido como força por potências da Europa e 2) há a necessidade de exposição das ideias, dos objetivos e das tendências dos comunistas com vistas a se contrapor a lenda do “espectro do comunismo”.
No primeiro capítulo, os autores trazem a tese de que “a história de todas as sociedades até hoje é a história da luta de classes”. Independente do tempo histórico e da forma de organização da sociedade é concreta a existência de conflitos ora mais evidentes, ora mais camuflados que se desenrolaram em processos revolucionários ou na destruição de classes.
A sociedade burguesa, objeto de interesse dos autores, mantém os antagonismos de classe, porém, de acordo com os mesmos, de modo simplificado, visto que se delimitam duas grandes classes sociais – a burguesia e o proletariado.
 A partir dessa afirmação, eles discorrem sobre o desenvolvimento destas classes sociais, juntamente com o desenvolvimento do modo de produção capitalista, afirmando que:

(...) A própria burguesia moderna é o produto de um longo processo de desenvolvimento, de uma série de transformações do modo de produção e circulação. (MARX e ENGELS, 2010, p. 41)

Esse processo de desenvolvimento é acompanhado por um progresso político correspondente. Aparece então no texto o tema do Estado, em que este é considerado como “comitê executivo para os negócios da burguesia”. Como aparece no excerto seguinte: “O executivo no Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa”.
Pensamento que posteriormente seria reforçado por Lenin em “O estado e Revolução”, quando o mesmo comenta O manifesto:

O Manifesto do Partido Comunista tira as lições gerais da história; essas lições nos fazem ver no Estado o órgão de dominação de uma classe e nos levam necessariamente à conclusão de que o proletariado não poderá derrubar a burguesia sem primeiro ter conquistado o poder político, sem primeiro ter assegurado sua própria dominação política e ter se “organizado em classe dominante” e se erigido em Estado- e esse Estado proletário começará a definhar logo em seguida à sua vitória, porque numa sociedade em que não se aceitam antagonismos de classe, o Estado é inútil e impossível. (LENIN, 2010, p. 49)

Continuando na análise do desenvolvimento da classe burguesa, os autores afirmam o papel revolucionário da burguesia desempenhado na história, visto que a mesma destrói as relações feudais e a exploração “dissimulada” do homem feudal. No lugar dessa exploração disfarçada, institui uma “exploração aberta, despudorada e brutal”. E as relações antigas e cristalizadas são substituídas. Assim,

A burguesia não pode existir sem revolucionar incessantemente as relações os meios de produção, por conseguinte, as relações de produção e com isso todas as relações sociais. (MARX e ENGELS, 2010, p. 42).

O texto segue apresentando o avanço do capitalismo no mundo, apontando que se estabelece um intercâmbio universal e uma interdependência entre as nações contrapondo-se a um isolamento anterior. Nesse sentido, os meios de comunicação progridem, ao passo que o fazem os meios de produção, colaborando com a expansão das ideias da classe burguesa.
Outro aspecto importante a se observar é a submissão do campo à cidade que se aprofundou cada vez mais ao longo da história, subordinando os povos camponeses aos povos burgueses e o oriente ao ocidente.  Além disso, segue um processo de centralização dos meios de produção e concentração da propriedade em poucas mãos. (MARX e ENGELS, 2010, p. 44).
Para os autores, também teria sido a burguesia que forjou a outra classe fundamental- o proletariado, como se vê no trecho seguinte:

A burguesia, porém não se limitou a forjar as armas que lhe trarão a morte; produziu também os homens que empurrarão essas armas-os operários modernos, os proletários. (MARX e ENGELS, 2010, p. 46).

O operário tornar-se mercadoria, ou “um simples apêndice da máquina”, cujo custo é reduzido significativamente ao longo dos anos. A essa condição não escapam nem as mulheres nem as crianças, pelo contrário, sua força de trabalho é explorada em afazeres menos pesados, sendo menos valorizada.
Passando por diversos estágios de desenvolvimento, o proletariado estabelece uma luta contra a burguesia desde a existência desta enquanto classe. Em condições desfavoráveis, com a multiplicação dessa classe, com as condições de trabalho desumanas, a mesma cresce e se fortalece ao adquirir maior consciência de si mesma.
Os autores defendem que apenas o proletariado, dentre as classes que se opõem a burguesia, pode ser considerado verdadeiramente revolucionário, como produto mais autêntico do desenvolvimento da grande indústria. (MARX e ENGELS, 2010, p. 49).
Para isso argumentam que as camadas médias (pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos e camponeses) combatem à burguesia porque a mesma compromete a sua existência, todavia, quando se tornam proletários não defendem os mesmos interesses. São conservadores e reacionários.  Outra fração de classe, conhecida como Lumpem-proletariado, por sua vez, em razão de sua condição subumana de vida, pode se vender à reação.
 Seguem então caracterizando o proletariado e o seu caráter revolucionário:

O proletariado não tem propriedade; suas relações com a mulher e os filhos nada tem em comum com as relações familiares burguesas (...) Os proletários não podem apoderar-se das forças produtivas sociais senão abolindo o modo de apropriação existente até hoje (...) sua missão é destruir todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes (MARX e ENGELS, 2010, p. 49)

Outra importante afirmação dos autores se dá no tocante ao caráter da revolução. Para os mesmos apesar de a luta do proletariado contra a burguesia não ter caráter nacional, uma vez que o capital se espalha por todo o mundo, ela num primeiro momento se inicia no próprio país. Afirmam, então, “É natural que o proletariado de cada país deva antes de tudo liquidar a sua própria burguesia.” (MARX e ENGELS, 2010, p. 50).
Para concluir o primeiro capítulo, ainda, sobre a burguesia e sobre a condição da supremacia desta no capitalismo, os autores escrevem que:

A condição essencial para a existência e a supremacia da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos de particulares, a formação e o crescimento do capital; a condição de existência do capital é o trabalho assalariado. Este baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si. (MARX e ENGELS, 2010, p. 51).

No segundo capítulo, os autores dedicam-se a escrever sobre quem são e o que defendem os comunistas, apresentando aquele que seria considerado o programa do comunismo.
Os comunistas integram a fração dos partidos operários que tem a compreensão nítida das condições em curso e dos objetivos gerais do movimento operário, estimulando teoricamente o restante do proletariado. Distinguem-se dos demais partidos operários por destacarem-se não apenas nas lutas nacionais, entretanto prevalecendo os interesses comuns dos proletários, independentemente da nacionalidade como também porque representam os interesses do movimento em seu conjunto nas diferentes fases de desenvolvimentos porque passa a luta entre proletários e burgueses.  O objetivo iminente dos comunistas é a constituição do proletariado em classe, a derrocada da dominação burguesa e a conquista do poder político pelo proletariado. (MARX e ENGELS, 2010, p. 51).
O comunismo visa a supressão da propriedade privada burguesa. Os autores esclarecem que não se pretende abolir a “(...) apropriação pessoal dos produtos do trabalho, indispensáveis à manutenção e à reprodução da vida humana (...) queremos apenas suprimir o caráter miserável dessa apropriação.” (MARX e ENGELS, 2010, p. 54).

No texto Abaixo à propriedade privada, Alain Bihr e Francois Chesnais (2003) recolocam o debate da propriedade privada na atualidade. Argumentam que a sacralização da propriedade privada, aceita inclusive por partidos e sindicatos progressistas, provém de algumas confusões que colocam em mesmo patamar os bens de uso pessoal, dos quais indivíduos desfrutam sozinhos ou com sua família, e os meios de produção que resultam da apropriação privada de todo ou de parte de um trabalho social.  Essa confusão, segundo os autores, contribui para mistificar aquela que seria a contradição fundamental do capitalismo- a apropriação privada do capital daquilo que é produzido socialmente.
Outrora Marx e Engels já alertavam para essa confusão que poderia ser usada para aumentar as fileiras dos oposicionistas do comunismo.
Sobre o trabalho, os escritos apontam a diferenciação do uso do trabalho na sociedade burguesa e na sociedade comunista, sendo que na primeira o trabalho vivo assume o papel de aumentar o trabalho acumulado, enquanto que na segunda, é um meio de ampliar, enriquecer e promover a existência dos trabalhadores. E alertam que o comunismo não impede a apropriação da parte dos produtos sociais, mas que combate o poder de subjulgação do trabalho dos outros por meio dessa apropriação. (MARX e ENGELS, 2010, p. 54).
Sobre a família burguesa, fala-se em supressão da família burguesa que se fundamenta no ganho individual e no capital e que se vale da prostituição pública. Sobre a mulher e o casamento monogâmico, os autores explicitam a relação construída entre a mulher, como instrumento de produção e a vinculação dela às tarefas da propriedade coletiva. Os comunistas defendem, ainda, um caráter da educação não influenciado pela burguesia.
Nesse capítulo, os autores reforçam a atuação nacional do proletariado, havendo, todavia, clareza de que a classe deve estar unida para derrotar a burguesia internacionalmente em razão da abrangência do capitalismo.

Os operários não tem pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não tem. Como, porém, o proletariado tem po robjetivo conquistar o poder político e elevar-se à classe dirigente da nação, torna-se ele a própria nação, ele é, nessa medida nacional, mas de modo algum no sentido burguês da palavra. (...) A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação. (...) À medida que for suprimida  a exploração do homem pelo homem será suprimida a exploração de uma nação por outra.(MARX e ENGELS, 2010, p. 56).


Outra afirmação presente no manifesto que é comprovada ao longo da história diz respeito à supremacia das ideias da classe dominante de uma dada sociedade expressa na conhecida frase “As ideias dominantes de uma dada época sempre foram as ideias da classe dominante.”.
A classe que domina é capaz de construir representações e conceitos que prevalecem e que se espalham de modo a conservar o status quo. À medida que mudam também as relações sociais, mudam essas representações e conceitos. Trata-se, portanto, de reconhecer que a consciência social dos séculos mesmo com toda a diversidade e variedade tenha si movido de forma comum.  Para modificar essa consciência burguesa é necessário, portanto, suprimir a dominação burguesa sobre o proletariado; mais, suprimir a existência de classes. Entretanto nessa mudança, a primeira fase requer a elevação do proletariado à classe dominante, constituindo uma democracia.
Seguindo esse raciocínio, os autores apresentam medidas que consideram fundamentais para transformar radicalmente o modo de produção. Seguem:
                                              
1.         Expropriação privada da propriedade fundiária e emprego da renda da terra para despesas do Estado.
2.         Imposto fortemente progressivo.
3.         Abolição do direito de herança.
4.         Confisco da propriedade de todos os emigrados e rebeldes.
5.         Centralização do crédito nas mãos do Estado por meio de um banco nacional com capital do Estado e com monopólio exclusivo.
6.         Centralização de todos os meios de comunicação e transporte nas mãos do Estado.
7.         Multiplicação das fábricas nacionais e dos instrumentos de produção, arroteamento das terras incultas e melhoramento das terras cultivadas, segundo um plano geral.
8.          Unificação do trabalho obrigatório para todos, organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura.
9.         Unificação dos trabalhos agrícola e industrial; abolição gradual da distinção entre a cidade e o campo por meio de uma distribuição mais igualitária da população do país.
10.     Educação pública e gratuita a todas as crianças; abolição do trabalho das crianças nas fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção material etc. (MARX e ENGELS, 2010, p. 58).

Com esse programa, visa-se construir uma sociedade em que para o livre desenvolvimento coletivo é preciso o livre desenvolvimento de cada um.
No capitulo três, os autores dedicam-se a elencar e descrever a partir das suas literaturas as perspectivas de várias correntes socialistas e comunistas.
Sobre o socialismo feudal, os autores caracterizam-no como reacionário, uma vez que defendem o retorno à antiga ordem social.  Acusam a burguesia de ter produzido um proletariado revolucionário ao assegurarem o modelo de desenvolvimento burguês. Desta forma, na luta política participam de atividades de repressão da classe operária. (MARX e ENGELS, 2010, p. 60)
O socialismo pequeno-burguês, também considerado reacionário e utópico, é capaz de analisar as contradições próprias às modernas relações de produção, entretanto, quer reestabelecer os antigos meios de produção e troca e, com eles, as antigas relações de propriedade e a antiga sociedade. A pequena burguesia é oscilante ora como fração complementar da burguesia ora com aproximação ao proletariado em momentos desfavoráveis a ela.
O socialismo alemão ou “ verdadeiro socialismo, apreendem a literatura francesa, tentando dar aplicabilidade a ela , na condição adversa que se dá na Alemanha. Essa tentativa confere equívocos de análise de conjuntura  que maculam a literatura socialista e comunista e que acabam favorecendo aos pequenos burgueses alemãs.
Na categoria de socialismo conservador, o socialismo burguês deseja as condições de vida da sociedade moderna, sem, entretanto, os riscos e lutas decorridas dela, ou seja, querem a burguesia sem o proletariado. (MARX e ENGELS, 2010, p. 64)
Em seguida, os autores apresentam o socialismo e o comunismo crítico-utópicos. Para esse grupo a história do mundo pode ser sintetizada na propaganda e execução de planos de organização social. Há uma rejeição de qualquer ação política, principalmente ações revolucionárias. Para atingir seus objetivos defendem o uso de meios pacíficos, atenuando a luta de classes e conciliando os antagonismos. Criticam as bases da sociabilidade existente, sem, todavia, realizar ações que visem a sua supressão.
Por fim, apresenta o partido comunista diante dos demais partidos de oposição. Este luta pelos interesses e objetivos coletivos da classe operária, mas também propõem um futuro para o movimento. Como disseram os autores, “os comunistas apoiam em toda parte qualquer movimento revolucionários contra a ordem social e política existente”.
Para eles a questão fundamental é a supressão da propriedade privada. Nesse sentido, não dissimulam suas opiniões e declaram seus objetivos de forma clara e aberta.
O texto é concluído com uma convocatória que se tornou histórica “Proletários de todos os países, uni-vos!”  Convocatória esta que afirma  a necessidade da unidade da classe proletária para vencer um inimigo que às custas do trabalho do proletariado se ampliou mundialmente. Como dissera Martin (1948), o manifesto é a expressão de uma época otimista em que a juventude já reivindicava seu lugar na história.
No ensaio “Noventa anos do partido comunista”, Trotsky ( 1937) ressalta a importância do Manifesto Comunista e a atualidade do mesmo, destacando a capacidade de Marx e Engels anteverem acontecimentos históricos.  Apresenta as ideias centrais que para ele permaneciam atuais (a concepção materialista da História; a História como a história da luta de classes; a luta de classes como luta política; o governo enquanto comitê para gerir os negócios da burguesia; o caráter internacional da luta de classes mediante o desenvolvimento internacional do capitalismo dentre outras) e coloca a necessidade de atualização ou complemento de outras (a realidade de povos coloniais e semicoloniais e a luta pela independência; a projeção da realização de uma revolução na Alemanha que não se concretizou). As críticas de Trotsky são importantes, mas devem ser vistas, considerando o momento histórico da escrita de O manifesto comunista e com a compreensão de que não se trata de uma premunição, mas sim o exercício do método materialista histórico.
A luta de classes persiste, cada vez mais acentuando-se o seu caráter internacional, mediante o desenvolvimento do modo de produção capitalista e a ampliação da apropriação do trabalho pelo capital nos mais distantes e inóspitos lugares.  A perseguição dos opositores ao modo de produção capitalista também persiste ora velada, ora explicita e formalizada pelo Estado capitalista.  Apesar de se verificar mudanças no Estado, incapaz de destinar, a quem produz a riqueza, direitos sociais básicos, este segue sendo instrumento de dominação da burguesia sobre o proletariado.
Sem dúvida, o Manifesto cumpriu e segue cumprindo a tarefa de propagandear o projeto de sociabilidade comunista, como ferramenta para estudiosos marxistas e para organizações políticas revolucionárias de análise do movimento da história, do desenvolvimento do modo de produção capitalismo e da constituição das classes fundamentais em disputa.  Continua subsidiando a luta revolucionária mesmo em momentos adversos e de confusão generalizada para a classe trabalhadora.


REFERÊNCIAS

BIHR, Alain. CHESNAIS, François. Abaixo a propriedade privada. Disponível em http://www.diplomatique.org.br/acervo.php?id=830 Acesso em 2 de março de 2013.

COGGIOLA, Osvaldo.  150 anos do Manifesto Comunista. In: Manifesto Comunista/ Karl Marx e Friedrich Engels; organização de introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do Manifesto Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista- São Paulo: Boitempo, 2010.
LENIN, Vladimir Illitch. O Estado e Revolução: o que ensina o marxismo sobre o Estado e o papel do proletariado na revolução. 2 ed. Rev. Atual. São Paulo: Expressão Popular, 2010.

MARX, Karl, 1818-1883. Manifesto Comunista/ Karl Marx e Friedrich Engels; organização de introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do Manifesto Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista- São Paulo: Boitempo, 2010.

MARTIN, Lucien.  Cent ans aprés le manifeste In: Manifesto Comunista/ Karl Marx e Friedrich Engels; organização de introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do Manifesto Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista- São Paulo: Boitempo, 2010.

TROTSKY, Leon. “Noventa años del Manifiesto Comunista” Coyacán, México. In: Manifesto Comunista/ Karl Marx e Friedrich Engels; organização de introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do Manifesto Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista- São Paulo: Boitempo, 2010.

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