A poetisa registrou nos seus rascunhos: Está liberado o carpe-diem! Enquanto a liberdade não chega. Por Ângela Pereira.
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domingo, 28 de febrero de 2010
Desafio é pra ser enfrentado!
Ângela Pereira.
sábado, 27 de febrero de 2010
Os pensamentos econômicos clássico, neoclássico e reformista: contribuições teóricas para a sustentação do capital.
Ângela Pereira*
O “Sistema Capitalista desenvolveu” ao longo dos anos a capacidade de resistir a crises, isso, todavia, não se deu de forma natural como alguns dos seus defensores reproduziram fervorosamente. Vários economistas se debruçaram para entender o funcionamento do sistema nos seus aspectos principais e acessórios e orientar politicamente as ações dos capitalistas e dos governos. Alguns pensadores centrais que elaboraram teorias que subsidiaram a sustentação desse sistema foram os da economia clássica (Adam Smith e David Ricardo), os pensadores neoclássicos, também chamados de utilitaristas (Wiliam Stanley Jevons, Carl Menger, Léon Walras) e o pensador reformista (John Maynard Keynes).
Nesse texto, cabe-nos elencar algumas das contribuições teóricas que esses economistas trouxeram para formar os pensamentos liberais e reformistas e fortalecer a ideologia capitalista.
Adam Smith foi o primeiro a elaborar um modelo abstrato coerente da estrutura e funcionamento do sistema capitalista. Em seu livro “A Riqueza das Nações” expôs o fundamento histórico e sociológico da organização econômica capitalista em uma teoria. Para ele as formas de produção e de distribuição das necessidades materiais da vida eram determinantes das relações sociais entre classes e membros delas e das instituições que formavam a sociedade. E a forma natural de organização era a capitalista, uma vez que os seres humanos tinham a propensão natural à troca, isto é, a realizar compra e venda. Dessa forma o mercado era tido como algo natural ao ser humano. A lógica de funcionamento do mercado contida no pensamento de Smith é que quanto mais mercadorias o ser humano consegue na troca, mais ele produz. Tanto mais ele irá produzir, quanto mais especializado ele estiver. Nesse sentido, o homem vai garantido a acumulação de riqueza.
A idéia que prevalecia na obra de Smith é que existia uma “mão invisível” que conduzia as pessoas a promoverem o bem - estar social, sem que essa ação fosse intencional. Essa “mão invisível” ou “sabedoria divina” é que conduzia os homens ao progresso, com o aumento da liberdade e da segurança da maioria dos produtores. Para Adam Smith quando toda a sociedade, enquanto indivíduos, age pensando em satisfazer suas necessidades, aquela tende a evoluir. É isso que move a mão invisível do mercado.
Smith mencionava a existência de três classes sociais (proprietários de terra, os capitalistas e os trabalhadores) cuja renda era oriunda da divisão da produção anual de todo o país (aluguéis, lucro e salário) e reconhecia a existência do conflito de classes entre os proprietários de terra e os capitalistas em torno dos frutos da propriedade da terra e do capital.
Admitia ainda que o trabalho era o único criador verdadeiro de riqueza. Tanto mais rico será o indivíduo quanto mais trabalho de outro ele consegue se apropriar na troca. A isso ele chama de trabalho comandado. Trabalho é igual a valor, mas o valor que tem no trabalho a base é o trabalho apropriado por outro Para ele valor é preço. O que importa não é quanto custa determinada mercadoria depois de ser produzida, mas sim, quanto ela valerá depois de ser trocada. Ou seja, uma pessoa é tão rica quanto for sua capacidade de se apropriar do trabalho de outro. A isso chamamos de trabalho comandado.
Em sua teoria do valor- trabalho dizia que o valor de troca de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho contido nessa mercadoria, isso nas economias pré-capitalistas, depois em estágio mais avançado Smith afirmou que o valor de troca ou o preço é representado pela soma dos salários, dos lucros e dos aluguéis.
David Ricardo, também é defensor do liberalismo e é tido por excelência um pensador da burguesia industrial do início desse século XIX. Para Ricardo não existem relações sociais. O capitalismo para ele é algo hipotético, isolado. É dessa forma isolada que ele analisa a sociedade, e não de forma global.
Afirma que era necessária a prevalência do Capital sobre a propriedade da terra. E se preocupa com as questões referentes à agricultura e a renda da terra. Neste momento (século XIX), um dos grandes problemas da sociedade era o aumento incontrolável dos preços dos produtos básicos. Isso aumentava o preço dos salários, ou seja, da remuneração da força de trabalho, significando um aumento do preço da renda da terra. Para Ricardo, isso era um grande problema, visto que a pobreza no meio dos trabalhadores começa a crescer não porque estivesse preocupado com os pobres, mas pela alta dos salários. Opondo-se a Smith, defendia que o valor das mercadorias é determinado também pela composição da estrutura produtiva, e não só o trabalho incorporado. O que ele quer é encontrar é uma medida invariável do valor.
Em síntese, os mentores da Economia Clássica acreditavam que o capitalismo era a forma de organização social e econômica natural para a sociedade, tomando por base a tendência natural à troca. Para evoluir esse sistema precisava acumular riqueza através do aumento da produtividade que somente se dava com a especialização e divisão das tarefas. Além disso, defendiam a existência de uma força divina ou de uma mão invisível do mercado que conduzia o progresso humano, sem influência direta de qualquer interesse. O mercado deveria se autoregular e o estado adotar a política do laissez-faire, permitindo que as forças de concorrência e livre jogo de oferta e procura regulassem a economia, não deveria este Estado, portanto, interferir cabendo a ele somente a função de proteção da sociedade da violência e invasão de outras sociedades independentes, administrar a justiça ; fazer e manter obras públicas cuja concessão não interessa aos capitalistas.
Os pensadores neoclássicos, também chamados de utilitaristas (Wiliam Stanley Jevons, Carl Menger, Léon Walras) têm em comum a defesa de uma perspectiva da teoria do valor. Essa perspectiva não entende o trabalho como substância do valor. A teoria do valor calcada no trabalho centra-se na explicação dos preços por fórmulas matemáticas e para eles o fundamento do valor está na utilidade. A utilidade é assim a capacidade de determinada mercadoria satisfazer necessidades, subjetivas e não materiais.
Defendem como principio a idéia de que os seres humanos por si só são egoístas. Os indivíduos são racionais e maximizadores. A emoção deve ser deixada de lado e o que interessa é aumentar os lucros agindo de forma racional. A economia explica o funcionamento da sociedade e o pensamento egoísta permite a maximização da utilidade. Também vêem o capitalismo de forma a-histórica, não considerando a existência de classes sociais e nem conflitos entre classes sociais e se busca harmonia social para o progresso. Da mesma forma que o pensamento clássico, os neoclássicos defendem a não intervenção do estado, a auto-regulação do mercado e o capitalismo lasseiz-faire como melhor expressão do sistema.
Diante de uma conjuntura de crises subseqüentes e de forte impacto sobre a continuidade do sistema, surge o teórico John Maynard Keynes, favorável a manutenção do sistema capitalista, mas que admite a necessidade de intervenção do estado para superar as crises do capital e retomada do progresso social. Keynes queria contribuir com os governos capitalistas com orientações teóricas que ajudassem a salvar o capitalismo. Fez isso abandonando a premissa da automoticidade do mercado, mas defendeu que o governo interviesse o mínimo possível na busca de lucros dos capitalistas, por isso era vista como reformista, propunha a realização de pequenas mudanças, mas para salvar o sistema capitalista de sua autodestruição.
Várias foram as contribuições que esses pensadores deram para o fortalecimento do sistema capitalista, contribuições estas que ainda são alvo de muitos estudos e críticas por economistas de diversas orientações políticas. O embate contra esse sistema capitalista requer a compreensão dele e de suas leis perpassa pela compreensão e pelo estudo mais sistemático desses pensadores.
Referência
HUNT, E.K. História do Pensamento Econômico: uma perspectiva crítica. Ed Campus, Rio de Janeiro. (1987)
* Texto escrito para a Disciplina Pensamento Econômico do Curso de Especialização em Economia e Desenvolvimento Agrário ( UFES/ENFF) ministrada pelo professor Marcelo Carcanholo- Professor de Economia da UFF.
jueves, 25 de febrero de 2010
Elogio da Aprendizagem ( Bertold Bretch)
É chegada a hora
Nunca é tarde demais!
Aprende o ABC, não basta, mas
Aprende! Não desanime
Começa! Você tem de saber tudo!
Você tem de assumir o poder.
Aprende, homem no asilo!
Aprende, homem na prisão!
Aprende, mulher na cozinha!
Aprende, sexagenário!
Você tem de assumir o poder.
Procura a escola, desabrigado!
Procura o saber, se tens frio!
Faminto, agarra o livro: é sua arma.
Você tem de assumir o poder.
Não tema a pergunta, camarada!
Mo se deixe convencer
Veja com seus olhos!
O que você mesmo não vê
Você não sabe.
Verifique a conta.
Você tem de pagá-la.
Coloque o dedo em cada parcela
E pergunte: como apareceu?
Você tem de assumir o poder.
Bertold Bretch
Canção do Remendo e do Casaco
Sempre que a nosso casaco se rasga
Vocês vêm correndo dizer: assim não pode ser
Isso vai acabar, custe a que custar!
Cheios de fé vão aos senhores
Enquanto nós, cheios de frio, aguardamos.
E ao voltar, sempre triunfantes
Nos mostram a que por nós conquistam:
Um pequeno remendo.
Ótimo, eis o remendo
Mas onde está
O nosso casaco?
Sempre que nós gritamos de fome
Vocês vêm correndo dizer: Isso não vai continuar
É preciso ajudá-las, custe a que custar!
E cheias de ardor vão aos senhores
Enquanto nós, com ardor no estômago, esperamos.
E ao voltar, sempre triunfantes
Exibem a grande conquista:
Um pedacinho de pão.
Que bom, este é o pedaço de pão
Mas onde está
O pão?
Não precisamos só do remendo
Precisamos o casaco inteiro.
Não precisamos de pedaços de pão
Precisamos de pão verdadeiro.
Não precisamos só do emprego
Toda a fábrica precisamos.
E mais a carvão
E mais as minas
O povo no poder.
É disso que precisamos.
Que têm vocês
A nos dar?
Bertold Bretch
miércoles, 24 de febrero de 2010
Recomeço!
Vais e vens
Idas e voltas
Começo, fim e recomeço!
Passado...
Presente e Presente!
Ângela Pereira.
24 defevereiro de 2010.
A AFETIVIDADE COMO PARTE DA CULTURA DA REVOLUÇÃO
Há os que insistem em dizer que, quem luta pelas transformações sociais é “insensível”, “anti-sentimental”, age com excessiva rigidez e desmerece as características afetivas, familiares, comunitárias e internamente na organização de classe. Ledo engano, ou o revolucionário se guia por grandes sentimentos de amor[1] como disse Che Guevara, ou nunca haverá revolução.
Ninguém melhor do que Che encarnou este valor e o desenvolveu de seu jeito; seja no trabalho voluntário; na guerrilha, com armas na mão; na carta de despedida aos filhos; no treinamento militar; no combate aos inimigos da revolução etc.
A afetividade está na essência do ser humano, o seu oposto é o desprezo e a rejeição. Ela se manifesta de mil maneiras; no olhar, no calar, no ouvir, no pensar, no tocar e no fazer. A natureza humana cria formas diferentes de expressão, onde cada ser se amplia e se torna parte da consciência coletiva.
Uma revolução acontece quando os diferentes tipos de forças se sintonizam e se movem de acordo com os princípios estabelecidos. Mas acima de tudo, porque quem a edifica não trai, não se corrompe e cuida de seus semelhantes que andam nas mesmas fileiras. Então a afetividade se agrega a ética revolucionária que se sustenta enquanto a política for revolucionária. Quando a política perde a direção, a ética perde o juízo e a afetividade se desmancha em confrontos.
Uma revolução é a combinação de ações e relações, idéias e sentimentos. Não pode haver uma revolução sem o uso da força. A mudança é um movimento de forças. Mas o sujeito da revolução não é composto somente de força física, carrega também em si imaginações, sonhos, desejos e paixões.
Houveram, em épocas passadas e ainda há, os que defendem a “revolução passiva” através da adoção de táticas não agressivas, como o processo eleitoral e a conciliação, não o confronto direto. Os que assim se posicionam são revisionistas e cumprem o mesmo papel dos que se apegam a tese pós-moderna da individualidade para explicar as relações na sociedade. O que move a sociedade capitalista são as leis violentadoras do capital e não a suposta liberdade individual.
Lenin, ao formular a teoria da revolução russa disse que: “Uma revolução popular é um processo incrivelmente complicado e doloroso, de morte da velha ordem social e nascimento da nova ordem social, do estilo de vida de dezenas de milhões de homens.”[2] Ela não pode ser pacífica por que obriga a romper com a cultura estabelecida pela falsificação e tem de reinventar as relações e a moral.
O rompimento com a velha cultura de dominação exige um novo sentir e um novo pensar. Sartre nos disse que: “... O primeiro passo de uma filosofia deve ser de expulsar as coisas da consciência e restabelecer a verdadeira relação dela com o mundo ...”[3] Logo, antes de pôr é preciso se preocupar em tirar o que está encalacrado na consciência em forma de alienação que barbariza cada vez mais os seres sociais.
A expulsão das velhas idéias deformadas permite abrir espaço para a formação de uma nova consciência. Este novo existir passa justamente por onde estão calcados os interesses da classe dominante. É o confronto entre o popular e o dominante. Ao mexer com esses interesses há reações, tanto das pessoas, que serão forçadas a “mudarem seu estilo de vida” e não aceitarem cordialmente, quanto pelo próprio capital que resistirá em mudar de natureza e induzirá os seus representantes a reagirem violentamente. Então as forças revolucionárias têm de agir energicamente, como o cirurgião que age sobre o paciente para ajudá-lo a eliminar a causa da dor. Após eliminá-la, vem o alívio.
É por assim dizer, um lado da revolução, ao qual dedicou-se muito espaço nas discussões ao longo dos séculos. Mas há o outro lado, que, embora nem sempre tratado teoricamente, esteve sempre presente na forma da afetividade; sem ela não é possível construir a unidade política entre as pessoas e com as forças revolucionárias. Temos exemplos de todos os tipos na história, desde os enfrentamentos mais duros, como também a paixão, o respeito e o companheirismo que alinhou os passos de nossos antepassados em direção ao socialismo. O contrário da afetividade sempre foi o sectarismo que dividiu e impediu o fortalecimento dos valores e da ética revolucionária.
Leandro Konder expressa bem o que representou a prática partidária e a luta interna entre grupos, tendências e facções no seio das próprias forças revolucionárias quando analisou a trajetória da Segunda Internacional criada em 1889 na Europa. Disse, “O clima de otimismo durou até 1914, quando começou a I Guerra Mundial. Os socialistas se dividiram, as razões nacionais se mostraram mais fortes que as razões de classe: os dirigentes da socialdemocracia alemã apoiaram a burguesia da Alemanha e os dirigentes da socialdemocracia francesa apoiaram a burguesia da França. Marx havia terminado seu famoso Manifesto do Partido Comunista, de 1848, com a recomendação: “Proletários de todos os países, uni-vos!. Mas, em 1914, os proletários alemães e franceses passaram a se matar uns aos outros, de armas na mão”.[4] Ou seja, as discordâncias no campo das idéias levou os trabalhadores para o campo de batalhas, obscurecendo a identidade de classe.
Não era para ser esse o destino da união revolucionária dos trabalhadores do mundo todo. Aqui em nosso país ainda é muito recente a imagem das disputas nas eleições sindicais e nos diretórios nacionais e estaduais de alguns partidos políticos. O sectarismo tornou-se um desvio que levou ao nada, a não ser a morte da paixão pela revolução, pois é ele uma doença incurável. Como disse Paulo Freire, “... O sectário seja de direita ou de esquerda, se põe diante da história como seu único fazedor. Como seu proprietário. .. O povo não conta nem pesa para o sectário...”[5] Muitas vezes não contam nem os companheiros e as companheiras.
Quando estudamos a trajetória de Marx e Engels, sentimos uma sadia inveja da relação entre os dois grandes elaboradores das mais profundas críticas ao capitalismo e juntos formularam a teoria mais avançada do socialismo. Encontramos neles exemplos de uma profunda amizade, admiração, solidariedade, cuidado e atenção, principalmente por parte de Engels que, prontamente atendia a todas as vezes que Marx era banido de um país devido as suas convicções revolucionárias. Após a morte de Marx, Engels confidenciou a um amigo: “Aquilo que todos nós somos, somo-lo por ele; e aquilo que o movimento de hoje é, é-o pela atividade teórica e prática dele; sem ele ainda continuávamos a estar na porcaria da confusão”[6]. Vemos que a lealdade política e a afetividade estão nas raízes do nascimento do marxismo. Ignorar isso é o mesmo que tentar fazer uma criança a dar os primeiros passos com uma perna só.
A solidariedade era uma necessidade de sobrevivência de todos os exilados que antecedeu a criação da Primeira Associação Internacional em 1864. “Nasceu a idéia de criar esta Associação em um certo banquete celebrado em Londres em 5 de agosto de 1862 por operários de diversas nações que atenderam a Exposição Universal; um banquete de confraternização e para demonstrar a gratuidade aos operários londrinenses pela sua nobre hospitalidade.”[7]
A hospitalidade sem dúvida nenhuma é a expressão da afetividade humana que recolhe o desgarrado de sua terra para atendê-lo em sua sobrevivência. A divergência de idéias seria o primeiro obstáculo para que eles, na época, não se reunissem para confraternizar e retribuir com cordialidade e gentileza aquele apreço. Sem isso, possivelmente, a idéia da Internacional tivesse demorado mais a surgir ou nem sequer tivesse surgido.
A unidade política depende da unidade das idéias, e, de ambas depende a unidade nas ações. Na maioria das vezes que as idéias entraram em confronto, levaram ao rompimento as amizades e as relações fraternas chegando ao confronto fatal como foi o caso da Morte de Leon Trotski assassinado a mando de Stalin em 1940 no México. Ambos tinham sido heróicos lutadores da revolução Russa, e, lá mesmo, se estabeleceu o germe das divergências entre “comunistas” e “trotskistas” no mundo todo que, após quase um século passado, ainda permanecem os respingos nas consciências e nas propostas organizativas, quando as razões dos encontros e desencontros são completamente diferentes. A quebra da confiança é também a perda da identidade do projeto.
Vamos encontrar também em Gramsci esta preocupação com a afetividade e o respeito mesmo com aqueles que tem idéias diferentes, deve-se, no seu entender, verificá-las de modo leal e amistoso, pois “a amizade não pode ser separada da verdade e de todas as asperezas que a verdade implica.”[8]
Da revolução vietnamita podemos extrair muitos exemplos. Ho Chi-minh que foi uma das grandes lideranças, em um de seus discursos destacou a importância da questão do afeto: “Diante das massas, não é simplesmente escrevendo a palavra “comunista” na testa que nos faremos amar.
As massas só dão afeto àqueles que são dignos dele por sua conduta e por suas virtudes. É preciso que nós mesmos demos o exemplo, se queremos conduzir o povo. Muitos de nossos camaradas têm se mostrado dignos, mas ainda há alguns, cujos costumes são criticáveis. O Partido tem o dever de ajudá-los a corrigirem-se.”[9]
A crítica e a autocrítica então é o remédio para que se elimine os germens do divisionismo nas fileiras das organizações. Dividir as forças é enfraquecer a potencialidade da luta para alcançar os objetivos.
Na revolução de Moçambique na década de 1970, destacou-se Samora Machel que em uma conferência para mulheres se expressou assim: “... Para nós o amor só pode existir entre pessoas livres e iguais, que possuem um ideal de engajamento comum, ao serviço das massas e da Revolução. É sobre esta base que se edifica a identidade moral e afetiva que constitui o amor. Precisamos, pois, descobrir esta nova dimensão, até hoje desconhecida no nosso país.”[10]
A sociedade socialista não só se opõe à sociedade capitalista nos aspectos econômicos estruturais, como também no desmonte de todas as relações estabelecidas pela cultura burguesa.
Quando Alexandra Kollontai, analisou a família e o Estado socialista, elevou a compreensão da afetividade acima das relações sexuais entre homens e mulheres, mas que se universalizaria no sentido de que as responsabilidades seriam também sociais.
“... Estas novas relações assegurarão à humanidade todos os prazeres do amor livre, enobrecido pela verdadeira igualdade social dos sexos, prazeres que eram ignorados na sociedade mercantil do regime capitalista.”[11]
Nesta perspectiva, a afetividade ganha novas dimensões, no sentido de demonstrar que uma revolução não tem por objetivo apenas a justiça social pela distribuição dos bens econômicos, mas principalmente as mudanças de posturas para que o prazer seja democratizado. O prazer é então o princípio e o fim da vida feliz. Mas não é qualquer prazer disse Epicuro, como pensam os intemperantes, mas o prazer de nos acharmos livres do sofrimento do corpo e das perturbações da consciência.[12] Lutar é um prazer não um martírio pois se sabe que é a única forma de ver nascer a sociedade socialista.
Quando Olga em sua carta de despedida à Anita e a Luis Carlos Prestes, afirmou: “Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo”[13] estava reafirmando o seu compromisso político e afetivo com a humanidade.
É evidente que há momentos que os rompimentos são inevitáveis, mas aí não é por falta de afetividade, é que as idéias se tornaram inconciliáveis para permanecerem juntas na mesma prática. A “ternura” de que falou Che, não significa poupar do castigo o inimigo.
Por vezes há, não a disputa de idéias, mas desvio de caráter de pessoas que preferem formar grupos por afinidade de certos hábitos e passam a edificar certos sustentáculos que impossibilite qualquer tentativa de desarticular seus privilégios. Agem como grupos fechados, facções, utilizando-se da força da organização para se abastecerem. Isto nada tem de rebeldia política, os vícios tomaram o lugar da prática política, ou como se poderia dizer, é a política por outros meios, que não discute, ameaça; não planeja, inventa; não dialoga, impõe.
Nos escritos de Che Guevara é uma constante a preocupação com o ser humano e com as relações entre os militantes. Numa passagem ele fez referência a Fidel para fortalecer a própria idéia de que o marxista não é uma máquina que funciona com controle remoto, então destacou que Fidel assim se expressou em uma intervenção: “ Quem disse que o marxismo é uma renúncia aos sentimentos humanos, ao companheirismo, ao amor ao companheiro, ao respeito ao companheiro, a consideração ao companheiro? Quem disse que o marxismo é não ter alma, não ter sentimentos? Pois se foi precisamente o amor ao homem que engendrou o marxismo; foi o amor ao homem, à humanidade, ao desejo de combater a miséria, a injustiça, ao martírio e a toda exploração sofrida pelo proletariado que fez, da mente de Karl Marx, surgir o marxismo...[14] Somente a grandeza de Che seria capaz de captar em Fidel esta profunda referência à essência humana. E concluiu o raciocino com o pensamento de Martí dizendo: “Todo homem verdadeiro deve receber no rosto o golpe dado no rosto de qualquer homem”.
Para concluir podemos resgatar uma passagem de Nelson Mandela o incansável lutador contra o apartheid na África do Sul, quando passou quase 3 décadas na cadeia por defender seus ideais. Teve ele a oportunidade de receber na prisão, sua filha mais nova Zeni, que se casara com o príncipe Thumbumuzi da Suazilândia e então, mesmo menor de idade pôde visitá-lo na prisão acompanhada do marido e da filha ainda sem nome:
“O momento em que eles entraram na sala foi realmente maravilhoso. Eu me pus de pé e, quando me viu, Zeni praticamente atirou a filhinha para o marido e atravessou a sala correndo para me abraçar. Eu não abraçava a minha filha desde que ela era pouco mais velha que a própria filha. Abraçar de repente a minha filha já crescida foi uma sensação estonteante, como se o tempo se houvesse acelerado numa história de ficção científica. Depois abracei o meu novo filho e ele me deu aquela netinha minúscula para segurar; não a soltei o tempo todo que durou a visita. Segurar um bebê recém nascido tão suave e vulnerável com as minhas mãos ásperas, mãos que por tanto tempo seguraram só picaretas e pás, foi uma alegria imensa. Acho que nunca houve homem mais satisfeito por segurar um bebê do que eu naquele dia”.
“A visita tinha uma finalidade mais oficial: eu deveria escolher um nome para a criança. É costume o avô escolher um nome e escolhi Zaziwe, que significa Esperança. Esse nome guarda um significado especial para mim, pois em todos os anos que passei na prisão a esperança jamais me havia abandonado, e dali em diante é que nunca mais me abandonaria. Eu estava convicto de que aquela criança seria parte da nova geração de sul-africanos para os quais o apartheid seria uma lembrança distante: era esse o meu sonho.”[15]
Vemos então que a afetividade se constitui parte da cultura da revolução. Sem ela a vida de militantes pereceria por falta de sensibilidade. O poder que nasce com a revolução não é ingrato e insensível tem apenas a rudeza necessária para que saibamos que ele precisa ser aperfeiçoado todos os dias.
Chegamos à mesma conclusão de Che Guevara: “Nós, socialistas, somos mais livres porque somos mais perfeitos; somos mais perfeitos porque somos mais livres”.[16] Livres, da propriedade privada, do capital, do Estado capitalista, da cultura e da moral burguesa, e, dos valores desta sociedade. Então, para edificarmos os homens e as mulheres do século XXI, verdadeiramente humanos e emancipados, é um pulo.
Out de 2006. Ademar Bogo.
[1] SADER, Emir. O socialismo humanista. Petrópolis. Vozes. 1991. pg 36.
[2] GOMES, Oziel. Lenin e a revolução russa. São Paulo; Expressão Popular; 1999; p 59.
[3] MOUTINHO, Luis Damon S. Sartre existencialismo e liberdade. São Paulo Editora Moderna. 1995. pg 96.
[4] KONDER, Leandro. História das idéias socialistas no Brasil. São Paulo Expressão Popular. 2003. p 20 e 21
[5] FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro. Paz e Terra; 14a ed. 1983; p 51e52.
[6] OLIVEIRA JOSÉ (trad) Friedrich Engels. Edições Avante. Lisboa. 1986,p 410
[7] MORATO, Juan Jose. El partido socialsita obrero. Madrid. Editorial Auso. 1976; p 13
[8] GRAMSCI, Antonio. Escritos políticos . ( Trad) Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2005; p 250
[9] ALVAREZ , Marta Elena. (Org) Ho Chi-minh. São Paulo; Editora Ática; 1984. p 148.
[10] MACHEL, Samora. A libertação da Mulher é uma necessidade da revolução, garantia da sua continuidade, condição do seu triunfo. In A Libertação da Mulher. São Paulo. Global Editora; 2a ed. 1980. pg 29.
[11] KOLLONTAI, Alexandra. A família e o Estado socialista. Idem.
[12] MEWALDT, Johannes. Pensamentos de Epicuro. São Paulo. Martin Claret; 2006.
[13] MORAIS, Fernando. Olga. São Paulo. Editora Alfa-Omega. 1986 pg 294
[14] FILHO, Aton Fon (T) Obras de Che Guevara: textos revolucionários. São Paulo; Global Editora; 1986; p 60
[15] MANDELA, Nelson. Longo caminho para a liberdade: autobiografia. São Paulo; Siciliano; 1995, p 404.
[16] FILHO, Aton Fon.. Che Guevara: textos Revolucionários. São Paulo. Global editora. 1986. p 107.
martes, 16 de febrero de 2010
Sobre a simplicidade e o prazer de escrever...
Bem que tento me afastar, mas algo me prende aqui... Tento com toda curiosidade que me compõe decifrar os compostos... Mas só decifro o simples... Talvez porque o deseje tanto... Talvez porque já tenha me dedicado demais a decifrar o complexo... Talvez porque já me tenha tanto definido como complexa... E não tenha encontrado respostas... Talvez justamente por ter quisto respostas prontas demais...
Fico feliz porque isso que me prende não tortura, não machuca. Somente me dá prazer... Mas não é prazer dado, assim no sentido fácil da palavra... É prazer laboriosamente construído... É prazer sentido...
É prazer. Simples assim! E incompleto.
Ângela Pereira
16 de fevereiro de 2010.
E agora, Maria?
"Quando escrevo, me afirmo.
Quando falo, ganho sentido...
Quando penso ganho corpo
Meu corpo palavra."
(Na voz de Leandra leal, Camila,
no Filme “Nome Próprio”- Murillo Sales)
Tiraram teu sono
Pegaram-te no útero
E te trouxeram à vida
Ah! Vida...
E agora, menina?
Vestiram-te de rosa...
Compraram-te boneca...
Puseram-te na roda...
Levaram-na à escola...
Amarraram-te laços...
E agora, mocinha?
Cantaram-te a beleza...
Estamparam-te sorrisos...
Esconderam-te as clarezas...
Ditaram-te as regras...
Rompeu-te o teu sangue...
E agora, mulher?
Não mais és menina...
Não mais és mocinha...
Não mais pulas corda...
Nem brincas de roda...
E agora, mulher?
Já tens profissão
Já sabes o que queres
Não é ilusão.
Já tens corpo e forma
O busto entorpece
O corpo enlouquece
A vida merece...
E agora, mulher?
Vês mais que o óbvio
Não queres prisão
Não queres tormenta
Nem mais ilusão...
O que queres, então?
“O que quero tem nome!
Nome próprio!”
Ângela Pereira
16 de fevereiro de 2009.
Pausa: ( Mario Quintana)
Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas? Com algum ciclista tombado?
Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo? E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem-poema, a inquietação perdurará.
E enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso-comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois – Dom Quixote ou Sancho? – vive uma vida mais intensa e, portanto, mais verdadeira...
E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.
Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor. E agora?
Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:
“Io sonno um poeta o sonno um imbecille?”
Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia...
A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.E daí?
– Mas o melhor – pondera-me, com a sua voz pausada, o meu Sancho Pança –
o melhor é repor depressa os óculos no nariz.
A Vaca e o Hipogrifo. Porto Alegre: Garatuja, 1977, pag. 59-60.
Não estou só!
Estou cá com os meus botões, ganhando vida! Sentido! Pena...o tempo de pausa passa...
lunes, 15 de febrero de 2010
Vida: é porque amo!
"Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.”
Clarice Lispector
E porque amo, sou tão intensa:
O excesso de palavras...
O silêncio intermitente...
O exagero nas angústias...
A confusão nos pensamentos...
A sensibilidade à flor da pele...
O choro fácil...
O sorriso estampado no rosto...
As gargalhadas fora de época...
A severidade diante da injustiça...
A seriedade nas tarefas...
A ingenuidade diante do mal...
A rigidez depois da queda...
O sentimento verdadeiro...
A simplicidade necessária...
A complexidade arbitrária...
A defesa condicional...
O erro acertado...
O acerto afirmado...
O equívoco alterado....
O abraço total...
O beijo parcial...
A paixão verdadeira...
É porque amo, Vida, que sou tão intensa!
Ângela Pereira.
15 de fevereiro de 2010.
domingo, 14 de febrero de 2010
É o que me interessa (Lenine/Dudu Falcão)
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
A sombra é uma paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Por trás do seu sossego, atraso o meu relógio
Acalmo a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussure em meu ouvido
Só o que me interessa
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa...
http://www.youtube.com/watch?v=l9q8eVg2WtQ
viernes, 12 de febrero de 2010
Que queres de mim?
“Mente quieta, espinha ereta
e coração Tranqüilo”.
Quero a tua mais imperfeita alegria
Já que perfeição inexiste...
Quero a tua capacidade de travestir-se de um e de outro...
O colocar-se no lugar do outro...
Quero a tua habilidade de sorrir
Mesmo quando a alma chora...
Quero a tua simplicidade
E o deixar fluir...
Quero a tua leveza
E a extrema beleza de a vida sentir...
Quero a tua determinação
E o saber dizer NÃO.
Quero o teu sonho real
E a vontade de lutar...
Quero de ti...
Um amor tão forte que nada possa acabar.
O amo eu!
Ângela Pereira.