lunes, 11 de agosto de 2014

Descasulando: a borboleta e a renovação da alma-psiquê.

Sempre tive uma paixão por borboletas. Quando criança ficava observando como aqueles seres tão leves, coloridos e alegres voavam próximo de flores (também sou apaixonada por flores e suas cores) às vezes em bando, às vezes sozinhas. 
Naquele tempo o que me encantava era a faceirice delas, voando baixo e livremente, mesmo sob as fuligens das usinas de cana-de-açúcar por onde passei. 
Depois  a gente vai crescendo e começa a se interessar pelos mistérios da vida. Nunca achei que a vida fosse apenas o que a gente vê com os olhos, já que temos tantos outros sentidos.  E mesmo usando todos os sentidos, a gente pode ser surpreendido pelo que existe por trás das aparências.

Curiosa, sabia eu que por trás daquela menina tímida, recatada e observadora, existia muito mais que os olhos dos outros podiam julgar. E como as pessoas julgam os outros de forma equivocada apenas pelas aparências! Sobretudo, atualmente nos tempos líquidos e mercadológicos, em que a vida é vendida como mercadoria.  

Ficava me perguntando: " Como pode um ser tão gracioso sair de um amontoado de fios? Como pode uma lagarta se transformar em uma borboleta?"

Nas aulas de ciências e biologia aprendi atentamente o seu processo de metamorfose.   Depois esqueci esse mistério e essa beleza, ao olhar esse conteúdo como matéria apenas para passar no vestibular. Nesse momento , apareceu-me o meu amigo Rubens Alves e o sabiá dele com o mesmo ensinamento: há que se enxergar o que existe atrás da aparência.

Segui, fortemente com esse lema e com a metáfora do sabiá para insultar as risadas dos colegas de turma que me julgavam por não apreciar as conversas sobre roupas de marcas e paqueras da festa da noite anterior (eu não ia às festas por ser cuidadosamente guardada no casulo, ou seja, na minha casa e nas salas de aula) e também pelas demonstrações interesseiras de amizade  apenas quando queriam se dar bem no trabalho em grupo ou na prova em dupla. Nesse momento, todos queriam se juntar a mim e eu, sabiamente (o sabiá novamente aparecia metaforicamente) juntava-me com as minhas fiéis amigas também interessadas em história, geografia, geopolítica, filosofia, sociologia e política.  Talvez estivesse subestimando a importância das paqueras e das festas naquele tempo, mas não me arrependia por isso. Não poderia me arrepender... 

Tive poucas amigas durante minha vida por onde passei, mas sempre tive amigas fiéis e verdadeiras. Isso, todavia, não significava que não socializasse com outros colegas de turma, mas sabia muito bem com quem poderia contar. 
Posteriormente, essa simbologia da borboleta ficou tão forte em mim, que a transformei em poesia (Descasulando) e nomeei esse despretensioso blog. Depois tatuei em minha pele (vide foto que é capa deste blog) incorporando elementos que foram fundantes no meu processo de saída do casulo, a saber: o feminismo e o comunismo. 
Naquele momento, algumas compreensões eram limitadas ( e creio que ainda o são), mas a mensagem que estas filosofias, se assim pode-se chamá-las, passava era o que me impulsionava. E seguem me impulsionando.
Tentando entender os mistérios da vida e com eles aprender, depois de conviver com amigas e irmãs, tomei para mim o desafio de apreender o que está por trás de minha aparência (corpo e atitudes) na minha solitude. Buscando compreender o que me fez e me faz ser quem eu sou hoje em minhas incompletudes, rabugices, belezas e feiúras. Faz pouco tempo que descobri que esse exercício se chama "auto-conhecimento", antes já havia começado a fazê-lo, de forma instintiva, hoje ocorre de forma mais consciente. 

O "exílio em mim mesmo",  expressão que cunhei diante da condição de reclusão que a escrita da minha dissertação, me impôs a contra-gosto  o isolamento por não aceitar me afastar do ativismo militante.  Condição aliada ao retorno de saturno, "papo de astrologia", ou "crise dos trinta", como queiram  entender, foi extremamente significativo para mais alguns passos nessa caminhada. Tenho consciência que amadureci o correspondente a cerca de quatro anos em apenas um ano e meio. 

Eu que sempre fui metida a ser curiosa e carregava comigo a coragem ariana de enfrentar meus medos, tive que me reerguer de baques significativos na auto-estima, por incidentes decorrentes da minha origem/opção de classe e de projeto de sociedade, pela dificuldade em lidar com hierarquias e desrespeito (meio do céu em aquário), em espaços de trabalho e em grupos políticos  de que participava e por estar sendo empurrada a contra-gosto a mais vil das explorações sobre o trabalhador desde que o sistema capitalista existe- o trabalho em sua essência (des)umanizadora. Afinal somos todos membros da engrenagem que move o inescrupuloso sistema capitalista.
{Não sei dissociar minhas concepções ideológicas daquilo  que sou nos meus projetos individuais. Tenho plena consciência que não sou a única pessoa na face da terra com alguma compreensão crítica da vida  que passou por esses conflitos e sei, que, sobreviverei a contra-gosto e dialeticamente, forjando-me pela exploração da minha força de trabalho em condições flexibilizadas e precarizadas de trabalho que qualquer outro trabalhador tem sofrido atualmente. Diria ainda, que tenho a vantagem de ter aproveitado,  parte do recurso extraído do trabalho do meu pai em situação também instável e precarizada em usinas de cana-de-açúçar, lidando cotidianamente com o emprego de agrotóxico nos canaviais de latifundiários escrotos e exploradores, para que eu pudesse adquirir a formação intelectual que tenho hoje. E não ser jogada em outras condições mais degradantes de trabalho}
Nesse interín, as borboletas novamente apareceram: as "borboletas no estômago" decorrentes de uma paixão, que com as cores da cromoterapia (vermelho, laranja, amarelo, azul celeste, índico, lilás -ah...o lilás das transformações e do feminismo- e o branco e as suas variações), e do feng shui incorporado a meu atual " lar doce lar" acrescido a  algumas vivências com as terapias naturais e holísticas me fizeram renascer em essência com traços marcantes da minha infância e expressos em tantas experiências da militância estudantil e nos movimentos sociais: a determinação e a coragem. 

Hoje fui recebida em minha casa por uma borboleta na porta da frente.

Não sou  mais a mesma mulher. Sou a síntese das negações e afirmações que foram feitas (por mim e pelos outros) no percurso dos meus trinta e um anos que integra o percurso da história humana. Ou metaforicamente, sou a borboleta que deixou o casulo e finalmente saiu a voar composta pela imensidão de cores que ilumina os "arco-íris andantes" do mundo a fora. A simbologia da borboleta, agora somada a tantas outras, pode ser entendida  através do vídeo e no texto abaixo encontrado numa rápida pesquisa na internet.  

"A Borboleta é o símbolo da alma, pois da mesma forma que esta abandona a crisálida para voar, o espírito também se liberta do corpo físico para ganhar espaço infinito. Representa ainda o renascimento e a imortalidade. No Japão, surge associada à Mulher, visto que, a metamorfose do seu ovo para lagarta, desta para crisálida e, seguidamente para borboleta, indica as etapas da nossa alma para atingirmos a iluminação.
A Borboleta simboliza a mudança... “O poder da borboleta é como o ar, é a habilidade de conhecer a mente e de mudá-la, é a arte da transformação”. As pessoas deveriam observá-las atentamente e, assim como elas, estar em algum dos seguintes estágios de actividade:
1. Estamos no primeiro estágio - quando a ideia nasce, mas ainda não é uma realidade, é o estágio do ovo, o ponto de criação de uma ideia;
2. O segundo estágio - da larva, surge quando temos que tomar uma decisão;
3. O terceiro estágio - do casulo, é o desenvolvimento do projecto, é fazer para realizar;
4. E o estágio final - a transformação, é deixar o casulo e voar, é a realização!

A principal mensagem simbólica da Borboleta é: Criar, transformar, mudar e ter coragem de aceitar!
Namasté!

 Fonte: http://namastte.blogs.sapo.pt/1930.html"

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