jueves, 21 de agosto de 2014

Aos Zé's do caroço!

Ontem, parei instantes para observar uma cena :
No fim da noite, já próximo da meia-noite, um homem trazia seu carrinho feito dos restos de uma geladeira, desses bem comuns pelas alamedas, ruas e becos  desse Brasil e produto da criatividade gerada pela carência.
 Seus passos não eram lineares. Alguns tropeços, combinados com soluços (provavelmente), de quem  buscou na cachaça o alívio da vida sem norte, das dores das contradições dessa ordem socioeconômica infeliz. 
No meio do caminho, uma parada para respirar, um "sopro de vida" ( lembrei da expressão de Clarice Lispector), depois era preciso seguir para  chegar em casa, encontrar um cão que latia desesperadamente (lembrei da cadela companheira de Fabiano, sertanejo retirante de "Vidas Secas" de Graciliano Ramos)  e cair de sono. 

Talvez para ele isso seja suficiente. 
Talvez ele esteja " Debaixo Dágua" (música de Arnaldo Antunes), em pleno sertão dentro da cidade  que dorme, degustando sua zona de conforto.
Torço, cotidianamente,  para que os milhares de "Zé de Caroço", espalhados nesse Brasil, consigam superar suas limitações das necessidades primeiras para conseguirem colocar, primeiro, a cabeça para fora D'água e, seguidamente, revirarem o mundo de cabeça para baixo!




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