MARX, Karl, 1818-1883. Manifesto Comunista/ Karl Marx e
Friedrich Engels; organização de introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do
Manifesto Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista- São Paulo: Boitempo,
2010.
Sobre os autores (pequena biografia).
Karl Marx
(1818-1883) nasceu em Trier (capital da província alemã do Reno) no dia 5 de
maio de 1818, sendo o segundo de oito filhos de Enriqueta Pressbrug e de
Heinrich Marx (ambos judeus). O pai dele posteriormente foi obrigado a
abandonar o judaísmo pela proibição de os mesmos ocuparem cargos públicos na
Renana. Iniciou os estudos no Liceu em Trier.
Escreve seu primeiro livro Reflexões
de um jovem perante a escolha de sua profissão aos 17 anos de idade. No ano
seguinte, fica noivo, em segredo em razão da oposição das famílias, de Jenny
Von Westphalen com a qual se casa apenas em 1843.
Inicia nesse mesmo ano os estudos de Direito
na Universidade de Bonn, mas posteriormente inscreve-se na Universidade de
Berlim, onde perde o interesse pelo direito e apaixona-se pela Filosofia. Doutora-se
em Filosofia em 1841. No ano seguinte, começa a colaborar com o Jornal Gazeta
Renana, onde conheceu seu companheiro Friedrich Engels. O jornal é fechado pela
perseguição do regime prussiano. Apesar de estar desempregado, nega o convite
para ser redator no diário oficial do governo prussiano.
Inicia os estudos das obras de vários
autores, sendo o principal deles Hegel, quando escreve A crítica da filosofia do direito de Hegel e posteriormente conclui
Sobre a Questão judaica. Em 1844,
escreve os Manuscritos Econômicos e
Filosóficos. Começa a colaborar com o órgão de imprensa dos operários
Alemãs na emigração Avante! .
Aproxima-se da Liga dos justos e em
Paris estreita a amizade com Engels. Onde planejam juntos a escrita de A Sagrada Família, publicado posteriormente em Frankfurt. Expulso da França, Marx
muda-se para Bruxelas. Junto com Engels escreve A ideologia Alemã e posteriormente redige As teses de Feuerbach.
Em 1846, Marx e Engels organizam o 1º Comitê de Correspondências da Liga
dos Justos, à qual seria depois nomeada de Liga dos Comunistas. Filia-se a ela
no ano seguinte e em Congresso desta recebe a encomenda de escrever um
manifesto dos comunistas que sob o nome de Manifesto
Comunista foi publicado em 1848
em Londres. Retornando a França após ser expulso de Bruxelas, funda com Engels
o Jornal a Nova Gazeta Renana, que
não se manteve financeiramente, perseguido na França e em condição financeira
precária, após uma campanha em solidariedade ao mesmo, retorna a Londres. Na
Inglaterra, com ajuda financeira de Engels, Marx se dedica intensamente ao
estudo de economia e posteriormente inicia o trabalho no Jornal New York Daily Tribune e colabora com vários outros periódicos.
A conjuntura da Inglaterra motiva-o a
estudar avidamente Economia Política a ponto de adoecer. Em 1857, começa a
redigir os Grundisses (Esboços de uma
crítica da Economia Política) que servirá de base para a obra Para a crítica da Economia Política. Com a intensidade dos trabalhos adoece
progressivamente e novamente passa por dificuldades financeiras. Em 1863, Marx
dedica-se ao estudo de matemática e inicia a redação definitiva de O capital. No ano posterior, apresenta
um projeto e uma proposta de estatuto para a primeira Associação Internacional dos Trabalhadores.
O primeiro volume de O capital será publicado em 1866 e Marx,
segue, apesar das dificuldades de saúde e financeiras e das perseguições da
Polícia da Europa Continental segue na elaboração do segundo livro de O Capital na França com identidade
falsa. Estuda a história da Rússia e analisa a conjuntura desse país. Nos últimos anos de sua vida, mesmo acometido
por várias doenças Marx realiza várias
viagens e continua os estudos inclusive de física e matemática. Com a
morte de sua esposa em 1881 e posteriormente com a morte da filha em 1883, Marx
entra em depressão e, com estado de saúde piorado, morre no dia 14 de
março.
Friedrich Engels (1820- 1895), por sua vez, nasce em Barmen na
Alemanha em 28 de novembro de 1820. Filho
de Friedrich Engels e de Elizabeth Franzika Mauritia van Haar cresce numa
família de industriais, religiosa e conservadora. Também inicia desde jovem a
escrita de livros como Poema e História de um pirata. Inicia o estudo
sobre comércio e começa a escrever ensaios, poemas e panfletos literários e
sociopolíticos em periódicos.
Em 1841, é obrigado pelo pai a deixar
de estudar para assumir a administração dos negócios da família, mesmo assim
ele continua estudando, sozinho, filosofia, religião, literatura e política. No
mesmo ano, presta o serviço militar e começa a frequentar como ouvinte a Universidade
de Berlim, onde conhece os jovens-hegelianos. No ano seguinte, ao conhecer uma
jovem trabalhadora irlandesa, com a qual viveria até a morte e inicia os
estudos sobre a condição da classe trabalhadora na Inglaterra. Em 1843,
aproxima-se da Liga dos Justos e no ano seguinte influencia Marx com o seu
escrito Esboço para uma crítica da
Economia Política, tornando-se amigo de Marx nesse mesmo ano em Paris.
Publica posteriormente uma das suas principais obras A situação da Classe trabalhadora na Inglaterra a partir das suas
anotações anteriores.
Em 1846, com a tarefa de criar novos
comitês de correspondência aproxima ainda mais de Marx e juntos após
participarem de atividades da Liga dos justos e da Associação democrática
escrevem o Manifesto Comunista. Escreve
ainda outras obras como Revolução e
contra revolução na Alemanha, A guerra dos camponeses na Alemanha enquanto
esteve na Alemanha. Retorna à
Inglaterra para, à frente dos negócios da família, contribuir financeiramente
com Marx e os seus estudos. Segue estudando sobre diversos temas e publicando
artigos no periódico New York Daily. Em
1864, participa da fundação da I Internacional e junto com Marx publica em
periódico alemão as ideias da internacional. Divulga as ideias marxistas em
vários períodos e segue apoiando as publicações. Assume a administração da
empresa da família com a morte do pai e auxilia financeiramente Marx e a
família dele. Em 1883, com a morte de Marx, publica uma edição inglesa para o
Volume 1 de O capital. No ano
seguinte, publica outra obra bastante conhecida A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Nos anos
posteriores, segue editando o segundo e o terceiro volume de O capital. Em 1895, redigiu, já
bastante doente, uma nova introdução para outra obra importante dele A luta de classes na França e morre em
5 de agosto do mesmo ano.
Sobre a obra Manifesto Comunista.
O Manifesto
Comunista é considerado um dos documentos teóricos políticos mais
importantes dos últimos séculos. O escrito
de Marx e de Engels mantem a atualidade das análises apesar de ter sido
publicado pela primeira vez em 1848.
De acordo com Coggiola (2010), o
Manifesto foi encomendado a Marx em novembro de 1847 por ocasião do Congresso
da Liga dos Justos, posteriormente chamada de a Liga dos Comunistas, quando
havia uma expectativa da eclosão de uma revolução na Europa. O manifesto seria
então adotado como o programa da Liga dos Comunistas.
Nele os autores realizam um percurso
interessante para apresentar as teses a respeito do antagonismo das classes
na sociedade capitalista, valendo-se do método materialista histórico para
demonstrar a formação das classes antagônicas burguesia e proletariado e o
papel que as mesmas cumpriram ao longo do desenvolvimento do modo de produção
capitalista. Destacam as análises dos Comunistas sobre aspectos da sociedade
capitalista e as proposições destes para suprimir a sociedade de classes,
dialogando com as críticas feitas pela burguesia aos comunistas e apresentando
críticas a várias correntes de socialistas da época. O texto é provocante e
sarcástico, na forma própria de os autores escreverem, e estimula a organização
do proletariado para realizarem a revolução comunista em todo o mundo.
Iniciam o texto com a frase marcante
“Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo”, apontando a conjuntura
política complexa e agitada na qual os opositores ao modo de produção
capitalista eram perseguidos e criticados de diversas formas e da “satanização”
do termo “comunista” para aqueles que se opunham à ordem instaurada.
Dessa premissa, os autores concluem
que: 1) o comunismo já fora reconhecido como força por potências da Europa e 2)
há a necessidade de exposição das ideias, dos objetivos e das tendências dos
comunistas com vistas a se contrapor a lenda do “espectro do comunismo”.
No primeiro capítulo, os autores
trazem a tese de que “a história de
todas as sociedades até hoje é a história da luta de classes”. Independente do tempo
histórico e da forma de organização da sociedade é concreta a existência de
conflitos ora mais evidentes, ora mais camuflados que se desenrolaram em
processos revolucionários ou na destruição de classes.
A sociedade burguesa, objeto de
interesse dos autores, mantém os antagonismos de classe, porém, de acordo com
os mesmos, de modo simplificado, visto que se delimitam duas grandes classes
sociais – a burguesia e o proletariado.
A partir dessa afirmação, eles discorrem sobre
o desenvolvimento destas classes sociais, juntamente com o desenvolvimento do
modo de produção capitalista, afirmando que:
(...) A própria burguesia moderna é o produto de um
longo processo de desenvolvimento, de uma série de transformações do modo de
produção e circulação. (MARX e ENGELS, 2010, p. 41)
Esse processo de desenvolvimento é
acompanhado por um progresso político correspondente. Aparece então no
texto o tema do Estado, em que este é considerado como “comitê
executivo para os negócios da burguesia”. Como aparece no excerto seguinte:
“O executivo no Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios
comuns de toda a classe burguesa”.
Pensamento que posteriormente seria
reforçado por Lenin em “O estado e Revolução”, quando o mesmo comenta O manifesto:
O Manifesto do
Partido Comunista tira as lições gerais da história; essas lições nos fazem
ver no Estado o órgão de dominação de uma classe e nos levam necessariamente à
conclusão de que o proletariado não poderá derrubar a burguesia sem primeiro
ter conquistado o poder político, sem primeiro ter assegurado sua própria dominação
política e ter se “organizado em classe dominante” e se erigido em Estado- e
esse Estado proletário começará a definhar logo em seguida à sua vitória,
porque numa sociedade em que não se aceitam antagonismos de classe, o Estado é
inútil e impossível. (LENIN, 2010, p. 49)
Continuando na análise do
desenvolvimento da classe burguesa, os autores afirmam o papel revolucionário
da burguesia desempenhado na história, visto que a mesma destrói as relações
feudais e a exploração “dissimulada” do homem feudal. No lugar dessa exploração
disfarçada, institui uma “exploração aberta, despudorada e brutal”. E as
relações antigas e cristalizadas são substituídas. Assim,
A burguesia não pode existir sem revolucionar
incessantemente as relações os meios de produção, por conseguinte, as relações
de produção e com isso todas as relações sociais. (MARX e ENGELS, 2010, p. 42).
O texto segue apresentando o avanço
do capitalismo no mundo, apontando que se estabelece um intercâmbio
universal e uma interdependência entre as nações contrapondo-se a um
isolamento anterior. Nesse sentido, os meios de comunicação progridem, ao passo
que o fazem os meios de produção, colaborando com a expansão das ideias da
classe burguesa.
Outro aspecto importante a se
observar é a submissão do campo à cidade que se aprofundou cada vez mais
ao longo da história, subordinando os povos camponeses aos povos burgueses e o
oriente ao ocidente. Além disso, segue
um processo de centralização dos meios de produção e concentração da
propriedade em poucas mãos. (MARX e ENGELS, 2010, p. 44).
Para os autores, também teria sido a
burguesia que forjou a outra classe fundamental- o proletariado, como se vê no
trecho seguinte:
A burguesia, porém não se limitou a forjar as armas que
lhe trarão a morte; produziu também os homens que empurrarão essas armas-os
operários modernos, os proletários. (MARX e ENGELS, 2010, p. 46).
O operário tornar-se mercadoria, ou
“um simples apêndice da máquina”, cujo custo é reduzido significativamente ao longo
dos anos. A essa condição não escapam nem as mulheres nem as crianças,
pelo contrário, sua força de trabalho é explorada em afazeres menos pesados,
sendo menos valorizada.
Passando por diversos estágios de
desenvolvimento, o proletariado estabelece uma luta contra a burguesia desde
a existência desta enquanto classe. Em condições desfavoráveis, com a
multiplicação dessa classe, com as condições de trabalho desumanas, a mesma
cresce e se fortalece ao adquirir maior consciência de si mesma.
Os autores defendem que apenas o
proletariado, dentre as classes que se opõem a burguesia, pode ser considerado verdadeiramente
revolucionário, como produto mais autêntico do desenvolvimento da grande
indústria. (MARX e ENGELS, 2010, p. 49).
Para isso argumentam que as camadas
médias (pequenos comerciantes, pequenos fabricantes, artesãos e camponeses)
combatem à burguesia porque a mesma compromete a sua existência, todavia,
quando se tornam proletários não defendem os mesmos interesses. São
conservadores e reacionários. Outra
fração de classe, conhecida como Lumpem-proletariado,
por sua vez, em razão de sua condição subumana de vida, pode se vender à
reação.
Seguem então caracterizando o proletariado e o
seu caráter revolucionário:
O proletariado não tem propriedade; suas relações
com a mulher e os filhos nada tem em comum com as relações familiares burguesas
(...) Os proletários não podem apoderar-se das forças produtivas sociais senão
abolindo o modo de apropriação existente até hoje (...) sua missão é destruir
todas as garantias e seguranças da propriedade privada até aqui existentes
(MARX e ENGELS, 2010, p. 49)
Outra importante afirmação dos
autores se dá no tocante ao caráter da revolução. Para os mesmos apesar
de a luta do proletariado contra a burguesia não ter caráter nacional, uma vez
que o capital se espalha por todo o mundo, ela num primeiro momento se inicia
no próprio país. Afirmam, então, “É natural que o proletariado de cada país
deva antes de tudo liquidar a sua própria burguesia.” (MARX e ENGELS, 2010, p.
50).
Para concluir o primeiro capítulo,
ainda, sobre a burguesia e sobre a condição da supremacia desta no capitalismo,
os autores escrevem que:
A condição essencial para a existência e a supremacia
da classe burguesa é a acumulação da riqueza nas mãos de particulares, a formação
e o crescimento do capital; a condição de existência do capital é o trabalho
assalariado. Este baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre
si. (MARX e ENGELS, 2010, p. 51).
No segundo capítulo, os autores
dedicam-se a escrever sobre quem são e o que defendem os comunistas,
apresentando aquele que seria considerado o programa do comunismo.
Os comunistas integram a fração dos
partidos operários que tem a compreensão nítida das condições em curso e dos
objetivos gerais do movimento operário, estimulando teoricamente o restante do
proletariado. Distinguem-se dos demais partidos operários por destacarem-se não
apenas nas lutas nacionais, entretanto prevalecendo os interesses comuns dos
proletários, independentemente da nacionalidade como também porque representam
os interesses do movimento em seu conjunto nas diferentes fases de
desenvolvimentos porque passa a luta entre proletários e burgueses. O objetivo iminente dos comunistas é a
constituição do proletariado em classe, a derrocada da dominação burguesa e a
conquista do poder político pelo proletariado. (MARX e ENGELS, 2010, p. 51).
O comunismo visa a supressão da
propriedade privada burguesa. Os autores esclarecem que não se pretende abolir a “(...) apropriação pessoal dos produtos do trabalho, indispensáveis à
manutenção e à reprodução da vida humana (...) queremos apenas suprimir o
caráter miserável dessa apropriação.” (MARX e ENGELS, 2010, p. 54).
No texto Abaixo à propriedade privada, Alain Bihr e Francois Chesnais (2003)
recolocam o debate da propriedade privada na atualidade. Argumentam que a sacralização
da propriedade privada, aceita inclusive por partidos e sindicatos
progressistas, provém de algumas confusões que colocam em mesmo patamar os bens
de uso pessoal, dos quais indivíduos desfrutam sozinhos ou com sua família, e
os meios de produção que resultam da apropriação privada de todo ou de parte de
um trabalho social. Essa confusão,
segundo os autores, contribui para mistificar aquela que seria a contradição
fundamental do capitalismo- a apropriação privada do capital daquilo que é
produzido socialmente.
Outrora Marx e Engels já alertavam
para essa confusão que poderia ser usada para aumentar as fileiras dos
oposicionistas do comunismo.
Sobre o trabalho, os escritos apontam
a diferenciação do uso do trabalho na sociedade burguesa e na sociedade
comunista, sendo que na primeira o trabalho vivo assume o papel de aumentar o
trabalho acumulado, enquanto que na segunda, é um meio de ampliar, enriquecer e
promover a existência dos trabalhadores. E alertam que o comunismo não impede a
apropriação da parte dos produtos sociais, mas que combate o poder de
subjulgação do trabalho dos outros por meio dessa apropriação. (MARX e ENGELS, 2010, p. 54).
Sobre a família burguesa, fala-se em
supressão da família burguesa que se fundamenta no ganho individual e no
capital e que se vale da prostituição pública. Sobre a mulher e o casamento
monogâmico, os autores explicitam a relação construída entre a mulher, como
instrumento de produção e a vinculação dela às tarefas da propriedade coletiva.
Os comunistas defendem, ainda, um caráter da educação não influenciado pela
burguesia.
Nesse capítulo, os autores reforçam a
atuação nacional do proletariado, havendo, todavia, clareza de que a classe
deve estar unida para derrotar a burguesia internacionalmente em razão da
abrangência do capitalismo.
Os operários não tem pátria. Não se lhes pode
tirar aquilo que não tem. Como, porém, o proletariado tem po robjetivo
conquistar o poder político e elevar-se à classe dirigente da nação, torna-se
ele a própria nação, ele é, nessa medida nacional, mas de modo algum no sentido
burguês da palavra. (...) A ação comum do proletariado, pelo menos nos países
civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação. (...) À medida
que for suprimida a exploração do homem
pelo homem será suprimida a exploração de uma nação por outra.(MARX e ENGELS,
2010, p. 56).
Outra afirmação presente no manifesto
que é comprovada ao longo da história diz respeito à supremacia das ideias da
classe dominante de uma dada sociedade expressa na conhecida frase “As ideias
dominantes de uma dada época sempre foram as ideias da classe dominante.”.
A classe que domina é capaz de
construir representações e conceitos que prevalecem e que se espalham de modo a
conservar o status quo. À medida que
mudam também as relações sociais, mudam essas representações e conceitos.
Trata-se, portanto, de reconhecer que a consciência social dos séculos mesmo
com toda a diversidade e variedade tenha si movido de forma comum. Para modificar essa consciência burguesa é
necessário, portanto, suprimir a dominação burguesa sobre o proletariado; mais,
suprimir a existência de classes. Entretanto nessa mudança, a primeira fase
requer a elevação do proletariado à classe dominante, constituindo uma
democracia.
Seguindo esse raciocínio, os autores
apresentam medidas que consideram fundamentais para transformar radicalmente o
modo de produção. Seguem:
1.
Expropriação privada da propriedade fundiária e
emprego da renda da terra para despesas do Estado.
2.
Imposto fortemente progressivo.
3.
Abolição do direito de herança.
4.
Confisco da propriedade de todos os emigrados e
rebeldes.
5.
Centralização do crédito nas mãos do Estado por
meio de um banco nacional com capital do Estado e com monopólio exclusivo.
6.
Centralização de todos os meios de comunicação e
transporte nas mãos do Estado.
7.
Multiplicação das fábricas nacionais e dos
instrumentos de produção, arroteamento das terras incultas e melhoramento das
terras cultivadas, segundo um plano geral.
8.
Unificação do trabalho obrigatório para todos,
organização de exércitos industriais, particularmente para a agricultura.
9.
Unificação dos trabalhos agrícola e industrial;
abolição gradual da distinção entre a cidade e o campo por meio de uma
distribuição mais igualitária da população do país.
10. Educação
pública e gratuita a todas as crianças; abolição do trabalho das crianças nas
fábricas, tal como é praticado hoje. Combinação da educação com a produção
material etc. (MARX e ENGELS, 2010, p. 58).
Com esse programa, visa-se construir
uma sociedade em que para o livre desenvolvimento coletivo é preciso o livre
desenvolvimento de cada um.
No capitulo três, os autores
dedicam-se a elencar e descrever a partir das suas literaturas as perspectivas
de várias correntes socialistas e comunistas.
Sobre o socialismo feudal, os
autores caracterizam-no como reacionário, uma vez que defendem o retorno
à antiga ordem social. Acusam a
burguesia de ter produzido um proletariado revolucionário ao assegurarem o
modelo de desenvolvimento burguês. Desta forma, na luta política participam de
atividades de repressão da classe operária. (MARX e ENGELS, 2010, p. 60)
O socialismo pequeno-burguês,
também considerado reacionário e utópico, é capaz de analisar as
contradições próprias às modernas relações de produção, entretanto, quer
reestabelecer os antigos meios de produção e troca e, com eles, as antigas
relações de propriedade e a antiga sociedade. A pequena burguesia é oscilante
ora como fração complementar da burguesia ora com aproximação ao proletariado
em momentos desfavoráveis a ela.
O socialismo alemão ou “
verdadeiro socialismo, apreendem a literatura francesa, tentando dar
aplicabilidade a ela , na condição adversa que se dá na Alemanha. Essa
tentativa confere equívocos de análise de conjuntura que maculam a literatura socialista e
comunista e que acabam favorecendo aos pequenos burgueses alemãs.
Na categoria de socialismo
conservador, o socialismo burguês deseja as condições de vida da
sociedade moderna, sem, entretanto, os riscos e lutas decorridas dela, ou seja,
querem a burguesia sem o proletariado. (MARX e ENGELS, 2010, p. 64)
Em seguida, os autores apresentam o
socialismo e o comunismo crítico-utópicos. Para esse grupo a história do
mundo pode ser sintetizada na propaganda e execução de planos de organização
social. Há uma rejeição de qualquer ação política, principalmente ações
revolucionárias. Para atingir seus objetivos defendem o uso de meios pacíficos,
atenuando a luta de classes e conciliando os antagonismos. Criticam as bases da
sociabilidade existente, sem, todavia, realizar ações que visem a sua
supressão.
Por fim, apresenta o partido
comunista diante dos demais partidos de oposição. Este luta pelos
interesses e objetivos coletivos da classe operária, mas também propõem um
futuro para o movimento. Como disseram os autores, “os comunistas apoiam em
toda parte qualquer movimento revolucionários contra a ordem social e política
existente”.
Para eles a questão fundamental é a
supressão da propriedade privada. Nesse sentido, não dissimulam suas opiniões e
declaram seus objetivos de forma clara e aberta.
O texto é concluído com uma
convocatória que se tornou histórica “Proletários de todos os países,
uni-vos!” Convocatória esta que
afirma a necessidade da unidade da classe
proletária para vencer um inimigo que às custas do trabalho do proletariado se
ampliou mundialmente. Como dissera Martin (1948), o manifesto é a expressão de
uma época otimista em que a juventude já reivindicava seu lugar na história.
No ensaio “Noventa anos do partido
comunista”, Trotsky ( 1937) ressalta a importância do Manifesto Comunista e a atualidade do mesmo, destacando a
capacidade de Marx e Engels anteverem acontecimentos históricos. Apresenta as ideias centrais que para ele
permaneciam atuais (a concepção
materialista da História; a História
como a história da luta de classes; a luta de classes como luta política; o
governo enquanto comitê para gerir os negócios da burguesia; o caráter
internacional da luta de classes mediante o desenvolvimento internacional do
capitalismo dentre outras) e coloca a necessidade de atualização ou
complemento de outras (a realidade de
povos coloniais e semicoloniais e a luta pela independência; a projeção da
realização de uma revolução na Alemanha que não se concretizou). As
críticas de Trotsky são importantes, mas devem ser vistas, considerando o
momento histórico da escrita de O manifesto comunista e com a compreensão de
que não se trata de uma premunição, mas sim o exercício do método materialista
histórico.
A luta de classes persiste, cada vez
mais acentuando-se o seu caráter internacional, mediante o desenvolvimento do
modo de produção capitalista e a ampliação da apropriação do trabalho pelo
capital nos mais distantes e inóspitos lugares.
A perseguição dos opositores ao modo de produção capitalista também
persiste ora velada, ora explicita e formalizada pelo Estado capitalista. Apesar de se verificar mudanças no Estado, incapaz
de destinar, a quem produz a riqueza, direitos sociais básicos, este segue
sendo instrumento de dominação da burguesia sobre o proletariado.
Sem dúvida, o Manifesto cumpriu e
segue cumprindo a tarefa de propagandear o projeto de sociabilidade comunista, como
ferramenta para estudiosos marxistas e para organizações políticas revolucionárias
de análise do movimento da história, do desenvolvimento do modo de produção
capitalismo e da constituição das classes fundamentais em disputa. Continua subsidiando a luta revolucionária
mesmo em momentos adversos e de confusão generalizada para a classe
trabalhadora.
COGGIOLA, Osvaldo. 150
anos do Manifesto Comunista. In: Manifesto Comunista/ Karl Marx e Friedrich
Engels; organização de introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do Manifesto
Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista- São Paulo: Boitempo, 2010.
LENIN, Vladimir Illitch. O Estado e Revolução: o que ensina o
marxismo sobre o Estado e o papel do proletariado na revolução. 2 ed. Rev.
Atual. São Paulo: Expressão Popular, 2010.
MARX, Karl, 1818-1883. Manifesto Comunista/ Karl Marx e
Friedrich Engels; organização de introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do
Manifesto Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista- São Paulo: Boitempo,
2010.
MARTIN, Lucien. Cent
ans aprés le manifeste In: Manifesto Comunista/ Karl Marx e Friedrich
Engels; organização de introdução Osvaldo Coggiola; [tradução do Manifesto
Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista- São Paulo: Boitempo, 2010.
TROTSKY, Leon. “Noventa años del Manifiesto Comunista” Coyacán, México. In: Manifesto
Comunista/ Karl Marx e Friedrich Engels; organização de introdução Osvaldo
Coggiola; [tradução do Manifesto Álvaro Pina e Ivana Jinkings]- 1 ed. Revista-
São Paulo: Boitempo, 2010.