jueves, 13 de mayo de 2010

A maternidade como escolha: Ser ou não ser mãe? Eis a questão.

Ângela Pereira.*

No mês em que todas as atenções estão voltadas para as mães, esse texto visa trazer algumas reflexões sobre a relação que existe entre a maternidade, gênero e saúde. Não se trata de negar a maternidade e a importância desta para a vida das mulheres e da sociedade como um todo, mas de trazer à tona elementos que muitas vezes não estão tão visíveis para a sociedade e principalmente para as mulheres.
Qual a relação que existe entre a maternidade e a opressão das mulheres? Toda mulher tem que ser mãe? Por que as mulheres têm o direito de decidir ser ou não mãe? Essas são algumas questões que queremos trazer para reflexão neste breve texto.
Vivemos numa sociedade em que historicamente ser mulher é sinônimo de maternidade. Essa relação quase que obrigatória foi construída ideológica e socialmente a partir de instituições como a família, a Igreja e o Estado.
A mulher durante muito tempo assumiu apenas a tarefa de cuidar da família e dos afazeres domésticos. Enquanto que ao homem cabia a tarefa de trabalhar apenas fora de casa, para suprir as necessidades financeiras. Essa separação de tarefas é chamada de divisão sexual do trabalho. Essa divisão de tarefas permite a manutenção do sistema Capitalista, uma vez que retira do sistema o gasto com pagamento do trabalho doméstico e do Estado, o papel de implantar e manter creches, lavanderias públicas e outros equipamentos sociais que lhes garanta uma vida mais tranqüila; além de reproduzir a forma de pensar dessa sociedade através de gerações pela criação das/dos filhas/os e manter o poder de provedor ao homem como “chefe” da família -o patriarca.
A maternidade também foi e continua sendo divinizada e naturalizada pela igreja, como único fim do ato sexual, cabendo a mulher o espaço doméstico, a tarefa de educar os filhos para a ordem sócio-econômica vigente e a manutenção de comportamentos recatados tidos como de “bons costumes”.
Somente depois de muitas lutas feministas, as mulheres começaram a sair de casa para trabalhar, a ter direito ao voto e a terem um maior domínio sobre as suas vidas e seus corpos. Embora isso não as tenha livrado da cansativa tarefa de lidar com uma jornada dupla de trabalho, representou um significativo avanço para a mudança do papel das mulheres na sociedade moderna. É verdade ainda, que muitas mulheres foram induzidas a buscar trabalho fora de casa, por necessidade de sobrevivência e complementação da renda dos maridos ou como única renda em casos de algumas famílias em que a mulher lidera, e então isso não necessariamente representou liberdade e diminuição da opressão contra as mulheres como afirma Helena Hirata:

Houve um aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho, tanto no setor formal quanto nas atividades informais, e uma nova elevação do número de empregos por elas ocupados no setor de serviços. Essa participação traduz-se, sobretudo, pela criação de empregos precários e vulneráveis (HIRATA, H. Por quem os sinos dobram? Globalização e divisão sexual do trabalho in: Trabalho e cidadania ativa para as mulheres: Desafios para as políticas públicas. São Paulo. Caderno nº3, 2003.)

E o que isso tem a ver com a maternidade?
Ser mãe não é tarefa fácil, principalmente para mulheres em condições financeiras precárias. A sobrecarga de trabalho externo e doméstico acaba tornando desgastante a tarefa de criar, educar, cuidar dos filhos, visto que somente ou principalmente a ela é destinada essa tarefa. Além disso, os filhos em alguns relacionamentos são colocados como empecilhos para a separação de um casal cuja vida conjugal não é estável por violência ou por não existir mais condições de manter o casamento, havendo uma condição imposta de submissão da mulher ao homem.
Atualmente, com o desenvolvimento de métodos contraceptivos, o controle da gravidez e o planejamento familiar são possíveis, a despeito de descuido, desinformação ou situações de violência contra a mulher e opressão/imposição à relação sexual sem camisinha ou uso de outros métodos contraceptivos. O fato de a mulher ser disponibilizado métodos de contracepção foi também um dos fatores impulsionadores do adiamento da maternidade para maiores idades ou pela escolha de não se ter filhos. A maior liberação da sexualidade e a permissão aos prazeres sexuais também foi um importante avanço na concepção do controle das mulheres sobre o próprio corpo.
As possibilidades cada vez maiores de proteção e de planejamento familiar oferecidas no Sistema Único de Saúde são importantes elementos para fortalecer a decisão das mulheres a terem ou não filhos. Todavia muito a que se avançar na realização de atividades de promoção da saúde junto às mulheres e às famílias, como por exemplo, a formação de grupos de mulheres, na realização de ações intersetoriais que garantam a mulher o direito de escolha pela maternidade a partir de políticas públicas, por exemplo, de enfrentamento à violência contra a mulher.
A maternidade deve ser uma escolha condicionada a viabilidade de oferecer uma vida digna ao/à filho/a, sendo essa responsabilidade não apenas da família , mas do Estado também . Nesse caso, a maternidade realmente será um ato de amor e uma escolha acertada.

*Integrante do Coletivo de Mulheres Alexandra Kollontai e Fisioterapeuta.

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