sábado, 4 de abril de 2020

Anjos contra o COVID-19: reflexões em tempos de pandemia e crise do capital.

Recebi nas redes sociais essa imagem como sendo uma obra do artista Paraibano Flávio Tavares em homenagem aos profissionais de saúde.


Obra do artista plástico paraibano Flávio Tavares.
Nessa semana li várias reportagens sobre adoecimento de profissionais de saúde e ontem li o relato de uma companheira que mesmo tomando todos os cuidados foi infectada. Somente quem é profissional de saúde e mais ainda quem está na linha de frente do cuidado das pessoas infectadas com a COVID-19 compreende o significado do ato de cuidar de quem se encontra frágil e quem deposita toda a esperança de vida nas mãos de profissionais de saúde. Também somente nós sentimos o significado da gratidão de alguém que tem sua dor aliviada, seu movimento recuperado ou para quem está com a COVID-19 que vê sua febre e falta de ar cessados.
São anos de preparação e entrega aos estudos para que essa contribuição seja dada.
Vale ressaltar, todavia, que a construção político ideológica do pensamento hegemônico que habita os profissionais de saúde no Brasil não é o de solidariedade, infelizmente. Segue sendo o pensamento liberal que busca se dar bem através das disputas de micro e macropoderes.
Discursos pseudocoletivos que deságuam em manutenção de privilégios. Pensamento liberal também que impõe posturas éticas diferentes em espaços público e privado.
Oportunismos e desvios de conduta para os que não tem o poder médico e que também tentam se esquivar. E subserviência aos discursos pseudocoletivos dos profissionais que não se organizam para ter força enquanto classe trabalhadora.
Não havendo condições político ideológicas com valores e moral não liberais há como cobrar que tenham posturas diferentes? Infelizmente não.
Quem tem coerência e coragem mesmo, que se cuide, doe-se e sobreviva, acreditando que depois da pandemia os sonhos capitalistas sejam solapados para que outras vidas mais solidárias sejam erguidas.
Eu fico com os aplausos aos médicos cubanos em missão nos vários países do mundo infectados pela COVID-19. Lá eles são preparados técnica e político-ideologicamente pra isso.

Ângela Pereira.
Fisioterapeuta Sanitarista, Especialista em Saúde da Família com Ênfase em Saúde da População do Campo (UPE), em Gestão de Redes de Atenção à Saúde (Fiocruz/ RJ), em Economia e Desenvolvimento Agrário (UFES/ENFF) e mestra em Serviço Social. Atualmente Responsável Técnica do Centro Especializado em Reabilitação Física e Auditiva de Conde-PB.

domingo, 19 de agosto de 2018

O SUS é uma questão de amor!

A conjuntura política tem nos colocado desafios imensos para a continuidade de direitos conquistados arduamente em setores importantes como a saúde e a educação. 

Em 2018, completarei 10 anos de graduada em Fisioterapia, tendo passado por locais de trabalho diversos (Atenção à Saúde, Gestão de Serviços e Formação acadêmica, com algumas pequenas experiências de docência), buscando conciliar o projeto de sociedade que defendo com a sobrevivência nesta sociabilidade. 
Na minha graduação em Fisioterapia concluída aos exatos 12 de setembro de 2008, assimilei outras experiências com a bagagem intelectual que vinha das minhas experiência de vida e origem de classe, fui me apaixonando pela saúde pública que antes da minha entrada na Universidade já era tão mal falada. 
Não me apaixonei pela estrutura do SUS. Apaixonei-me pela luta que busca a materialização de um Sistema de Saúde de qualidade, equânime, integral, humanizado e universal. A PAIXÃO esbarrou nas dificuldades concretas saídas dos debates dos movimentos estudantil e social para a vida no mundo do trabalho. Mas se transformou em AMOR. 

Resisti e continuo resistindo a colocar à disposição da iniciativa privada a minha força de trabalho, porque defendo e integro um projeto ainda em curso de materialização do SUS. De lá para cá, mais recentemente vários golpes foram dados no povo brasileiro que não consegue compreender que o direito à saúde seja para quem é empregado ou não, está sendo retirado de suas mãos. Essa retirada se dá ideologicamente, quando as empresas de comunicação majoritariamente depreciam os serviços, enfatizando "que o SUS não presta". E concretamente, quando a disputa entre os projetos privatista e o da Reforma Sanitária Brasileira vai sendo vencida pelo projeto privatista, frente à desmobilização de movimentos sociais, sindicais e partidos políticos de esquerda. 
Atados por Leis criadas no governo de FHC, como a Lei de Responsabilidade fiscal e agora pela Lei de congelamento de investimento (a antiga PEC 55) no governo Temer, gestores e trabalhadores ainda seguem comprometidos com a saúde daqueles que não podem realmente pagar por consultas caríssimas de especialistas médicos privados, a exemplo da psiquiatria que custa R$ 400,00 reais em muitos consultórios privados. Aqueles que ainda podem pagar, mesmo que de forma "apertada", não sabem o valor (financeiro e sentimental) de uma consulta interprofissional e multiprofissional preparada com cuidado por profissionais qualificados que doam horas num Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) pensando em como assistir usuários com uma diversidade de transtornos produzidos por uma sociabilidade doente. Não sabem e nunca saberão, com que cuidado e esforço, por exemplo, se prepara uma Campanha de Vacinação contra o Sarampo e a Poliomielite como a que teve no último dia 18 de agosto de 2018 um dia D, quando milhares de crianças no Brasil todo foram vacinadas para não precisarem usar um Centro Especializado em Reabilitação em razão de uma sequela de Poliomielite. E que caso campanhas como essa não fossem feitas no SUS cada gotinha teria que ser tirada do dinheiro suado na carteira. 

Quem usa o SUS, como eu que não tenho outro plano de saúde, sabe das dificuldades de acessar serviços principalmente ambulatoriais e exames "complementares". Quem faz uso em cidades do interior e no campo, sabe ainda mais pois a rede de saúde é deficitária, tendo o usuário ainda que procurar cidades maiores para serem atendidos. Sabe ainda que é possível se deparar com profissionais ruins, da mesma forma como se é possível acontecer em consultórios privados. Tenho relatos de violência obstétrica, mal atendimento, demora no acolhimento e procedimento, desorganização do processo de trabalho e erros médicos na iniciativa privada como a perfuração de intestino num simples procedimento de colocação de DIU numa sala cirúrgica em hospital da Rede Privada de João Pessoa. 
Bons e ruins profissionais existem na rede pública ou privada. Serviços bons e ruins existem em ambos locais. Profissionais descompromissados com o seu trabalho, existem em ambos lugares. A ênfase dada no setor público a esse possível descompromisso é uma soma da desvalorização do espaço e serviço público com a fetichização do privado. 
No privado, o profissional sabe que a "amizade" naquele lugar não vale. O que vale é o possível assédio moral do chefe que contabiliza quantos pacientes (passivos) o fisioterapeuta, por exemplo, pode atender ao mesmo tempo. 
No serviço público, o famoso jeitinho brasileiro tem um espação. O amigo, que nem sempre é amigo no sentido genuíno da palavra, é aquele que faz vistas grossas. Aquele que permite que a reprodução da ideia que o serviço público é público (bagunçado) tome corpo e ganhe vida, mesmo que seja uma vida moribunda. 
Muita gente que usa o SUS e que não usa, não sabe e/ou não valoriza ofertas como realização de cirurgias que a iniciativa privada não faz, a vigilância sanitária, as terapias integrativas e complementares e tantas outras. 
Para quem sabe a diferença entre PAIXÃO e AMOR, sabe que o segundo sentimento é bem mais duradouro e que ajuda a superar e vencer barreiras. 
Defendo, uso, luto e construo o SUS, orgulhosamente! 

Ângela Pereira. Fisioterapeuta (UFPB), mestre em Serviço Social (UFPB), Especialista em Economia e Desenvolvimento Agrário (UFES/ENFF) e em Saúde da Família com Ênfase em Saúde das Populações do Campo (UPE). Pós-graduanda em Gestão de Redes de Atenção à Saúde (Fiocruz-RJ). Está responsável técnica do Centro Especializado em Reabilitação de Conde /PB.

lunes, 22 de mayo de 2017

Inverno.

Cobre-te.
Essa tua casca que  endurece em breve será trocada e tuas folhas cairão.
Essa tua pele ressequida do verão ficará úmida
Recolhe-te na fase azul, mesmo que arisca esteja
E depois aproveite: a ecdise é tua.

Só tua.

Ângela Pereira.

martes, 6 de diciembre de 2016

Identidade*

Sentada num sofá velho, uma criança negra via sua mãe selecionando peça a peça possíveis objetos para serem reciclados. 
Cheiro forte, sol à pino e suor na pele negra escorrendo. Catava, a mãe, as latas de cervejas que foram tocadas por pessoas com histórias diversas. Talvez vindas do bar da esquina ou do hotel à beira mar. Buscava ainda entre tantas coisas velhas e semi-usadas descartadas algo que alimentasse os parcos sonhos de sua filha.
As mãos calejadas e suadas encontraram uma boneca. Tinha olhos azuis. Encantada com a semelhança dos olhos da boneca com  uma pedra preciosa, rapidamente foi até a filha e presenteou-a: "Filha, encontrei a boneca que prometi lhe dar".
 A menina pegou a boneca e olhou-a fixamente. Na outra mão, tinha um caco de espelho.
Ficou , então, oscilando os seus olhos negros entre o espelho e a boneca  com olhos azuis.
Não entendia porque aqueles olhos azuis não lhe eram familiares.
Para surpresa da mãe, a criança deixou a boneca no sofá e saiu com o caco de espelho nas mãos.


Ângela Pereira. 

*Crônica, produto de oficina de criação literária  " Escrita de mulheres negras na Contemporaneidade" com Lívia Natália - Professora Dra. do Instituto de Letras da UFBA.no I FALA NEGRA , organizado pelo PET NESAL (Núcleo de estudos do Semi-árido de Alagoas) na UFAL de Palmeira dos Índios. 

jueves, 31 de marzo de 2016

O SABOR DO POLEGAR DA MINHA MÃO ESQUERDA.

Fiz questão de agradecer a cada mensagem deixada no facebook e fora desse espaço virtual, individualmente.
A palavra gratidão tem tomado cada vez mais espaço no meu vocabulário, assim agradeço imensamente pelos (des) encontros na vida que me fizeram ser a mulher que hoje sou.
Aprendi na caminhada dos meus 33 anos que lutar pela vida é essencial!


Fui uma menina tímida, cuja capacidade de agir sobre o mundo fora julgada pelo silêncio no canto da sala de casa, quando eu observava o que se passava ao redor desta com um dedo polegar na boca. Depois abandonei, aos nove anos, o hábito de chupar o dedo polegar da mão esquerda.
Nas salas de aula, tive que superar a timidez e a dificuldade de enxergar, em razão de uma miopia precoce, pela curiosidade de aprender sobre a vida. Nunca me foi ruim o ato de estudar. Todo início de ano letivo, corria ao encontro dos materiais escolares que chegavam para cheirá-los, folheá-los e deles cuidar. Cada professora que me ensinou sabe como meus olhos brilhavam com cada nova descoberta.
Foi por esse caminho que abrimos (a Família Pereira) as “portas do mundo”, mas foi a junção dos estudos com a vida que tive que me forjou. As diversas passagens por alguns estados do Nordeste, onde o cenário prevalente eram os latifúndios repletos de cana de açúcar, concentração de renda, desigualdade social, exploração e muito suor banhado também em agrotóxico, que fui entendendo as dificuldades da vida.
Aprendi, ainda jovem, a sensação dolorosa de ser usada diante da conveniência de interesses. Ter meus saberes disputados apenas em momento de provas e de trabalhos escolares e esquecidos no intervalo das aulas me fizeram entender que no sistema capitalista, as relações interpessoais funcionam como moeda de troca.
Nesse momento, encontrei Rubens Alves e "o sabiá" em “As Cartas aos pais e adolescentes”. Minha vida nunca mais foi a mesma.
Pelos estudos, insistentemente estimulados por minha mãe e meu pai, cheguei à Universidade. Onde minha sede de justiça fora animada pelo ambiente estudantil conservador, mas ainda fervilhante. A timidez das poucas falas em reuniões do comando de greve estudantil, no CAfisio e no DCE foram sendo trocadas paulatinamente pela coragem de dizer, de sentir, de lutar, de somar e conquistar.
Aprendi a amar a militância e dela sentir falta como se sente falta de um alimento. Nela fui encontrando pessoas que assim como eu, também sentiam um desejo imenso de mudanças, de ruptura com esse sistema socioeconômico desumano e o desejo de liberdade coletiva. Nela me fizeram mais mulher, tornaram-me feminista. Passei então a compreender todas as minhas dificuldades de comunicação ao longo da vida. Todas as minhas idealizações e os meus amores platônicos. Fui rompendo as amarras. Descasulando-me.
As idéias continuaram a pular da mente avidamente... Até hoje nem sempre saírem ordenadas da boca e, muitas vezes, saírem prolixas. O desejo forte de expulsar toda a indignação com um mundo que expropria vidas pela ganância, vende e desumaniza pessoas faz as palavras saírem as vezes confusas. Gratidão aos que entenderem.
É, sobretudo, a essas pessoas que tentaram entender os meus anseios, os meus excessos, a minha insaciável vontade de trabalhar nos espaços de militância com dedicação muitas vezes pouco solidária comigo mesma, que devo agradecer...
Hoje os impactos de opiniões não construtivas são bem menores sobre as minhas incompletudes.
Hoje as posturas interesseiras e desrespeitosas são por mim percebidas de longe e delas me distancio.
Seleciono amigas/os sem culpa. Interessam-me pessoas que me respeitam e respeitam os outros; que respeitam minha individualidade e que gostam de minha companhia. Que tentam superar os valores capitalistas em prol das lutas coletivas.
Não tenho medo da minha solitude. Amo-a porque através dela ponho-me a refletir sobre a vida, sobre minha prática diante dela e sobre em que devo melhorar.
Não estou finalizada, nem quero estar. Preciso de muitos outros encontros e desencontros.
E esse desejo motiva a persistência.
Aos que andam junto de mãos dadas, por favor, não fraquejem. A minha força depende da de vocês.
Gratidão!!!

Em mais uma volta ao sol. 

lunes, 15 de febrero de 2016

Casulo.


Cada vez que me ponho a executar uma tarefa difícil ponho-me a recriar meus casulos. Gosto da idéia de olhar para dentro e reconectar-me ao que sou, considerando o que o mundo que tento romper me exige.


Sons e luzes tentam me seduzir para sair antes do tempo do casulo. Aprendi em outros momentos que essa ansiedade pode atrapalhar na qualidade do resultado.

Hoje, amarro minha ansiedade nas teias do casulo e transformo-a em matéria prima.
Alimento o meu amor pela escrita como arma de transformação e lembro das várias mulheres que também a amaram como tal.
Reconheço as minhas habilidades adormecidas ou confundidas pela correria da vida que nem sempre escolho.
Elimino as energias ruins que querem interferir na minha caminhada e assumo para mim, mais uma vez, a minha tarefa de atravessar sozinha a ponte.

Sei que depois descasularei mais forte e mais feliz com a vida.


Castainho, 15 de fevereiro de 2016.

domingo, 8 de noviembre de 2015

SAÚDE DAS MULHERES NEGRAS*

Texto para o Boletim da Marcha Mundial das Mulheres sobre a Marcha das Mulheres Negras.


*Ângela Pereira, integrante do Comitê Impulsor da Marcha das Mulheres Negras de Garanhuns e Fisioterapeuta, Residente Multiprofissional em Saúde da Família com Ênfase em Saúde da População do Campo, atuando em Comunidades Quilombolas na Região de Garanhuns, Pernambuco.

Em termos conceituais e filosóficos, a saúde há tempos deixou de se restringir a ausência de doença. Numa visão de totalidade, cada vez mais tem se analisado a determinação social da saúde como uma perspectiva capaz de contemplar a análise e a intervenção na complexidade das relações sociais estabelecidas na sociedade capitalista, patriarcal, racista, homo e lesbotransfóbica. Na prática, ainda existem muitas dificuldades para se realizar ações no campo da saúde nessa perspectiva.
Nesse sentido e considerando todo o contexto da formação social e econômica do país, processo de uma colonização escravocrata, é preciso reconhecer como os impactos decorrentes da negação histórica de direitos atinge significativamente a população negra e, principalmente, nós, mulheres negras.
Carregamos a marca de um papel social subalternizado, que nos restringe, em maioria, a trabalhos precarizados, a condições de moradia inadequadas, ao acesso à educação e permanência nos espaços institucionais de formação dificultado, a índices altíssimos de violências diversas, a solidão afetiva, a banalização e a mercantilização de nossa sexualidade, ao acesso a serviços de saúde precarizados que reproduzem o racismo institucional associado ao machismo, a homo, lesbo e transfobia como forma de seguir negando a condição digna de vida a essa população.
A nossa experiência do nascimento, do viver, do adoecer e do morrer é diferente. Estudos mostram que as consultas ginecológicas e de pré-natal de mulheres negras tendem a ser menos demoradas e incompletas, as adolescentes com 16 anos ou menos possuem maior chance de engravidarem, sendo a gestação desejada ou não e  tem mais chances de não receber consultas no pré-natal ou  recebê-las de forma insuficiente.
Durante o parto, tendem a permanecer mais tempo, aguardando o procedimento, em razão da idéia do imaginário coletivo de que são mais “fortes” e que por isso conseguem suportar mais as dores das contrações do parto. Muitas vezes a espera forçada e a demora no atendimento resultam em problemas graves para as crianças com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor e o aumento da carga do trabalho doméstico e de cuidados. O registro da mortalidade materna é mais frequente entre mulheres pobres da região Nordeste segundo resultados de pesquisa da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre mortalidade materna realizada em 2001, sendo que muitas dessas mortes têm relação com complicações de abortos realizados em condições inseguras.
Além disso, a população negra é acometida mais frequentemente por algumas doenças e agravos que tem caráter genético ou estão relacionado a causas extrernas.  A Anemia Falciforme, por exemplo, é uma doença de caráter hereditário, cujo gene foi trazido da África e que por isso atinge a população negra. Os sintomas são graves e no caso das mulheres apresentam maior risco de abortamento e complicações durante o parto (natimorto, prematuridade, toxemia grave, placenta prévia e descolamento prematuro de placenta entre outros). Como esta doença é mais prevalente entre as negras, elas estão expostas a um maior risco durante a gravidez e, portanto, necessitam de um acompanhamento mais intensivo.
A hipertensão arterial acomete principalmente essa população, tendo sua prevalência acentuada pelas condições de vida que impactam a saúde emocional. No Brasil, as doenças hipertensivas constituem a principal causa de morte materna, responsáveis por um terço dessas mortes.
Nós também sofremos com a violência que nos acomete e nossos jovens, companheiros.  De acordo com a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, o risco de uma pessoa negra morrer por causa externa é 56% maior que o de uma pessoa branca; no caso de um homem negro, o risco é 70% maior que o de um homem branco.  E quando se fala em violência contra as mulheres, observa-se que mais de 60% das mulheres assassinadas no Brasil entre 2001 e 2011 eram negras, de acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).  Vale salientar que a violência que nos atinge se expressa nas suas variadas formas, sendo estas formas pouco notificadas no Sistema Único de Saúde pela naturalização ou pela negligência.

Por isso, a Marcha Mundial das Mulheres soma-se a Marcha das Mulheres Negras pela garantia de atendimento e acesso à saúde de qualidade às mulheres negras e pela penalização de discriminação racial e sexual nos atendimentos dos serviços públicos.

Rompendo caixinhas.

Tantos anos de filosofias castradoras transformaram nossas mentes em caixinhas com fundo rasos... E os gerentes da ordem socioeconômica capitalista adoram isso...
Com a divisão social e técnica do trabalho, somos obrigados a nos encaixarmos em profissões, onde cada profissional deve deter-se às competências e às habilidades técnicas que aquela profissão determinou como sua.
Todo aquele que se propõe a pensar, analisar e intervir no mundo a partir de outro conhecimento que não é aquele restrito ao seu campo profissional é tido como um “estranho no ninho”. É podado pelos outros que se sentem ameaçados por outra pessoa que conhece motes daqueles que seriam teoricamente competência de determinada profissão.
Na saúde, então... Cada profissional que trate de se agarrar ferrenhamente em determinada parte do corpo de “seu paciente”, ou determinada competência... 
Não gosto de ser limitada a papéis e a funções, talvez por isso, tenha ao longo de minha graduação buscado apaixonadamente em encontros nos corredores das universidades, nos encontros do movimento estudantil e dos movimentos sociais, em vivências diversas de forma geral aquilo que era podada no meu curso- Fisioterapia e que estrategicamente não constava nos projetos políticos pedagógicos.
Segui buscando isso em outras áreas de conhecimento que teoricamente não teriam nada a ver com a minha profissão (Economia Política, Filosofia, Sociologia, História...) em pós-graduações. Mas fiz isso por uma necessidade concreta, a de contribuir com a transformação da realidade objetiva imposta pela ordem socioeconômica vigente.
Antes me incomodava absurdamente comentários como “Você parece pedagoga, psicológa ou assistente social”.
Hoje ainda me incomodo com tentativas de enquadramento sobre o que penso, como analiso e intervenho na realidade, mas os resultados concretos da minha intervenção nessa realidade acalentam meu coração e minha mente por perceber que tudo tem valido muito à pena. 
A minha profissão é somente mais um instrumento de intervenção na realidade. E materialização de minha sobrevivência. 
Podem me confundir com tantas e outros profissionais, só não tentem me castrar...  

A minha intervenção no mundo ultrapassa caixinhas faz tempo. 

martes, 25 de agosto de 2015

Ariana

Ariana precisa de espaço e oxigênio pra flamejar
e fogo para incendiar.  
Faísca de início só vira incêndio se alimentada.
Sem isso, o mote perde a graça 
e se parte pra outro que faça os olhos brilhar.

Os feitiços da vida, então, são essenciais.
Por isso, iniciar processos 
e criar mecanismos para fazê-los fluir são necessidade, 
junto de muitas respirações pra juntar oxigênio (algumas mais impacientes que de outras) e transformar faíscas em labaredas. 
O fogo depois pode acabar,
 mas depois estaremos lá felizes,
 prontas para iniciar a próxima faísca. 

domingo, 3 de mayo de 2015

Essência


Nem sempre a ausência de palavras significa ausência.

Há sempre quem queira o mais evidente.
Quando o mais real está além da aparência.

Ganha quem respira um pouco mais
E fica na espreita ...