martes, 24 de febrero de 2015

Reflexões de quem está no barco.

Parece que estamos num barco em alto mar sendo engolidos por ondas revoltosas e mesmo tendo chance de tentar sair do perigo optamos por permanecer nele.

Tem gente, à maneira Polyana, finge que nada acontece. Provavelmente essa gente pensa ser mais fácil ignorar os conflitos e não se mover a partir deles. Morrer em alto mar é o que lhes resta.

Tem gente que nem pensar consegue, tamanha a fome do estômago.

Tem gente que aprendeu com os livros e com a vida no passado que “o motor da história é a luta de classes”, defendeu fielmente um projeto de mundo socialista, mas hoje prefere o comodismo de estar nas salas climatizadas de um alto escalão, defendendo um discurso bonito, mas em plena contradição, sem por os pés no chão de terra batida. Afinal esses já estão em condições melhores. Mesmo que os fantasmas do passado atordoem o presente, perguntam-se: para que mesmo lembrar de um passado minguado e sofrido?

Tem aquelas/es que a realidade parece um conjunto de ideais debatidas por filósofos revolucionários em seminários sem fim. O debate é caloroso e instigante. Para esses, o mundo das idéias é mais fácil e cômodo que a luta de classes em si. Mas fácil é seguir criticando e deslegitimando os que propõem alternativas.

Tem ainda aqueles que vivem a realidade, são impulsionados por esta a estudar, formular e agir sobre ela, mas que parecem não ter forças para ir além. A história e as dificuldades de quem arrisca ensinam o caminho a seguir, mas o medo que a correlação de forças não permita algo mais arriscado impede a crítica profunda da realidade colocada, como se a defesa fosse garantia de desejos atendidos num mundo cheio de trapaceiros. Esses andam calejados, mas são persistentes. Todavia parecem estar com medo...

Há, por certo, todo tipo de gente. Tem gente tentando se inventar todo dia para poder sobreviver. E isto é necessário há que se admitir.
O que não temos atentado é que, no fundo, somos muito parecidos, tentando criar ilusões para esconder os nossos problemas maiores de vida.
No barco, o problema maior parece ser as ondas revoltosas lá fora. Todo mundo finge acreditar nisso. Mas tem gente que suspeita que o maior problema não está lá fora do barco, mas entre a própria tripulação.

Oxalá que essa gente trabalhadora toda UM DIA se entenda porque quem está em terra firme já se entende e faz isso muito bem.