lunes, 29 de septiembre de 2014

Amor incondicional: Duas faces de uma mesma mulher.

Eu mesma em mim 
E eu mesma nas outras








Com todas as imperfeições
A que se tem direito... 

A maior felicidade é saber ser só 
e sendo inteira, ao transbordar,
 saber se doar.


viernes, 26 de septiembre de 2014

Vitória da luta feminista: SOMOS TODAS/OS MULHERES DE QUEIMADAS!


Camaradas da luta feminista!

Passados os alvoroços de duas semanas e meia extremamente intensas, em que a necessidade de organizar a nossa luta pela justiça às mulheres de Queimadas sobrepuseram-se às sensações de fome, cansaço e sono, é necessário agradecer a todas as mulheres, e homens, que atenderam ao chamado da luta feminista pela vida das mulheres!

Que dispuseram suas diversas habilidades para elaborar artes gráficas, releases, notas e textos para blogs; fanzinis, faixas, cartazes e extênsil, colorindo de lilás (dos nossos corpos) e de vermelho (da ROSA VERMELHA que se estampou nos perfis de facebook e nas camisas brancas tão lindamente produzidas) às ruas por onde passamos e as escadarias do Fórum criminal! 










O agradecimento vai a todas àquelas e àqueles que doaram um pouco de si ao sair de suas casas e de seus postos de trabalho para dedicarem algumas horas para as reuniões preparatórias das mobilizações.




Que saíram para comprar os materiais, contatar órgãos competentes, espalhar nas cidades à mensagem da luta!

Que doaram dinheiro para tornar material a luta das mulheres de Queimadas!

Que corajosamente deram sua imagem anônima ou famosa para dar vozes a cartazes em todo o Brasil e em alguns lugares do mundo: 



SOMOS TODAS MULHERES DE QUEIMADAS!
SOMOS TODAS/OS MULHERES DE QUEIMADAS!
SOMOS TODOS/AS MULHERES DE QUEIMADAS!
EU APOIO ÀS MULHERES DE QUEIMADAS!
JUSTIÇA PELAS MULHERES DE QUEIMADAS!



Ecoamos a voz solidária de mulheres e de homens em todo o Brasil com a mensagem #SomostodasetodosmulheresdeQueimadas por entendermos que a nossa luta inicia com a nossa auto-organização e deve ser cheia de amor-próprio, animada, corajosa e pedagógica  o suficiente  para pintar de lilás e de vermelho os corpos  dos homens também, mesmo que a tinta marcada precise queimar  antes a pele para que consigam compreender que temos que ser respeitadas e que nosso inimigo é forte, truculento e  que nos coloca uns contra os outros quando juntas/os somos mais fortes.  

Não se trata de retroceder da auto-organização das mulheres. Trata-se, sobretudo, de ganhar companheiros para a nossa luta contra o patriarcado capitalista que assola mulheres e homens nos fazendo de bonecos impotentes, quando nós é que temos força! Nós: as mulheres trabalhadoras e os homens trabalhadores.


Nossa tarefa não é construir uma sociedade misógina, sectária ao revés, leia-se, uma sociedade matriarcal, na qual os homens sejam os oprimidos. Definitivamente, não! 

Nossa tarefa é romper com as bases materiais que definem a consciência machista que assola homens e mulheres e isso, não faremos sozinhas. 

Nossa tarefa é não ceder ao medo que as diversas expressões do machismo capitalista nos impõe. Não podemos nos calaR, não nos calaremos!




Com solidariedade de gênero impecável, nossa tarefa é dar as mãos, construindo uma corrente tão resistente que seja incapaz de se romper diante das pressões muito duras que a combinação patriarcado-capitalismo impõe à vida das mulheres.
 Link para entrevista sobre a vitória da luta feminista: 
https://www.youtube.com/watch?v=4WkkljotnX8&feature=youtu.be

Nossa tarefa, portanto, é ir fortalecendo umas às outras para que nossa força resista a ofensiva patriarcal-capitalista sobre a vida das mulheres porque: NÃO SOMOS MOEDA DE TROCA!  NÃO SOMOS MERCADORIA! NÃO SOMOS ALVO DA LÓGICA IRRACIONAL DA VIOLÊNCIA PATRIARCAL! NÃO SOMOS OBJETO NAS MÃOS DO CAPITAL E DOS HOMENS!

Definitivamente NÃO SOMOS!

SOMOS competentes e valorosas mulheres negras, brancas, indígenas, pardas, gordas, magras, altas, baixas, lésbicas, bissexuais, heterossexuais, agricultoras, cantoras, jornalistas, assistentes sociais, professoras, advogadas, médicas, historiadoras, pedagogas, enfermeiras, fisioterapeutas, costureiras, donas-de-casa, vendedoras ambulantes, psicólogas... 
De tantas formas, etnias e classe que buscam bravamente o direito à vida livre de exploração e de opressão imposta pelo sistema capitalista patriarcal.

Sabemos a força que temos e o quanto juntas somos mais fortes! 

Por isso avante!




SOMOS TODAS/OS MULHERES DE QUEIMADAS UNIDAS CONTRA A VIOLÊNCIA E A IMPUNIDADE!

domingo, 21 de septiembre de 2014

Sobre os medos : o medo e o amor ou a falta dele.

Da série "Apresentando Simona Talma" e refletindo sobre a vida, posto outra música dela que fala de amor-próprio,  de desamor, dos nossos medos e dos medos que o mundo capitalista nos impõe.

"A felicidade é uma questao de sintonia lá fora e aqui dentro do coração".
 A  minha felicidade é a maratona de luta pela liberdade, mas não é qualquer liberdade!



             Sobre o Amor



Simona Talma

Nós que somos tão puros
Tão cheios de boas intenções
Criamos muros
Nos escondemos de tudo
Do amor e da morte
Do medo e da sorte

Nós temos medo do mundo
Ladroes e das canções de amor
Nos somos vitimas
Maltratamos os velhos
E nem conseguimos amar nossos filhos
Nem vemos os outros humanos

Quem nos salva da solidão
A felicidade não tem condição
A felicidade é uma questao de sintonia lá fora
E aqui dentro do coração

No youtube: https://www.youtube.com/watch?v=ZiBG3kzS75I

Isso é sobre Prostituição: " Orgasmos falsos, caros, de papel"

Não tenho tempo hoje para escrever um texto bem fundamentado sobre a prostituição. Mas aproveito para postar  um texto escrito por uma companheira da Marcha Mundial das Mulheres de Minas Gerais sobre o tema da regulamentação da prostituição ao som da Banda Lily Braun com participação especial de Simona Talma.



Nunca de cara ( Banda Lily Braun)

Puta

Viveu sua fase culta
Do bordel para a esquina de qualquer rua
De bar em bar
Puta
Inquilina dos corações vazios
Sua cama é pra guardar troféus
De orgasmos falsos, caros, de papel
De papel
Cada tara
Mesmice secreta
No armário guardado o consolo
Mais uma vez, nunca de cara
Nunca de cara
Puta
Inquilina dos corações vazios
Sua cama é pra guardar troféus
De orgasmos falsos, caros, de papel
De papel




A “regulamentação” da prostituição e a vida das mulheres

Clarisse Goulart Paradis*
Nos últimos dias, com a aproximação da Copa do Mundo e com a execução de todos os seus preparativos, o projeto de lei do Dep. Jean Wyllys esteve em pauta, provocado pelo discurso da “regulamentação” da prostituição, envolto na necessidade de estruturar a indústria do sexo para o aumento do turismo no próximo período. A partir disso, li os poucos artigos que constam no seu conteúdo. Parece banal, mas um PL que trata de um assunto tão complexo, que pretende “resolver” o problema das pessoas em situação de prostituição, contém apenas seis artigos.
Existem alguns pontos perversos nesse projeto. Um deles diz respeito à categorização da exploração sexual. Segundo o mesmo há esse tipo de exploração quando não houver pagamento do “serviço sexual”, quando a prostituição for forçada, mediante grave ameaça ou violência, ou quando uma terceira pessoa apreender entre 50% e 100% do valor do programa. Essa categorização tem duas conseqüências graves – ela legaliza o “cafetão” como essa terceira pessoa que apreende até 50% do valor do programa, algo que ainda não era formalizado no contexto brasileiro e deturpa a ideia de exploração sexual.
Imagem postada no Blog da diretoria de mulheres da UNE
Fonte: Blog da Diretoria de Mulheres da UNE
Ao separar a prostituição da exploração sexual, o serviço sexual livre, do serviço sexual forçado, há uma intenção de reconhecer de maneira oficial a prostituição como uma solução possível para os problemas das mulheres, de legitimar o discurso da profissão do sexo como um disfarce para despenalização da cafetinagem. Isso alimenta um sistema lucrativo, nacional e internacional de exploração das mulheres, em busca de alimentar uma sexualidade masculina, construída como insaciável, incontrolável, irresponsável e que, portanto, necessita a todo o tempo da disponibilidade de corpos femininos em sua maioria, para a “satisfação” do seu querer sexual. Como nos mostra o verbete sobre o tema no dicionário crítico do feminismo:
“O grande mercado liberal assimila e monetariza os prazeres: a lógica consumista invade todos os domínios da vida e a expressão “trabalhadoras do sexo” legitima a ideia de que a mercadoria sexo se tornou um dado indiscutível da economia moderna. Toda noção ética é então varrida, toda relação de dominação é engolfada por uma lógica individualista. A prostituição se encontra assim excluída das formas de violência contra as mulheres” (Legardinier, 2009, p.200).
Além de legalizar a ação dos cafetões, o projeto de lei prevê o livre funcionamento das casas de prostituição. Para não dizer que o projeto não prevê nada sobre a vida e situação das pessoas em prostituição, ele garante a prestação de serviços em cooperativas ou de maneira autônoma e aposentadoria especial, após 25 anos de serviço.
Nesse contexto, o projeto pouco contribui para a vida das mulheres prostitutas. O Ministério do Trabalho já reconhece a prostituição como ocupação regular e a previdência social assegura o seu direito de contribuir para o INSS (não em regime especial como prevê a lei). O que vale ser chamado a atenção é que esta lei não visa melhorar a vida das mulheres prostitutas, não prevê nenhum tipo de política pública específica, que contribua para que essas mulheres não tenham que ser constantemente vítimas de insultos, violência e marginalização.  Ao contrário de promover os direitos e a autonomia econômica das prostitutas, o projeto visa suprir uma necessidade da indústria sexual, que juntamente com as grandes corporações, buscam utilizar o corpo das mulheres para faturar altos montantes em grandes eventos como a Copa do Mundo.
Ao normalizarmos a ideia da prostituição na vivência social, estamos contribuindo para mascarar as formas de violência contra as mulheres, para naturalizar a ideia de dominação masculina e para alimentar um sistema econômico extremamente articulado e lucrativo que explora o corpo de mulheres e meninas. Não é por acaso que o P.L circula nesta conjuntura e envolto do discurso da regulamentação.  Não é por acaso que o discurso de direitos das prostitutas só aparece em tempos de Copa do Mundo. Ao contrário desse projeto de lei, é preciso garantir uma vida sem qualquer tipo de violência para todas as mulheres, é preciso que o exercício da nossa sexualidade esteja livre do estigma da mercantilização dos nossos corpos e também do cerceamento e moralismo religioso. Nem santas, nem putas, buscamos que todas as mulheres sejam livres!
Referência:
LEGARDINIER, Claudine. Verbete: Prostituição I. In: HIRATA, Helena et all. Dicionário Crítico do Feminismo. Editora Unesp, 2009.
*Militante da Marcha Mundial das Mulheres em Minas Gerais.



Black is Beautiful! Por Simona Talma.

Conheci essa mulher pela internet fora dos "The Voice" da vida.  As músicas misturam um tom suave com a força do questionamento e da luta. Virei fã porque além das músicas com conteúdo e da voz suave, ela é solidária às lutas das mulheres!

Para quem  não conhece Simone Talma, aí vai um pouquinho do trabalho dela:


                        Acesse o link: http://www.youtube.com/watch?v=b7uNw3Hy1Fc



Negro já foi da senzala
Mas negro hoje é da favela
A senzala hoje constroi seus muros de preconceito
Negro ja foi força escrava
Ja nao teve alma
Hoje a musica do mundo tem a forca do negro
Negro ja foi bicho feio
Cabelo ruim
Ja chorou na vida
Morreu de tristeza
Viveu longe dos seus
Pra morrer no trafico
Ganhar cota por redenção
Na minha historia
O negro é a beleza dos meus olhos negros
Negros
Negros

sábado, 20 de septiembre de 2014

É setembro! É primavera nos dentes!


Num setembro, bem mais leve que os outros meses, mas de muito trabalho é preciso segurar a primavera nos dentes! É preciso coragem!


"Quem tem consciência pra se ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa contra a mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado

Entre os dentes segura a primavera"


jueves, 18 de septiembre de 2014

Não há medo, quando se busca a liberdade!

O Poema Rondó da Liberdade  de Carlos Marighella foi escritos em 1939, após ser preso pela terceira vez. Transferido para o presídio de Ilha Grande, Marighella ficou preso até 1945, quando foi libertado pela Anistia. É assassinado por agentes da ditadura militar em 4 de novembro de 1969.


 Rondó da Liberdade
É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Há os que têm vocação para escravo,
mas há os escravos que se revoltam contra a escravidão. 


Não ficar de joelhos,
que não é racional renunciar a ser livre.
Mesmo os escravos por vocação
devem ser obrigados a ser livres,
quando as algemas forem quebradas.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

O homem deve ser livre...
O amor é que não se detém ante nenhum obstáculo,
e pode mesmo existir quando não se é livre.
E no entanto ele é em si mesmo
a expressão mais elevada do que houver de mais livre
em todas as gamas do humano sentimento.

É preciso não ter medo,
é preciso ter a coragem de dizer.

Carlos Marighella.

miércoles, 17 de septiembre de 2014

Dissertação defendida!

 Depois de tanto tempo cheios de conflitos diversos do meu momento, finalmente defendi a minha dissertação de mestrado. 



Defino esse momento como  um divisor de águas em minha vida, fazendo parte de um processo de renascimento daquilo que sou em essência- uma lutadora da classe trabalhadora, porque não me entrego e dá luta não me retiro! 


( Banca: Maria Augusta Tavares (Guga)- examinadora, Cláudia Gomes- orientadora e Patrícia Barreto - examinadora)




                                                                                                                DEDICATÓRIA

Dedico esse estudo àquelas lutadoras e àqueles lutadores que cotidianamente tentam amenizar o adoecimento e o sofrimento da força de trabalho que move a engrenagem do mundo capitalista e que, não sem dor, também a movimentam, resistindo bravamente.



AGRADECIMENTOS
Gratidão:
Às/aos trabalhadoras/es das Unidades de Saúde da Família Integradas Nova Esperança e Nova União, representando as/os demais trabalhadoras/es da Estratégia de Saúde da Família em João Pessoa, com as/os quais apreendi, na realidade concreta, os dissabores e as alegrias da prática assistencial repleta de contradições e esperanças.

Às/aos trabalhadoras/es  e às/aos usuárias/os da Coordenadoria de Atendimento a Pessoa com Deficiência Física (CODAFI) na Fundação Centro Integrado de Apoio  ao Portador de Deficiência (FUNAD) por manterem viva minha consciência de classe no tempo de afastamento da militância política.

À minha fortaleza, minha valiosa família, com os quais aprendi os valores mais sublimes da minha origem de classe_ a solidariedade, a honestidade, a generosidade, a integridade e a humildade:

A minha amada mãe, Cláudia, que, incondicionalmente, dedicou dias e noites, por horas a fio, aos cuidados e ao trabalho doméstico, em detrimento de sua independência financeira para criar três filhas com muito amor e abnegação. De você, inspira-me a energia vital, a alegria e a resiliência. Nakupenda!

A meu amado pai, Edinaldo, que suportou as agruras do mundo do trabalho, afirmando sua resistência à exploração e a opressão, na medida em que corajosamente enfrentava as gerências das Usinas de cana-de-açúcar onde trabalhou, para sustentar três filhas e a companheira com muito amor e dignidade. De você, inspira-me a determinação, a coragem e a persistência porque “a vida precisa seguir”! Eu te amo!

A minha amada irmã, Anamércia, de cuja companhia e carinho compartilho desde os meus primeiros dias de vida. De você, inspira-me a sutileza, a meiguice e a persistência. ¡Viva a la vida!

A minha amada irmã, Aldineide, minha relação de “amor em guerra e em paz” em busca de sua identidade. De você, inspira-me a sagacidade, o senso de humor e a criatividade. Viva a gaiatice!

A minha amiga-companheira-irmã de “exílio em mim mesma” e de militância feminista, popular e socialista, Tita, pela cumplicidade, pelo apoio, pelas descobertas intelectuais e existenciais compartilhadas desde a seleção do mestrado. Força e coragem!

A minha amiga- companheira–irmã, Isabelle, exemplo de desprendimento material, de energia vital e muita leveza, pelo elo mantido apesar das distâncias temporais. ¡ Fuerza!

Às minhas outras inspirações sobre “ser mulher”, minhas companheiras da Marcha Mundial das Mulheres, Veinha, Patrícia, Heloísa, Ana Laura e Socorro. Seguiremos em Marcha até que todas sejamos livres!

Ao camarada Assuero Lima, que despretensiosamente trouxe companheirismo, afeto, apoio, alegria e leveza aos intensos dias de solitude. Deixa o sol entrar!

Às/aos companheiras/os da Consulta Popular, o sujeito coletivo que afirmou em mim desejos da Revolução Brasileira de caráter internacionalista, socialista e feminista.

A Professora Vera Amaral (Verinha) In Memoriam, companheira de militância no Fórum Paraibano em Defesa do SUS e contra as Privatizações que me incentivou a discutir o tema antes por ela tão bem estudado em sua tese de doutorado. A luta continua!

As/aos colegas de turma no mestrado que, em sua diversidade ideológica, ensinaram-me a buscar compreender aspectos do mundo e das suas contradições a partir de algumas elaborações do Serviço Social.

À companheira de apoio matricial nas USF Nova União, Mércia, pelos abraços nas horas de desestabilização e de tranquilidade, pela cumplicidade e pelo respeito no trato com as/os trabalhadoras/es mesmo na condição temporária de gestão.

Às companheiras Luciana Cantalice, Nívia Pereira, Isabel Dantas e ao companheiro Marcelo Sitcovsky que colaboraram com os nossos encontros preparatórios para a seleção do Mestrado. E aos docentes da pós-graduação.

À companheira Cláudia Gomes, minha orientadora, que acreditou na concretização desse trabalho, apesar dos caminhos tortuosos, estimulando-me e exigindo-me o rigor na difícil tarefa de me tornar pesquisadora desde os estudos da Economia Política da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).

Às professoras Maria Augusta Tavares, inspiração como pesquisadora disposta a desvelar às contradições entre o capital e o trabalho para alimentar às resistências e as lutas das/os trabalhadoras/es e Patrícia Barreto Cavalcanti, companheira de trincheiras teóricas no campo da saúde, por aceitarem compor minha banca. Gratidão, antecipada, pelas contribuições sobre o fazer do pesquisador.  

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo repasse de financiamento em forma de bolsa, via fundo público, advindo das contribuições da sociedade brasileira para a elaboração de conhecimento com relevância social.





O capital não tem a menor consideração pela duração da vida ou da saúde do trabalhador, a não ser quando a sociedade o força a respeitá-la.
Karl Marx


A dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional.
Carlos Drummond de Andrade.


PEREIRA, A.M. DESCONFIANDO DO TRIVIAL E DA APARÊNCIA SINGELA: tendências da flexiblização e da precarização do trabalho na Estratégia de Saúde da Família em João Pessoa. João Pessoa, 2014. Dissertação (Mestrado em Serviço Social), 171 fl. UFPB/PPGSS/CCHLA.

RESUMO

O estudo tem como objetivo analisar as condições e as relações de trabalho na Estratégia de Saúde da Família (ESF) em João Pessoa, considerando os rebatimentos das mudanças no mundo do trabalho, decorrentes do processo de reestruturação produtiva e da contrarreforma neoliberal do estado brasileiro, bem como as repercussões destas sobre as políticas sociais e a vida dos trabalhadores. Para isso, buscará identificar e compreender elementos das racionalidades produtivas e político-econômicas estabelecidas por esses fenômenos numa conjuntura de crise capitalista sobre o setor de saúde pública, e, em especial, na Estratégia de Saúde da Família. O objeto de estudo que se apresenta são as expressões da flexibilização e da precarização do trabalho na ESF em João Pessoa (PB). A delimitação do objeto sucede do acúmulo obtido em pesquisa realizada como trabalho de conclusão de curso de Especialização em Economia e Desenvolvimento Agrário da Universidade Federal do Espirito Santo (UFES) e da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF). O interesse em pesquisá-lo surgiu, primariamente, da nossa experiência enquanto prestadora de serviço no Núcleo de Apoio a Saúde da Família (NASF), a partir da qual se pressupôs a existência de flexibilização e precarização do trabalho na ESF nesse município. A pesquisa se caracteriza por um estudo exploratório de caráter bibliográfico e documental e de abordagem quali-quantitativa, que se dará a partir da análise de dados secundários, extraídos de estudos empíricos sobre a temática, bem como de documentos da gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) neste município e dados de sites oficiais. A perspectiva crítica perpassa o desenvolvimento da pesquisa por se entender que tal possibilita a análise da totalidade da problemática em sua realidade concreta. O estudo apontou elementos que justificam as tendências de flexibilização e precarização do trabalho neste setor, colocando o desafio àqueles que materializam o trabalho, a entenderem, aprofundarem o estudo, organizarem-se e agirem sobre a realidade de modo a modificá-la.

Palavras-chave: Flexibilização, precarização do Trabalho, Estratégia de Saúde da Família.



Não à ditadura da beleza colonizada: "A revolução não será alisada".

Reproduzo um texto excelente que extrai do site: 
 http://www.geledes.org.br/alisando-o-nosso-cabelo-por-bell-hooks/#axzz3DZUvmOi6 sobre a construção social do padrão de beleza colonizado. 

Alisando o Nosso Cabelo, por Bell Hooks


Apesar das diversas mudanças na política racial, às mulheres negras continuam obcecadas com os seus cabelos, e o alisamento ainda é considerado um assunto sério. Insistem em se aproveitar da insegurança que nós mulheres negras sentimos com respeito a nosso valor na sociedade de supremacia branca!
Nas manhãs de sábado, nos reuníamos na cozinha para arrumar o cabelo, quer dizer, para alisar os nossos cabelos. Os cheiros de óleo e cabelo queimado misturavam-se com os aromas dos nossos corpos acabados de tomar banho e o perfume do peixe frito.
Não íamos ao salão de beleza. Minha mãe arrumava os nossos cabelos. Seis filhas: não havia a possibilidade de pagar cabeleireira. Naqueles dias, esse processo de alisar o cabelo das mulheres negras com pente quente (inventado por Madame C. J. Waler) não estava associado na minha mente ao esforço de parecermos brancas, de colocar em prática os padrões de beleza estabelecidos pela supremacia branca. Estava associado somente ao rito de iniciação de minha condição de mulher. Chegar a esse ponto de poder alisar o cabelo era deixar de ser percebida como menina (a qual o cabelo podia estar lindamente penteado e trançado) para ser quase uma mulher. Esse momento de transição era o que eu e minhas irmãs ansiávamos.
Fazer chapinha era um ritual da cultura das mulheres negras, um ritual de intimidade. Era um momento exclusivo no qual as mulheres (mesmo as que não se conheciam bem) podiam se encontrar em casa ou no salão para conversar umas com as outras, ou simplesmente para escutar a conversa. Era um mundo tão importante quanto à barbearia dos homens, cheia de mistério e segredo.
Tínhamos um mundo no qual as imagens construídas como barreiras entre a nossa identidade e o mundo eram abandonadas momentaneamente, antes de serem reestabelecidas. Vivíamos um instante de criatividade, de mudança.
Eu queria essa mudança mesmo sabendo que em toda a minha vida me disseram que eu era “abençoada” porque tinha nascido com “cabelo bom” – um cabelo fino, quase liso –, não suficientemente bom, mais ainda assim era bom. Um cabelo que não tinha o “pé na senzala”, não tinha carapinha, essa parte na nuca onde o pente quente não consegue alisar. Mas esse “cabelo bom” não significava nada para mim quando se colocava como uma barreira ao meu ingresso nesse mundo secreto da mulher negra.
Eu regozijei de alegria quando a minha mãe finalmente decretou que eu poderia me somar ao ritual de sábado, não mais como observadora, mas esperando pacientemente a minha vez. Sobre este ritual escrevi o seguinte:
Para cada uma de nós, passar o pente quente é um ritual importante. Não é um símbolo de nosso anseio em tornar-nos brancas. Não existem brancos no nosso mundo íntimo. É um símbolo de nosso desejo de sermos mulheres.
É um gesto que mostra que estamos nos aproximando da condição de mulher [...] Antes que se alcance a idade apropriada, usaremos tranças; tranças que são símbolo de nossa inocência, juventude, nossa meninice. Então, as mãos que separam, penteiam e traçam nos confortam. A intimidade e a sina nos confortam.

Existe uma intimidade tamanha na cozinha aos sábados quando se alisa o cabelo, quando se frita o peixe, quando se fazem rodadas de refrigerante, quando a música soul flutua sobre a conversa.
É um instante sem os homens. Um tempo em que trabalhamos como mulheres para satisfazer umas as necessidades das outras, para nos proporcionarmos um bem-estar interior, um instante de alegrias e boas conversas.
Levando em consideração que o mundo em que vivíamos estava segregado racialmente, era fácil desvincular a relação entre a supremacia branca e a nossa obsessão pelo cabelo. Mesmo sabendo que as mulheres negras com cabelo liso eram percebidas como mais bonitas do que as que tinham cabelo crespo e/ou encaracolado, isso não era abertamente relacionado com a idéia de que as mulheres brancas eram um grupo feminino mais atrativo ou de que seu cabelo liso estabelecia um padrão de beleza que as mulheres negras estavam lutando para colocar em prática.
Esse momento é um marco histórico e ideológico do qual emergiu o processo de alisamento do cabelo de mulheres negras. Esse processo foi ampliado de maneira tal que estabeleceu um espaço real de formação de íntimos vínculos pessoais da mulher negra mediante uma experiência ritualística compartilhada.

O salão de beleza era um espaço de aumento da consciência, um espaço em que as mulheres negras compartilhavam contos, lamúrias, atribulações, fofocas – um lugar onde se poderia ser acolhida e renovar o espírito.
Para algumas mulheres, era um lugar de descanso em que não se teria de satisfazer as exigências das crianças ou dos homens. Era a hora em que algumas teriam sossego, meditação e silêncio. Entretanto, essas implicações positivas do ritual do alisamento do cabelo ponderavam, mas não alteravam as implicações negativas. Essas existiam concomitantemente.
Dentro do patriarcado capitalista – o contexto social e político em que surge o costume entre os negros de alisarmos os nossos cabelos –, essa postura representa uma imitação da aparência do grupo branco dominante e, com freqüência, indica um racismo interiorizado, um ódio a si mesmo que pode ser somado a uma baixa auto-estima.
Durante os anos 1960, os negros que trabalhavam ativamente para criticar, desafiar e alterar o racismo branco, sinalavam a obsessão dos negros com o cabelo liso como um reflexo da mentalidade colonizada. Foi nesse momento em que os penteados afros,
principalmente o black, entraram na moda como um símbolo de resistência cultural à opressão racista e fora considerado uma celebração da condição de negro(a).



Os penteados naturais eram associados à militância política. Muitos(as) jovens negros(as), quando pararam de alisar o cabelo, perceberam o valor político atribuído ao cabelo alisado como sinal de reverência e conformidade frente às expectativas da sociedade.
Entretanto, quando as lutas de libertação negra não conduziram à mudança revolucionária na sociedade, não se deu mais tanta atenção à relação política entre a aparência e a cumplicidade com o segregacionismo branco, e aqueles que outrora ostentavam os seus blacks começaram a alisar o cabelo.



( Ângela Davis- militante dos Panteras Negras)

Sem ficar atrás dessa manobra para suprimir a consciência negra e os esforços das pessoas negras por serem sujeitos que se autodefinem, as empresas brancas começaram a reconhecer os negros, e de maneira especialíssima, às mulheres negras, como consumidoras potenciais de produtos que poderiam ser subministrados, incluindo aqueles para os cuidados com o cabelo. Permanentes especialmente concebidos para as mulheres negras eliminaram a necessidade do pente quente e da chapinha. Esses permanentes não só custavam mais caro, mas também levavam todas as economias e ganâncias das comunidades negras, especificamente dos bolsos das mulheres negras que anteriormente colhiam benefícios materiais (ver Como o Capitalismo Desenvolveu a América Negra, de Manning Marable, South End Pree).
O contexto do ritual havia desaparecido, não haveria mais a formação de vínculos íntimos e pessoais entre as mulheres negras. Sentadas embaixo de secadores barulhentos, as mulheres negras perderam um espaço para o diálogo, para a conversa criativa.
Desposadas desses rituais de formação de íntimos vínculos pessoais positivos, que rodeavam tradicionalmente a experiência, o alisamento parecia cada vez mais um significante da opressão e da exploração da ditadura branca.
O alisamento era claramente um processo no qual as mulheres negras estavam mudando a sua aparência para imitar a aparência dos brancos. Essa necessidade de ter a aparência mais parecida possível à dos brancos, de ter um visual inócuo, está relacionada com um desejo de triunfar no mundo branco. Antes da integração, os negros podiam se preocupar menos sobre o que os brancos pensavam sobre o seu cabelo.
Em discussão sobre a beleza com mulheres negras em Spelman College , as estudantes falavam sobre a importância de ter o cabelo liso quando se procura um emprego. Estavam convencidas, e provavelmente com toda a razão, de que sua oportunidade de encontrar bons empregos aumentaria se tivessem cabelo alisado. Quando se pediam mais detalhes sobre essa assertiva, essas mulheres se concentravam na conexão entre as políticas radicais e os penteados naturais, seja com ou sem tranças. Uma jovem que tinha o cabelo natural e curto falava até mesmo em comprar uma peruca de cabelo liso e comprido na hora de procurar emprego.
Nenhuma das participantes pensava na possibilidade de que nós mulheres negras éramos livres para usar os nossos cabelos naturais sem refletir sobre as possíveis conseqüências negativas. Com freqüência, os adultos negros, os mais velhos, especialmente os pais, respondiam negativamente aos penteados naturais. Contei ao grupo que, quando cheguei em casa com o cabelo trançado logo após conseguir um emprego em Yale, os meus pais me disseram que eu tinha um aspecto desagradável.
Apesar das diversas mudanças na política racial, as mulheres negras continuam obcecadas com os seus cabelos, e o alisamento ainda é considerado um assunto sério. Por meio de diversas práticas insistem em se aproveitar da insegurança que nós mulheres negras sentimos a respeito de nosso valor na sociedade de supremacia branca. Conversando com grupos de mulheres em diversas cidades universitárias e com mulheres negras em nossas comunidades, parece haver um consenso geral sobre a nossa obsessão com o cabelo, que geralmente reflete lutas contínuas com a auto-estima e a auto-realizaçã o. Falamos sobre o quanto as mulheres negras percebem seu cabelo como um inimigo, como um problema que devemos resolver, um território que deve ser conquistado. Sobretudo, é uma parte de nosso corpo de mulher negra que deve ser controlado. A maioria de nós não foi criada em ambientes nos quais aprendêssemos a considerar o nosso cabelo como sensual, ou bonito, em um estado não processado. Muitas de nós falamos de situações nas quais pessoas brancas pedem para tocar o nosso cabelo natural e demonstram grande surpresa quando percebem que a textura é suave ou agradável ao toque.
Aos olhos de muita gente branca e outras não negras, o black parece palha de aço ou um casco. As respostas aos estilos de penteado naturais usados por mulheres negras revelam comumente como o nosso cabelo é percebido na cultura branca: não só como feio, como também atemorizante. Nós tendemos a interiorizar esse medo.O grau em que nos sentimos cômodas com o nosso cabelo reflete os nossos sentimentos gerais sobre o nosso corpo.
Em nosso grupo de apoio de mulheres negras, Irmãs do Yam, conversávamos sobre como não gostávamos de nossos corpos, especialmente nossos cabelos. Sugeri ao grupo que considerássemos o nosso cabelo como se ele não fizesse parte do nosso corpo, mas que se percebesse como algo separado, de novo um território que deve ser controlado, domado.
Para mim era importante que fosse vinculada a necessidade de controlar o cabelo com a repressão sexual. Tendo curiosidade sobre o que passavam as mulheres negras que faziam chapinha ou que fizessem amaciamento, permanente ou outras químicas, quando refletiam sobre a relação do cabelo alisado e a prática sexual, perguntei se as pessoas se preocupavam com o cabelo delas, se temiam que seus pares tocassem os seus cabelos. Sempre tive a impressão de que o cabelo alisado chama a atenção pelo desejo de que permaneça no mesmo lugar. Não foi surpreendente que muitas mulheres negras respondessem que se sentiam incomodadas se as pessoas se concentravam e davam muita atenção aos seus cabelos, sentiam como se o seu cabelo estivesse desordenado, fora de controle. Isso porque aquelas de nós que já liberaram o seu cabelo e deixamos
que ele se movimente na direção que ele queira, freqüentemente, recebemos comentários negativos.
Olhando fotografias de mim mesma e das minhas irmãs de quando tínhamos o cabelo alisado no segundo grau, percebi que parecíamos ter mais idade do que quando deixamos o cabelo natural. É irônico viver em uma cultura que enfatiza tanto a necessidade das mulheres serem ou parecerem jovens, mas por outro lado incentiva as mulheres negras a mudarem os seus cabelos de maneira tal que parecemos ser mais velhas.
No último semestre, estávamos lendo O Olho mais azul, de Toni Morrison, em uma aula de Literatura. Pedi aos estudantes que escrevessem textos autobiográficos, que refletissem sobre o que eles pensavam sobre a relação entre raça e beleza física. Uma grande maioria das mulheres negras escreveu sobre os seus cabelos. Quando eu perguntei isoladamente a algumas delas porque continuavam alisando o cabelo, muitas atestaram que os penteados naturais não ficavam bonitos nelas, ou que demandavam muito trabalho. Emily, uma das minhas favoritas, de cabelo curto sempre alisava, e eu lhe questionava e desafiava, até que ela me explicou de maneira muito convincente que um penteado natural ficaria horrível no seu rosto, que ela não tinha a fronte nem a estrutura óssea apropriada.
No semestre seguinte, nos reencontramos e ela me contou que durante as férias tinha ido ao salão fazer o permanente e, enquanto esperava, pensou sobre as leituras e as discussões de sala de aula e percebeu que estava realmente muito incomodada e amedrontada com a idéia de que as pessoas achassem que ela não seria mais atraente se não alisasse o cabelo. Reconheceu que esse medo estava enraizado nos sentimentos de baixa auto-estima. Decidiu fazer uma mudança e se surpreendeu, pois estava linda e muito atraente. Conversamos bastante sobre como dói perceber a relação entre a opressão racista e os argumentos que usamos para convencer a nós mesmas e aos outros de que não somos belos ou aceitáveis como somos.
Em inúmeras discussões com mulheres negras sobre o cabelo, ficou constatado um manifesto de que um dos fatores mais poderosos que nos impedem de usarmos o cabelo sem química é o temor de perder a aprovação e a consideração das outras pessoas. As mulheres negras heterossexuais falaram sobre o quanto os homens negros respondem de forma mais favorável quando se tem um cabelo liso ou alisado. Entre as homossexuais, muitas afirmam que não alisavam o cabelo por uma reflexão de que esse gesto estaria vinculado à heterossexualidade e à necessidade de aprovação do macho.
Lembro-me de ter visitado uma amiga com seu par, um homem negro, em Nova York , faz anos, e tivemos uma intensa discussão sobre o cabelo. Ele se encarregou de me dizer que eu poderia ser uma irmã excelente (bonita) se fizesse algo (“dar um jeito”) com o meu cabelo. Por dentro pensei que a minha mãe o tinha contratado. O que me lembro é do espanto quando com calma e entusiasmo garanti que eu gostava do tato no cabelo não processado.
Quando os estudantes lêem sobre raça e beleza física, várias mulheres negras descrevem fases da infância em que estavam atormentadas e obcecadas com a idéia de
ter cabelos lisos, já que estavam tão associados à idéia de essas serem desejadas e amadas. Poucas mulheres receberam apoio de suas famílias, amigos(as) e parceiros(as) amorosos(as) quando decidiam não alisar mais o cabelo. E temos várias histórias para contar sobre os conselhos recebidos de todo o mundo, até mesmo de pessoas completamente estanhas, que se sentem gabaritadas para atestar que parecemos mais bonitas se “arrumamos” (alisamos) o cabelo.
Quando eu ia para a minha entrevista de emprego em Yale, conselheiras brancas que nunca haviam feito nenhum comentário sobre o meu cabelo me animaram para que eu não usasse tranças ou um penteado natural grande (black) na entrevista. Elas não disseram “alisa o seu cabelo”, sugeriam que eu mudasse o meu estilo de cabelo de modo tal que parecesse ao máximo ao cabelo delas, indicando certo conformismo. Usei tranças e ninguém pareceu notar. Quando fui contratada, não perguntei se importava ou não que eu usasse tranças. Conto essa história aos meus alunos para que saibam que nem sempre temos de renunciar a nossa capacidade de ser pessoas que se autodefinem para ter sucesso no emprego.
Já percebi que o meu estilo de cabelo às vezes incomoda os estudantes durante as minhas conferências. Certa vez, em uma conferência sobre mulheres negras e liderança, entrei em um auditório repleto com o meu cabelo sem química, fora de controle e desordenado. A grande maioria das mulheres negras que ali estavam tinham o cabelo alisado. Muitas delas foram hostis com olhares de desdém. Senti como se estivesse sendo julgada, como uma marginal, indesejável. Tais julgamentos se fazem especialmente direcionado às mulheres negras nos Estados Unidos que resolvem usar dreads. São consideradas, com toda razão, da antítese do alisamento, o que torna o seu estilo uma decisão política. Freqüentemente, as mulheres negras expressam desprezo por aquelas de nós que escolhemos essa aparência.
Curiosamente, ao mesmo tempo em que o cabelo natural é um motivo de desatenção e desdém, somos testemunhas da volta da moda das pinturas, mechas loiras, cabelo comprido. Em seus escritos, minhas alunas negras descreveram o uso de mechas amarelas em suas cabeças quando eram meninas, para fingir ter o cabelo comprido e loiro. Recentemente as cantoras que estão trabalhando para ser atrativas para a platéia branca, para serem consideradas como artistas que ampliaram o público, usam implantes e apliques para conseguir cabelos compridos e lisos. Parece haver um nexo definido entre a popularidade de uma artista negra com auditórios brancos e o grau em que ela trabalha para parecer branca, ou para encarnar aspectos do estilo branco. Tina Tuner e Aretha Franklin foram percussoras dessa tendência, as duas pintavam o cabelo de loiro. Na vida cotidiana vemos cada vez mais mulheres usando cada vez mais químicas para ter cabelo liso e loiro.
Em uma de minhas conversas que se concentravam na construção social da identidade da mulher negra dentro de uma sociedade sexista e racista, uma mulher negra veio até mim no final da discussão e me contou que sua filha de sete anos de idade estava deslumbrada com a idéia do cabelo loiro, de tal forma que ela havia feito uma peruca que imitava os cachinhos dourados. Essa mãe queria saber o que estava fazendo de errado em sua tutela, já que sua casa era um lugar onde a condição de negro era afirmada e
celebrada. Mas ela não havia considerado que o seu cabelo alisado era uma mensagem para a sua filha: nós mulheres negras não somos aceitas a menos que alteremos nossa aparência ou textura do cabelo.
Recentemente conversei com uma de minhas irmãs mais novas sobre o seu cabelo. Ela usa tintura de cores berrantes em diversos tons de vermelho. No que lhe diz respeito, essas escolhas de cabelo pintado e alisado estavam diretamente relacionadas com sentimentos de baixa auto-estima. Ela não gosta dos seus traços e acredita que o estilo de cabelo transforma a sua fisionomia. O que eu percebia era que a escolha dela na realidade chamava mais atenção para a sua fisionomia e era tudo o que ela pretendia ocultar.
Quando ela comentou que com essa aparência ela recebia mais atenção e elogios, sugeri que a reação positiva podia ser resposta direta da sua própria projeção de um alto nível de auto-satisfaçã o. As pessoas podem estar respondendo a isso e não à tentativa de ocultar ou mascarar o seu fenótipo. Conversamos sobre as mensagens que estava mandando para as suas filhas de pele escura: que elas certamente seriam aceitas se alisassem os seus cabelos!
Certo número de mulheres afirmou que essa é uma estratégia de sobrevivência: é mais fácil de funcionar nessa sociedade com o cabelo alisado. Os problemas são menores; ou, como alguns dizem, “dá menos trabalho” por ser mais fácil de controlar e por isso toma menos tempo. Quando respondi a esse argumento em uma discussão em Spelman College , sugeri que talvez o fato de gastar tempo com nós mesmas cuidando de nossos corpos é também um reflexo de uma sensação de que não é importante ou de que nós não merecemos tal cuidado. Nesse grupo e em outros, as mulheres negras falavam de ter sido criadas em famílias que ridicularizavam ou consideravam desperdício gastar muito tempo com a aparência.
Independentemente da maneira como escolhemos individualmente usar o cabelo, é evidente que o grau em que sofremos a opressão e a exploração racistas e sexistas afeta o grau em que nos sentimos capazes tanto de auto-amor quanto de afirmar uma presença autônoma que seja aceitável e agradável para nós mesmas. As preferências individuais (estejam ou não enraizadas na autonegação) não podem escamotear a realidade em que nossa obsessão coletiva com alisar o cabelo negro reflete psicologicamente como opressão e impacto da colonização racista.
Juntos racismo e sexismo nos recalcam diariamente pelos meios de comunicação. Todos os tipos de publicidade e cenas cotidianas nos aferem a condição de que não seremos bonitas e atraentes se não mudarmos a nós mesmas, especialmente o nosso cabelo. Não podemos nos resignar se sabemos que a supremacia branca informa e trata de sabotar nossos esforços por construir uma individualidade e uma identidade.
Como nas lutas organizadas que aconteceram nos anos 1960 e princípios da década de 1970, as mulheres negras, como indivíduos, devemos lutar sozinhas por adquirir a consciência crítica que nos capacite para examinar as questões de raça e beleza e pautar nossas escolhas pessoais de um ponto de vista político.
Existem momentos em que penso em alisar o meu cabelo só por capricho, aí me lembro que, mesmo que esse gesto pudesse ser simplesmente festivo para mim, uma expressão individual de desejo, eu sei que gesto semelhante traria outras implicações que fogem ao meu controle. A realidade é que o cabelo alisado está vinculado historicamente e atualmente a um sistema de dominação racial que é incutida nas pessoas negras, e especialmente nas mulheres negras de que não somos aceitas como somos porque não somos belas.
Fazer esse gesto como uma expressão de liberdade e opção individual me faria cúmplice de uma política de dominação que nos fere. É fácil renunciar a essa liberdade. É mais importante que as mulheres façam resistência ao racismo e ao sexismo que se dissemina pelos meios de comunicação, e tratarem para que todo aspecto da nossa auto- representaçã o seja uma feroz resistência, uma celebração radical de nossa condição e nosso respeito por nós mesmas.
Mesmo não tendo usado o cabelo alisado por muito tempo, isso não significa que eu era capaz de desfrutar ou realmente apreciar meu cabelo em estado natural. Durante anos, ainda considerava isso um problema. Ele não era natural o suficiente, crespo o necessário para fazer um black interessante e decente, o cabelo era muito fino. Essas queixas expressavam a minha continua insatisfação. A verdadeira liberação do meu cabelo veio quando parei de tentar controlar em qualquer estado e o aceitei como era.
Só há poucos anos é que deixei de me preocupar com o quê os outros possam dizer sobre o meu cabelo. Só nesses últimos anos foi que eu sentir consecutivamente o prazer lavando, penteando e cuidando do meu cabelo. Esses sentimentos me lembram o aconchego e o deleite que eu sentia quando menina, sentada entre as pernas de minha mãe, sentindo o calor do seu corpo e do seu ser enquanto ela penteava e trançava o meu cabelo.
Em uma cultura de dominação e antiintimidade, devemos lutar diariamente por permanecer em contato com nos mesmos e com os nossos corpos, uns com os outros. Especialmente as mulheres negras e os homens negros, já que são nossos corpos os que freqüentemente são desmerecidos, menosprezados, humilhados e mutilados em uma ideologia que aliena. Celebrando os nossos corpos, participamos de uma luta libertadora que libera a mente e o coração.
Revista Gazeta de Cuba – Unión de escritores y Artista de Cuba, janeiro-fevereiro de 2005. Tradução do espanhol: Lia Maria dos Santos. Retirado do blog coletivomarias.blogspot.com


Leia a matéria completa em: Alisando o Nosso Cabelo, por Bell Hooks - Portal Geledés 
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