viernes, 31 de mayo de 2013

Homenagem a Reinaldo Carcanholo.

(Foto retirada do site: http://carcanholo.com.br/


Recebo a notícia do falecimento de Reinaldo Carcanholo bastante emocionada e saudosa. 

Fico com as lembranças dos momentos de irreverência, polêmicas e críticas que acompanhavam a presença desta pessoa na  formação da  nossa turma Carlos Marighella de Economia Política da Escola Nacional Florestan Fernandes e da UFES.

Desejo força à família, às/aos amigas/os para seguir em frente com as boas lembranças  e o amor à vida comprometida com uma sociedade de mulheres e homens livres.

Quando um homem se reconhece no outro
E com ele resolve dar as mãos para seguir a caminhada
Há que se reconhecer a grandeza dos gestos numa vida determinada.

Quando um homem se reconhece na outra
E com ela resolve dar as mãos para seguir a caminhada
Há que se reconhecer a contribuição para a luta numa vida dedicada

Quando a ele se juntam outras tantas companheiras e companheiros
Há que se reconhecer  que em nome da revolução socialista
vida vale  muito a pena. 

Ângela Pereira.



Entrevista com Reinaldo Carcanholo: 

Reinaldo Carcanholo era doutor em Economia da Universidade Nacional Autónoma do México, com mestrado em Ciências Econômicas da Universidade do Chile, colaborador do Movimemto dos Trabalhadores Sociais Sem terra no Brasil e membro da direção da Comissão Econômica para América Latina (CEPAL). Professor do Mestrado em Política Social da Universidade Federal do Espírito Santo ( ES).
>>>> Em nome da Turma Carlos Marighella de Economia Política da Escola nacional   Florestan Fernandes (Economia e desenvolvimento Agrário da UFES- Vitória/ ES).


A II Turma Carlos Marighella de Economia Política e Desenvolvimento Agrário da Escola Nacional Florestan Fernandes-Universidade Federal do Espírito Santo lamenta a inestimável perda do professor Reinaldo Carcanholo.

Intelectual comprometido com as lutas do povo brasileiro, pensador crítico e educador exemplar, Reinaldo Carcanholo teve uma atuação marcante em nossa Turma Carlos Marighella. Além da referência na compreensão e ensino do marxismo, o professor Reinaldo sempre esteve junto à turma e aos educando nos momentos em que sua presença e colaboração política e acadêmica foram necessárias e decisivas.

É com pesar que nos despedimos do professor Carcanholo. Perdemos um companheiro, mas suas contribuições permanecem em cada um de nós, na forma de compromisso com o pensamento radicalmente crítico e com a práxis revolucionária.

De vários estados brasileiros, em 30 de maio de 2013.



>>>>Ao Velho Comunista,
Em primeiro lugar devo me apresentar. Meu nome é Ninguém. Pelos próximos dois anos terei o nome de 3ª Turma de Economia Política. Para muitos de nós, esse nome ficará cravado na nossa memória. E, dessa forma, este também será meu nome. Mas ainda assim, meu sobrenome é Ninguém. Venho de vários lugares do país. E, neste país de “ninguéns” tenho mudado as estatísticas e contrariado o destino. Sou já, um Ninguém com bacharel, licenciado, com título reconhecido e tudo mais. Sou Pedagogo da Terra, sou Economista, sou Agrônomo, sou Engenheira Florestal, sou Jornalista e tanto mais títulos que eu nem imaginava que teria, mas cá estou. Rompendo barreiras, derrubando os números. Não quero parar.
Pois bem, o motivo dessa carta é prestar minha humilde, mas honesta, homenagem a você. Vou deixar as pompas e formalismos de lado e, por hora, o chamarei por “você”. Foi graças a você que pudemos estar aqui, depois de atravessar quilômetros de distância, percorrer sertões, cidades, estradas de chão e pista. Foi graças a você que pudemos ingressar em nova etapa dessa trajetória ainda sem fim rumo ao desconhecido mundo das ideias.



Foi graças a você que tivemos contato com o misterioso mundo das mercadorias e, sem saber, fomos nos dando conta que esse é o nosso mundo. E que, desvendando o mistério das mercadorias desvendamos o mistério do nosso mundo. E, veja você, eu achava que muito já tinha vivido. Mas ao mesmo tempo achava que muito ainda tinha por viver. E, à medida que conheço esse misterioso mundo, mais me dou conta que pouco ou nada sei. Mas veja bem, sem você, talvez essa empreitada nem tivesse início. E, graças a você, hoje estou em condições de alcançar um novo título: o de Especialista. Olha só, Especialista... Quem diria. Eu, que sou um Ninguém na vida. Num país de “ninguéns”, agora posso me tornar Especialista.


Graças a você, agora posso ter aulas com esses Professores. Na verdade, eles são seus alunos.  O que faz de você o professor dos professores. Menos pelas “honrarias” da Universidade Pública desse país que nunca se importou com meu conhecimento. Mas sim, pela escola da vida e da luta, na qual você educou estes seus alunos, hoje, nossos Professores.


Pois bem, Professor dos Professores. É graças a você que também passei a conhecer algo novo pra mim. E isso não é fácil escrever em uma humilde, ainda que em honesta carta como essa. Há cerca de uns 10, 20, no máximo 30 anos, eu que Ninguém me formei na vida, comecei a me engajar em um projeto. Projeto que, pra mim, era novo. Olhava à minha volta, entre os da minha idade, jovens, moços e moças, adultos, alguns já mais velhos e via que meu projeto era novo, inovador. Achava que não resistiria ao tempo algo tão novo assim. Mas, aos poucos, fui vendo que ele tinha raízes no passado. Num passado distante. Mas que o fio da história não deixou ele se perder. Era como se fôssemos conhecidos de outras épocas. De um tempo que eu não vivi, mas que guardava em minha memória. Difícil de explicar. Mas você irá me entender. Procurava na televisão, nos jornais, revistas, depois na internet. E não achava nada. Nada do meu projeto. Nada dos meus sonhos. Achava que era algo novo, mas sabia que tinha algo lá atrás. Foi quando conheci você. Você, caro professor, é esse fio que não se rompia. O elo com nosso longínquo passado. A nossa memória de um tempo não vivido. Foi graças a você que fiquei sabendo da ascensão e queda do stalinismo. Da dificuldade de tantos outros iguais a mim, Ninguéns na vida, mas que ergueram um país, na verdade um continente de “ninguéns”. Foi graças a você que fiquei sabendo que pelo nosso continente, enquanto os militares a mando do império das mercadorias matavam no pau de arara, a choques elétricos, o nosso projeto, você resistiu e nos contou da resistência em armas. Contou que ela se espalhou pelos continentes e assombrou nossos inimigos. Foi graças a você, professor, que ficamos sabendo que algo novo se abria, mas que esse algo novo não era tão novo assim. Mais, ele tinha profundas raízes nesse século 20. Que era um projeto de futuro, mas que carregava o passado consigo. Você, caro professor dos professores, é esse elo com nosso passado. E, graças a você, sei hoje, que esse meu projeto tem uma longa história. E ele é mais forte com isso. Você é esse elo que carrego na memória.


A sua história é nossa história! O seu trabalho está dando os frutos que talvez nem imaginasse. Cá estamos nós, hoje, terminando essa primeira etapa de mais 4 que virão. Pra nos tornarmos especialistas? Sim. Mas muito mais que isso, pra darmos continuidade nessa tua tarefa, árdua tarefa, de desvendar os mistérios por trás das mercadorias que agora sei, são os mistérios por trás do nosso mundo. Pra dar continuidade nessa tarefa de mudar o inevitável. Pra darmos continuidade nessa longa tradição comunista que você soube e sabe muito bem levá-la adiante. E é por isso que nós viemos lhe agradecer, por estarmos aqui, e por termos a certeza que pra cá voltaremos pra continuarmos essas tarefas que você nos deixou. Hoje, e já há algum tempo, não somos mais ninguéns. Somos filhos e filhas de um longo projeto, sem data pra encerrar, chamado comunismo. Somos filhos e filhas dele. E você, é nosso Professor.





 Em nome da 3ª Turma de Economia Política, pela Coordenação Política Pedagógica.


>>>>> São Mateus, 31 de maio de 2013.

Prezados familiares de Reinaldo Carcanholo!

Nesse momento de dor e tristeza, em que, consternados, nos deparamos com a notícia da perda do Reinaldo, é difícil pronunciar palavras. No entanto, queremos, entre um nó na garganta e lágrimas no coração, expressar por intermédio desta carta, nosso sentimento de solidariedade e compromisso.
A relação e contribuição do Professor Reinaldo com o MST, já se prolonga por mais de duas décadas. Talvez um dos primeiros professores da UFES a ministrar aulas no Centro de Formação do MST/ES. E por conseqüência, um dos primeiros a integrar o quadro de professores do MST Nacional e posteriormente junto à Escola Nacional Florestan Fernandes.
Nesse percurso, nos abriu portas na UFES encampando (contra os reacionários) o primeiro curso de Pós Graduação em Economia Política e Desenvolvimento Agrário para formadores e dirigentes de Movimentos Sociais do Brasil, que atualmente encontra-se na sua terceira edição.
Nos processos formativos, sempre que convidado, independente do local, nunca recebemos um não e, mais que isso, nunca impôs condições ou fez alguma exigência para sua participação. Dizia: “Para o MST eu sempre tenho agenda”!        
Falar, portanto, do Professor Reinaldo é acima de tudo, recordar da sua vida de intelectual comprometido, de educador e de militante das transformações sociais. Vida na qual a teoria e a prática se entrecruzam, transformando-o em um homem de ação e de pensamento.
Lega-nos o exemplo de estudioso rigoroso do Marxismo, sem ser dogmático. Ao estudar os clássicos tinha em mente, a necessidade de interpretar os dilemas da realidade atual para nela atuar de forma revolucionária. Um combatente nas trincheiras dentro e fora da Universidade para defender a importância da teoria crítica como arma e ferramenta de luta para os Movimentos Sociais.
Lega-nos o exemplo da solidariedade, do amigo que sempre foi em todas as horas que nos brindou com sua companhia. Sua simplicidade contagiava a todos e, convocava para seguir na mesma trilha do estudo e da luta. Homem de caráter, de alegria cativante, que, apesar das agruras da vida, inclusive do exílio, não perdeu a ternura e a capacidade de amar a família, os trabalhadores, o Brasil, que desejava livre, soberano e independente.
Lega-nos uma valiosa obra em seus trabalhos escritos, em suas palestras e intervenções teóricas. Mas, acima de tudo nos lega a sua própria vida, através do amor que dedicou a ela, do sentido que deu a ela até o último momento. Diante da gravidade da situação de saúde que o abateu, encarou essa condição, em pé!
Por isso, apesar da sua ausência física, Reinaldo não nos deixa. Permanece entre nós, nos instigando ao estudo, à vivência dos novos valores, acompanhando nossos passos na luta pela justiça e pelo socialismo.
Continua a nos dar o exemplo de um verdadeiro Marxista, nos ensinando que a revolução socialista é o horizonte da classe trabalhadora, bandeira com a qual continuamos comprometidos. Esta causa – da emancipação humana – com certeza o manterá vivo e presente em nossas salas de aula, em nossas bibliotecas, em nossos cursos de formação, em nossas reflexões e elaborações teóricas, em nossas lutas, em nossos espaços de confraternização e diálogos.
O MST, os Movimentos Sociais, a UFES, todos perdemos um grande intelectual; perdemos um pensador comprometido com os “de baixo”; perdemos um educador exemplar; perdemos um grande amigo!
Queridos familiares, esposa e filhos! Recebam da família do MST, a solidariedade, o reconhecimento e o significado deste GRANDE HOMEM junto a nós e para as lutas do povo.
Recebam o nosso abraço de carinho e amizade. Tenham a certeza de que continuaremos seguindo seus ensinamentos, seu exemplo e sua esperança num futuro melhor para os trabalhadores deste país e do mundo. VIVA REINALDO CARCANHOLO!
Um abraço socialista!


Adelar João Pizetta - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra!



>>> Nota da Editora  Expressão Popular
É com muita tristeza que a equipe da Editora Expressão Popular recebeu a notícia do falecimento do professor Reinaldo Carcanholo. Além de um dos mais destacados economistas marxistas brasileiros, ele – seguindo à raiz da tradição marxiana – esteve durante toda sua trajetória de vida vinculado às lutas sociais no Brasil e na América Latina.
Estudante de economia da Universidade de São Paulo durante a ditadura civil-militar brasileira, Carcanholo se exilou no Chile, ainda sob o governo da unidade popular capitaneado por Salvador Allende, onde termina a sua graduação e trava contato com o grupo da Teoria da dependência. Alguns anos depois – novamente exilado após o golpe contra o governo de Allende, Carcanholo vai para o México preparar sua tese de doutoramento sob a orientação de Ruy Mauro Marini, na Universidade Nacional Autonóma do México. Entre as décadas de 1970 e 1980 esteve no Chile, México, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador sempre em estreita ligação com os movimentos sociais e com os processos de luta pela libertação dos povos contra as ditaduras latino-americanas. Como ele mesmo afirmava: "não fui um militante, sempre estive, da universidade, ligado à formação da militância". Para nós, sua postura crítica e combativa, sempre a postos para contribuir na construção do conhecimento com vistas a desvelar a dinâmica da sociedade capitalista entre os trabalhadores e em uma linguagem clara foi sua forma mais sincera de militância.
Na volta ao Brasil Carcanholo se torna professor universitário e uma das principais figuras da Sociedade de Economia Política (SEP) e da Sociedade de Economia Política latino-americana (SEPLA), da qual era atualmente vice-presidente. A sua vinculação aos movimentos sociais se acentua cada vez mais, contribuindo incansavelmente com cursos de formação no tema da Economia Política para movimentos sociais, entre eles, marcadamente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), contribuição que já dura mais de duas décadas. Sem nunca perder a perspectiva latino-americana, Carcanholo segue divulgando suas criativas análises em torno das categorias econômicas marxistas em diversos países. Devemos mencionar, neste sentido, a recente publicação de um dos seus mais brilhantes ensaios - "A dialética da mercadoria" - em Cuba, com intuitos de formação política dos trabalhadores.
Distante das vaidades acadêmicas que infestam os intelectuais atualmente, a postura de Carcanholo era sempre de disposição à luta e humildade em aprender com a dinâmica da realidade. Generosa e militantemente nos ofereceu dois de seus livros para publicarmos - Capital essência e aparência, vol. 1 (2010) e vol. 2 (2013) - bem como contribuiu com prefácios e apresentações de livros. Reinaldo Carcanholo, para além de um intelectual marxista criativo, que buscava seguir Marx não de forma dogmática, mas utilizando a sua teoria não apenas para interpretar a realidade, mas também para transformá-la. É irreparável perda o seu falecimento, mas estamos certos que o seu legado seguirá vivo nos militantes empenhados em construir a passagem do reino da necessidade para o reino da liberdade.
Carcanholo, retomando Brecht, é daqueles que lutam sempre, os imprescindíveis.
Equipe da Editora Expressão Popular
31.05.2013

viernes, 17 de mayo de 2013

Recado.


Um recado coletivo.








Gonzaguinha

Se me der um beijo eu gosto
Se me der um tapa eu brigo
Se me der um grito não calo
Se mandar calar mais eu falo
Mas se me der a mão
Claro, aperto
Se for franco
Direto e aberto
Tô contigo amigo e não abro
Vamos ver o diabo de perto
Mas preste bem atenção, seu moço
Não engulo a fruta e o caroço
Minha vida é tutano é osso
Liberdade virou prisão
Se é amor deu e recebeu
Se é suor só o meu e o teu
Verbo eu pra mim já morreu
Quem mandava em mim nem nasceu
É viver e aprender
Vá viver e entender, malandro
Vai compreender
Vá tratar de viver
E se tentar me tolher é igual
Ao fulano de tal que taí
Se é pra ir vamos juntos
Se não é já não tô nem aqui

Vai! Bota um sorriso no rosto, não importa se o estômago está vazio...


Vai, menino, põe o sorriso no rosto, 
Não importa se teu estômago está vazio.
Estou aqui com a máquina na mão, esperando o teu sorriso.

Vai, menina, ajeita a saia e mostra os dentes,
Não importa se teu estômago está vazio.
Estou aqui com a máquina na mão, esperando o teu sorriso.



Oxente, menina!
Por que chorando estás ?

É que, seu fotógrafo, eu tenho fome, mas não aceito qualquer coisa. 
Não quero qualquer esmola...


Estou aqui, com os pés no chão, esperando o meu sorriso chegar.


Ângela Pereira.



Pois é, seu Zé

Gonzaguinha



Ultimamente ando matando até cachorro a grito
e a platéia aplaudindo e pedindo bis
nas refeições uma cachaça e às vezes um palito
e a platéia aplaudindo e pedindo bis
ando tão mal que ando dando nó em pingo d'água
só mato a sede quando choro um pouco a minha mágoa
mas a platéia ainda aplaude ainda pede bis
a platéia só deseja ser feliz
a platéia ainda aplaude ainda pede bis
a platéia só deseja ser feliz
Te vira, Sorria
Bota um sorriso nos lábios
de tanto andar na corda bamba eu sou equilibrista
e a platéia aplaudindo e pedindo bis
equilibrando a vida e a morte eu sou malabarista
e a plateia aplaudindo e pedindo bis
mas não me queixo dessa sorte eu sou um comodista
e já me chamam por aí de verdadeiro artista
mas a plateia ainda aplaude ainda pede bis
a platéia só deseja ser feliz
as plateia ainda aplaude ainda pede bis
a platéia só deseja ser feliz
Te vira, Te vira, Bota um Sorriso nos Labios
Vidro moído ou areia
No café da manhã
E um sorriso nos lábios
Ensopadinho de pedra
No almoço e jantar
E um sorriso nos lábios
O sangue, o roubo, a morte
Um negro em cada jornal
E um sorriso nos lábios
Noventa e cinco sorrisos
Suando na condução
E um sorriso nos lábios...
Mas sonha que passa
Ou toma cachaça
Agüenta firme, irmão
Na oração
Deus tudo vê e Deus dará
Ou então acha graça
É tão pouca a desgraça
Mas no fim do mês
Lembra de pagar a prestação, com um sorriso nos labios

O jogo, a nêga, a loteca
A fome e o futebol
E um sorriso nos lábios
A taça, a vida, a dureza
Viva a beleza do sol
E um sorriso nos lábios
Os olhos fundos sem sono
Os corpos como lençol
E um sorriso nos lábios
O cerco, a vida, o circo
Silêncio, um medo anormal
E um sorriso nos lábios
Mas sonha que passa
Ou toma cachaça
Agüenta firme, irmão
Na oração
Deus tudo vê e Deus dará
Ou então acha graça
É tão pouca a desgraça
Mas no fim do mês
Lembra de pagar a prestação, com um sorriso nos labio
Te Vira,
Desse sorriso nos lábios, pois é
Pois o Rio de Janeiro continua lindo
e a platéia aplaudindo e pedindo bis
São Paulo a São Paulo continua indo
e a platéia aplaudindo e pedindo bis
Sorria, Alegria
e a platéia aplaudindo e pedindo bis
E a platéia aplaudindo e pedindo bis






lunes, 13 de mayo de 2013

O petróleo e a energia são nossos!


Ocupação do Ministério de Minas e Energia exige cancelamento do leilão do petróleo


Desde as cinco horas da manhã de hoje (13), 600 pessoas ocupam o prédio do Ministério de Minas e Energia, em Brasília. A mobilização, organizada pelo Movimento Camponês Popular(MCP), Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organizações quilombolas, estudantes e trabalhadores ligados à Federação Única dos Petroleiros, exige o cancelamento do leilão do petróleo e da privatização das barragens.
A ocupação segue até o ministro, Edison Lobão, se reunir com os manifestantes. Mobilizações pelo “petróleo é nosso” ocorrem também em Belo Horizonte, Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. As organizações protestam contra a 11ª rodada de licitações de 289 blocos para a exploração de petróleo e gás natural, em 11 estados brasileiros, prevista para esta semana, O volume a ser leiloado pode ultrapassar 40 bilhões de barris, com lucro de R$ 1,16 trilhões a ser apropriado por empresas transnacionais.
As mobilizações também cobram que o governo brasileiro não faça a licitação de 12 usinas hidrelétricas e de 23 pequenas centrais que estão encerrando seus prazos de concessão até o ano de 2015. Os movimentos sociais e sindicais questionam a lei de licitações, criada pelas medidas neoliberais dos anos 90, e propõem que elas fiquem sob controle estatal. Mais de 50 organizações assinam uma carta pelo cancelamento do leilão do petróleo e contra a privatização das barragens. O documento será entregue ainda hoje à presidenta Dilma. Leia a carta abaixo: 
Excelentíssima Senhora
Dilma Vana Rousseff
Presidenta da República do Brasil.
Brasília, 10 de Maio de 2013

Excelentíssima,
nós, movimentos populares e sindicais abaixo assinados, vimos, por meio desta, solicitar o cancelamento dos leilões de petróleo, previstos para os dias 14 e 15 de maio de 2013, bem como o cancelamento do processo, que prevê a privatização das hidrelétricas, de Três Irmãos em São Paulo e Jaguara em Minas Gerais, além de várias outras usinas, que podem significar cerca de 5.500 MW médios . Estes leilões significarão a retomada das privatizações em um dos setores mais estratégicos ao povo brasileiro. Entregar o petróleo e as hidrelétricas, que fazem parte do patrimônio da União ao capital internacional, será um erro estratégico.
Lembramos que o povo brasileiro, com seu trabalho e suas lutas, construiu um grande setor de energia no Brasil. A luta do “PETRÓLEO É NOSSO”, juntamente com a utilização dos nossos rios para a produção de energia elétrica nos propiciou, por muito tempo, que estas riquezas estivessem, em certa medida, sob controle nacional, uma vez que o controle estava garantido pelo Estado.
Foi, sem dúvida, no período dos governos de Collor e Fernando Henrique Cardoso, que este sistema foi sendo destruído e entregue ao capital internacional, sob o pretexto de que não servia mais para o nosso país. As melhores empresas públicas foram entregues para o controle das grandes corporações transnacionais, prejudicando nosso país e os trabalhadores. 
Nessas ocasiões, os setores neoliberais se apropriaram do discurso falacioso da ineficiência do Estado, especialmente na gestão das empresas públicas, com o objetivo de iludir o povo brasileiro com falsas promessas e entregar o patrimônio público para o “mercado”.
Esta história nós já conhecemos bem. Depois da privatização, a energia elétrica aumentou mais de 400% (muito acima da inflação), trabalhadores foram demitidos e recontratados com salários menores e em piores condições e a qualidade da energia elétrica piorou muito. Quedas de energia, explosão de bueiros e apagões são consequências da privatização.
No setor do petróleo a realidade é semelhante, FHC quebrou o monopólio estatal e vendeu parte da Petrobrás, e só não fez pior, porque foram derrotados na eleição de 2002.
Não é a toa que todo este processo foi chamado de PRIVATARIA. Mais de 150 empresas públicas - das melhores - acabaram sendo entregues aos empresários, a preços irrisórios.
O povo brasileiro votou em Lula duas vezes e em Dilma no ano de 2010, ciente de que aquilo que foi feito nos governos anteriores não era bom para o Brasil. A esperança vencia o medo e exigia que as privatizações tivessem um basta.
A extraordinária descoberta de petróleo na área chamada pré-sal, as enormes reservas de água, nosso território e nossas riquezas naturais exuberantes e, fundamentalmente, a capacidade de trabalho dos trabalhadores brasileiros, acenam para a construção de um país com enormes potencialidades, com possibilidades de usar e bem distribuir estas riquezas. E é isto que vemos ameaçado nesse momento.
Se as riquezas são tantas e boas para o país, por que entregar para as grandes empresas transnacionais as riquezas do povo brasileiro?
São as empresas do Estado Brasileiro, entre elas a Eletrobrás e a Petrobrás, que impulsionam o setor de energia em nosso país. É o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES, quem financia as demandas do setor. São as empresas de pesquisa do Estado que fazem os estudos. São as empresas estatais, em especial, o Sistema Eletrobrás que está ofertando eletricidade a preços mais baratos. Então, por que não discutir com nosso povo, unir forças e buscar soluções para que, tanto o petróleo quanto a energia elétrica, fiquem nas mãos do Estado, com soberania nacional, distribuição de riquezas e controle popular?
É fundamental que todos nós tomemos posição neste momento tão importante para o destino da nação. Defendemos o cancelamento dos leilões, que irão privatizar o petróleo e as usinas hidrelétricas, que estão retornando para a União.
Não temos dúvida de que, se consultado, o povo brasileiro diria: Privatizar não é a Solução.
Certos de que seremos atendidos em nossas proposições, nos dispomos a discutir, mobilizar nosso povo, buscar a união de todos para que estas riquezas sejam do povo brasileiro e com controle do Estado. Nos colocamos à disposição para discutir com Vosso governo e com o povo brasileiro. Sem mais, aguardamos resposta.

Articulação de Empregados Rurais do Estado de Minas Gerais - ADERE/MG
Assembléia Popular
Barão de Itararé - Centro de Estudos de Mídia Alternativa
Central de Movimentos Populares – CMP
Central de Movimentos Sociais – CMS/PR
Central Única dos Trabalhadores – CUT Brasil
Central Única dos Trabalhadores - CUT MG
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura - CONTAG
Conselho Indigenista Missionário – CIMI
Consulta Popular
Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas - CONAQ
Coordenação Nacional de Entidades Negras – CONEN
Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Urbanas do Estado de São Paulo – FTIUESP
Federação Estadual dos Metalúrgicos – CUT/MG
Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros – FISENGE
Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar - FETRAF
Federação Nacional dos Urbanitários - FNU
Federação Única dos Petroleiros – FUP
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – FNDC
Levante Popular da Juventude
Marcha Mundial das Mulheres – MMM
Movimento Camponês Popular – MCP
Movimento de Mulheres Camponesas – MMC
Movimento dos Atingidos pela Mineração - MAM
Movimento dos Atingidos por Barragens – MAB
Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST
Pastoral da Juventude Rural - PJR
Plataforma Operária e Camponesa para Energia
Sindágua MG
Sindicato dos Camponeses de Ariquemes e Região
Sindicato dos Engenheiros do Estado do Paraná – SENGE/PR
Sindicato dos Metalúrgicos de Erechim/RS
Sindicato dos Metalúrgicos de Passo Fundo/RS
Sindicato dos Petroleiros do Estado de São Paulo – SINDIPETRO/SP
Sindicato dos Trabalhadores Energéticos do Estado de São Paulo – SINERGIA CUT
Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Energia de Florianópolis e Região - SINERGIA
Sindicato dos Trabalhadores Urbanitários  – STIU/DF
Sindicato Intermunicipal dos Trabalhadores na Indústria Energética de Minas Gerais – SINDIELETRO/MG
Sindicato Unificado dos Trabalhadores de Minas Gerais - Sind-UTE MG
Sind-Saúde MG
Stop the Wall
União Brasileira de Mulheres - UBM
União Brasileira dos Estudantes Secundaristas – UBES
União da Juventude Socialista – UJS
Via Campesina Brasil

viernes, 10 de mayo de 2013

Arquitetura e liberalização feminina.

Por falar em janelas e aproveitando a indicação de leitura de Inã Cândido (www.tramasocial.wordpress.com) reproduzo aqui um texto escrito pela arquiteta Helena Câmara Lacé Brandão, à respeito do papel das janelas para a liberalização das mulheres a partir do final do século XIX. O texto foi publicado no site:  http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/janelas-da-liberdade.

Boa leitura. 

Janelas da liberdade


Ligando as casas às ruas, as varandas permitiram às mulheres o contato com o mundo exterior numa época em que elas não botavam o nariz para fora do ambiente doméstico

Helena Câmara Lacé Brandão

Muitas pessoas que observam as bonecas namoradeiras nas varandas de alguns edifícios residenciais não imaginam que tais peças decorativas guardam o registro de um tempo em que as mulheres dependiam quase exclusivamente desse ambiente para ter contato com a rua. Este espaço da residência já foi importante para a socialização feminina no Rio de Janeiro e em muito contribuiu para sua liberação. No entanto, diante da liberdade que as mulheres desfrutam nos dias de hoje e do papel que desempenham na sociedade contemporânea, este passado pode parecer distante. 

  • No período colonial, a supremacia do homem era garantida por lei. Assim como a terra e os escravos, as mulheres eram consideradas uma propriedade. Uma das únicas maneiras que elas tinham de se colocar em sociedade era pelo casamento. Do domínio do pai, a mulher passava ao domínio do cônjuge, e, na ausência destes, passava a ser “administrada” por um tutor do sexo masculino: irmão mais velho, filhos ou qualquer outro indivíduo encarregado legalmente deste papel. A opção para aquelas que não se casavam era o convento. Sendo assim, a mulher acabava se comprometendo, fosse com homem ou fosse com Deus, e, subjugada ao sexo masculino, ficava confinada.

    A historiografia dos dias de hoje reconhece a existência de mulheres até provedoras de seus lares, mas era raro e não oficial, isto é, não bem-visto pela sociedade. As varandas acabaram se tornando o único ambiente em que tinham contato com o mundo exterior, já que as saídas femininas se limitavam, na maioria das vezes, a idas até a igreja.  Somente no final do século XIX as mulheres começaram a frequentar a rua para fazer suas compras, atividade que passou então a ser vista também como lazer. 

    Quando surgiram os primeiros núcleos urbanos, as mulheres se inteiravam dos acontecimentos através das frestas das varandas, muitas cobertas de muxarabiê (tipo de treliça de madeira colocada nas janelas). Aliás, as mulheres brancas, pois as negras circulavam pelas ruas, eram consideradas peças e não pessoas, e as índias, selvagens. Mas estas galerias mouriscas – como eram chamadas – também serviam para escondê-las no espaço doméstico, protegendo-as dos olhares de quem passasse. O comércio de produtos era feito em domicílio, e era possível abastecer os lares pelas rótulas (grades de ripas) das janelas das casas térreas ou das varandas dos sobrados.

    Com a mudança da corte portuguesa para o Brasil no início do século XIX, a contribuição da varanda para as práticas sociais da mulher se tornou ainda mais intensa. Esta mudança está ligada às novas formas que este espaço adquiriu. Em 1809, D. João mandou tirar os muxarabiês que fechavam as varandas por serem de origem moura e envergonharem a Coroa ao lembrarem os tempos em que Portugal ficou submetido ao domínio árabe. As varandas com guarda-corpo – estrutura metálica que evita quedas – de ferro dos sobrados oitocentistas passaram a ser denominadas sacadas ou balcões. 

    Com a saída dos muxarabiês de cena durante o Primeiro Reinado – o que contribuiu para a comercialização do vidro pelos ingleses –, as varandas, e posteriormente as sacadas, passaram a ser não apenas num posto de vigília, mas também de exposição. A mulher passava a poder ser vista. Essa transformação aparentemente pequena provocou mudanças nos costumes que só ocorreriam mais tarde, do final do século XIX ao início do XX, quando ela passa a frequentar livremente o espaço público. Segundo Gilberto Freyre no livro Sobrados e mucambos, a varanda e o caramanchão marcaram vitórias da mulher sobre o ciúme sexual do homem e “uma das transigências do sistema patriarcal com a cidade antipatriarcal”.

    Mas os novos hábitos de exposição feminina, incentivados pela ausência dos muxarabiês, não foram assimilados imediatamente pela população. Foi preciso que a Câmara Municipal do Rio de Janeiro, na época de D. Pedro I, transformasse a ordem do príncipe regente em lei para que ela fosse cumprida.  Diante da mentalidade moura remanescente – deixar as mulheres reclusas atrás dos muxarabiês ou das burcas –, as mulheres que ficavam nas varandas eram mal faladas, sendo chamadas de janeleiras, namoradeiras ou até de rameiras. 

    Até então, a presença feminina nas sacadas se restringia aos festejos públicos, nas procissões ou nos cortejos em homenagem à família real, quando as casas se abriam através das sacadas decoradas, onde os moradores se colocavam para participar das comemorações. Nesses poucos momentos, os rapazes aproveitavam para cortejar as moçoilas com a prática do “namoro do bufarinheiro” ou do “namoro do escarrinho”. No primeiro caso, os homens se comportavam como se fossem bufarinheiros, isto é, vendedores ambulantes, a anunciar seus produtos. No segundo, os jovens ficavam embaixo das janelas das moças que lhes interessavam, fungando, assoando o nariz e até dando cuspidelas. Se a mulher fazia o mesmo, queria dizer que a declaração havia sido correspondida.   

    A socialização promovida pela varanda entre a mulher e os rapazes que passavam na rua rendeu a este espaço a fama de ser um local inapropriado para as donzelas. Um preconceito que só começou a ser desfeito com as mudanças no modo de vida que alteraram a ideia de submissão do “sexo frágil”. A educação e a inserção das mulheres no mercado de trabalho ajudaram-nas a cruzar a fronteira entre a casa e a rua. Ao frequentar livremente o espaço público, antes exclusivo dos homens, o sexo feminino vai desfrutar de diversas formas de socialização. Somente a partir da segunda metade do século XX é que a varanda deixa de lado sua “má reputação”. 

    A liberação da mulher já não é mais tão recente, mas a contribuição da varanda dentro deste processo não foi esquecida. Sua importância como cenário de encontros amorosos está registrada em gravuras de época, nos romances e até na música popular brasileira. Um exemplo são os versos de Chico Buarque em “Flor de Idade”, de 1975: “A gente faz hora, faz fila na vila do meio-dia / pra ver Maria/ a gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia/a porta dela não tem tramela a janela é sem gelosia/ nem desconfia/ ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor”.

    Tendo chegado em terras brasileiras como adaptação da arquitetura portuguesa ao clima tropical, a varanda faz muito mais do que diminuir o impacto do calor dentro das moradias. São basicamente três as suas funções: serve como espaço de transição entre a casa e a rua, de socialização – isto é, de convívio e de lazer da família e desta com quem passa na rua – e de integração com o meio ambiente, funcionando para a contemplação da paisagem e para o contato com a natureza. Marco da história da arquitetura doméstica do Rio de Janeiro, ela expressa hábitos de moradia do carioca e seu comportamento cultural. 

    Hoje, a varanda resguarda a família dos distúrbios vindos da rua, protege a privacidade da casa, comprometida pela proximidade entre as construções, e também é utilizada como camarote em muitas festas públicas. Além disso, ainda é considerada um dos principais atrativos de imóveis na cidade, tendo se tornado sinônimo de status. A presença maciça de varandas em grande parte dos lançamentos imobiliários no Rio de Janeiro demonstra a relação estreita com o modo de vida da população. Além disso, ela valoriza o imóvel ao conferir maior qualidade ao espaço arquitetônico. Não é à toa que, nos últimos anos, diversos prédios antigos em diferentes regiões da cidade do Rio vêm acrescentando varandas em suas fachadas. Assim como o samba e a praia, a varanda já faz parte da tradição carioca. 

    Helena Câmara Lacé Brandão é arquiteta e autora da tese “Varanda e modo de vida da Zona Sul carioca” (UFRJ, 2009).

    Saiba Mais - Bibliografia

    ALGRANTI, Leila Mezan. “Família e vida doméstica” In: SOUZA, Laura de Mello e (org). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. Vol 1. São Paulo: Companhia das letras, 1997.

    ARAÚJO, Rosa Maria Barboza de. A Vocação do Prazer: a cidade e a família no Rio de Janeiro republicano. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

    MARINS, Paulo César Garcez. Através da Rótula – Sociedade e Arquitetura Urbana no Brasil. São Paulo: Humanitas, 2001.

La insoportable leveza del ser...

Muito bem vinda a lembrança: 




" Todos necesitamos que alguien nos mire. Sería posible dividirnos en cuatro categorías, según el tipo de mirada bajo la cual queremos vivir.

La primera categoría anhela la mirada de una cantidad infinita de ojos anónimos, o dicho de otro modo, la mirada del público. Ése es el caso del cantante alemán, de la actriz norteamericana y también del redactor de largas barbas. Estaba acostumbrado a sus lectores y, cuando un buen día los rusos cerraron su semanario, tuvo la sensación de que el aire era cien veces más enrarecido. Nadie podía reemplazarle la mirada de los ojos desconocidos. Le pareció que se ahogaba. Entonces fue cuando advirtió que la policía vigilaba todos sus pasos, que oían sus conversaciones por teléfono y que hasta le sacaban en secreto fotos en la calle. ¡De pronto los ojos anónimos estaban otra vez en todas partes y él podía respirar de nuevo! ¡Estaba feliz! Se dirigía con voz teatral a los micrófonos de las paredes. Había encontrado en la policía al público perdido.

La segunda categoría la forman los que necesitan para vivir la mirada de muchos ojos conocidos. Éstos son los incansables organizadores de cócteles y cenas. Son más felices que las personas de la primera categoría, quienes, cuando pierden a su público, tienen la sensación de que en el salón de su vida se ha apagado la luz. A casi todos ellos les sucede esto alguna vez. En cambio, las personas de la segunda categoría siempre consiguen algunas de esas miradas. Entre éstos están Marie-Claude y su hija.

Luego está la tercera categoría, los que necesitan de la mirada de la persona amada. Su situación es igual de peligrosa que la de los de la primera categoría. Alguna vez se cerrarán los ojos de la persona amada y en el salón se hará la oscuridad. Pertenecen a este grupo Teresa y Tomás.

Y hay también una cuarta categoría, la más preciada, la de quienes viven bajo la mirada imaginaria de personas ausentes. Son los soñadores. Por ejemplo Franz. El único motivo de su viaje hasta la frontera de Camboya fue Sabina. El autobús traquetea por la carretera tailandesa y él siente que su larga mirada se fija en él.”


( Capítulo 23- A longa Marcha, In: A insustentável leveza do ser de Milan Kundera)


jueves, 9 de mayo de 2013

A janela está aberta.




A janela está aberta.
Tem flores do lado.
Cheiro de lavanda, jasmim 
E de uma flor que não sei decifrar....

Música de dentro vindo
Numa vitrola tocando...
Neruda, Drummond, Lispector, 
Beauvoir, Gioconda  conversando
E um Cabernet Sauvignon bebendo.

Pessoa e pessoas.
E ainda, um incenso amadeirado...
Pronto.

A janela está aberta.
Pela manhã pousam borboletas.
O entardecer por ela adentra,
com suas cores alaranjadas...
À noite namora-se a lua,
E as estrelas sem ciúmes e apegos.
E nos dias cinzas, o sol trava uma luta ferrenha com as nuvens
Para que o deixem permanecer,  
E para que elas não escureçam tão rapidamente...

E se um dia arrancarem a janela:

Descobriremos ou criaremos outras janelas
De onde virão:

Bons dias.
Bons ventos.
E boas luas.

Ângela Pereira e  a boa moça, na janela.