domingo, 29 de enero de 2012

"O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas"



Não costumo postar esse tipo de texto aqui e desse tipo de fonte também, mas abri exceção para esse. Combina com a atual fase de minha vida.



"O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas"


Por Ivan Martins, editor executivo da Revista Época


Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão.

Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas.

Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente – e mora sozinha.

Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas.

“Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”.

Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor. 
Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou. 

Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre. 

A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem. 

A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói. 

Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome? 

A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio da publicidade. 

Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda. 

Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos. 

Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer. 

Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha. 

Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil. 

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI149563-15230,00.html

Você só vê?


"Você só vê? É melhor usar todos os sentidos. E as vezes todos eles ainda são insuficientes pra alcançar a essência."

Ângela Pereira

jueves, 26 de enero de 2012

A poesia e a luta vão se espalhar...




Há... disse:
E que falta fará!
Se daqui perdemos algo ...
Ganhamos, ainda
A poesia e a luta vão se espalhar...
Saudade existirá ...
E quando ela chegar...
Pegue a cartilha com poesia...
Que é pra saudade matar.
Recite com alegria
Pra quando menos esperar
Paula Adissi voltar...

Ângela Pereira.
Homenagem à querida Paula Adissi.
Verão de 2012.

miércoles, 25 de enero de 2012

martes, 24 de enero de 2012

Nota da Consulta Popular sobre o despejo da comunidade Pinheirinho


São Paulo, 24 de Janeiro de 2012 

A Consulta Popular vem expor seu apoio às famílias que foram despejadas na comunidade Pinheirinho, município de José dos Campos, São Paulo e repudiar a ação de violência institucional e violações de direitos fundamentais do Governo do Estado de São Paulo e do Judiciário brasileiro.

O despejo das mais de 6 mil pessoas foi iniciado na madrugada de domingo (22), promovido pela polícia do estado de São Paulo e pela guarda civil de São José dos Campos. A decisão judicial de reintegração de posse foi concedida pela 6º Vara Cível de São José dos Campos e reafirmada pelo Superior Tribunal de Justiça. Ao mesmo tempo, havia decisão da Justiça Federal pela suspensão do despejo. As famílias, estabelecidas em um imóvel que não cumpria sua função social, aguardavam o processo de negociação entre prefeitura, estado e União, para regularização do terreno.

Não se trata de um caso isolado, mas certamente emblemático. A ação de despejo de 6 mil pessoas, que viviam em uma comunidade já estabelecida e em processo de negociação, demonstra a intransigências, ignorância e autoritarismo do governo de São Paulo. Essa ação é um triste exemplo do tratamento dado pelo Estado, particularmente pelos grupos e agentes mais conservadores, como o Governador do Estado do São Paulo, Geraldo Alckimin, aos que reivindicam direitos fundamentais, como a moradia. 

Ademais, lamentamos, mais uma vez, a postura do Judiciário, incapaz de efetivar os direitos fundamentais das classes populares e célere e eficiente para defesa da propriedade privada.

Precisamos discutir urgentemente a democratização do Judiciário e a eliminação dos despejos como forma de resolução dos conflitos fundiários, seja no campo ou na cidade. 

A Consulta Popular se põe em lado dos lutadores e lutadoras do povo. São as lutas populares, por moradia, democratização da cidade, trabalho digno, reforma agrária, dentre várias outras, que impulsionam as transformações que o Brasil precisa.

 Consulta Popular

sábado, 21 de enero de 2012

A luta continua!


Hoje se foi uma pequena mulher, forte, resistente, lutadora, digna da vida que teve. Uma mulher que dedicou parte de sua vida à defesa de uma sociedade justa, caminhando pelo mundo, resistindo e dando exemplo de vida para aqueles que como ela acreditam numa sociedade socialista. Vera Amaral foi um exemplo de mulher para ser lembrado. Educadora, sindicalista, nutricionista, coordenadora do Núcleo de Estudos em Saúde coletiva da UFPB, escreveu capítulos importantes da Reforma Sanitária brasileira na luta em defesa do SUS público, gratuito e de qualidade. Há poucos meses esteve conosco construindo o Fórum Paraibano em Defesa do SUS e contra as Privatizações, defendendo até o fim de sua vida, o direito de acesso à saúde de qualidade para a classe trabalhadora.


Ficam a saudade, as boas lembranças e o importante legado dos aprendizados que ela nos proporcionou.


Como ela sempre lembrava: A luta continua! 




viernes, 6 de enero de 2012








" Meus olhos arregalados
não piscam pra qualquer um 
nem fecham pra qualquer medo." 




Marta Medeiros

miércoles, 4 de enero de 2012

A relação entre o Serviço Social e as políticas sociais, referenciada pelos determinantes históricos e o debate teórico da profissão.

Na sociedade capitalista, em que os sujeitos sociais assumem posição frente ao processo de produção e reprodução do capital, o Serviço Social se materializa como profissão num processo socio-histórico rico em determinações que repercutem  na configuração da profissão e dos papéis desta na divisão social e técnica do trabalho.
Ao longo da história, o Serviço Social foi estabelecendo imbricações com algumas instituições, sendo a principal delas o Estado  e assumindo posição , num contexto de tensões sociais da luta de classes, na construção e execução de políticas sociais advindas desse Estado. 
Ao se forjar enquanto  profissão institucionalizada, o Serviço Social também buscou construir o arcabouço teórico que lhe fundamente. À luz  de alguns expoentes deste, tecerei algumas considerações à cerca da relação desta profissão com as políticas sociais.
Para discorrer sobre o Serviço Social e as políticas sociais, necessitamos nos valer da história e da delimitação dos papéis de sujeitos históricos coletivos e do Estado frente ao processo de produção e reprodução do capital.
Numa dinâmica de  busca por acumulação  cada vez maior, o capital através dos mecanismos de valorização constante, intercalados por crises, coloca-se como relação social em que capitalistas e proletários assumem posições antagônicas e fundamentais para a perpetuação do sistema capitalista. Essa relação antagônica, em que capitalistas são detentores dos meios de produção e proletários, detentores da força de trabalho, baseia-se na exploração  da força de trabalho destes últimos e na apropriação do mais valor (mais valia) resultante do trabalho excedente. Essa mais valia é usada pelo capitalista para aumentar a capacidade orgânica do capital e, portanto, seu potencial produtivo e de superexploração do trabalhador. Dessa mais valia também o capitalista extrai o salário que paga o trabalhador para a reprodução da sua força de trabalho ( alimento e vestuário, por exemplo), que é usada na continuidade da produção de mercadorias que rendem lucro ao capitalista no processo de circulação de mercadorias.
Ao longo da história, para dar sustentação a produção,  o capital induziu a formação de uma superpopulação relativa de trabalhadores ou " exército de mão de obra" que contribui com o barateamento da mão de obra e para o aumento da acumulação capitalista. O aumento da composição orgânica do capital e, portanto, da tecnologia nas indústrias, foi também exigindo menos capital variável e contribuindo para a pauperização de milhões de trabalhadores. É desse processo que se intensificam as tensões sociais e que a classe trabalhadora, em vários momentos da história, exige melhores condições de trabalho e legislação que lhe garanta condições de sobrevivência.
 O Estado , enquanto instituição  que representa a classe dominante ( capitalista) contribui para o fortalecimento do sistema e se vê obrigado a fomentar  políticas sociais que contribuam para a reprodução da força de trabalho e para a contenção das tensões sociais.
Nesse sentido, Berhring (2007) relembra-nos o Estado de bem estar, como expressão importante do destaque que as políticas sociais tomaram pós-crise do capital no Pós-guerra mundial.
A política econômica keynesisana, que defendia a intervenção do estado na Economia, bem como nas refrações da questão social, balizou a ação dos estados nesse período nos países centrais. Com mais alguns anos de avanço  nas forças produtivas e de crise no sistema, a teoria keynesiana é rebatida e substituída pelo Neoliberalismo, orientação assumida mundialmente para nortear os governos nas suas políticas macroeconômicas e na repercussão dela para as políticas sociais e para o enfrentamento da questão social.
Cabe-nos delinear o papel que o Serviço Social, no seu processo de profissionalização, assumiu na divisão técnica e social do trabalho.
Iamamoto (2007) argumenta que embora o assistente social não possua tarefa na produção, ou seja, não configure trabalho produtivo, o Serviço Social assumiu ao longo da história um papel importante na reprodução das relações sociais no capitalismo. Desde as suas protoformas, a profissão compôs o campo conservador, inicialmente como agentes da Ação social católica e posteriormente como agentes técnicos institucionais do Estado. A autora ressalta as variações dessa posição e do  comprometimento dos profissionais frente aos projetos societários existentes, mas assume a perspectiva de que a profissão esteve vinculada ao projeto conservador capitalista, vinculação esta que se processava no cotidiano da prática profissional, em ações assistencialistas que perdiam o foco da totalidade da problemática da questão social.
Berring (2007) situa-nos ainda no curso da história, a estreita ligação da profissão com as políticas sociais, uma vez que os assistentes socais se profissionalizam assumindo tarefas técnico -administrativas na construção e execução de políticas sociais. A autora também situa o polêmico debate das políticas sociais no contexto da reconceituação da profissão que vai se dando  a partir dos anos 70 do século passado. Esse movimento da categoria expressa o entendimento e a consolidação da questão social enquanto objeto de estudo e trabalho da profissão e a orientação teórico-metodológica marxista que hegemoniza o pensamento teórico atual da profissão. E pelo reconhecimento da questão social e do aprofundamento das refrações dela que teoricamente o Serviço Social busca compreender as raízes dos conflitos entre o capital e o trabalho e sua expressão na sociedade capitalista. É nesse conjunto de mudanças que também se forja o projeto ético-profissional  do Serviço Social que aponta o compromisso  com as demandas históricas da classe trabalhadora, reconhecendo os limites da atuação no âmbito das políticas sociais para a solução da questão social e incorporando a análise de que  a supressão da questão social tem relação direta com a supressão da sociedade de classes como nos mostra Netto (2005).
Essa importante virada no Serviço Social  brasileiro, vai na contra-mão de orientações teóricas das vertentes européias e americana que projetaram os primeiros pensamentos e práticas profissionais no Brasil. Embora se discuta a viabilidade prática na nova conceituação do Serviço Social no Brasil diante do complexo quadro de crise do capital e do aprofundamento da questão social e dos limites das políticas sociais, é inegável que tal reconceituação  repercutiu na concepção  teórico-prática dos assistentes sociais e balizam a formação de profissionais contextualizados com as necessidades da atuação profissional.
Esse processo de reconceituação se dá no bojo das reformas político-econômicas  que se processam pós-ditadura.  Com a implantação  de políticas neoliberais,  as políticas sociais ora ganham destaque pela centralidade na seguridade social, ora são tidas como centrais nos gastos públicos do Estado, onerando as despesas do mesmo. É nessa linha de focalização de políticas sociais para os pobres e redução de investimentos nas políticas sociais que os governos Collor, FHC e Lula orientam a atuação do Estado em contraposição as conquistas da Constituição de 1988. 
Nesse contexto, o Serviço Social é condicionado a elaboração e execução de políticas, programas, compensatórios que não atingem as refrações da questão social a contento, inserindo-se na malha da assistência social, porém ainda com perspectiva assistencialista. A profissão , por sua posição estratégica no planejamento e execução de políticas sociais tem papel importante na luta de classes, quando impulsionado pela correlação de forças num momento difícil para a classe trabalhadora e suas organizações políticas. O fortalecimento do projeto ético-profissional, em movimento, com a formação política e a articulação com as organizações políticas da classe trabalhadora, pode forçar os limites da política social nas condições objetivas e subjetivas atuais e acumular força social no conjunto da classe trabalhadora para a superação da sociabilidade capitalista e o alcance da emancipação humana.

BEHRING, Elaine & BOSCHETTI, Ivanete. Política Social: Fundamentos e história. 3 ed. São Paulo: Cortez, 2007.
(Biblioteca básica de Serviço Social. Vol. 2).


IAMAMATO, Marilda Villela; Relações Sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica/ Marilda Villela Iamamoto, Raul de Carvalho- 20 ed. São Paulo: Cortez; [Lima, Peru]: CELATS, 2007.




NETTO, José Paulo. Capitalismo Monopolista e Serviço Social. São Paulo: Cortez, 2005




 Ângela Pereira. Fevereiro de 2010.

O poder das letras.

Sempre achei fascinante a arte de juntar letras em palavras e, na mediação com o mundo, delas extrair sentidos.
Depois descobri que as letras, aglutinadas em textos, carregadas com a ideologia dominante podem provocar estragos se (não) forem bem usadas.


Ângela Pereira.