viernes, 18 de marzo de 2011

Inocência.



Inocência!!!! Inocência!!! (gritos)





"Perdeu-se, Inocência... se alguém encontrá-la, favor avisar". Dizia o letreiro da casa.





O povo espiava, parava e dizia:




" Depois que se perde, a Inocência não volta mais...".


" Tem dias que sua alma aparece reclamando do desmando."


" Tem gente que quer ressucitá-la... mas Inocência é frágil e não resiste a quedas."


" Tem gente que quer se iludir.. Finge que acredita e acredita no que finge".



" Tem gente que gosta mesmo da brincadeira de fingir, Inocência".



Ângela Pereira.
19 de março de 2011.

Face rubra


Corre o sangue na negra face...

Rápido e fugaz


Deixando-a rubra.



Corre porque há muita vida.

Porque há muita vida,

É feliz .



Ângela Pereira.
18 de março de 2011.


domingo, 13 de marzo de 2011

Tédio.

Ando no meio fio.
Atravesso a rua.
Nada de interessante vejo
Além de mim.

Cansei do comum.
Por favor, vida querida,
Ofereça-me o diferente.
Peço só por educação.
Mas os minutos passam
E eu...
Cada vez menos te espero.

Esse poema, vida, é uma pausa
Pra te dar mais uma chance.
Porque a paciência acaba...
Ainda bem!

Ângela Pereira.
13 de março de 2011.

lunes, 7 de marzo de 2011

Processo.

Acontece que Maria, em processo, acordava dos tempos antigos. Penteava-se não como antes. Despia-se não como antes. Vestia-se não como antes. Sonhava não como antes. Amava não como antes.

Maria já não era como antes. Isso decorria de um acúmulo de experiências vividas e não vividas que aos poucos foi lhe tirando do alto das casas de árvores e colocando-a em terra seca e batida. O desencantamento tirava-lhe a ingenuidade, o sorriso e a sensibilidade. Resistia ao agouros da vida humana como quem nada contra uma maré forte. Embora tivesse uma força grande em virtude de sua juventude avassaladora, a maré é mais forte e rasga-lhe a pele, o corpo todo, modificando a sua fala (a do corpo) e mostrando uma personalidade que se constrói.


Maria já não é tão doce como antes. Maria já não sorri como antes. Mas ri. Maria já não canta como antes. Mas canta. Maria já não dança como antes. Mas dança!


Maria amadurece. Revira-se de ponta a cabeça, ora buscando sentido ora somente sentindo. Vasculha os lugares mais inóspitos de sua psiquê. Observa os detalhes. Alarga os limites.Abre as frestas para que o mundo entre. Desamarra os nós que amarraram no passado e, não livre, se deixa amarrar em outros nós. Mas é persistente e segue desatando os nós que deixam a vida dela um pouco misteriosa.


Maria abre mais os olhos. Escuta mais com os ouvidos.Saboreia mais com a língua. Sente mais com o nariz e com a pele.

Maria se conhece cada vez mais e as pessoas lá fora cada vez menos a conhecem. Não porque ela não se mostre, mas porque elas não se permitem perceber. Estão em ritmos acelerados e superficiais e não conseguem captar a essência.

Maria não. Avança, em processo, captando a essência.


07 de março de 2011.

Ângela Pereira.


Ilustração: "Menina na Praia" de Emerson Fialho.