viernes, 30 de octubre de 2009

Epitáfio

Aqui jaz uma poetisa

Que vivera no século XIX

Alimentada por histórias de bons moços e vilões


Dela restaram escritos...

De fadas e anões

De dragões e castelos

De fogos e rojões


Mas deixou de testamento

Escondido no cofre do quarto

As poesias da realidade

Depois que o povo saqueou o castelo

E divulgaram a verdade.


O povo arregalou os olhos

O ouro mudou de cor

O mundo deixou de ser rosa

E de viver não só de prosa!


A natureza foi preservada...

A nudez foi desejada...

A libido cultuada...

A mulher libertada...


O povo percebeu que foi enganado

Agora quer ser coroado

Com vinho

Música e orgasmo!


Ângela Pereira.

30 de outubro de 2009.

jueves, 29 de octubre de 2009

O homem no cavalo branco morreu!

Nem senti muita dor...

A despedida gradual não deixou.


Ele preferiu o corpo enterrado na terra.

Eu preferi os pés bem marcados na areia da praia

e o pó do corpo cremado jogado no mar


Ele preferia a história de Romeu e Julieta...

Eu prefiro a vida real de Thomas e Sabina...


Ele prefere amores platônicos

Eu prefiro encontros carnais


Ele preferia o plano

Eu preferi o acaso


Ele é o peso idealista

Eu ... o caminho material da leveza.


Bem que já passara da hora.

O homem no cavalo branco morreu!

E eu... nem senti muita dor...


29 de outubro de 2009.

lunes, 26 de octubre de 2009

Ser negro.

Éramos os que o silêncio encapuzou de branco
E o riso esparadrapou as feridas
Os que nos sonhos perderam o sentido de ir
Em meio a poças de maio! Cheias de pinga
e desprezo
Abraços à miséria
Aqueles cujos desejos são diariamente estuprados
Pela oratória
Alucinada apologiando ‘delirium tremens’ à farta
Vendem-se orelhas em restaurantes políticos
Para banquetes de lobos
Que se lambuzam ao sofrimento alheio
Cercados de armadilhas
Formamos uma ilha minada por diamantes
Ante o incêndio
Quando perguntarem o que houve
Diga apenas que estamos vomitando o acumulo dos séculos
Sobre a mesa farta da indiferença e do escárnio
Diga também que não suporta mais
Esta anestesia de ser bom
Para cumprir a maldição de Can
No cerne do que fomos
O que seremos
Nesta erupção da vida que nos tornamos.

Curti
(Poeta afro-brasileiro)

domingo, 25 de octubre de 2009

Corpo, fala!


"Se a boca cala e a dança fala

o corpo exala o verbo

principal...”

(Radamés Rodrigues e Delmo Biuford)




Corpo, fala!

Que te calam na rotina sem graça

Ou te limitam aos mesmos movimentos

Passos retos;

Parcos gestos


Corpo, expulsa!

Liberta...

Espanta os males


Corpo, exala!

Transpira leveza...

Exala beleza


Corpo, dança!

Marco o compasso

Com o descompasso


Corpo, deseja:

Dançar...

Cantar...

Falar...

Andar...

Levemente e

Livremente

Amar!


Ângela Pereira.

25 de outubro de 2009

Medo do ser humano!

Não tenho medo do que o mundo me oferece. Tenho medo do que o ser humano é capaz de fazer com o que o mundo lhe oferece.

Ângela Pereira.
22 de outubro de 2009.

martes, 20 de octubre de 2009

Sinto em meu peito pulsar... o grito!




Sinto em meu peito pulsar

Algo mais que batidas de um coração frágil

Sinto um sonoro soluçar





Sinto em meus poros escorrer

Algo mais que um suor salgado

Sinto sangrar sem a carne cortar


Sinto em meus ouvidos ruídos

Algo mais que os passos na rua

Sinto romper um grito


Rompe o grito!

Do pobre indiferente

Da mulher oprimida

Do doente mental

Do problema social


Rompe o grito:

Não à hipocrisia!

Sim à liberdade!


Ângela Pereira.

20 de outubro de 2009.

martes, 13 de octubre de 2009

Minha negra cor...

Corre de minha pele uma cor forte...

Uma cor que carrega consigo a história

Da opressão e da resistência


Corre de minha pele uma cor bonita...

Uma cor que carrega misturas de uma gente

Do desejo e originalidade


Corre de minha pele uma cor-suor...

Uma cor que transpira o samba

Da volúpia e sensualidade


Corre em mim ainda uma mistura de cores

O vermelho nos meus lábios grossos...

O negro nos meus olhos castanhos...

O sangue lilás nas minhas fortes veias...

O branco nos rijos dentes...


Corre de minha pele o calor

O calor de um povo forte

Que dança maculelê e capoeira


Corre de minha pele a identidade

Da mulher negra

Proletária.


Ângela Pereira.

13 de outubro de 2009.

lunes, 12 de octubre de 2009

Mulher, desperta!


“Ninguém pára nossa luta, ninguém cala a nossa voz, mulheres feministas, socialistas somos nós. (in: Caderno de textos das mulheres da CP)”


Um dia quiseram me convencer de que à mulher cabia ser frágil, submissa e sempre dócil. Nesse dia percebi que muitas vezes me fizeram frágil pela superproteção, pelo zelo excessivo. Fizeram-me submissa quando me ensinaram ou me conduziram a aceitar a voz grossa, forte e às vezes arrogante como a verdade a ser seguida, como a orientação da experiência e como se essa experiência não tivesse algo de opressão. Um dia, nesse mesmo dia, enalteceram minha docilidade, minha meiguice, meu comportamento calmo como algo inerente à natureza da mulher.

Depois desse dia percebi que não quero ser frágil, pois tenho força e arranco-a das minhas convicções e das dificuldades. Não quero ser submissa, pois isso significa perder minha autonomia, colocar venda, diminuir possibilidades, enterrar potencialidades e me entregar à opressão.

Não quero ser doce como algo da minha natureza. Sou sensível! Sou sensível aos sentimentos do mundo, à alegria da vida, à voz da natureza que pede socorro, à dor da mulher, da criança e do idoso, à indiferença humana em detrimento da solidariedade.

Hoje quero convencer outras mulheres: Somos fortes! Busquemos a liberdade, sem perder a sensibilidade.


Ângela Pereira.

12 de outubro de 2009.

Campina Grande.

Silêncio-ausência...

O meu silêncio é ausência. Sinto a ausência como se sente indiferença do outro.

Ângela Pereira.


11 de outubro de 2009.

sábado, 3 de octubre de 2009

O tal sarau...

Queimei feio minha língua! Bem que já tivera sido alertada antes... mas o espírito do “só acredito vendo” prevaleceu.

Em mais uma dessas viagens pelo Brasil a fora, conheci uma São Paulo que não conhecia... no meio de outra que não possuía dúvidas de existir

Bem que me esforcei em encontrar beleza nas luzinhas da varanda do prédio do centro do Bexiga, mas só mirava a lua como a imagem realmente mais bela vista daquela janela. É. Continuo preferindo a natureza...

No caminho, embaixo de cada viaduto de cinco a mais pessoas... Pedintes... deitadas no chão ou em colchões cobertas pelo vento da noite escura...

O escuro da noite que para mim não significa perigo, depois do alerta do companheiro se transformou em receio.

Mas a despeito da falta de beleza da cidade, encontrei uma beleza clandestina... nem tão clandestina assim.. mas diante da periculosidade da cidade aquilo me pareceu escondido... um segredo que somente alguns tinham ( ou aparentavam ter) a oportunidade de vivenciar.

Entre sorrisos... ao som de uma música muito agradável...feita por várias pessoas e vários instrumentos e regado por textos..poesias, crônicas , cerveja e caldo de mandioca ( a macaxeira nordestina) encontrei uma São Paulo que não conhecia...

A lembrança de uma viagem anterior (metrô cheio, falta de ar, pessoas mal humoradas, chuva, um homem dormindo ao relento e sob a chuva, a correria infernal de uma vida que não quero ter...) foi sorrateiramente infiltrada pelos sorrisos das pessoas nos corredores, nas filas do banheiro, no palco, ao lado... não bastasse sentir o acolher das pessoas, a poesia e as crônicas ( algumas das coisas que mais tenho apreciado na vida) incensaram o espaço do teatro no centro da cidade.

Pela primeira vez em noites distantes da Paraíba desprendi algumas amarras e lancei minha poesia aos ouvidos das pessoas... É verdade que pela memória frágil esqueci alguns versos... Mas valeu a disposição! (Poesia completa: http://descasulando.blogspot.com/2009/06/mulher-vida.html).

É... não dá pra duvidar da capacidade de as pessoas driblarem o concreto armado, a dureza da vida... com singelas coisas... Não dá também para construir conceitos pelo aparente... é preciso sempre buscar a essência e a leveza da vida.


O tal Sarau: http://www.otalsarau.com.br/index.htm


Ângela Pereira.

Em 03 de outubro de 2009, lembrando a noite do 26 de setembro.

viernes, 2 de octubre de 2009

A mesquinhez (humana)...

“O ser humano é bom ou é ruim?”

Resgato a pergunta lembrada numa agradável conversa recente com algumas/ns companheiras/os...

A resposta não é simples. Queria acreditar, imbuída do sentimento de bondade, que o ser humano é naturalmente bom. Quero, todavia, não desconsiderar também que o ser humano tem algo de maléfico.

Não existe (para mim) uma resposta fechada. Ou pelo menos nesse momento prefiro não fazer a escolha entre o sim e o não. Não estou em cima do muro!

Acredito que temos um pouco de cada... somos aquilo que vivemos. E como a vida não é estática, algo dado, finalizado... somos então produto dialético do tempo vivido, do concreto vivido.

Pensando então no “meu”concreto vivido...

Cansa ver como as pessoas se degladiam em disputimos impregnados de valores capitalistas...pena mesmo que tenho que conviver com essas coisas.. pena que vivo um sistema capitalista em que as pessoas querem passar por cima dos outros sem dó nem piedade... querem aparecer mais que o outro.. querem sobretudo se dar bem “em cima da carne seca”.

Procuro um elemento que me ajude a entender e a lidar com essas estafantes situações. Mas sei que apenas um não é capaz de me dar essa tranqüilidade.

Então listo:

Paciência: Muita paciência histórica para aguardar um tempo em que esses valores não serão predominantes nas pessoas;

Resistência: Para em meio aos meus próprios valores (também com influência dos valores capitalistas), não me deixar levar por esses disputimos de incorporação ao capital. A disputa que quero travar é em patamar diferente. Quero disputar a subjetividade das pessoas... Mas prefiro a poesia operária como instrumento... prefiro a leveza da utopia.

Indiferença-consciente: àqueles que decididamente fizeram a sua escolha e já não mais são vacilantes. Não quero perder tempo com os que preferem DECIDIDAMENTE o capital. Preciso ganhar mentes e corações dos que tem dúvidas... porque os outros (são)serão meus inimigos.


Mística: nos altos e baixos da vida, preciso forjar diariamente condições para resistir. A mística é meu alimento.

Utopia: Essa caminha e eu a continuo seguindo. Não sem fundamento... Os passos são firmes!



A mesquinhez que vá pertubar outros! P.................


Ângela Pereira.

02 de outubro de 2009.

Saudades...

Aperta o coração quando fico longe de ti...

Saudades:

das horas distantes...

do não-registrar...

do não-poetar...

do não-divulgar...


Saudades:

Sentimento do incompleto...

Da lembrança...

Da esperança...

Da vontade...


Ou simplesmente do que é bom e ficou (ficará) marcado.

Já senti saudade de muitas coisas... mas nunca pensei que sentiria saudades de escrever no meu blog.

SE tiveres saudades, querida... que seja do poetar!


Ângela Pereira.

02 de outubro de2009.