miércoles, 24 de junio de 2009

A insustentável dureza do ser humano.

Somos seres tão frágeis... O risco de um caco de vidro na nossa pele pode ser capaz de nos levar ao mais profundo desespero... Imaginem então o risco de ataque do coração?

A possibilidade de vida e morte se cruzarem... Os suores... As dores... Os giros na cabeça... As dormências e a falta de saber... Conhecemos tão pouco a nós mesmos...

Mesmo que digam que a ciência avançou... Mesmo que digam que estão quase nos produzindo em números e que estão até inventando a substância do amor através das nossas substâncias... Nada me tira da cabeça como o ser humano é frágil na sua estrutura fisiológica.

Que são os/as trabalhadores/as da saúde tendo que dar conta da fragilidade do ser humano a partir da própria fragilidade. Tendinites, lesões por esforço repetitivos, doenças relacionadas ao trabalho, enxaquecas, rostos e corpos cansados...

A dureza do ser humano através das coisas que ele inventou e que ele (muitos) acredita ser fundamental para o progresso da vida humana no planeta se torna insustentável ao ser humano.

Porque afinal não importa se burguês ou proletário, o corpo continua sendo frágil.. e mais cedo ou mais tarde, o rico que explora o pobre morrerá com a gordura da “fartura” industrializada de sua mesa, com o tiro que vem da favela, com a falta de amor, com a falta de humanidade...

Viva à insustentável dureza do ser humano !!!

Ângela Pereira.

23 de junho de 2009.

O homem do detergente.

Hoje me espantei com uma frase: “Se não estivesse tão sujo lhe daria o carinho que merece”. A frase me soou como uma cantada dessas que se ouve na rua... Entre as passadas rápidas que se dá na frente de um boteco.
Não... Mas não se tratava (pelo menos foi o que senti depois) de um apelo sexual... Desses chulos apelos sexuais que fazem os homens das ruas na sua crise sexual (lembrando Alexandra Kolontai) atrás de uma próxima pessoa para saciar os seus desejos e prazeres...
A palavra “carinho” diante da situação (ora minha e ora dele) tomara outros vieses. Mas me pus a entender aquela frase...
Mais um ser humano que tentava sobreviver... e que diante de um simples gesto queria agradecer. A gratidão dos simples contaminada pela desumanização do ser humano.
Percebera eu que aquele detergente estava adulterado... Água lhe fora adicionada na tentativa de mais uns trocados conseguir... Perguntei-o se havia colocado água. Ele não respondeu, mas o seu corpo encolhido sim... Mesmo assim me permiti a dar o pouco dinheiro que tinha na carteira de desempregada-empregada por aquele produto de perfume tão distante... Que não faria muito efeito no chão do ap alugado. Um real foi o preço do detergente. Um real? Com direito a trocos em moedas...
É ... Este seria o dinheiro do nosso São João. Estávamos quites. Eu e ele.

Ainda o pensamento quis ir além... “O que faria aquele homem com o dinheiro?“ Depois esqueci... Fizesse ele o que quisesse... Seria a diversão dele por aquele dia... Mesmo se outras moedas fossem juntadas à nota que lhe dera para uma pinga ele comprar. Qual a outra saída de um homem desempregado há mais de dois anos? Esperar por uma benção?
Acho que ele já está esperando demais por essa benção...
A necessidade de sobreviver não espera!

Ângela Pereira.
23 de junho de 2009.

Sem título.

Jogar no papel o que se sente

É como tornar material aquilo que é tão abstrato

E ao mesmo tempo tão real.

É preciso viver mais...

Não projetar nos outros o que a mente fértil

Produz com antecedência ávida.

Não subestimar a capacidade de os outros serem felizes...

Mesmo que a felicidade para você pareça estar distante...

Muito distante.

Não esperar dos outros aquilo que eles não podem nos dar...

Não fantasiar histórias como se a vida fosse uma história em quadrinhos, uma novela melodramática ou um filme romântico.

Não se deixar iludir...

Não iludir porque esse é um passo para a própria ilusão...

Não nomear algo antes de ter noção do que esse algo representa

Ou melhor...

Não dar nome às coisas e sim senti-las...

É melhor continuar vivendo...

Sem nomes.

Sem donos.

Sem títulos.

Ângela Pereira.

Em cinzas...

25 de fevereiro de 2009.

Quando o inesperado se torna realidade...



Às vezes passamos horas ou dias, criando expectativas... Esperando e planejando coisas que parecem tão pouco palpáveis. Ou esse comportamento é fuga ilusória do que é possível, ou é decisão convicta de se fazer alguma coisa.
A primeira opção é tão ruim quanto à incapacidade de sonhar. Sonhemos com os pés no chão!
A segunda opção diria que é a mais saudável. Sonhar convictamente!
Ai inesperadamente, um dia a flor do jarro da janela da cozinha que há meses estava fechada se abre... Uma gota de orvalho molha a janela do quarto, desenhando no vidro... Os pingos raros da chuva se cruzam com o raio do sol e formam um arco-íris...
Um balão cor de rosa numa noite de réveillon cai subitamente em suas mãos e você se espanta, rir e brinca como criança com um presente surpresa... Você apanha algo que deixa cair no chão e se levanta dando de cara com alguém disposto a lhe ajudar ...
Recebe pela primeira vez um sorriso e um bom dia de alguém que não sorria para você... Recebe um telefonema, convidando-o ao exercício de superar desafios quando você se deixava levar por fraquezas e desistências na noite anterior...
Como as surpresas são boas!
Como viver cada dia no seu devido tempo, com intensidade e sem precisar contar desesperadamente as horas, que faltam para chegar o outro dia com medo de não dar tempo de se fazer alguma tarefa, é bom!
De repente a vida fica mais bela... E você percebe como é tão mais simples viver quando estamos abertos às possibilidades... Quando descomplicamos aquilo que é tão simples e como os problemas não se tornam problemas e sim solução! Solução para a superação dos medos, dos limites pessoais, das mágoas e das angústias.
Sonhemos convictamente!
Vivamos convictamente!
Aproveitemos cada novo minuto de diálogo, da nova música daquele cantor que gostamos tocada no rádio, do som dos pássaros na caminhada da manhã e da gota de chuva que não impede de contemplar esses sons da natureza nessa caminhada...
Aproveitemos os nossos sentidos para sentir... Vejamos mais ... Ouçamos mais ... Cheiremos mais ... Toquemos mais ... Degustemos mais ... o que a natureza nos proporciona...
E compartilhemos mais esses sentidos com outras pessoas...
O inesperado então se tornará realidade e será muito bom!


Ângela Pereira.
18 de janeiro de 2009.

O inexprimível.

Minha atualidade inalcançável é meu paraíso perdido.
Clarice Lispector (in: A paixão segundo G.H.)

Estou com medo
Estou com medo de encontrar o inexprimível
Aquilo que nunca vi
Que nunca vivi

Estou adiando a hora de viver
O não planejado
O não esperado
Estou adiando o hoje!

Como posso?

Continuo querendo viver de futuro
Com o presente batendo às minhas portas!

Ângela Pereira.
21 de junho de 2009.

Lucrécia sabia viver?













Disseram: Era pouco inteligente... para não se dizer nada inteligente. Discordei da opinião quanto à rala inteligência dessa mulher...

Ela era digamos diferente. Gostava de desnudar o que já era nú. Via os lados, os traços, os fardos a sua maneira. Seduzia e deixava–se seduzir a sua maneira...Despertava amor e ódio...

tesão e asco... Era a própria personalidade.

Seria prima de Macabéia? Acho que era a própria Macabéia, na vida que lhe deram após a morte e o fim- início do sonho de encontrar o seu príncipe encantado...
Clarice fez Macabéia evoluir. É claro que a ela ofereceu-lhe algumas futilidade...
Nem Macabéia nem Lucrécia eram absolutamente felizes nem absolutamente tristes...
Ninguém é absolutamente nada!

Mas Lucrecia fazia acontecer... ao seu modo , mas fazia!

Extrapolava as ruas de S. Geraldo fazendo-as ora claras... visitáveis, passeáveis
ora escuras... sombrias...penumbrantes!
Fugia dos olhos transpassados... e encarava os penetrados... negava as vontades de
Ana... Faziao que queria!
Era sem dúvida uma mulher com personalidade forte! Escondida na introspecção de
Clarice. Coitados e sortudos ... o Matheus ... o Perseu ... o Lucas ... Lucrécia sabia viver! Mesmo que ao seu modo...

*Comentário sobre o Livro “A cidade sitiada” e, recordando “ A hora da estrela” de Clarice Lispector.


Ângela Pereira.

02 de fevereiro de 2008.

O incompreensível...




...estou procurando, estou procurando. Estou
tentando me entender. Tentando dar a alguém o
que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar
com o que vivi. Não sei o que fazer do que
vivi, tenho medo dessa desorganização profunda.
(Clarice Lispector)




O incompreensível assusta.
A necessidade de entender: entender a mim mesma. Entender o mundo. Entender as pessoas. Entender os porquês... Pulsa!
Ao modo de Clarice, a terceira perna de G.H., que a deixa estável, e ela perdera, ainda persiste em mim. Ainda não terminei o livro... Quem sabe até lá essa estabilidade-prisão seja superada. Ou a instabilidade, pulsante, seja amansada.
Quem sabe a falta de respostas não incomode tanto.
Quem sabe...
Quem sabe?

Ângela Pereira.
13 de junho de 2009.


Mãe não precisa de data!


Mãe é mulher!


É mulher que ama...

É mulher que rir...

Mas também...

É mulher que sofre...

É mulher-vítima...

Oprimida...

Explorada...


É mulher-produção!

Criadora!

Produtora!


É mulher-reprodução!

Carrega o fardo.

Sustenta o parto!


É mulher- mulher!

Desejada...

Liberada...


É mulher-vida!

Emancipada!

Libertada!


Mãe não precisa de data!

Mãe... precisa de força

Liberdade!

Condição!

Emancipação!


Homenagem a todas as mães e mulheres que não precisam de dia comemorativo, precisam de força e emancipação para a difícil e deliciosa tarefa de ser mulher!


Ângela Pereira.

10 de maio de 2009. Dia da mãe-mulher, assim como qualquer outro.

Mulher-vida!













                                                       (23 de dezembro de 2008)

martes, 23 de junio de 2009

Em estado de graça.



Descobri que amo o silêncio.

Isso me provocou uma sensação de tamanha alegria.
Uma estrondosa alegria...

Ângela Pereira.
21 de junho de 2009.

Viver de letras...


Não quero saber de outra coisa!

Que me deixem viver de letras...
Das saborosas letras de versos em rimas, em branco, em prosa...
Do ar onde vibram os sons das palavras articuladas...
Do sentir pulsar como sangue passando nas artérias...
Do prazer de falar pros/dos outros...
De ver nos outros sorrisos...

Te devo?
Posso pagar com poemas?

Sei que valem mais que a moeda corrente...
Mas pago o que devo e te ofereço o restante...
Não quero lucro mesmo!

Quero viver de letras...


Ângela Pereira.
20 de junho de 2009.

Descasulando...


Que faz uma lagarta sair do casulo? É a “vontade”, mesmo que fisiológica, de viver. É a ordem da natureza, contrastada com a profunda beleza de apresentar-se ao mundo.
Entre fibras-correntes, uma beleza simples, colorida se transforma. Uma lagarta vira borboleta.
Não entenda, caro leitor, como depreciativa a imagem que fazemos da lagarta ou como esplendorosa a da borboleta que se liberta. O equívoco pode ser fatal, se formos deterministas ao extremo. Cada tempo tem a sua importância e a sua beleza.
O tempo de dentro do casulo é necessário e belo. O tempo de transição, também o é. O tempo da permissão, então, é mais que belo e necessário é imprescindível.

A natureza manda sinais. Mas o cotidiano e as imposições do mundo conservador, não nos deixa aproveitá-los.
Observemos mais a natureza... e aí seremos mais permissivos, mais generosos e sensíveis com a vida humana.


Ângela Pereira.
19 de abril de 2009.